Não acreditei no que meus olhos estavam vendo. Finalmente a encontrei! Me levantei num salto e corri para abraçá-la.

― Alice! ― murmurei enquanto segurava a mulher em meus braços, e senti algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. ― É você mesmo?

― Sim! ― ela respondeu com um sorriso, também com os olhos marejados. Dei um passo para trás a fim de analisá-la melhor e registrar esse momento em minha memória. Ela ainda se parecia com a menina de cinco anos que eu lembrava, só que agora estava maior e com uma barriguinha sobressalente. Espera, o quê!?

― Você está grávida?

― Sim, de seis meses já! ― ela deu uma risadinha e continuou. ― O que você está fazendo aqui?

― Bom… Estava com saudades de você e decidi te procurar ― Não entrei em muitos detalhes no momento, melhor revelar a verdade aos poucos. ― Lembrei que você e seus pais vieram cuidar de uma fazenda aqui, e meu próximo passo era visitar todas as fazendas até te encontrar.

Alice deu uma gargalhada, jogando a cabeça para trás, e foi impossível não rir também.

― Vem cá, deixa eu te apresentar o meu marido. ― Ela me puxou pela mão e me levou até onde o Edward se encontrava com uns rapazes. ― Amor, essa é aquela minha amiga de infância, Isabella. Bella, esse é meu marido, Jasper ― Um rapaz loiro de olhos castanhos estendeu a mão para me cumprimentar.

― Você é a famosa Bella, então! ― Congelei no lugar ao ouvir sua frase, esperando pelas milhares de perguntas que seguiriam, mas elas não vieram.

― O Jasper está cansado de ouvir nossas histórias de quando éramos crianças! ― ela deu uma risadinha e eu soltei o fôlego que nem notei que estava prendendo. Nesse momento, o Edward entrou na conversa.

― Então quer dizer que a sua Alice Brandon era a Alice Hale ― ao terminar de comentar, virou-se para a mulher. ― Essa moça estava desesperada atrás de uma Alice Brandon, conversando com todos os moradores da vila ― acrescentou em um tom jocoso.

― Bom, para a minha defesa, eu não fazia ideia que ela havia se casado e mudado o sobrenome. Acho que eu não ia te encontrar nunca, amiga! ― disse e a abracei novamente.

― Temos tanto para conversar! Vamos tomar um café amanhã para colocar o papo em dia?

― Com certeza! ― respondi, feliz e aliviada, pois encontrei minha amiga.

O restante da noite passou de forma tranquila, rimos, brincamos e comemos quase todas as tortas disponíveis nas barracas. Havia muito tempo que eu não me divertia de verdade, com pessoas que demonstraram se interessar apenas por mim, por quem eu sou. Aproveitei também para conhecer mais o Edward, ou Ed - como ele pediu para chamá-lo. Ele adorava música, principalmente a clássica, e aprendeu a tocar piano quando ainda era garoto. Alice o dedurou informando que ele tinha um piano guardado em alguma sala da pousada.

― O Ed toca maravilhosamente bem, não é mesmo, pessoal? ― Ela comentou e olhou para o rapaz. ― Mostre a ela algum dia desses. ― Eu o encarei com curiosidade, fazendo-o prometer que antes de eu ir embora tocaria algo para mim, e ele aceitou, um pouco acanhado.

Edward perguntou algumas coisas sobre mim, quais eram meus gostos, cor favorita, filme preferido, banda predileta, e por aí vai. Estava tudo tão agradável que eu não queria me despedir para dormir. Eu até havia esquecido de quem eu era, a super modelo famosa e comecei a enxergar a… Isabella Swan. A cada momento passado com ele, eu sentia mais e mais vontade de ficar junto dele, aprendendo mais sobre esse homem que possuía um gosto peculiar para um rapaz do interior. Em comparação com os caras de Toledo, Edward era gentil, cavalheiro e aparentava viver em outro século, sempre muito educado.

Após bocejar pela décima vez, rendi-me e aceitei a derrota contra o sono. Antes de me retirar, Alice e eu achamos melhor combinar um almoço amanhã no restaurante do senhor Black, o mesmo que havia ido mais cedo com o Ed. Estava ansiosa para saber o que estava acontecendo na vida dela e, ao mesmo tempo, queria contar tudo sobre a minha. Pensei que seria bom ter uma opinião sincera de alguém que se importasse realmente comigo, e não com minhas bolsas, roupas e sapatos de marca. Mal podia esperar!

