Amnésia

Capítulo 10 - Briga


Kylle disse que “nem sempre podemos estar na liderança” e que assim que tivesse tempo ele teria uma revanche. Alex aceitou e os dois despediram-se, mas o garoto temia que Kylle tivesse guardado algum rancor.

Após encontrarem-se, Chris e Sarah não acreditaram que seu amigo tinha feito aquela façanha, mesmo após os outros que ali estavam confirmarem. Ver a cara boquiaberta dos dois não tinha preço.

Alex percebeu que Chris estava suado e depois de encontrar Henry, viu que ele também estava nas mesmas condições. Acontece que Chris e Henry tinham lutado esgrima durante muito, muito tempo. Alex sabia muito bem o motivo: Sarah. “Clássico” ele pensava.

Logo chegou a hora do almoço. Há quanto tempo Alex estava jogando? Ele não sabia ao certo, mas sentia uma fome incrível. Alex, Chris, Sarah, Henry, Leo, Kylle e duas meninas chamadas Jennifer e Dayana sentaram-se em uma mesa no refeitório e começaram a comer e a conversar.

A garota chamada Dayana sentou-se do lado oposto da mesa onde Alex estava e de lá falou:

– Ei, qual é o seu nome?

– É Alex – o garoto já ia perguntar o nome dela, porém lembrou-se que Henry já havia apresentado ela – você... É uma Dragon?

A garota pareceu desconfortável ao ouvir o nome “Alex”, mas após aquela pergunta ela revirou os olhos e apontou para a sua camisa laranja, que deveria significar que ela era uma Dragon sim.

Dayana não voltou a falar com Alex. Todos os adolescentes conversavam coisas aleatórias, que, no ponto de vista de Alex, não era nada muito interessante, como a vida na agência e a vida fora da agência. Alex logo se desinteressou pela conversa (fato que acontecia constantemente) e, olhando as outras mesas, percebeu que os “jovens agentes” não eram tantos, pois Alex contou todos e viu que eles eram exatamente setenta e dois no total: trinta e oito meninos e trinta e duas meninas com idade entre treze e dezessete anos.

Ora, Alex pensava que o número de agentes era enorme já que o prédio era imenso, mas ele se lembrou de que também havia agentes adultos lá e que, segundo Michael, a agência era nova ainda.

A S.I.O.R.C. tinha apenas quinze anos de existência, coisa que, para uma agência de segurança mundial, era pouco tempo. Alex lembrou-se de que um dia sua mãe contou a ele que essa ideia de jovens virarem agentes era uma coisa antiga...

Mas antes que Alex pudesse lembrar-se mais do que sua mãe havia lhe dito, aquela lembrança simplesmente sumiu de sua mente. “Ok, isso é esquisito” pensou Alex. Ele tentou lembrar-se do que sua mãe havia lhe falado outra vez, mas até mesmo a lembrança sobre essa lembrança parecia distante.

Alex não se importou com isso, afinal, mais cedo ou mais tarde ele provavelmente ele iria conseguir lembrar-se. Pelo menos era o que ele achava.

– Alex, acorda! – disse Henry.

Alex deu um salto da cadeira. Ele ficou tão submerso nos seus pensamentos que esqueceu o mundo ao seu redor. Os outros deviam ter percebido isso pela expressão de espanto de Alex.

Todos começaram a rir dele. O que fez Alex ficar um pouco irritado.

– O que foi Alex? Não aguenta algumas risadas? – disse Kylle.

– Não se forem risadas de uma hiena sendo esganada, que nem a sua.

Kylle parou de rir.

– O que você disse?

– Disse o que você ouviu, ou você ficou surdo com suas próprias risadas? – disse Alex sem pensar.

O sorriso de todos sumiu e Kylle levantou-se.

– Não queira discutir comigo...

– Ei, ei! Calma Kylle! – disse Leo levantando-se – ele não fez isso por querer, certo Alex?

– Talvez eu tenha sim – disse Alex e Kylle serrou os dentes – o que foi Kylle? Não aguenta alguns insultos?

Todos os outros agentes viram a cena e sabiam no que iria dar.

– Garoto, eu estou aqui há muito tempo e sei técnicas de combate que fariam você ajoelhar-se e implorar por perdão – disse Kylle.

– Tente, se estiver falando a verdade – falou Alex.

– Você está...?

– Desafiando você? Bem, acho que qualquer pessoa com meio cérebro teria entendido... Ah, é! Você tem cérebro de hiena.

Algumas pessoas começaram a rir e Kylle suspirou.

– Você que pediu.

