Marcelina narrando

Estava muito preocupada com o que minha mãe estava me escondendo, eu achava que era algo grave, porque minha mãe nunca me escondeu nada. E o pior é que ela resolve contar ao Paulo e ainda pede pra ele guardar segredo por achar que ele tem mais maturidade do que eu para entender isso. Eu até entendo o que ela quis dizer, mas mesmo assim eu fiquei preocupada e ao mesmo tempo decepcionada com ela.

Mas, como há males que vem para o bem, minha melhor amiga Maria Joaquina me liga e a gente conversa por um bom tempo. A conversa foi tão boa que eu até esqueci de tudo. Eu também estava gostando de conversar com ela justamente porque eu nunca deixei de ir à casa dela um dia sequer, eu ia todos os dias, a não ser quando ficava doente, mas eu sempre ia e ela me fazia tão bem que era impossível querer sair de lá. Por isso, aquele dia em que tive que ficar em casa direto me deixou triste, pois não pude ir à casa dela, aquele telefonema veio mesmo a me animar.

No meio daquela conversa que eu não queria que acabasse, comecei a ouvir uma música, eu não a conhecia pela batida, mas logo notei que era desconhecida.

–Amiga, depois a gente se fala. Tem alguém tocando uma música no meu quintal.- disse Maria Joaquina.

–Sério? No meu também.

–Será que é quem eu estou pensando?

–Não sei, vamos lá ver.

Fui até a janela da minha sala e abri a mesma. No meu quintal, apanhando um violão, em pé e com uma voz doce que nem eu conhecia, estava Mário, ele cantava uma serenata pra mim, achei aquilo tão fofo, apoiei meus cotovelos na borda da janela e a cabeça nas mãos e fiquei apreciando a música linda na voz dele:

"Hoje eu tive medo de acordar de um sonho lindo
Garantir, reter, guardar essa esperança
Ando em paraísos, descaminhos, precipícios
Ao seu lado vejo que ainda sou uma criança

Sensível demais, eu sou um alguém que chora
Por qualquer lembrança de nós dois
Sensível demais, você me deixou e agora
Como dominar as emoções?

Quando vem á tona todo amor que esta por dentro
Chamo por teu nome em transmissão de pensamento
Longe à sua casa, vejo a luz do quarto acesa
Não tem nada quanto vaza que segure essa represa

Sensível demais, eu sou um alguém que chora
Por qualquer lembrança de nós dois
Sensível demais, você é minha e agora
Como dominar as emoções?"

Antes que ele chegasse na metade da música, eu já estava chorando, a voz dele ficou além de diferente, ficou muito linda, além disso, a letra era muito linda. Quando ele acabou, mesmo chorando, aplaudi e fui dar um abraço nele.

–Por quê está chorando?- perguntou ele me abraçando.

–Porque eu me emocionei, sua voz e essa canção são tão lindas!- eu disse.

–É linda porque fiz ela pensando em você.- disse ele, achei tão fofo que acabei não resistindo, tive que dar um beijo nele.

Depois que o beijo acabou, ele ficou me ensinando algumas notas e como começou a compor músicas, eu o convidei para entrar e ele aceitou. Ficamos assistindo televisão por um tempo, eu não estava com muita fome.

–Está com fome?- perguntei.

–Não. Quer dizer, estou, mas posso aguentar até em casa.- ele disse.

Quando o programa acabou, ficamos sem ter o que assistir, então ele começou a me beijar e eu retribuí. Ficamos assim até que o celular dele tocou, não era uma ligação, era uma mensagem.

–É o Daniel. Ele quer que eu volte.- disse Mário.

–Tudo bem, eu te acompanho até a porta.

Levei ele até a porta e nós nos despedimos com um selinho. Então ele entrou na limousine dele e eu fiquei vendo ele sumir, quando o perdi de vista, vi Paulo e minha mãe chegando.

–Marcelina, você pode entrar? Quero falar com você o que eu queria.- disse minha mãe e eu assenti.

Entramos em casa novamente e ela me pediu para sentar no sofá junto com Mário e nós sentamos enquanto ela ficou no meio de nós.

–Olha queridos. Eu queria contar para vocês, quer dizer, pra você filha... sobre o seu pai.

–O que tem o meu pai?- perguntei.

–NOSSO pai.- corrigiu Paulo.

–Tanto faz crianças. Olha, eu estou desconfiada que seu pai estava me traindo com outra.- disse minha mãe.

Fiquei muda por alguns segundos.

–Como assim?

–É filha, eu não vi ele com outra. Mas eu não sei se vocês perceberam, ele têm chegado aqui todos os dias com um perfume feminino que não é o meu, mais tarde do que de costume, ainda vem sendo frio e hostil com a gente.

–Quando você começou a perceber isso?

–Exatamente um mês que eu percebi isso.

–Ah mãe, mas a senhora não tem provas que ele estava te traindo.

–Sim filha, eu sei. Mas é que eu estou confusa, não sei se devo ou não voltar pra ele. Por isso quero a ajuda de vocês.

–Olha mãe. Eu acho que você devia dar uma segunda chance à ele. Se a senhora tivesse alguma prova que isso era verdade eu te aconselharia a deixá-lo, mas já que a senhora não tem, deixa ele voltar pra você, pra nós.- disse Paulo.

–Sim mãe. Eu concordo. Uma vez me ensinaram que não se deve guardar rancor de ninguém, o passado serve como aprendizado, mas também não pode ser lembrado. Como isso é coisa do passado, aconselharia você a deixá-lo voltar.- eu disse e minha mãe sorriu.

–Quem ensinou isso à você? Porque eu não fui.- ela riu e eu a acompanhei.

–Uns colegas da minha sala me contaram quando eu estava mal por causa do Mário.

–Puxa, eu quero conhecer esses rapazes. Eles deixaram você de uma forma melhor que você já era, porque antes eu quem te aconselhava e hoje você é quem está me aconselhando.

Nós três rimos juntos.

–Tá bom. Vou ver se chamo eles aqui um dia.- eu disse.

–Tudo bem. Então, vou ligar para o pai de vocês e dizer que ele pode voltar aqui amanhã.- disse ela.

–Tá bom.- disse Paulo.

Depois disso, minha mãe saiu da sala e começou a ir para o quarto dela, eu e Paulo nos abraçamos porque fizemos uma boa ação, conseguimos praticamente consertar o casamento de nossos pais. Fiquei tão feliz que subi correndo para o meu quarto e disquei o número de Maria Joaquina no meu celular. Ela atendeu no segundo toque.

–Oi amiga, descobriu?- ela foi direta.

–Descobri sim. É que minha mãe desconfiou que meu pai estava a traindo fazia algum tempo e me escondeu por achar que eu não estava madura pra lidar com isso.- confessei.

–Nossa amiga, que triste.

–É, mas agora já está tudo bem. Eu e Paulo já conversamos com ela, falamos aquilo que o Gabriel e o Matheus nos contaram sobre o passado e sobre raiva e rancor e ela decidiu dar mais uma chance à ele.

–Jura? Ai que bom amiga, o Paulo sempre surpreendendo a gente hein?

–É verdade. Nem eu acreditei na hora.

–Verdade, fico feliz que seus pais tenham se acertado.

–Sim, ele vai voltar pra casa amanhã e vai esclarecer tudo.

–Que bom, boa sorte pra vocês viu?

–Obrigada amiga, tchau.

–Tchau beijos.

Depois da conversa pelo telefone, tomei um banho e fui dormir, ansiosa pela explicação do papai no dia seguinte.