— Anastácia! – Minha voz sai desesperada, ela não se vira, sinto-me apavorado. – Anastácia! – Digo mais alto, as pessoas em nossa volta olham para mim e ela nada. Então a seguro pelo braço e a viro para mim. Ela me olha assustada, seus olhos de céu que nem por um único instante saíram da minha memória me encaram arregalados. – Anastácia! – Digo estarrecido, emocionado, desesperado, perdido, confuso. Ela me olha séria, fica estática. Ficamos assim por poucos segundos que para mim são como esses três longos anos que nos separaram.

— Me solta! O senhor é maluco?! – Ela diz nervosa e puxa o braço com força, me encarando seriamente.

— Anastácia! – É só o que consigo dizer, sentindo meus olhos marejarem. – Eu te procurei tanto, tanto, tanto... eu não conseguia acreditar que era verdade. Mas a aeronave não tinha caído perto de nenhuma ilha ou local de terra firme. Anastácia, minha Ana! – Vou atropelando as palavras enquanto sinto que as lágrimas caem automaticamente. Ela me olha assustada, franzindo as sobrancelhas. Vou tocar em seu rosto, mas ela se afasta. – Ana... – Tento argumentar, mas ela me interrompe.

— Olha senhor, eu realmente não estou entendendo nada do que o senhor está dizendo. Eu sinto muito, porque me parece que algo muito ruim e doloroso lhe aconteceu, mas eu não sou Anastácia. Meu nome é Charlote! – Ela diz e é como se recebe o peso do mundo sobre mim, sinto enjoo, tontura, minha cabeça dói. Não posso crer, eu estou vendo com os meus olhos! É ela! Um pouco diferente, pois seus cabelos estão supercompridos, está com o corpo mais roliço, com mais curvas do que antes, a pele levemente bronzeada pelo sol, mas é a Anastácia, a minha Ana sim!

— Não, não, não... – Digo balançando a cabeça e as lágrimas ainda rolam por minha face. Ela parece se sensibilizar com meu estado, então segura no meu braço.

— Senhor venha comigo, vai ficar tudo bem! – Ela me guia, pareço um fantoche sem as cordas. A linda mulher me leva devagar até mais a frente onde entramos em um restaurante. O local parece não estar funcionando no momento, ela me conduz até uma mesa e me coloca sentando em uma cadeira. – Eu vou buscar uma água, fique aí. – Diz me olhando como se eu fosse um ET. Até parece que eu conseguiria sair daqui! Penso enquanto ela anda para longe de mim, a mesma deve ter demorado algum tempo para voltar, mas estou tão chocado que não vejo o tempo passar, então ela está de volta com um copo grande cheio de água. – Aqui, beba devagar e respire fundo. – Diz com calma, como se tivesse medo que eu pudesse surtar. Pego a água e a bebo toda de uma vez, ela faz uma expressão de confusão e de espanto. – Acho que estava com sede... – Tenta ser engraçada, coloco o copo sobre a mesa, bebi a água toda de uma vez não por sede e sim por desespero, bebi que nem senti, queria que de alguma forma eu acordasse desse transe e percebesse que essa mulher a minha frente não se parece nenhum um pouco com a minha Anastácia, já que ela se recusa a saber quem eu sou, mas a verdade é que se elas não são a mesma pessoa teriam que ser gêmeas idênticas. Volto meus olhos onde estou analisando todo o ambiente, é um restaurante simples de beira de praia. As paredes são brancas, os móveis em madeira pintados de branco, toalhas baratas em cima das mesas, um balcão grande mais a frente no meio do lugar, onde atrás é o bar em uma parede cheia de bebidas, na frente do balcão azulejos azuis o decoram, assim como algumas pilastras do ambiente são azuis e as paredes ao fundo onde tem as placas dos sanitários, a minha esquerda há portas de vidro com cortinas brancas, assim deve-se ter alguma visão da praia, no momento o ambiente está escuro, só não tanto pela luz do sol que entra pelo vidro. É totalmente diferente do AFive, ou de qualquer restaurante em que a Ana já tenha trabalhado. Ela cruza os braços se encostando a uma mesa a minha frente.

— Você trabalha aqui? – Pergunto passando as mãos no rosto tentando melhorar o meu estado. Já que ela diz que não é a minha mulher, tenho que saber mais sobre ela, preciso saber quem ela é, preciso saber se há alguma relação entre elas de alguma forma.

