Depois de algum tempo ali na rede, comecei a ficar com sono, então voltei ao quarto, coloquei os travesseiros no lugar, me deitei e dormi.

No dia seguinte, acordei com a porcaria do despertador, mas meus olhos ainda estavam pesados devido ao sono. Tudo culpa minha que fiquei até tarde acordada, tentei desligar o despertador, mas como não conseguia abrir meus olhos, pressionava minha mão no lugar errado, até que, acho que em meio ao desespero, sentei na cama e tentei arregalar os olhos para olhar o botão de desligar o aparelho. Desliguei, respirei aliviada, tinham que escolher um despertador com uma musiquinha melhor. Depois de conseguir me levantar, pego uma saia jeans não muito justa e uma blusa branca de uma só manga e vou para o banheiro, me olho no espelho sem querer e vejo que meu cabelo parece mais um ninho de pássaro. Tomo um banho, escovo meu cabelo e coloco a roupa, quando me olho outra vez, está bem melhor do que quando acordei.

Vou para a cozinha e vejo Daniel comendo aquele maldito cereal, mas ele estava sorrindo como se aquilo fosse bom.

–Bom dia.- ele diz quando me vê entrar.

–Bom dia.- respondo de volta me sentando com ele.

Conversamos bastante durante o café, se é que aquilo pode ser considerado assim, e fomos para o acampamento.

Chegando lá, encontramos Mário e Marcelina, eles estavam bem atrás dos outros, mas não havíamos nos atrasado. Nos cumprimentamos e começamos a prestar atenção na aula.

–Muito bem alunos, hoje a aula será o seguinte: as árvores, como vocês podem ver, estão com alvos de papelão, vocês terão que tentar acertar essas flechas no meio deles, quem conseguir atirar cinco seguidas, vencerá. - disse a professora Suzana enquanto Renê nos dava os arcos e flechas.

Acabei ficando gelada. Eu estava ferrada, não sabia atirar com arco e flecha e se não acertasse, perderia e sei lá o que aconteceria com os perdedores.

–Maria Joaquina, faça como eu.- disse Daniel, ao ver que eu estava nervosa. Tentei me acalmar e manejei a flecha dentro do arco como ele já tinha feito, depois, ele me ensinou a mirar e atirou a flecha dele, acertou na mosca. Eu não sabia se consegui mirar certo, mas quando soltei a flecha, fiquei aliviada quando eu vi que acertei o meio dele, mais um centímetro e eu erraria e fim de jogo.

–Onde você aprendeu a mirar tão bem assim?- perguntei ao Daniel, que aplaudia por eu ter acertado.

–Vendo os outros fazerem também.- ele respondeu sorrindo e eu retribui. Depois disso, comecei a atirar as outras flechas e não tive dificuldades para acertar todas no meio, a cada vez que eu me preparava pra lançar uma flecha, olhava nos outros competidores pra descobrir quem estava acertando o alvo, olho à minha direita e vejo Mário e Marcelina trabalhando juntos e conseguindo acertar o alvo deles, era tão bom ver que minha melhor amiga provavelmente vai vencer essa competição também.

Quando acabamos, o professor Renê veio até nós:

–Muito bem alunos, ótimo desempenho, agora, vou contar e ver quem ganhou.- ele disse, contando todas as flechas, depois ele pegou todas elas, guardou em um saco plástico e foi até a professora Suzana, que anotava coisas na prancheta.

–Bom gente, as duplas que ganharam foram as seguintes: a dupla, Gabriel e Vitória, Matheus e Luana, Mário e Marcelina e Daniel e Maria Joaquina!- disse a professora.

Nós pulamos de alegria, mas estávamos apenas comemorando o fato de termos vencido, até que ouvimos a voz dela novamente:

–Isso quer dizer que vocês oito terão exatos quatro dias de folga, por isso, acho bom aproveitarem!- ela finalizou e eu praticamente surtei junto com a Marcelina e os outros. Quatro dias sem fazer absolutamente nada, tem prêmio melhor que esse? Acho que não.

O resto do dia foi entendiante, ficar sem fazer nada era completamente tedioso, a televisão da nossa sala estava quebrada, então isso só complicava ainda mais a situação.

–Ei, que tal a gente dar uma volta? É bom que exploramos melhor a floresta.- disse Daniel, me tirando dos pensamentos.

–Boa ideia, vamos.- eu disse me levantando.

