—Estevão… — virou num estalo.

—Diga, meu amor — sorriu pegando a mão dela.

—Perseu é estrangeiro, nos casamos porque você estava morto…prender alguém por casar com uma viúva é como prender deragonianos por incesto — apontou para os filhos, Estevão se aproximou dela e acariciou o rosto da mulher, lembrando de cada detalhe, percebendo que os anos foram bondosos com ela. — Perseu é um rei, não cometeu nenhum crime de Estado para ser preso.

—Vamos conversar a sós? — ele sussurrou, Estela assentiu engolindo um nó na garganta. Estevão a guiou até uma sala de chá perto dali, trancando a porta com sutileza — Eu entendo que você estava se sentindo sozinha, eu perdoo seu casamento tão logo após minha morte.

—Então perdoe Perseu também — ela pediu olhando para os pés, Estevão levantou o rosto dela com o nó do indicador.

—Acha que fui imprudente em mandar prender ele? — Estela assentiu — Você tem razão, eu estava morto, era um momento oportuno para ele — sorriu, acariciou o rosto dela — Pelos deuses, eu mataria o mundo por você — ela sentiu o estômago torcer, tinha certeza que sim, Estevão era louco suficiente para isso. — Espere ele se acalmar e depois o soltamos — a puxou para seus braços e então desceu as mãos para as coxas dela, a içando e colocando sobre a mesa. — Eu amo você, meu amor — murmurou contra os lábios dela.

—Eu sei — ela acariciou o rosto dele e suspirou. Sísifo se mexeu, arrancando um gemido de dor da mãe.

—Ele está agitado — Estevão acariciou o ventre dela — Podemos ter mais um depois desse, não acha? — Estela torceu o nariz, como falaria para Estevão que o bebê não era dele?

—Estevão, ele ainda nem nasceu — disse escorregando da mesa. — Você tem coisas para resolver, nos vemos depois… — ela deu as costas, caminhando alguns passos, até que a mão dele a segurou.

—Você sentiu minha falta? — perguntou apertando os dedos contra o braço dela de maneira que começou a machucar — Você me ama?

—Claro, você é meu marido — respondeu trêmula. A mão dele apertou mais.

—Não foi isso que eu perguntei — rosnou — você sentiu minha falta?

—Senti. — falou firme. — Nos vemos depois — novamente se virou, mas Estevão a puxou de encontro ao seu corpo.

—Você é tudo para mim, Estela — depositou um beijo na bochecha dela — Não vá agora, por favor — desceu os beijos para o pescoço dela — Fique comigo, temos tanto o que colocar em ordem – seus dedos enraizaram nos cabelos brancos da esposa, enquanto a mão livre buscava urgentemente pela carne quente da mulher, o beijo se tornou urgente e ardido.

Estela não percebeu em qual momento ficou nua, nem quando Estevão a deitou no tapete no chão, tampouco notou quando os movimentos tornaram-se compassados, mas sentiu-se envergonhada quando tudo terminou, buscando rapidamente por seu vestido a fim de se cobrir, aquilo era errado, estava casada com Perseu…mas também era esposa de Estevão.

—Ora…o que é isso? — o homem perguntou quando teve forças para abrir os olhos, sua esposa era perfeita e ele nunca havia esquecido — Querida, não se faça de puritana — Estela o encarou, Estevão tinha um sorriso irônico. — Quantas vezes ficamos nus pelas salas do castelo? — ele a puxou pelo próprio vestido, obrigando-a deitar ao seu lado, pairando delicadamente sobre ela, quando pode notar as marcas de queimadura que se faziam presente no pé da barriga — Foi o bebê? — apontou, Estela assentiu — Os outros não faziam isso — a mulher sentou, enfiando-se no vestido da maneira que pode.

— Liberte Perseu — pediu Estela, firme.

— Estávamos falando de nossos filhos… — Estevão começou, com um tom impaciente.

— Liberte Perseu — repetiu ela, sem vacilar.

— Ele casou com minha esposa! — rugiu Estevão, o rosto contorcido de fúria.

— Você estava morto. — Ambos se levantaram ao mesmo tempo, trocando olhares intensos. Estevão a encarou com superioridade, um olhar que Estela devolveu sem hesitação. Ele tremeu, como acontecera apenas uma vez, logo após a batalha da Abadia.

