Maria Jaquina narrando

No dia seguinte, eu e Marcelina acordamos e fomos direto para a escola juntas, eu ainda tinha umas coisas, assuntos, pra resolver com o Daniel, mas aposto que não vou sair de lá brava com ele e espero também que ele não fique bravo comigo.

Na sala de aula não tive a oportunidade de conversar com ele porque mal cheguei a professora entrou na sala, tive tempo somente de dizer um "oi" e ele retribuiu, mas mesmo assim eu estava ansiosa pra falar com ele no recreio, por isso que as aulas pareceram demorar uma eternidade pra chegar. Quando finalmente o sinal do recreio tocou, fui ao seu encontro enquanto pegava o lanche que minha mãe fez pra mim, ele pegou minha mão e disse:

–Vamos?

–Vamos.- eu sorri, embora não estivesse com vontade.

Vocês devem estar achando que eu estava irritada ou com raiva do Daniel por ele provavelmente ter mentido pra mim, mas eu não estava, eu estava apenas ansiosa para descobrir sobre ele, porque eu não sei, só sei que eu estava.

Por fim chegamos no pátio, Paulo e Marcelina tentaram sentar com a gente, mas eu pedi que nos deixassem à sós e eles respeitaram.

–Daniel, agora você pode me dizer como brigou com o Jorge, tendo me dito que não é de briga?- disparei.

–Olha amor, eu também pensava que eu era assim. Juro que quando eu disse aquilo pra você, eu achava que jamais ia brigar com alguém daquele jeito, mas você sabe que eu tenho motivos pra isso né? Pois além das provocações, eles também machucaram meu irmão, a coisa podia ter sido bem pior com ele, mas graças à Deus não foi. Só que eu juro que eu não sabia que acabaria explodindo daquela forma algum dia, se eu soubesse, nunca teria dito que era pacifista, desculpa por ter mentido vai, não foi por querer, eu prometi que ia ser fiel e sincero com você e eu vou cumprir essa promessa até o fim.- ele disse, fiquei aliviada pelas palavras sinceras dele, além disso, seus olhos também mostravam sinceridade.

–Tudo bem, eu acredito em você. Mas ainda acho estranho você mesmo não se conhecer a ponto de pensar ser uma coisa que não é.

–É, acho que na hora eu meio que vacilei nessa, mas juro que da próxima vez que eu lutar com alguém, vai ser somente pra te defender, se você permitir, claro.- ele riu e eu acompanhei.

–Claro que eu permito, desde que você ganhe.

Voltamos a rir, depois, fiz sinal para que Paulo e Marcelina voltassem a sentar com a gente e eles vieram.

Enquanto lanchávamos, perguntei à Daniel como estava Mário.

–Ah, ele está bem, está se recuperando em casa. Ele não quebrou nada, mas os médicos o aconselharam a faltar pelo menos hoje apenas por precaução, mas amanhã ele deve estar de volta.- ele disse e Marcelina sorriu.

–Ah, que bom. Será que hoje eu posso visitá-lo na sua casa?- perguntou ela.

–Claro que pode.- Daniel disse e ela sorriu, nesse instante, o sinal tocou e voltamos pra sala.

Marcelina narrando

Poxa, fiquei com tanto dó do Mário quando fiquei sabendo que ele estava em repouso por causa da perna, agora sim eu nunca mais quero olhar na cara daqueles dois, eles me fizeram muito mal e eu não percebi. Assim que toca o sinal indicando que era fim de aula, eu vou pra casa com Maria Joaquina e Paulo, tomo um banho e vou almoçar, mas quando dá umas duas da tarde, visto uma roupa qualquer e passou um perfume cheiroso pra ir visitar o Mário. Eu já tinha o visitado algumas vezes, por isso, já sabia onde ficava a casa dele. Pego um táxi, pois não tinha motorista e quando cheguei na casa de Mário, toquei a campainha. Demorou uns dez segundos e Daniel me atendeu:

–Oi Marcelina.- ele diz com um sorriso.

–Oi Daniel, cadê o Mário?- perguntou, sem jeito.

–Lá no quarto, pode ir lá.

–Obrigada.

Apesar de já não ir à casa de Mário por um tempo, ainda reconheci cada detalhe da casa, por isso não foi difícil encontrar o quarto dele. Assim que chego em frente à porta, vejo que ela está entreaberta, então, dou duas batidas de leve e ele diz:

–Entre.

Então, abro a porta e o vejo sentado na cama com um livro nas mãos, ele parecia estar copiando a matéria daquele dia e estava mesmo, mas quando me viu ali, diante dele, parou e seus olhos brilharam.

–Oi amor.- ele disse sem sair do lugar.

–Oi.- eu disse e lhe dei um beijo como cumprimento. Depois, nós ficamos um bom tempo ali, conversando sobre várias coisas, primeiro começou sobre como foi aquele dia na escola, depois foram outros assuntos como o acampamento, a volta da escola e a quadra, enfim, foram tantos assuntos que quando vi já eram 17:50, minha mãe ia brigar comigo se eu perdesse o horário da janta.

–Mário, eu gostaria muito de ficar, mas tenho que ir pra casa jantar, amanhã falo com você tá?- eu disse colocando minha mão em seu rosto.

–Tudo bem amor, pode ir.

Então lhe dei um selinho e saí, mas na hora em que passei pela cozinha, vi que a mãe dele estava saindo da mesma com uma bandeja na mão e um prato de comida sobre ela, provavelmente era o jantar do Mário.

–Deixe que eu levo, deve estar pesado né? -eu disse educadamente e ela agradeceu e me mandou esperar. Voltou minutos depois com outro prato e colocou na bandeja.

–Pra você e o Mário comerem juntos.- ela disse.

–Eu não posso, tenho que jantar em casa.- afirmei.

–Já falei com a sua mãe e ela deixou.

Foi aí que vi o telefone fixo da casa dela repousando sobre a mesa da cozinha, então, agradeci e voltei ao quarto, expliquei ao Mário sobre o que aconteceu e começamos a comer enquanto conversávamos.