Amnésia

Capítulo 27 - Viajem


Alex não se sentia nada confortável. Carregar uma arma consigo não era uma coisa que o fazia se sentir mais seguro, ele tinha um medo o quanto bobo de que a arma disparasse dentro de sua mochila, o que não seria bom. Mas não era só isso, Alex tinha um trauma com armas, ele já havia levado tiros e dado tiros... E o garoto não parava de pensar no que ele fizera na floresta, quando sem querer ele tirou uma vida. Alex não falara esse acontecimento com ninguém, afinal, o que eles pensariam dele depois que Alex falasse isso? O garoto deixou o segredo se calar em sua mente esperando que todas as suas preocupações também se calassem parando de ecoar em sua cabeça.

– Alex? Você está bem? – perguntou Sarah.

Alex tirou os olhos da paisagem atrás do vidro da janela e voltou-se para a garota. Alex, Chris, Sarah, Douglas e Jason haviam pego um trem para chegarem até a base da Organização e poderem realizar o seu plano, já que Jason pagava – e além de ser o único com dinheiro também tinha muito dinheiro – eles pegaram um expresso na primeira classe. Alex ficara em um quarto junto de Douglas, Chris ficara junto de Sarah – obviamente – e Jason ficou sozinho em seu quarto. Douglas estava no saguão do trem e Alex ficara sozinho... Pelo menos até aquele momento.

– Sim, estou – Alex disse – espere Sarah, você não ia ficar com o Chris?

– Sim, mas é que o Chris saiu para dar uma volta. Tem um cara na cabine vizinha que não é muito confiável, ele fica passando pelo corredor sempre olhando pela porta do meu quarto. Eu não me sentia confortável lá, então eu posso ficar aqui por um tempo? Sabe, é que eu não conheço o Jason muito bem e... – ela se interrompeu percebendo que estava falando demais.

– Claro, pode ficar o tempo que quiser – disse Alex sorrindo amigavelmente.

Na verdade o garoto queria ficar sozinho, e aproveitara a ausência de Douglas para isso, porém ele não podia dizer um não para Sarah. Logo Alex voltou a falar:

– Você não confia no Jason, certo?

Sarah se sentou no banco retrátil que virava cama e se ajeitando disse:

– Tenho que admitir, não caí na dele.

– Mas e a história dele? As plantas da Organização? O plano? Ele tentando nos ajudar? Sabe, ele pode ser a nossa única chance.

– Eu sei, mas... Sei lá, eu não sinto ainda que posso confiar nele.

A garota deu de ombros, mas logo disse meio impaciente:

– Por que o Chris está demorando tanto?

– Talvez ele tenha se perdido, ou esteja apreciando a vista, ou talvez esteja paquerando umas garotas do trem – disse Alex olhando pela janela meio distraído, mas ao perceber o que havia dito ele olhou para Sarah e está estava com uma expressão aflita – ei... Eu... Eu só estava brincando.

– Eu... Eu sei – disse a garota dando de ombros meio magoada pela brincadeira de mal gosto.

Alex decidiu fazer uma pergunta meio arriscada:

– Você... Realmente gosta dele, né?

De início Sarah olhou para Alex com uma cara de “Eu vou te matar!!”, mas logo sua expressão suavizou e ela abaixou a cabeça pondo as mãos no rosto e dizendo quase em murmúrio:

– Sim...

– Ei, desculpa se fiz uma pergunta indelicada, eu só... Só queria saber... – Alex se enrolou buscando as palavras.

– Não, está tudo bem, é só que... – disse ela tirando as mãos do rosto e erguendo a cabeça – eu acho que já é meio evidente... É meio tolo tentar esconder, mas eu não sei o que fazer.

– Sabe o que eu acho?

– O que?

– Que você não deveria mais esconder isso.

Alex e Sarah ficaram calados por um tempo até que do nada surgiu Chris na porta e disse:

– Ah! Aí está você!

Os dois que estavam na cabine quase deram um pulo de susto e logo Chris disse se aproximando de Sarah:

– Te procurei em todo canto, não faça mais isso okay? Você me deixou preocupado.

Sarah se levantou e inesperadamente abraçou Chris.

– Sim, tudo bem – disse ela sorrindo.

Logo os dois saíram – Chris com uma cara de bobo – mas antes Sarah falou apenas mexendo os lábios e Alex, com sua habilidade de leitura labial pode entender:

Obrigada.

