Amnésia

Capítulo extra: Especial de natal


Estava frio, uma pequena brasa estalava na fogueira improvisada que Chris cutucava com um graveto seco.

O rapaz deu uma olhada para seu acampamento improvisado. Normalmente Chris passava a noite debaixo de um teto em lugares pagos – e baratos – porém dois dias atrás ele havia sido roubado e atualmente não tinha dinheiro sequer para dar esmola a um mendigo. Chris conseguira uma barraca de um homem que deu a ele em troca deste cuidar da loja dele por um dia, o homem convidou este para trabalhar com ele, o bem feitor o daria uma cama e moradia, mas Chris não podia parar, ele tinha que continuar sua busca incansável por sua identidade. Sim, o pobre rapaz havia perdido a memória, mas isso é outra história.

Ele parara em um beco qualquer que não estivesse congelado como todos a cidade, pois afinal, estava no inverno.

Chris se encolheu em seu fino cobertor ainda cutucando a brasa que teimava em inflamar em uma chama. O garoto sabia que se ele não se aquecesse por pelo menos um momento, este morreria de hipotermia.

O rapaz teve uma ideia, podia ser um pensamento estúpido, mas era tudo que ele podia fazer. Ele fechou os olhos tentando convencer sua mente que à sua frente havia uma grande e aconchegante fogueira. Se ele pudesse ao menos enganar sua mente isso já o ajudaria.

Um calor aconchegante invadiu o corpo de Chris. “Funcionou bem até demais” pensava Chris estranhando o calor parecer tão real. Ao abrir os olhos o rapaz pode ver que sua imaginação virara realidade. À sua frente uma lareira inflamava em uma chama confortável.

Chris sentiu algo estranho, de certa forma ele sabia que aquilo era real, pelo menos um dia já havia sido, mas agora era apenas uma memória, de um tempo distante antes de sua sina.

O garoto olhou ao seu redor, várias pessoas estavam sentadas em cadeiras e sofás, um casal de mãos dadas ali, uns velhos conversando aqui, crianças brincando mais para lá. Chris não conseguia enxergar com clareza o rosto deles, mas podia sentir o sorriso na cara de cada um por estarem naquele momento juntos, unidos por aquela lareira aconchegante.

Chris não entendia o porquê daquilo, mas ao voltar o olhar para a esquerda ele pôde ver um pinheiro encostado no canto da sala, esferas coloridas e polidas enfeitavam a árvore juntamente de pontos brilhantes que piscavam. Abaixo da árvore caixas enfeitadas se amontoavam e acima desta uma estrela dourada reluzia.

“Uma árvore de natal”, Chris pensou.

E junto deste pensamento a imagem daquele momento se dissipou e ao abrir os olhos o garoto se viu de novo em seu precário acampamento. O rapaz tentou buscar em sua mente qual era o dia em que ele estava, e ao se concentrar se lembrou.

Era dia 25 de dezembro, era natal.

Mesmo voltando para o frio daquele beco Chris sentia seu interior ainda aquecido por aquela memória. Ele ouviu um estalo, e ao olhar para baixo viu a brasa inflamar em uma chama que começava a crescer.

O rapaz se aproximou da fogueira e se inclinou sobre ela colocando as mãos à sua frente para aquece-las.

Agora, com a alma e corpo aquecidos um sono começou a vir, não um sono de fadiga e tensão, mas sim um sono suave que sentimos naquela tarde agradável de primavera. Chris entrou em sua barraca e se deitou em seu colchonete para dormir com um sorriso no rosto.

Era natal.