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Era aproximadamente dez da manhã e eu contava os minutos para o meio-dia. Para passar o tempo, fui até a sala de estar da pousada e me sentei em um dos sofás, havia uma pequena mesa próxima, então depositei meu caderno de desenhos ali e fiquei o analisando, de longe. Minhas maiores inspirações estavam ali dentro, apenas me esperando para colocá-las em prática, mas a verdade, dura e ríspida, insistia em assombrar meus pensamentos: eu era uma covarde. Havia muito tempo que ser modelo não me dava mais prazer, contudo eu não encontrava forças para dizer isso ao mundo. E por mundo eu me refiro ao meu agente, que a cada oportunidade esfrega nosso contrato na minha cara, forçando-me a cumprir com as obrigações.

Solto um suspiro e abro a capa, folheando as páginas e examinando cada criação contida ali. Estava tão distraída que dei um pulo no sofá ao ouvir uma voz masculina ao meu lado.

― Foi você que fez?

― Ai, que susto! ― Levei uma mão ao coração e fechei os olhos rapidamente. Edward deu uma gargalhada gostosa e se sentou próximo a mim. ― Sim, eu que… fiz esses designs. ― A última parte saiu quase num sussurro.

― Estão ótimos, você leva jeito! É com isso que você trabalha?

― Queria! Mas não… ― Meu sorriso foi sumindo lentamente. Seus olhos passeavam entre o caderno e de volta para os meus olhos, curiosos com minha resposta. ― Esse é um sonho distante… No momento, eu trabalho diretamente com as modelos. ― Bom, não estava mentindo!

― Entendi… Mas acho que você deveria resgatar esse sonho, seus desenhos são muito bons ― Elogiou novamente, fazendo-me corar. Parece que minhas bochechas ganham vida própria quando estou perto desse rapaz.

― Obrigada ― agradeci, sorrindo e mordendo o lábio inferior. Notei que seu olhar fixou em minha boca, e lá estavam as borboletas novamente dançando dentro de mim.

― É… Eu preciso ir, tenho bastante coisa para fazer aqui na pousada ― proferiu e se levantou rapidamente, mas antes de sair, perguntou. ― Você tem planos para mais tarde? O pessoal vai fazer uma fogueira e assar uns marshmallows lá na fazenda dos Weber. Posso te dar uma carona, se você quiser.

Uma chance de passar um tempo com pessoas de verdade e com o Edward? Não perderia por nada!

― Claro, vou adorar!

Perto da hora do almoço, dirigi-me até o restaurante do senhor Black e me sentei em uma das mesas, aguardando a chegada da Alice. Não muito tempo depois, avisto a mulher com aquela barriguinha linda entrando no estabelecimento.

― Bells! ― pronunciou meu apelido de infância e meu coração se aqueceu com as recordações. Recebi-a com um abraço apertado e nos acomodamos próximas ao bufê. Servimo-nos com o prato do dia, e eu pedi um extra de salada, estava ficando com a consciência pesada de fugir da dieta.

― Então me conta, amiga, como você está? Quais as novidades desde a última vez que nos vimos? ― Com uma risadinha, comecei a conversa e dei uma garfada na comida.

― Bom, como você já sabe, eu me casei e estou grávida do nosso primeiro filho ― sorriu e acariciou a barriga. Assenti com a cabeça e ela continuou. ― Mas voltando lá no passado, quando chegamos aqui em Vila Aurora eu não conhecia ninguém, na verdade, estava até magoada com meus pais por termos nos mudado pra cá. Sabe como é, criança né, não entendia muita coisa.

― Sim, sei bem como é.

― Papai me matriculou na escola local e foi lá que conheci o Jasper e o pessoal. Inclusive o Edward ― ela pronunciou o nome dele de um jeito engraçado e me olhou. ― A gente se conhece desde o primário, somos bons amigos. Então eu sei quando ele está interessado em alguém. ― Quase cuspi o suco que havia acabado de dar um gole.

― Como? ― Alice gargalhou e continuou:

― Nada… No momento certo, você vai perceber. ― A mulher pegou o garfo para começar a comer, mas antes me perguntou ― E você, como está tudo desde que parti? E seus pais?

― Estamos bem! Agora eu moro no centro de Toledo, e eles preferiram se mudar para um bairro mais afastado, mas nos falamos sempre. ― Eu respirei fundo antes de continuar. ― Um pouco depois de você ir embora, quando eu tinha sete anos, uma agência de modelos entrou em contato com a mamãe, pediram para fazer um ensaio, como um teste, sabe? E desde então eu tenho trabalhado como modelo.