— Não me importo com quantos anéis aquele homem coloque em seus dedos, você é minha esposa! — vociferou Estevão, a voz quase animalesca, seus punhos cerrados ao lado do corpo.

— E eu nunca me esqueci disso, mas já faz sete luas que você partiu. Eu tinha o direito de seguir em frente! — Estela queria dizer que tinha o direito de ser feliz, mas preferiu não usar palavras tão duras com Estevão, que acabara de voltar sabe-se lá de onde.

— Você é minha esposa, deveria ter feito seu papel! — gritou ele, batendo com o punho na mesa, fazendo os objetos tremerem.

— E o fiz! — respondeu ela, firme. — Por dezesseis anos, fiz meu papel de esposa. — Estevão murchou, o rosto ainda vermelho de raiva. — Você quis dragões, eu te dei dois dragões. Você quis filhos, e te dei sete. Estive obedientemente ao seu lado por dezesseis anos. — frisou nos dezesseis anos. — Pode ficar bravo por meu novo casamento, mas não diga que não fiz meu papel de esposa. — Endireitou-se, os cabelos brancos perfeitamente organizados ao redor do rosto. — Nos vemos mais tarde. — Virou-se e abriu a porta com força. — Lamento se não fiz o período de luto que você achava ideal, não foi minha intenção ferir sua memória. — Saiu da sala, deixando Estevão sozinho, ainda tremendo de raiva.

O marido estava confuso, assim como ela. Ele havia morrido e voltado à vida, algo difícil de processar. Além disso, Estevão tinha uma percepção de tempo completamente diferente: para ele, tinham se passado apenas alguns dias, não luas inteiras.

Estela caminhou pelos corredores até chegar à porta que levava às masmorras. A escadaria, iluminada por tochas, não tornava o ambiente menos assustador. Percebeu que nunca havia descido ali, nem mesmo quando Darya foi presa; não a visitou. As reclamações de Perseu a guiaram até onde ele estava. Enfurecido, gritava ao guarda que o libertasse.

— Majestade — o guarda curvou-se. — O rei não gostaria que vossa graça viesse às masmorras… ainda mais nessas condições — olhou para a barriga de Estela, onde o bebê havia parado de mexer.

— Eu me resolvo com o rei — respondeu friamente. — Deixe-nos a sós — ordenou.

— Majestade, o prisioneiro está nervoso e vossa graça espera um herdeiro — o guarda olhou para Estela como se ela fosse feita de vidro. Talvez fosse a imagem que Estevão passou dela ao longo dos anos, sempre ordenando que os guardas a protegessem, especialmente durante a gravidez. — Não é seguro.

— Rei Perseu não me fará nada — ela encarou o guarda. — Deixe-nos a sós.

— Sim, vossa graça — o homem saiu de cabeça baixa. Estela suspirou, detestava dar ordens, detestava ter que falar daquela maneira com alguém.

— Você parece muito mais assustadora ao lado dele — disse Perseu, com uma voz carregada de mágoa e ressentimento. Sentia que nunca seria suficientemente bom para competir com Estevão.

— Estevão tem a capacidade de tornar as pessoas ao seu redor mais assustadoras — Estela tentou sorrir, mas Perseu a olhou com desprezo. — Ele vai libertá-lo.

— Qual o preço que pagarei? — o rei de olhos azuis olhou para o chão de pedra, sua voz amarga. — Você ficará com ele. — encarou Estela, seus olhos ardendo de raiva.

— Não — sua voz vacilou, temendo que a presença de Estevão a lembrasse o quanto ainda o amava.

— Não estou perguntando — Perseu levantou-se de forma brusca e caminhou até ela, mantendo-se afastado das grades. — Levarei Artemisa comigo e você pode voltar à sua vida feliz.

— Você sabe que minha vida não era totalmente feliz com Estevão — disse ela, mas Perseu riu de maneira abafada, quase com desprezo.

— São tantos quadros, tantas histórias, tantas canções, tudo isso incrustado nas paredes do castelo e enraizado em Calasir — ele a encarou com um olhar feroz. — O povo ama vocês de uma maneira que jamais me amaria.

— Perseu…

— Não comece, Estela. Já ouvi sua conversinha quando ficou grávida de Artemisa — o tom que ele usou a acertou como uma flecha no coração. — Vai me dizer que me ama, que estava com Estevão por obrigação ou qualquer outra desculpa. Não estou com ânimo para isso.

