Maria Joaquina narrando

Até que a Ana Paula era uma mulher legal. Pelo que eu percebi, era uma mulher jovem, devia ter uns vinte e cinco anos, além disso, explicava muito bem, se alguém não entendesse, é porque não estava prestando atenção. Depois de algum tempo explicando a matéria, tocou um sinal.

–Bom, depois do intervalo a gente continua.- disse ela e só aí escutei minha barriga roncar.

Quando saímos da sala, procuramos os meninos pelos corredores, mas o espaço enorme e a grande quantidade de gente que passava por nós era tanta que mal os víamos, mas quando chegamos perto da cantina, vimos eles na fila, pegando o lanche deles. Quando eles saíram, acenamos e eles acenaram de volta, Alícia fez sinal para eles esperaram, o que não foi muito difícil já que eles estavam com três entre nós.

Em dois minutos, saímos com nosso lanche e fomos até eles.

E aí? Como foi a aula?- perguntou Alícia.

–Legal, nosso professor é bem legal.- respondeu Paulo.

–E a de vocês?- perguntou Mário.

–Também foi legal, tivemos aula com uma mulher. E ela é bem legal.- respondeu Marcelina.

–O nome dela é Ana Paula.- respondi.

–O nome do nosso professor é Nilmar.- falou Daniel.

–E a Ana Paula explica tão bem que só não dá pra entender nada caso não preste atenção, se ficar pensando em outra coisa durante a explicação.- disse Alícia.

–Eu concordo.- falei.

–Eu também acho a mesma coisa do nosso professor, ele fala de uma forma tão realista, tão convincente, que você já pega no ar.- explicou Paulo.

–Verdade, pelo menos os professores daqui são legais e explicam bem.- disse Daniel.

–Por enquanto, só esses dois né? Vamos ver os próximos que vem por aí, se eles também são assim.- Mário afirmou, sério.

–É mesmo, vai que tem um professor ou uma professora sem paciência por aqui né? Mas eu acho que não, as faculdades não costumam ter professores assim.- explicou Marcelina.

No meio da nossa conversa, justamente no melhor dela, o sinal indicando fim de intervalo tocou, mas daquela vez, trocaríamos de sala. A que os meninos estavam nós ficaríamos e as que nós estávamos eles ficariam. Houve um revezamento das salas. Mas no final das contas, até que o resto das aulas passou bem rápido, quando dei por mim, o sinal do fim das aulas do dia já haviam acabado.

Quando saímos, encontramos os meninos na porta.

–Vem comigo, quero te levar a um lugar que você jamais vai esquecer.- disse Daniel, me conduzindo até o carro. Durante todo o caminho, estava com uma vontade imensa de perguntá-lo aonde ele estava me levando, mas como eu sabia que ele não ia falar, resolvi esperar. Só fiquei um pouco confusa quando percebi que ele me levou à uma estação de trem. Mas, o que faríamos dentro de um estação de trem? Deixaríamos nossos carros parados ali? Não, não podíamos, mas procurei afastar esses pensamentos. Eu confiava em Daniel e tinha certeza que ele sabia o que estava fazendo.

–O que vamos fazer em uma estação de trem?- perguntei, já não aguentando mais.

–Você vai ver.- ele disse, saindo do carro. Logo depois, ele abriu a porta pra mim e me deu a mão quando eu saí. Enquanto caminhávamos, pude ver Mário e Marcelina com o carro um pouco afastado de nós, mas não vi Alícia e Paulo, eles devem ter ido pra casa ou se perdido no trânsito, talvez.

Assim que já estávamos na estação, ele me levou até a ponta da plataforma e Mário fez o mesmo com Marcelina. Logo, um trem apareceu na estação e eu continuei sem entender. Quando o trem parou na estação, Daniel foi até a porta do maquinista e bateu para que o mesmo a abrisse.

–Olá Daniel.- disse o maquinista, apertando a mão dele.

–E aí Marcelo, de boa?- disse ele.

–De boa e você?

–Também. Será que você pode deixar a gente dar uma volta aqui dentro da cabine?

–Claro, podem entrar.

E assim, eu, Daniel, Mário e Marcelina entramos dentro da cabine e eu fiquei boquiaberta quando a vi:

Poucos segundos depois, o trem começou a andar me tirando de meus devaneios, mas não dá pra comparar com nada nesse mundo o tamanho do prazer que foi andar de trem na cabine do maquinista, era tão gostoso, dava vontade de não sair de lá nunca.

–E aí? Está gostando do passeio?- Mário perguntou à Marcelina.

–Estou amando amor. Como você sabia que eu sempre quis andar nisso?- perguntou ela.

–Eu lembro de quando você contou à Maria Joaquina que sempre quis andar de trem dentro da cabine. Não é Daniel?

–Sim, e como o Marcelo é um amigo de infância do nosso pai, não foi difícil combinar com ele pra fazermos esse passeio de trem.- respondeu Daniel.

–Mas e os nossos carros?- perguntei.

–A gente vai voltar para essa estação e pegaremos os carros. Confie em mim, eu sei que o que estou fazendo.- garantiu ele e eu respirei aliviada.

–Será que eu posso abrir a janela?- perguntei ao Marcelo.

–Pode, mas acho melhor que não faça isso agora.- respondeu ele.

–Por quê?

–Pode ter um poste ou algo assim que faça você bater a cabeça.

–Não se preocupe, eu não quero pôr a cabeça pra fora, só abrir para gritar pra todo mundo ouvir.- eu disse enquanto abria a janela.- EU AMO O DANIEL!!!- berrei enquanto o trem passava. Eufórica com o passeio, após gritar, beijei Daniel e nos abraçamos, estava tão feliz por ele ter realizado o meu sonho e dito ao Mário realizar o sonho de Marcelina também, essa era uma das coisas que a gente sempre quis fazer desde pequenas e agora, finalmente, conseguimos realizar esse sonho.