― Não acredito! Que demais, Bells! Nem consigo imaginar aquela menina desastrada desfilando por aí ― falou com uma risadinha.

― Pois é! Precisei de vários cursos e treinamentos para aperfeiçoar a técnica e me tornar uma das melhores. ― Alice me deu um olhar curioso, então peguei o celular em minha bolsa e abri o print de uma matéria de revista, mostrando para ela em seguida. Sua expressão era de total surpresa ao ler o título “Super Modelo Isabella - Tudo sobre os Desfiles no Japão”.

― Japão?

― Sim… Sou conhecida no mundo todo. Bom, quase todo, já que ninguém parece me conhecer aqui! ― comentei sorrindo.

― Você não parece chateada com isso.

― E não estou! ― Suspirei antes de continuar. ― Você não imagina como é minha vida lá na capital. Todos parecem se importar mais com minha fama e dinheiro do que comigo. Até perdi seis anos namorando um cara que só queria status. Já aqui, o pessoal conhece a Isabella Swan de verdade, e eles parecem gostar realmente de mim.

― Poxa, Bells, sinto muito que você tenha passado por tudo isso, de verdade. ― Ela parecia genuinamente triste com minha situação.

― Obrigada, mas não precisa ficar triste, eu estou amando essa sensação de anonimato aqui da vila. Eu estou livre para fazer o que quiser, com quem quiser, e como quiser. ― Alice deu um sorriso malicioso e falou:

― Com quem quiser, é? ― Senti minhas bochechas corando e ela riu ainda mais. Para mudar o foco da conversa, comentei:

― Pensando melhor, tem uma pessoa que me reconheceu. Foi a dona Esme, mãe do Ed.

― Ah, isso não me surpreende. A dona Esme vai com bastante frequência à capital para comprar recursos para a pousada, sabe? Produtos exóticos para os hóspedes, amenities² especializados. Ela provavelmente viu sua foto em algum anúncio pela cidade.

― Sim, faz sentido. Eu pedi para ela não contar para ninguém aqui sobre mim. Você acha que fiz errado?

― Claro que não, Bells! Você tem todo direito de querer passar alguns dias despercebida, como uma pessoa normal ― Ao falar essa última palavra, ela fez uma careta e riu. ― Pode deixar que seu segredo também está seguro comigo.

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Olhei para o relógio e marcava um pouco mais de sete da noite. Chequei novamente o visual no espelho do quarto, dando uns últimos retoques no batom antes de descer para me encontrar com o Edward no saguão. Eu estava vestindo uma calça tipo legging preta, uma bota estilo coturno também preta e uma blusa na cor salmão de manga comprida, pois estava começando a esfriar mais. Preferi meus cabelos soltos, apenas jogando para o lado direito, deixando cair de forma natural. Enquanto encarava meu reflexo, lembrei das palavras da Alice: eu sei quando ele está interessado em alguém, disse me olhando de forma sugestiva. Será que ele está atraído por mim? Com esse pensamento, passei meu perfume preferido e fui ao encontro do rapaz lá embaixo.

Edward me esperava sentado no sofá, girando a chave do veículo entre os dedos. Abriu um sorriso torto ao me ver, e disse:

― Vamos?

Respondi com um aceno e nos encaminhamos para fora em direção ao carro estacionado ao lado da pousada, uma caminhonete antiga, com uma cor avermelhada desbotada. Como um perfeito cavalheiro, Edward abriu a porta do passageiro para mim, mas o caminho era um pouco estreito, então fui me esgueirando pela lateral para entrar na caminhonete, até que tive uma ideia para provar minha teoria: aproveitei o espaço restrito para esbarrar nele “sem querer” no processo. Com tamanha proximidade, foi possível sentir o cheiro da sua colônia, novamente aquelas notas amadeiradas invadiram minhas narinas, deixando-me extasiada, e seus olhos fitaram meus lábios. Inesperadamente, percebi lá no meu âmago que eu queria beijá-lo. Notei que seu corpo começou a se mover para frente e fiquei na expectativa, estava quase fechando meus olhos quando ouvi um barulho alto. Sobressaltada, reparei que ele fechou a porta e deu a volta para assumir o banco do motorista. Balancei minha cabeça rapidamente para clarear os pensamentos. Será que Alice se enganou e era tudo fruto da minha imaginação? Senti minhas bochechas corando de vergonha, enquanto Edward iniciou o motor e começamos o nosso trajeto até a fazenda. Eu nem podia imaginar o que o destino havia reservado para essa noite.