— Por que me trata assim? — perguntou ela, com os olhos brilhando de dor.

— Porque você abandona o barco quando ele está afundando — riu de maneira amarga e dolorosa. — É uma péssima marinheira — deu as costas para Estela, que levou a mão ao ventre, sentindo-se ofendida. Sísifo chutou forte contra sua palma, mas ela engoliu o grito.

— Não sou uma marinheira, Perseu, sou uma cavaleira de dragões — declarou Estela, com um tom firme. — E se acha que estou te abandonando, tenho pena de você.

Perseu a olhou com uma raiva intensa, seus olhos faiscando. Amava aquela mulher, mas ela parecia dançar de homem em homem, buscando aquele que fosse o mais seguro ou mais másculo. Estela esperou por uma resposta, mas ele permaneceu em silêncio, o ressentimento transbordando. Quando foi abrir a boca para falar algo, ouviu vozes na entrada da masmorra. Uma risada alta ecoou, e então Estevão apareceu no corredor, acompanhado de Mandrik e William. As mãos do rei de Calasir pousaram delicadamente nos ombros da esposa, olhando-a com uma ternura traiçoeira. Estela conhecia aquele olhar; via a raiva serpenteando em suas íris cor de mel.

— Masmorras não são lugar para mulheres, meu amor — disse, apertando-a levemente com um sorriso triunfante. — Ainda mais grávida — acrescentou, disfarçando seu incômodo com um sorriso vitorioso.

— O que veio fazer aqui, Estela? — Mandrik perguntou com deboche.

— O que vocês vieram fazer? — devolveu a pergunta, colocando-se em frente à porta da cela.

— Viemos soltar Perseu — informou William. O guarda que havia deixado Estela e Perseu sozinhos tirou a chave do cinto e girou na fechadura.

— Peço desculpas pelo meu comportamento — Estevão falou suavemente enquanto puxava Estela pelo pulso. — É difícil retornar para casa e encontrar sua esposa casada com outro homem. Bem, não que eu ache que você sabe como é — deu de ombros, colocando Estela atrás de seu corpo. O sorriso aumentou. — Bem, rei Perseu, está livre. Se quiser ficar para a pequena comemoração que teremos essa noite, é bem-vindo.

— Não tenho pretensão alguma de ficar mais tempo em Calasir — respondeu Perseu friamente, com uma fúria mal contida. Ele encarou Estela, seus olhos cheios de dor e traição, enquanto cruzava a porta da cela.

— Espero que saiba que minha volta consequentemente anula seu casamento com minha esposa — frisou Estevão, enfatizando o “minha esposa” com uma satisfação evidente.

— Faça o que quiser com ela — Perseu respondeu, e os olhos de Estela arderam com lágrimas. Perseu estava falando dela como se fosse um mero objeto, algo que ela lutou por muito tempo para deixar de ser. Sua voz estava carregada de amargura e raiva, como se quisesse feri-la o máximo possível.

O quarteto observou Perseu se afastar rapidamente e desaparecer pela escadaria. Estela sentiu seu coração afundar e ser esmagado, a confusão e a dor se misturando dentro dela. Não esperava que Perseu travasse uma guerra por ela, mas achou que, no mínimo, ele confrontaria Estevão.

— Ele não é tão bom quanto você pensou, não é? — disse Mandrik, que havia a avisado sobre Perseu, sorrindo para ela com malícia.

— Vou me retirar — Estela disse, praticamente correndo em direção ao andar de cima, deixando Estevão sorrindo junto de William e Mandrik. Seu sorriso era de pura vitória, enquanto Estela, confusa e devastada, se afastava rapidamente.

Ela andava pelos corredores, o coração acelerado, refletindo sobre a loucura daquela situação. Estevão havia sido incinerado por Jaspe há muitas luas; ele não deveria estar sorrindo nas masmorras. Um calafrio percorreu sua espinha e arfou nervosa quando Sísifo se mexeu violentamente dentro de sua barriga, causando-lhe uma dor tão intensa que sentiu o gosto metálico de sangue na boca. Ele não deveria estar tão agitado, não deveria fazer movimentos tão complexos agora que estava grande.

