Maria Joaquina narrando

Assim que me despeço de Daniel, me viro em direção à minha casa e vejo de relance Jorge e Abelardo olhando pra mim com uma cara de poucos amigos. Logo viro o rosto e desvio o olhar dele, mas consigo disfarçar a preocupação e vou conversando com Paulo e Marcelina no caminho.

–Parece que a coisa deslanchou entre você e a Alícia né?- perguntei ao Paulo.

–É. Bom, no acampamento nós já percebemos que tínhamos algo em comum, aí rolou uns beijinhos e tal, então nesse fim de semana, finalmente rolou.- ele respondeu sem devaneios.

–Que bom. Fico feliz por vocês dois, de verdade.- disse Marcelina e Paulo sorriu como resposta.

Chegando em casa, encontrei minha mãe, que na noite anterior, não conseguiu me encontrar acordada por eu ter chegado tarde em casa e assim que ela me viu, me abraçou e me beijou. Subi pro quarto e troquei de roupas, tomei uma banho e desci pra almoçar. Quanto tempo não saboreava o gosto da comida da minha mãe.

Marcelina narrando

Assim que chego no portão de casa, me despeço de Maria Joaquina e entro com Paulo.

–Oi mãe.- eu digo da sala.

–Oi meus amores. Como foi lá na escola?

–Foi bem.- Paulo respondeu por nós dois.

Depois, nós dois fomos tomar banho e sentamos para almoçar enquanto conversávamos animadamente. Quando acabamos, vou para meu quarto descansar um pouco e fico no computador conversando com Maria Joaquina para combinarmos alguma coisa. Depois de algum tempo sem decidirmos nada, sinto um aperto no peito, uma angústia forte, um mal pressentimento, parecia que estava acontecendo algo ruim com alguém que eu amo, e como nós duas estávamos nos falando por webcam, ela meio que percebeu o meu mau-súbito e ficou preocupada.

–O que houve amiga?- perguntou ela.

–Nada, eu só... tive um aperto no peito agora, nem sei porquê.- respondi me sentindo mais aliviada.

–Nossa, que estranho.

–Eu sei.

Depois, voltamos a falar sobre o assunto anterior.

Daniel narrando

Quando chegou a hora do treino começar, o treinador mandou nos posicionarmos e nós obedecemos. Então, depois de alguns segundos, ele apitou autorizando o jogo, comecei bem, driblando todos, passando a bola e quase marcamos um gol, mas o goleiro defendeu por acaso, mas procurei deixar aquilo pra lá, pois na próxima acertava.

Assim que foi liberado de novo, Gabriel tomou posse da bola e depois passou para Mário, só que ele ficou meio sem saída, pois Abelardo marcou ele e Jorge vinha na frente, para impedir que ele perdesse a bola, me aproximei e acenei pra que ele passasse a bola pra mim, mas assim que ele foi chutar, Abelardo e Jorge colocaram os pés na frente da bola e ele tocou o pé na bola, que estava parada, com isso, ele tropeçou e caiu, cometendo uma falta. Rapidamente eu fui lá ajudá-lo e vi que ele havia ralado o joelho.

–Está tudo bem?- perguntei.

–Mais ou menos.- ele agonizou.

–Desculpa aí meu.- disse Abelardo e eu fiz sinal pra que ele se afastasse.

Com aquele acidente, o jogo foi interrompido por um tempo, pois Mário precisou ser atendido pra ter certeza que havia somente ralado o joelho e não tivesse nada mais grave. Enquanto ele era examinado, fiquei sentado no banco preocupado, acompanhando de longe e com uma dúvida na cabeça: será que Jorge e Abelardo fizeram aquilo de propósito para tirá-lo do treino assim como fez da outra vez em que passaram cola em nossas chuteiras? Não sei, mas isso eu ainda vou descobrir.

Enquanto eu ficava pensando se foi mesmo de propósito ou não, Gabriel e Matheus vêem até a mim no banco e se sentam.

–Calma, o Mário vai ficar bom.- disse Gabriel.

–Como você sabe?- perguntei.

–Porque o médico disse. E além disso, precisamos nos preocupar com outra coisa.- disse Matheus.

–Que coisa?

–Vamos contar para o treinador que o Jorge e o Abelardo fizeram de propósito.

–Como vocês sabem que foi de propósito?

–Tava na cara Daniel, qualquer um perceberia que foi de propósito porque quando um jogador vai marcar o adversário não tem necessidade de ajudá-lo, de intervir em favor do companheiro.

Depois de alguns minutos insistindo, voltamos até o local onde Mário estava caído e lá o médico informa:

–Olha gente. Felizmente ele não teve nada grave, mas ele, pra voltar a jogar, precisará fazer muitos exercícios para recuperar os movimentos do joelho e também a flexibilidade, e quando ele não estiver mais se exercitando, precisará ficar em repouso em sua casa. Então Mário, procure não correr muito quando for fazer exercícios, na hora de tomar os remédios, tome-os com cuidado para não errar, enfim, faça tudo com calma, ok?

Mário assentiu com a cabeça.

–Treinador, o senhor devia punir o Jorge e o Abelardo por isso.- disse Matheus.

–E por quê?- perguntou ele, assustado.

