Marcelina narrando

Na manhã seguinte, depois do pequeno susto, acordo e me levanto. Vou ao banheiro, faço minha higiene matinal, coloco uma roupa bem confortável e desço para o café. Quando chego na mesa, vejo meus pais e meu irmão tomando café.

–Oi filha, que bom que acordou.- disse minha mãe.

–Bom dia gente.- digo pra todos na mesa.

–Sabe filha... o Paulo nos contou ontem o que aconteceu na praça e nós ficamos comovidos com o modo que ele protegeu você e sua amiga.- disse meu pai.

–Eu também.- eu disse, sorrindo para meu irmão.

–Pois então, hoje decidimos colocar o Paulo na sua escola, pois ainda está no começo do ano letivo, ele não vai ter prejuízo nisso, o que acha?- disse minha mãe.

–Sério? Seria tão bom estudar com ele novamente.- dei um abraço em Paulo, que retribuiu.

–Então tudo bem. O Roberto vai trabalhar e eu vou lá no colégio resolver isso, tá bom?

–Tá bom.

Terminado o café, meu pai saiu e minha mãe foi ao colégio resolver a matrícula do Paulo na escola. Eu preferi subir para meu quarto lendo um livro que Maria Joaquina tinha me emprestado e Paulo foi para o quarto dele jogar videogame. Um tempo passou e ouvimos a campainha da porta.

–Já vai.- ouvi Paulo dizer, em seguida, fiquei pensando que talvez pudesse ser Maria Joaquina e desci também, mas quando chego nas escadas, vejo um garoto desconhecido na porta.

–Quem é você?- pergunta Paulo.

–Meu nome é Abelardo, eu vim porque sou da mesma sala da Marcelina e fiquei sabendo que ela está em depressão, então eu fiquei encarregado de trazer a matéria que ela perdeu esses três dias.

Abelardo, eu já tinha o visto na sala, mas nunca falei com ele. Será que devo aceitar essa ajuda dele?

–Dá pra mim tudo o que ela perdeu que eu entrego pra ela anotar.- disse Paulo.

–O que foi? Tá duvidando de mim ou o quê?

–Não é isso. É que depois de tudo que aconteceu, decidi não deixar nenhum outro garoto se aproximar de minha irmã, pra que ela não sofra outra desilusão amorosa.

–Mas eu não penso em pedir pra namorar a Marcelina, só quero ajudar!- ele agora quase gritava.

–Mas mesmo assim eu quero que você me dê isso!- Paulo estava ficando impaciente com a insistência dele, eu tinha que agir logo antes que ele perdesse a cabeça e fizesse alguma besteira.

–Bom, se é assim que você quer.

–Espera ai Paulo. Deixa ele entrar.- eu disse das escadas.

–Tem certeza Marcelina?

–Tenho.

–Então tudo bem, vai lá.

Chamei Abelardo para ir na cozinha e ele foi me passando o que eu perdi enquanto eu anotava tudo, mas quando dei por mim, estávamos conversando, ele era muito bom de conversar, parecia um garoto inteligente e maduro, sem dúvida esse ato dele pode nos tornar grandes amigos. Somente amigos, mais nada.

Maria Joaquina narrando

Ainda nem consigo acreditar no que Paulo fez, ele realmente não é mais aquele garoto travesso que a Marcelina sempre dizia ser, aquele colégio interno realmente fez muito bem pra ele.

–Maria Joaquina, tem visita pra você!- minha mãe avisa do outro lado da porta.

–Já estou indo.- eu digo colocando meus chinelos. Eu resolvi atender porque minha mãe sabia o que havia acontecido e obviamente não deixaria Daniel me ver depois do que ele fez comigo, só pode ser o Paulo, porque quando a Marcelina vinha me visitar minha mãe não anunciava assim dessa forma. Desço as escadas curiosa pra saber quem é e quando chego na sala vejo um menino bonito, tenho certeza que ele é da minha escola, pois eu já tinha o visto por lá, mas nunca falei com ele, por isso não consigo lembrar seu nome.

–Oi.- ele diz timidamente.

–Oi.- eu digo também tímida.

–Eu... vim aqui por duas coisas: me desculpar pelo ocorrido e pra te passar a matéria que você perdeu nesses três dias.- ele fala em um tom de culpa.