Estela se encostou na parede, colocando a mão sobre o ventre, e se deixou escorregar até o chão frio. Ao se sentar, as lágrimas brotaram em seus olhos, quentes e incontroláveis. Estava desolada, perdida em um turbilhão de emoções. Queria ser feliz com Perseu, mas Estevão estava vivo, e ela tinha sido esposa dele primeiro, mesmo que o tivesse traído com Perseu. A culpa e o remorso a consumiam, misturando-se com a angústia de um futuro incerto.

A necessidade de gritar era quase insuportável; era uma confusão sem fim, um emaranhado de romances complicados e escolhas impossíveis. Tentou ficar de pé, mas uma pressão absurda no baixo ventre a impediu. Não era uma contração, mas como se o bebê estivesse se esticando, desesperado por uma saída. A dor e a aflição se intensificavam, enquanto o medo e a incerteza se instalavam em seu coração.

Liandra encontrou a rainha e a ajudou a chegar até o quarto, onde foi deitada na cama de maneira que ficasse confortável, a rodeando de travesseiros. A luz do sol infiltrava-se pelas cortinas, dando uma luz suave ao quarto que foi mais cedo compartilhado com Perseu. Estela gemeu de dor quando um chute frenético atingiu suas costelas.

—O bebê está agitado com toda essa confusão — constatou Liandra pousando a mão na barriga da rainha — Sabe o que vai fazer, majestade? — Estela olhou melancólica para a janela, suspirando profundamente. — Há de escolher.

—Não quero escolher entre um e outro — confessou — Amo Perseu, mas também amo Estevão, mesmo com todos seus defeitos. Tenho filhos com Perseu, mas também os tenho com Estevão. — encolheu o corpo. — Quero que tudo acabe…

—As coisas vão se resolver, sempre se resolveram — a criada sorriu.

—Temo não ser tão simples — acariciou a barriga vagarosamente. Então saltou quando a porta foi aberta, Estevão entrou, parando na antessala e olhando ao redor, obviamente questionando-se onde estavam os móveis que um dia ocuparam o cômodo — Iríamos partir hoje. — Estela comunicou o encarando, Estevão sorriu vitorioso.

—Desculpa, querida, não quis te dar esperanças que seguiria a vida sem mim — disse ao se aproximar, Liandra afastou-se, não lembrava o quanto o rei era assustador, mesmo sorrindo. — Apenas eu posso ter você — a beijou no pescoço, um beijo quente e demorado, ela se sacudiu na esperança de se livrar, mas a mão dele apertou sua coxa. — Você é minha — rosnou próximo ao rosto da mulher.

—Quero espaço, Estevão — ele bufou e se afastou, recostando-se na cabeceira da cama.

—O que foi? Quer sofrer o luto do seu casamento relâmpago? — debochou.

—Não — respondeu engolindo a raiva, por que ele tinha que ser tão arrogante? — O bebê está agitado — acariciou novamente a região, sendo recebida por outro chute.

—A barriga está bem baixa, está perto de nascer, não? — a mulher assentiu fechando os olhos. — Escute, sei que não está feliz com meu retorno, mas ainda sou seu marido.

—Não é seu retorno que me chateia, são suas atitudes mal pensadas — respondeu ainda de olhos fechados — Estevão, prender Perseu poderia causar uma guerra entre os reinos.

—Perseu é covarde demais para causar guerras, não importa quantas batalhas ele tenha ganho — Estevão deu de ombros no mesmo instante que Estela o olhou, seu rosto parecia cansado, visivelmente estressado. — Acha que eu diria o que ele disse? — a rainha suspirou, Perseu havia dito várias coisas lindas, mas aquela última frase havia ferido-a. — Acha que simplesmente daria as costas para você dizendo para outro fazer de você o que quisesse? — Estela lembrou de todas as crises de ciúmes de Estevão, de todas as promessas que faria uma guerra por ela, sabia que Estevão jamais daria carta branca para outro homem, nem que estivessem em uma situação parecida com a qual ela estava com Perseu e ele. Tudo que restou para ela foi negar com a cabeça — Fico feliz que saiba que eu jamais te entregaria de bandeja para outro homem — a mão dele acariciou o rosto frio dela.

—Nem se eu quisesse? — sussurrou a mulher.