— Não. Eu sou artista, faço telas, artesanato e até peças de roupa. Como esse vestido que estou vestindo. – Ela diz tranquila pega na barra do vestido e sorri. Anastácia sempre dizia que a cozinha é uma arte, então não me espantaria com ela exercendo seu lado artístico em outras coisas. Apesar de que ela nunca costurou nenhum pano de prato na vida, pelo menos não que eu saiba. – Eu sinto muito pelo que aconteceu, percebi que você me confundiu com alguém importante para você! – Ela diz com carinho, num tom tão meigo o qual conheço muito bem.

— A minha esposa faleceu há três anos e você é idêntica a ela! – Digo de uma vez para ver se isso lhe causa algum fio de lembrança ou alguma reação diferente. Ela levanta as sobrancelhas compreendendo o que eu digo, mas sem esboçar nenhuma reação significativa.

— Nossa... meus pêsames! – Diz sendo gentil, franzo as sobrancelhas, vou lhe fazer mais perguntas quando um homem bem alto, talvez um pouco maior do que eu que tenho um metro e oitenta e cinco, moreno, de cabelos ondulados um pouco compridos, forte, de camiseta branca, calça e avental de cozinha na frente, se aproxima dela e a puxa pela cintura, então a beija na boca, ela corresponde com intensidade, segurando em seu rosto, depois um sorri para o outro ao se soltarem do beijo. Sinto meu coração estilhaçado no peito, mas também é como se uma onda de ódio fosse crescendo em mim, minha vontade é de arrancar as mãos dele da cintura dela e todos os dentes perfeitos desse sorriso idiota que ele estampa na cara. – José, esse é o senhor... como é mesmo o nome do senhor?! – Aponta ele para mim, querendo nos apresentar, então me levanto tenso, rígido, e respondo entre os dentes.

— Christian Grey. – Digo firme, ele olha para mim me analisando, sente o perigo que vem de mim de alguma forma.

— Prazer senhor Grey, sou José Gomes! Já vi que conhece a minha noiva, a mulher mais linda das Bahamas Charlote Pontes! – Diz a abraçando, ela sorri e cora. Sinto meu sangue ferver de raiva!

— Sim, ela me ajudou... me senti mal, acho que devido o sol muito forte, lá em Seattle não estamos acostumados com tanto calor. – Digo vendo se desperto algo nela, que só me olha sorrindo.

— Já se sente melhor? – Pergunta com gentileza, a mesma de todo esse tempo.

— Sim, agora tenho que ir, obrigado por tudo! – Num gesto automático passo a mão no bolso da minha camiseta, sinto que tem dinheiro ali, então retiro a nota do bolso e a coloco em cima da mesa. É uma nota de cem dólares, fico feliz por sempre deixar algum dinheiro perdido nos bolsos para gorjetas ou algo do tipo. Então me viro saindo do restaurante. Poderia não ter deixado dinheiro nenhum, ainda mais sendo uma nota até alta, mas queria que aquele homem visse com quem está batendo de frente, quem sabe dinheiro não a lembre de algo também... não vou desistir, essa tem que ser a minha Anastácia! Penso enquanto ando pela calçada. Me sinto completamente zonzo, caminho pelas pessoas como se estivesse perdido. É como se eu tivesse entrado em um camicase e tivesse sido atirado dele, foi a situação mais estranha da minha vida! Tudo o que eu mais sonhei durante todo esse tempo aconteceu da forma mais desconexa possível, eu não queria que tivesse sido assim. Eu esperava abraça-la e leva-la direto para casa. Como pode ser o céu e o inferno ao mesmo tempo?! Como isso é possível?! Quando eu iria imaginar que acharia a minha esposa nesse lugar?! E se eu nunca tivesse vindo?! E se ela nunca se lembrar de mim?! E se ela por algum tipo de azar ou praga do destino não for a minha Anastácia?! Não, isso não! Ela é, com certeza ela é! Quando estou atravessando a rua me dou conta que estou esquecendo algo. Ah tenho que comprar os sorvetes! Dou meia volta e vou para a sorveteria mais próxima, que fica bem de frente para a praia. Preciso manter tudo como estava, até por a cabeça no lugar e decidir o que pode ser feito.