–Mas você não teve culpa de nada.- digo pra ele.

–Tive sim. Fui eu que contei para o garoto responsável pelo jornal do Colégio Mundial sobre o que aconteceu entre vocês quatro e pedi pra ele publicar. Aí você e a Marcelina ficaram assim...

–Espera ai, você quem contou para o jornalista da escola?- me surpreendi.

Ele apenas acenou com a cabeça e ficou cabisbaixo.

–Ai obrigada, obrigada. Obrigada de verdade.- digo o abraçando, mas ele não corresponde, talvez porque não esperava que minha atitude fosse essa.

–Não vai brigar comigo? Nem me expulsar da sua casa?- ele pareceu confuso.

–Por quê eu faria isso? Pelo contrário, eu só tenho que te agradecer por ter feito eu ver o imbecil com quem eu estava andando.- digo com firmeza.

–Sério? Bom, então... como não nos conhecemos direito, prazer, sou Jorge Cavalieri.- ele diz estendendo a mão e eu aperto.

–Maria Joaquina. Provavelmente amanhã estarei de volta à escola, melhorei muito da sexta-feira pra cá.

–Que bom, isso dá pra ver pelo seu sorriso. E isso é muito bom. Mas vamos lá, você perdeu muita coisa, de verdade.

–Claro. Sente aqui.

Ficamos um tempo lá, ele me passando tudo que eu perdi enquanto eu anotava no meu caderno. Aparentemente, ele não é igual ao Daniel, pelo contrário, é bem inteligente e simpático, bom de conversar, mas não é suficiente pra quebrar o muro que construí em meu coração. Nem ele nem ninguém jamais o derrubará. Mas tê-lo como amigo será muito bom.

Daniel narrando

Estava sozinho no meu quarto, observando a janela quando Mário entra no quarto:

–E aí mano? Vamos sair?- ele diz todo animado, nem parece que apanhou ontem.

–Nossa, que animação é essa? Já esqueceu o que houve ontem?

–Já, é que eu estava na rua, pensativo sabe? Aí encontrei a Clementina na rua com a Margarida e elas disseram que estão pensando em dar um passeio lá no Jardim Zoológico, então a Clementina me chamou e perguntou se eu podia chamar você.- ele disse.

–Espera ai, elas estão esperando a gente?

–Sim, estão lá embaixo na sala, mas tem que decidir logo porque elas estão apressadas.

–Tá bom, eu vou. Deixa só eu colocar uma roupa mais decente que eu desço.

–Tá bom, vou avisar elas.

–Ok.

Coloco uma camisa preta sem muitos detalhes, uma camisa amarela xadrez e uma bermuda azul escura. Pronto, desço e encontro os três lá embaixo me esperando.

–Oi Margarida.- eu digo dando um beijo em seu rosto.

–Oi Daniel, que bom que topou vir com a gente.- ela diz, sorrindo.

–É, pois é. Preciso me distrair.

–Então vamos?- pergunta Clementina.

–Vamos.

Aquela foi uma das tardes mais legais da minha vida, fomos à um parque recém-inaugurado e andamos em todos os brinquedos, até na Roda Gigante, mas o mais divertido foi no trem fantasma, as duas morreram de medo e ficaram o tempo todo grudadas em nós dois como se aqueles monstros fossem mesmo nos pegar. Eu tive que gritar pra não rir de tão engraçada que era aquilo.

Quando saímos do parque, eram seis da tarde, nos despedimos das meninas e fomos logo tomar um banho pra jantar, depois do jantar, fomos dormir, pois o dia seguinte seria o dia de voltar às aulas. Porém, ainda tinha um problema: quando estava no parque com a Margarida, Mário e Clementina, estava tudo bem, me diverti bastante, mas depois que nos despedimos eu comecei a sentir uma culpa invadir meu peito. Mas culpa de quê? Não sei, só sei que me senti culpado por alguma coisa. Será que Mário também está se sentindo assim? Provavelmente sim, porque quando entramos em casa ele ficou sério e calado, parecia até que era bipolar. Fiquei um bom tempo tentando descobrir porquê estava me sentindo assim, mas acabei desistindo para não dormir tarde. Enfim, consegui pegar no sono e adivinha? Sonhei de novo com Maria Joaquina.