–Porque foram eles que derrubaram o Mário e o deixaram nessa situação. Na hora que isso aconteceu, eu vi que você estava falando algo com o Gabriel, por isso você não prestou atenção, mas eu vi quando eles encurralaram o Mário e fizeram ele cair. Todos viram, não é pessoal?

Todos assentiram com a cabeça.

–Então vamos resolver isso agora!- disse o treinador quase gritando e pela cara, estava furioso. Gabriel era o centro-avante do time e o Matheus era o goleiro, por isso, na hora que todos nós estávamos focados na bola e o Gabriel conversava com o treinador, ele e os outros viram, mas o Jorge e o Abelardo esqueceram de esqueceram que todos ali estavam vendo. Então, quando o treinador saiu da quadra, encontramos Jorge e Abelardo dentro do vestiário, como o treino já estava interrompido, eles devem ter ido parar pra descansar.

–Jorge e Abelardo, os dois na quadra agora!- ordenou o treinador e eles, mesmo assustados, foram.

Quando voltamos à quadra, ajudei Mário a ir até o carro de nosso motorista apoiado no ombro, quando consegui, o treino ainda estava interrompido.

–O que aconteceu?- perguntei à Gabriel e Matheus, que estavam na quadra, conversando.

–Ah, o treinador expulsou os dois do time, já estava na hora mesmo.- respondeu Gabriel.

–É, eles ainda tentaram insistir, mas o treinador foi firme na decisão e eles foram expulsos.- completou Matheus.

–Ótimo, assim eles não nos atrapalham mais.- eu disse.

–O Mário já foi embora?- perguntou Matheus.

–Já sim, por quê?

–Porque nós mandamos uma mensagem pra Marcelina sobre o ocorrido e ela disse que viria pra cá, mas acho que vou pedir pra ela ir até a sua casa para vê-lo.

–Eu acho uma boa ideia.

–Cara, depois que ela perceber o estrago que aqueles dois fizeram ao joelho dele, duvido que ela vai continuar amiguinha deles.- disse Gabriel.

–Óbvio que não, se ela continuar amiga deles, será considerada uma maluca!- disse Matheus e eu ri.

Naquela hora, o treinador deu o treino por encerrado e nós três fomos ao vestiário para tomar uma ducha. Terminei, coloquei minhas roupas normais e estávamos seguindo para a saída, quando passo pelo corredor, vejo Marcelina e Paulo vindo em nossa direção.

–Cadê o Mário?- perguntou Marcelina.

–Já está em casa.- eu disse.

–Eu mandei uma mensagem pra você avisando que ele foi embora, não viu?- disse Gabriel e Marcelina nos olhou confusa, mas depois conferiu o celular e viu que a mensagem estava lá.

–Ai desculpa, é que eu saí com tanta pressa que nem vi a mensagem. Tudo bem, eu me conformo em visitá-lo em casa.- disse ela.

–Ótimo, vamos lá.- eu disse.- Valeu pela ajuda rapazes.

–Valeu, a gente se fala amanhã.- disse Matheus, acenando e indo embora. Pela cor do céu, já deviam ser umas quatro da tarde, quando estávamos na esquina do colégio, encontramos Jorge e Abelardo vindo em nossa direção, estavam prontos para irem embora.

–Ora ora, o que vemos aqui? - ironizou Jorge.

–Sabem onde estão o Gabriel e o Matheus? Temos umas contas para acertar com eles.- disse Abelardo, fazendo meu sangue ferver.

Eu fiquei quieto, mas percebi que Paulo estava tão nervoso quanto eu.

–Que foi? O gato comeu a língua de vocês?- ironizou Jorge, mais uma vez.

Nesse momento, levei um susto quando Paulo gritou do meu lado:

–Maldito!!- e tentou socar Abelardo, mas o mesmo segurou o braço que ele tentou golpeá-lo e socou Paulo, que não desistiu, revidou e lhe deu uma no estômago, fazendo Abelardo cair e em seguida, Paulo ficou em cima dele, socando-o feito um louco.

–Solta ele!- disse Jorge, tentando apartar a briga junto com Marcelina, mas eu puxei Jorge por trás da camisa e desferi um soco bem dado naquela cara de santo que ele tem, Marcelina ainda tentou me impedir, mas eu, furioso do jeito que estava, não deu a mínima pra ela e também fui pra cima de Jorge, que me devolveu o soco e em poucos segundos, rolávamos no chão. Eu socava ele, mas eu também podia sentir ele me socar também, Jorge não era tão forte, mas sabia lutar bem, mesmo assim eu não desisti e só parei quando o nosso treinador, junto com alguns professores, separou nós quatro, de relance pude ver Paulo e Abelardo, o primeiro estava só com sangue escorrendo da boca devido ao soco que levou e o outro estava com a cara toda cheia de sangue, fiquei impressionado como o Paulo conseguiu dar uma surra nele daquela forma se ele não tinha mexido com Marcelina, que era irmã dele, mas procurei não perguntar, afinal, eles se tornaram melhores amigos quando Mário voltou a namorar com ela.

Já eu e Jorge, não estávamos tão machucados assim, como foi uma briga rápida, nós só tínhamos alguns ferimentos leves, mas a adrenalina ainda estava dentro de mim.

–Os quatro na sala da diretora. Agora!- disse um dos professores que nos separou.

Ferrou. E agora? Como vou enfrentar a diretora?