Tira os teus olhos do monitor*

Era sempre assim que as tentativas de diálogo eram iniciadas por Rita. Akasaka convencia-se de que bastava ela saber que era amada. Pensava que ela se contentava somente com isso, julgava-a uma pessoa feliz, satisfeita. Mas Rita não era, não estava. Sentia-se frustrada por raramente ouvir uma palavra vinda da boca daquele rapaz, agora já um homem. No entanto, não se comportava como tal. Não se preocupava em demonstrar as suas emoções e isso era algo que Rita não suportava. Lembrava-se perfeitamente quando Akasaka se confessou. Estavam entre amigos, pouco antes de entrarem para a faculdade. Tinham decidido celebrar por lhes ter sido permitido a continuação dos seus estudos. Foi um simples “Jogo da Garrafa” com uma mistura de “Verdade ou Consequência”, mas que deixou Akasaka completamente desprevenido.

— Vá, Shiina! Gira a garrafa, despacha-te! – mandou Sorata, já demasiado “feliz”. A garrafa apontou para Akasaka. – Hum… Verdade ou Consequência, Akasaka?

— Consequência… – respondeu sem qualquer interesse. Só estava a jogar aquilo, que pensava ser completamente sem nexo, porque Rita lhe tinha pedido.

Lá no profundo da sua mente, Akasaka pensava que lhe pediriam algum desafio informático, algo em que ele próprio se julgasse um profissional. No entanto…

— Confessa-te à Rita. Já é mais que tempo…

Os seus olhos arregalaram-se, a sua respiração parou por segundos. Rita, que era completamente extrovertida, ficou quieta e calada uma vez na vida. Não forçou Akasaka a cumprir a sua consequência, muito menos se mexeu. Akasaka tentava negar, nem o seu pescoço conseguia mover, mas ele nunca recusaria um desafio. Arranjou-se no sofá de modo a ficar frente a frente com Rita.

— Rita, eu… – parou, pois sabia que se prosseguisse, iria gaguejar como nunca o fez na sua vida. Então, suspirou antes de continuar. – Eu… Amo-te… – baixou o olhar mal acabou de proferir a palavra que tanto já lhe tinha ressoado na mente.

Rita ficou sem reação, mas a sua voz ficou para sempre gravada na sua mente. Seria algo que não poderia esquecer. Por vezes, preferia. Afinal, aquilo tudo não tinha passado de um jogo, ele decerto que tinha feito tal coisa só para não perder. Mas qual era o apaixonado que não gostava de ouvir um amo-te da boca da pessoa que amava? Sentia-se uma tola… Já tinha visto todas as suas amigas sofrer por amor, sentimento tão cruel, e agora via-se a ela própria na mesma situação. Era aconselhada de todas formas possíveis, mas nenhuma lhe parecia útil. Akasaka não era um rapaz normal. Tal como fez grande parte dos seus anos escolares, estava a fazer agora a faculdade, fechado no quarto, diante dos seus enormes ecrãs, ouvindo aquela Maid** a toda a hora. Apesar de não a suportar nem um pouco, não teria descoberto um pouco do passado do amado se não fosse ela.

Todos já tinham acabado de jantar, menos ele. Rita verificou o frigorífico. Suspirou de alívio. Havia tomates. Isso ele comeria de certeza. Ficou parada à porta do quarto. Estava sem coragem de entrar depois da resposta que tinha levado há poucas horas.

— Sai daqui, não me importunes com assuntos fúteis. – nem olhou para trás.

Mas eu olho para aquele idiota,

E a minha garganta fica seca e eu não consigo falar

Ele tinha sido rude demais. Rita tinha ido somente contar as novidades do seu dia e acontecimentos importantes que tinham ocorrido na faculdade. Mas depois refletiu: Ele não sabe tudo pelo computador? Saber, até sabia, mas se ela o pudesse fazer mais “humano”, sentir-se-ia feliz. Que ele era antissocial todos já sabiam, no entanto, desde que aquele estúpido jogo tinha acontecido, ele nunca mais a tinha encarado da mesma forma, se é que ele a tinha conseguido encarar alguma vez depois daquilo.

— Ryuunosuke, estás com fome, queres comer alguma coisa? – disse a medo.

Olhou de revés para verificar se realmente a rapariga lhe levava algo. Apenas anuiu ao ver que de facto levava e fez um sinal qualquer para que ela pousasse o prato perto da secretária.

Ver-te, mesmo que de súbito

É uma estranha sensação, desculpa

Rita não suportou o seu comportamento. Sem poisar o prato, ficou em pé atrás dele, observando o trabalho que ele estava a fazer. Esforçou-se para compreender, mas não conseguiu. Por vezes perguntava-se o porquê de ter desistido da sua vida em Inglaterra e ter-se apaixonado por um maníaco por computadores…

Eu quero falar contigo. Eu, para ti… – tentou Rita iniciar.

— Já te disse para não me importunares com assuntos fúteis. – virou-se para trás bruscamente, com uma expressão carregado no seu rosto, só para se deparar com Rita num choro silencioso.

Se estivesse atento, teria ouvido o seu choro. Ter consciência de tal fez com Akasaka se sentisse culpado.

Estou a ser honesta, sabes. – disse, com a sua fala entrecortada pelo choro. – Mas, se estás ocupado, desculpa.

— Espera! – gritou Akasaka sem se dar conta. – Eu preciso transmitir-te os meus sentimentos… Porque é que isto é tão difícil? – murmurou a ponto de Rita não conseguir ouvir. – Ah, desculpa, eu esqueci-me…

Rita só se questionava: Se me pedires sempre para esperar, o que é que eu posso fazer?

— Então, boa noite… – desejou Rita desanimada, levando os tomates consigo.

Espera! Eu gosto muito de ti, eu amo-te! – tais palavras paralisaram Rita, tal como na outra noite. Se não tivesse agarrado o prato, os tomates teriam rolado pelo quarto. – Eu sou como um mau ator no palco***… Então, por favor, aprende a ler-me, a compreender-me com as poucas palavras que eu te consigo dirigir…

Mais do que a língua que tanto o expressou.

Ah, aprende a ler o que o amor em silêncio escreveu:

Só com a pureza do amor podemos ver e compreender.

Rita não se mexeu, ficou estática ao ouvir aquelas palavras. No entanto, não teve muito tempo para as apreciar.

— Rita, Rita, onde te meteste?! – ouviu Shiina chama-la.

Finalmente poisou os tomates ao lado de Akasaka e depositou um leve beijo nos seus lábios. Será que era possível duas pessoas se compreenderem através da timidez…?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.