—Você não quer isso, sabe disso — respondeu calmamente, fazendo os fios brancos dançarem em seus dedos. — Somos unidos por algo que não compreendemos —Houveram batidas frenéticas na porta, a qual Liandra abriu rapidamente pensando nas palavras do rei, talvez, realmente, eles fossem unidos por algo incompreendido.

—São seus filhos, majestades — anunciou observando a horda de crianças de cabelos brancos, não ficou surpresa ao não ver Artemisa.

—Entrem — Estevão autorizou com um sorriso, as crianças correram em direção a cama, escalando e emaranhando nos braços dos pais, Estela beijou Elisa, que estava mais próxima dela, a rainha reinante olhou para a mãe com esperança.

—Agora que o papai está de volta, tudo voltará a ser como era, não é? — Eilon perguntou com alegria.

—Sim, tudo será como sempre foi e como nunca devia ter deixado de ser — Estevão encarou a esposa ainda com seu sorriso vitorioso. — Agora me contem as novidades!

—Eu montei Aurys, papai! — Evan engatinhou animado por cima das pernas da mãe indo na direção do pai.

—Cuidado com sua mãe, Evan — repreendeu Estevão o recebendo num abraço e depositando um beijo demorado no topo da cabeça do garoto — Fico muito triste de ter perdido isso, mas depois você montá-lo em minha presença, não acha? — o garoto assentiu alegre. Estela amava os filhos e a maneira que Estevão os amava, ela sorriu. — Que houve, querida?

—Evan queria ser o cavaleiro mais jovem a montar um dragão — sorriu lembrando do filho enfurecido porque não haviam deixado ele montar Aurys na primeira oportunidade.

—Esse título é do Eilon! — Elisa pontuou.

—É sim — Estela sorriu —, Eilon é o cavaleiro de dragões mais jovem — o garoto corou, Estevão o apertou contra o corpo.

—Eu amo a família que somos e, por mim, jamais iríamos nos separar — Estevão olhou para a família, pousando seu olhar sobre cada um dos filhos e por fim em sua esposa, porque, afinal, Estela seria para sempre sua esposa, ainda mais depois de morrer e voltar para os braços dela.

Estela se recostou nos travesseiros, ajeitando Elisa e Elia em seus braços, sentindo o peso dos anos e das decisões em seus ombros. Dezesseis anos de casamento com Estevão não eram fáceis de apagar. Tinham construído uma vida juntos, uma vida marcada por seis filhos vivos, cada um carregando partes dela e de Estevão. Cada risada, cada lágrima, cada noite sem dormir com um bebê chorando, cada dia de festa em que os filhos corriam pelos corredores do castelo, todos esses momentos criaram uma tapeçaria complexa e intrincada de memórias e emoções.

Ela se perguntava se esse laço, tecido ao longo de tantos anos, era mais forte do que o amor puro e avassalador que sentia por Perseu. Com Perseu, sentia-se viva de uma maneira que nunca tinha experimentado antes. Ele a fazia sentir-se desejada, compreendida, e acima de tudo, amada sem reservas. O amor por Perseu era como um fogo ardente, consumindo-a por completo, enquanto o amor por Estevão, embora forte, era mais como uma chama constante e estável, que a mantinha aquecida, mas nunca a queimava com a mesma intensidade.

Ela ponderava sobre o que significava amar e ser amada. Seria o amor pelos filhos, o fruto de seu casamento com Estevão, uma prova de que esse relacionamento era mais forte e duradouro? Ou seria a intensidade do amor por Perseu uma indicação de que seu coração buscava algo mais profundo, mais verdadeiro? Estela sabia que não havia respostas fáceis. O amor por Estevão era construído sobre uma base sólida de anos compartilhados e desafios superados, enquanto o amor por Perseu era novo, excitante e repleto de promessas.

A confusão dentro dela refletia a batalha entre o conforto da familiaridade e a paixão do novo amor. Talvez, pensou ela, o verdadeiro desafio fosse encontrar um equilíbrio entre esses dois amores. Entender que o amor pode ter muitas formas, e que seu coração era capaz de abrigar tanto o amor duradouro por Estevão quanto a paixão intensa por Perseu. Em meio à sua dor e indecisão, Estela percebeu que o verdadeiro teste não era escolher entre eles, mas aceitar que ambos, de maneiras diferentes, faziam parte de quem ela era.