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Após meia hora sozinho com seus pensamentos, Alex começou a se preocupar com Douglas, que havia dito que voltaria em quinze minutos, logo o garoto saiu da cabine em busca do outro.

Antes Alex passou na cabine de Jason, e este estava falando no celular.

– Sim, eu entendo – dizia ele com a mão na testa - mas não dá para ser depois? – ele fez uma pausa – Certo, certo, tudo bem, faço assim que puder... Já disse que estou em um trem, pare de me amolar! Certo, até mais...

O homem desligou o celular e percebeu a presença de Alex.

– Ah, oi Alex! – disse ele sorridente – estava falando com o dono do meu apartamento, é que é alugado sabe e eu atrasei o último pagamento.

– Ah, okay – disse Alex – eu só passei para ver se o Douglas estava aqui, faz um bom tempo que ele sumiu.

– Eu tenho que revisar a planta da organização – disse Jason mostrando a grande folha de papel azul ao lado dele no banco – por que não olha na cabine do Chris e da Sarah? Se não estiver lá talvez esteja no saguão.

– Certo, vou fazer isso, obrigado Jason – e Alex se retirou.

Ao chegar na cabine Alex viu que Chris e Sarah estavam conversando, eles interromperam a conversa e olharam para o garoto.

– Err... Oi pessoal.

– O que aconteceu, Alex? – perguntou Chris parecendo um pouco frustrado por Alex ter interrompido a conversa.

– É que o Douglas sumiu, ele disse que voltava em quinze minutos, mas já faz meia hora que ele não aparece, eu pensei em olhar no saguão, mas achei melhor passar aqui primeiro.

– Eu vou com você – disse Chris – eu te ajudo a procura-lo.

– Talvez eu também possa ajudar, não quero ficar aqui com aquele cara passando por aqui.

Assim os três jovens foram até o outro vagão do trem, onde ficava o saguão e várias pessoas estavam sentadas ou em pé conversando. Douglas era uma das pessoas em pé, ele conversava com um homem alto com jaqueta verde.

– Ei – disse Sarah baixinho para não ser escutada – aquele cara com o Douglas, era ele quem ficava passando na porta da minha cabine.

Alex estranhou aquilo, o que aquele homem queria com Douglas? Logo Alex percebeu que o garoto conversava com o homem olhando-o com uma cara espantada e nervosa, como se o homem estivesse fazendo perguntas que ele não quisesse responder. Douglas logo percebeu a presença de Chris, Sarah e Alex, e olhou para eles com uma cara de “me ajudem!”. O homem na frente de Douglas seguiu o seu olhar e voltou-se para os três. Alex viu que o homem tinha o cabelo cortado em estilo militar e logo compreendeu.

– Um agente da Organização! – disse Alex e o homem pareceu o escutar.

O agente sacou um revólver do bolso e agarrou Douglas colocando a arma em sua cabeça. As pessoas gritaram. Chris sacou uma arma que havia guardado coldre escondido debaixo de sua camisa. Sarah tirou outra arma de dentro de uma bolsa que trouxera consigo e Alex pegou uma faca de mesa. Sim, Alex havia esquecido a arma que Jason o dera na cabine, então o máximo que podia usar era...

– Uma faca de cozinha? Sério? – disse Douglas – Hunf, meu herói....

– Abaixem as armas – disse o agente da Organização com uma estranha calma.

– Vamos ver... – disse Chris – três pessoas armadas contra apenas um cara com um simples revólver? Desistir? Eu passo, e você Sarah?

– Também. Alex?

– É, né?

Eles ficaram assim por um tempo, a tensão a flor da pele, as pessoas abaixadas para não serem atingidas, a vida de Douglas por um fio. Como Jason disse, o homem não deveria ser bom com a arma, mas quem erraria um tiro a queima-roupa?

De repente houve dois disparos e Alex fechou os olhos por um instante sem ver o que havia acontecido, pensando que o velho Douglas Stan já era. Porém ao abrir os olhos Alex se surpreendeu. O agente inimigo estava caído no chão com um buraco de tiro na cabeça, Douglas estava caído também, mas com vida, e atrás dos dois...

– Jason! – disse Alex.

Mas logo a alegria acabou quando Jason levantou Douglas e Alex pôde ver que ele tinha levado um tiro no ombro esquerdo. Nesse mesmo momento o trem parou chegando ao seu destino.

– Vamos – disse Jason – temos que dar uma parada no hospital.