Então, primeiramente, tiramos os braceletes, encostamos um no outro e eles acenderam uma luz, depois abriram e deixamos em nosso sofá, pra que eles pensem que estamos vendo tevê. Então começamos a caminhar, fomos andando juntos pela parte dos fundos da cabana, nos certificamos que não tinha ninguém nos olhando e começamos a andar. Passamos perto pelo lugar onde teve aquela prova das bandeiras e fomos passando por árvores grandes que deixavam a floresta mais escura e eu comecei a ficar com medo de me perder na volta e se isso acontecesse, imagina a bronca que íamos levar, mas tomara que não, acho que dá pra lembrar o caminho.

Andamos por aquele caminho até que o chão começou a ficar cinza e duro, como se estivéssemos em uma calçada, passamos pela última árvore que havia no caminho e depois de uns cinco passos, vimos que estávamos em uma pedra grande, pois o chão acabou ali, mas o mais legal é que embaixo da pedra dava pra ver um lago que tinha uma água tão limpa e brilhante que o sol refletia nela. Me sentei na beira da pedra e Daniel fez o mesmo, mas eu tirei minhas sandálias para não deixá-las cair no lago e deixei-as ao meu lado.

–Que lindo né?- disse Daniel.

–Muito.- concordei sorrindo. Mas foi aí que vi que Daniel estava meio diferente, ele sorria, mas estava muito calado, cadê aquele garoto falante, comunicativo de sempre?

–Tá tudo bem Daniel? Está tão quieto.

–Estou ótimo. Só estava pensando.

–Pensando em quê?

– Ora, em tudo! Nos meus pais, na minha vida, na saudade de dirigir jogar futebol, de andar de skate na praça.

–Entendi.

–E você? Sente saudades da sua vida fora daqui?

–Claro que sinto.

Ficamos ali por um tempo, um silêncio estranho ficou entre nós, ficamos fitando um ao outro, aquilo fazia meu coração ficar a mil. Alguém me ajuda vou ter um AVC no meio da mata e é culpa do moleque. Mesmo sem perceber estávamos nos aproximando demais um do outro, aquilo não parecia certo. Mas eu não podia parar, eu não...Não...Não queria parar. Meus olhos foram fechando automaticamente, igual aos dele, nossos lábios se juntaram e foi tudo que precisou para eu ter um ataque do coração e morrer. No meio da mata.

Brincadeira.

Eu fiquei viva, lógico, e continuei beijando o Daniel, É sério alguém tem uma bazuca pra me emprestar? Eu não me dei conta, pelo menos não minha mente consciente, porque eu não parei nem por um momento hesitei. Mas me deem uma trégua, ele beija MUITO bem! Enquanto a mera amadora, não faz ideia do que fazer. Mentira! Eu já tive 2 beijos em um dia. Eu sou demais!

Mentira, também me deixem sonhar!

Ele como um abusadinho que é agarrou minha cintura com uma delicadeza que eu nunca senti antes, seus lábios eram tão quentes e eu estava com frio, serio mesmo me agasalhando como se estivesse no Polo Norte, ainda estava quase virando picolé. Ele pediu permissão para aprofundar aquele beijo e eu permiti, sua língua explorava cada canto da minha boca e ela ainda tinha gosto de marshmallows como é possível? Acho que ele roubou os da festa, ficamos naquele beijo até o ar se fazer extremamente, mega, hiper necessário. Saímos dele, pelo menos eu, sem ar, espera ele estava também, estávamos com as testas coladas e ele continuava com os olhos fechados, eu abri um pouquinho os meus só para ver como ele poderia estar. Sei que é cruel desejar que ele morra sem ar, mesmo a gente tendo se beijado aqui, mas espero que ele morra sem ar! Ele abriu aqueles olhos que ficavam totalmente cinzas a noite, era hipnotizante. E só agora eu reparei bem, não que eu fosse cega o suficiente para perceber que ele não era feio. O desgraçado desde que o conheci é bonito. Enquanto eu sofria para ficar no mínimo apresentável para sair de casa.

O que houve comigo?

Depois de alguns segundos, sinto uma gota de água pingar na minha blusa, mas logo começa a surgir um pingo atrás do outro, percebendo o que estava por vir, saímos de lá em disparada, eu já nem me importava de me perder, só queria sair dali, por sorte ainda conseguimos chegar na cabana quando a chuva já havia apertado um pouco mais, mas não o suficiente pra me molhar muito. Mesmo assim, resolvi trocar de roupa e colocar meu pijama, provavelmente não faríamos mais nada aquela tarde, mas valeu a pena.