Maria Joaquina narrando

Eu não acredito no que acabo de descobrir, quando eu li aquela matéria no jornal da escola, fiquei com vontade de socar ou estapear alguém, o Daniel e o Mário fizeram mesmo aquilo comigo e com minha melhor amiga quase irmã? Não é possível, vou lá pra confirmar.

Imediatamente jogo o jornal no chão com toda a força que tenho e puxo Marcelina pela mão pisando duro até ver os meninos em volta de vários outros, os dois estavam com o jornal nas mãos e pareciam nervosos.

Quem foi o imbecil que publicou isso? Hein?- o Daniel gritou, o que me deixou um pouco assustada, pois eu nunca o ouvira gritar.

–Só pode ter sido o Jorge, eu sabia que ele ia ser capaz!! Você me paga viu Jorge?- gritou Mário também, furioso. Os olhos dele chegavam a soltar faíscas e ele tentou partir pra cima do tal do Jorge, mas Daniel o impediu.

–Brigar com ele só vai piorar as coisas irmão. Fica aí.- disse Daniel. Então era verdade, eles não gostam de nós. Olho para Marcelina e ela parece querer chorar.

–Meninos, essa matéria é verdade?- perguntei, arrancando o jornal da mão do Daniel e colocando na cara dele, mas ele permaneceu calado e um pouco trêmulo.

–Falem a verdade, não mintam agora!- Marcelina conseguiu falar, não sei como, mas conseguiu.

–Olha, Maria Joaquina... infelizmente é verdade. Mas a gente ia contar pra vocês, só queríamos ficar com vocês por um tempo e nada mais, só que quando a gente não quisesse mais nós íamos contar. O babaca do Jorge que espalhou isso primeiro.- Daniel falava enquanto Mário assentia com a cabeça.

Na hora, aquilo doeu tanto que nem se eu tivesse sido torturada a dor se compararia. Tive vontade de chorar, mas me segurei. Não iria chorar na frente dele. Não agora, ali, naquele momento.

Saí do colégio puxando Marcelina, que chorava compulsivamente. Pra mim não me importava se o colégio não pudesse liberar os alunos agora, eu só queria sair dali e nunca mais olhar na cara daqueles dois traíras mentirosos, por sorte, o porteiro não estava lá, havia ido lanchar com os professores, então pude abrir o portão da escola apertando uma campainha que ficava na mesa dele.

Chego na casa de Marcelina, mas acho melhor levá-la pra minha casa, pois ela não aguenta nem andar de tanto chorar, acho que é melhor levar ela pra minha casa e faço isso, entro em casa e subo as escadas ignorando os chamados da minha mãe e fomos direto para o meu quarto, tranquei a porta e Marcelina se apoiou nela enquanto eu me joguei na cama.. Eu chorava tanto que soluçava, aquilo era tão injusto! Nós duas não merecíamos aquilo, não mesmo.

Em certo momento, levantei a cabeça e abri os olhos urrando e tive um ataque de fúria ao ver as fotos de nós dois juntos, felizes, fazendo caretas para a câmera. Aqueles momentos foram uma farsa!

Rasguei tudo, as fotos, os bilhetes e qualquer coisa que me lembrasse a ele porque nem pensar no nome dele eu iria!

Marcelina chorou, chorou, chorou até que do nada, parou. Então foi subindo até minha cama e quando eu pensei que ela fosse chorar mais ou até mesmo urrar assim como eu estava fazendo, ela simplesmente fechou os olhos e dormiu. Mas que droga Mário! Quando alguém desmaia de tanto chorar é porque a coisa é séria mesmo!

–Meninas, está tudo bem aí dentro?- perguntou minha mãe. Ela é uma outra idiota, ela nos viu mal, pra quê perguntar se estamos bem? Fala sério!

Mas quer saber? Eu iria esquecê-lo de uma vez por todas, eu nunca mais iria me apaixonar de novo, nem por ele nem por ninguém, iria ser forte e morrer solteira! Será bem melhor pra nós duas.

Acabei dormindo enquanto pensava nas mil e uma maneiras de torturar Daniel e Mário.

Daniel narrando

Mas que burrada que eu fiz, eu devia saber que o Jorge seria bem esperto o bastante pra poder conversar com o dono do jornal da escola, agora a Maria Joaquina não deve estar querendo nem me ver. Que imbecil que eu fui. Mas amanhã mesmo eu vou tentar a todo custo falar com ela, talvez eu tenha que segurá-la firme pelo braço, mas eu vou falar com ela sim, custe o que custar.

Na manhã seguinte, eu e Mário estávamos tomando café, não falamos nada um com o outro e nem a nossa própria mãe falava com a gente. Ela já sabia que o Mário havia levado uma advertência por causa da briga com o Jorge e por isso não havia criado coragem pra falar com ele, só o chamava pra almoçar ou jantar, comigo não era a mesma coisa, ela falava bastante, mas eu havia ficado tão triste que não tinha coragem de falar amigavelmente com ela.

Quando termina o café, eu pego minha mochila, entro no carro do nosso motorista e Mário entra em seguida e seguimos em direção à sala. Quando entro na sala, vejo que a Maria Joaquina não está lá ainda, deve estar atrasada. Ela não costuma atrasar, deve ter dormido mal depois do que aconteceu ontem, assim como a Marcelina também. Sento no meu lugar e espero a aula começar sem parar de pensar na Maria Joaquina.

Fiquei esperando por muito tempo, sempre olhando para a porta na esperança de que a Maria Joaquina entrasse por ela junto com Marcelina, mas não entrou. No terceiro tempo percebi que elas faltaram. Esse Jorge é muito cruel mesmo, ainda teve a cara de pau de negar tudo.

Chega na hora do recreio vou direto para a cantina, pego meu lanche, sento em um banco e coloco meus fones pra tentar ouvir música e me distrair, mas nem isso resolve, até que vejo pés na minha frente. Ergo meus olhos, é Margarida, da mesma classe que a minha.

–Posso sentar aí?- pergunta ela.

–Pode.- eu falei como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Então ela sentou e começou a conversar comigo como se tivesse mil coisas pra falar e eu apenas falava concordando com a cabeça fingindo que entendia, mas na verdade não estava ouvindo nada. Nadinha mesmo, essa garota pode até ser legal, mas tem uma voz tão chata que parece até um zumbido de mosca.

Hoje eu vou até a casa de Maria Joaquina pra falar com ela, posso entrar escondido pela janela ou por qualquer lugar, mas eu vou falar com ela sim, custe o que custar.