Kylle foi até o outro lado da mesa e pegou Alex pela gola da camisa sem o deixar resistir.

– Kylle! Espera! – disse Leo.

– Fica fora disso! Ele precisa ver que certos atos geram consequências.

Assim, Kylle levou – ou arrastou – Alex até a quadra de basquete e jogou-o no chão.

– Prepare-se novato!

Alex olhou ao redor. Ele estava na mesma situação do jogo de basquete, porém desta vez não teria nenhuma descarga inesperada de adrenalina para lhe ajudar a fazer uma cesta.

Alguns agentes entraram no pátio apenas para ver o que acontecia e também vieram Jennifer, Leo, Chris e Sarah. Dayana havia se juntado ao grupo de pessoas na arquibancada que gritava: “Vai Kylle! Acaba com a raça dele!”. Alex não via onde Henry estava.

Kylle avançou e Alex viu que não teria chance. “Bela forma de levar uma surra” pensou ele “só porque eu reclamei da risada dele”. Porém antes que Kylle pudesse acertar um soco, Alex simplesmente moveu-se para o lado desviando do golpe, mas Kylle se virou e deu um chute nas pernas de Alex fazendo-o cair.

– Agora fique de joelhos e implore por perdão como eu disse.

Mas Alex não tinha sido vencido.

Ele se levantou, olhou bem nos olhos de Kylle e deu um soco em seu rosto, porém Kylle segurou sua mão e começou a gira-la e Alex viu que logo seu braço seria quebrado.

Então as portas abriram-se e de lá veio uma voz gritando:

– KYLLE LAKE!!! POSSO SABER O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO!? – gritou Paul, todos olharam para ele e logo depois para Alex e Kylle com uma cara de “vocês estão fritos”.

– Ah – disse Kylle sem demonstrar surpresa – olá senhor Spencer.

Paul chegou perto dos dois e fez Kylle soltar a mão de Alex antes que ela virasse farelo. O homem empurrou Kylle para fora da quadra e começou a ter uma conversa com ele enquanto todos fitavam Alex, que não sabia o que fazer.

Logo os dois voltaram e Kylle disse com desgosto para Alex:

– Me desculpe pela minha atitude Alex, prometo que não farei mais isso e blá, blá, blá...

Paul deu um tabefe atrás da cabeça de Kylle e falou:

– Nunca mais toque no meu sobrinho, ouviu? – então ele dirigiu-se à plateia – o que vocês estão olhando? Vão treinar para alguma coisa que seja mais produtiva do que assistir duas pessoas se matando.

Os agentes saíram da quadra rapidamente, Paul mandou Kylle retirar-se também e disse calmamente para Alex:

– No que você se meteu dessa vez Alex?

Ele sempre diz isso” pensou Alex “sempre que algo dá errado na minha vida ele me pergunta isso como se a culpa fosse minha, mas ao mesmo tempo como se ele estivesse pronto para me perdoar”.

Alex olhou para seu tio. Sua idade era na casa dos quarenta, ele era alto, tinha um corpo atlético, pele bronzeada e tinha os cabelos penteados para trás.

O garoto nunca imaginou seu tio como um militar ou um treinador ou qualquer coisa do tipo. Na verdade ele via Paul do mesmo jeito que ele aparentou ser durante toda a vida de Alex: Um homem acomodado que, quando não estava saindo para viagens ou festas, era um empresário de grande sucesso.

Mas Alex sabia que essa descrição não definia seu verdadeiro tio, Alex sabia que ele era um agente secreto. Um espião.

Ele tentou imaginar seu tio naquelas roupas que os superespiões usam nos filmes e não conseguiu. Era difícil descobrir que uma pessoa não é o que ela aparenta ser, e era a mesma coisa com Chris.

Como adivinhar que seu melhor amigo é um ex-agente secreto que perdeu a memória e desde então procura descobrir sua identidade?

Simples: Não dá para adivinhar.

– E então? – disse Paul.

O tio de Alex vestia um casaco preto que chegava aos joelhos e por baixo usava uma camisa branca de botões e uma calça preta social. Ele parecia um homem mais severo do que o homem que Alex conhecia, tanto que o garoto quase ia o chamando de senhor Spencer ao invés de tio.

Alex explicou a situação e Paul suspirou.

– Alex, não faça isso outra vez, tudo bem?

– Mas... – ele começou a dizer.

– Escute. Kylle é um bom garoto, todos gostam dele, mas se alguém o irritar ele pode torna-se perigoso. Entende?

– Sim...

– Okay, agora volte para os seus amigos e relaxe.

Alex agradeceu e retirou-se da quadra.