- Eu imaginei. – Kate replicou pelo telefone. – Venha para casa e conversamos.

- No momento eu não posso.— Anne alegou. – Não enquanto eu estiver com esse sentimento de mágoa. Eu vou esperar isso passar e, quando eu estiver com cabeça, eu volto e conversamos sobre isso.

- Anne. – Castle interveio. – Já é noite. Se não quiser vir, ao menos diga onde está e nós vamos buscar você.

— Rick, não me leve a mal. Eu sou grata por todo o carinho que vocês me dão. — Anne declarou.— Mas eu não posso dizer onde eu estou. Teoricamente eu nem devia estar falando. Aqui é silencioso.— E com isso, ela encerrou a ligação.

- Mas o qu... – Castle proferiu confuso. – Você está pensando o mesmo que eu? – Ele inquiriu para Kate.

- Sim. – Kate assentiu, pegando o celular e discando. – Ela ainda vai nos causar um infarto e eu sei de uma pessoa que pode nos dizer onde ela está. – Ela atestou, esperando a pessoa atender o celular.

- Hey Kate. — Johnny respondeu. – A Anne não está aqui.

- Talvez. – Kate concordou. – Mas você sabe onde ela está. E você vai me levar até esse lugar “silencioso”.

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Kate e Johnny estavam no carro em frente ao Cemitério de Green Wood. Ambos discutindo consigo mesmos se entravam no local ou não.

- Quer dizer que este é o lugar silencioso? – Kate interrogou.

- Sim. – Johnny afirmou. – Ela me contou que vêm aqui quando quer pensar. E só me contou caso ela ficasse mais de 24 horas sumida. Assim saberíamos por onde começar a procurar.

- Eu nem vou comentar o quanto isso foi mórbido. – Kate determinou, saindo do carro.

- Espera por mim. – Johnny pediu, também deixando o veículo.

Conforme a dupla andava pelo local, eles puderam ouvir uma voz. O que não era nada tranquilizante de se perceber em um cemitério. Eles decidiram caminhar em direção ao som, reconhecendo a voz e visualizando a dona dela sentada ao lado do túmulo de Derek Theodore Jones.

- E é basicamente isso, pai. – Anne concluiu. – Se bem que você está vendo tudo isso, mas eu sei que você sempre gostou de saber das coisas por mim. Eu só queria que você estivesse aqui para me dizer o quanto eu estou sendo cabeça-dura, ingrata e idiota.

- Se você chegou a essa conclusão por si mesma, então Derek cumpriu seu papel. – Kate comentou, assustando a garota.

- Eu disse que não queria conversar. – Anne resmungou, fitando o chão.

- Você estava fazendo isso agora. – Johnny observou.

- Eu não queria conversar com gente viva. – Anne acrescentou, ainda encarando a grama. – E você não devia tê-la trazido aqui.

- Eu insisti para que ele trouxesse. – Kate apoiou o rapaz, e percebeu a expressão incrédula da adolescente. – Ok, eu ordenei que ele me trouxesse aqui. E já que não quer conversar em casa... – Ela sentou-se ao lado da garota, na grama. – Vai ser aqui mesmo.

- Depois que eu desliguei o telefone, eu me dei conta do motivo para vocês não me falarem nada. – Anne admitiu. – Vocês pensaram que eu ia atrás dele.

- Também. – Johnny ressaltou. – E porque você já sabia disso. – Ela lançou um olhar confuso a ele. – Você só não se lembra.

- E eu vou falar algo para você que ninguém além de Castle sabe. – Kate confessou. – Às vezes, eu queria esquecer que minha mãe foi assassinada.

- Mesmo? – Anne inquiriu. – Por quê?

- Porque seria mais fácil. – Beckett esclareceu. – Até que eu me lembro de que eu não nasci para ter as coisas facilmente. E eu sei que ela estaria orgulhosa de mim hoje.

- Como eu disse. – Anne mencionou. – Eu estou sendo cabeça-dura, ingrata e idiota. – Ela se levantou, estendendo a mão para a detetive. – Vamos usar essas informações a nosso favor. Vocês leram o documento? – Anne interrogou, confundindo a dupla com a súbita mudança. – Eu não vou ficar choramingando a minha descoberta a noite toda. Eu vou descobrir quem assassinou Carl Lewis.

Neste momento, o celular de Kate tocou. Ela o pegou e viu que era Ryan ligando.

- Diga Ryan. – Ela pediu, atendendo o aparelho.

- Lanie encontrou algo interessante nas amostras. E que pode nos dar alguma dor de cabeça. — O detetive alegou do outro lado da linha. – Venha até a delegacia para eu explicar.

- Estamos indo. – Beckett assentiu, encerrando a ligação. – Então vamos achar o assassino de Carl.

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Após Espo e Ryan atualizar o trio sobre as novidades, eles encaravam o quadro em silêncio, sem saber o que pensar.

- Então Johnny estava certo... – Kate murmurou.

- E o executor do trabalho sujo é ninguém mais, ninguém menos que Joseph Yohan. – Johnny acrescentou.

- Alguém quer café? – Anne ofereceu suspirando, e viu ambos negando. – Eu vou buscar um para mim então.

Os quatro policiais observaram a garota entrar na sala de descanso e pegar café para si.

- Ela está lidando bem. – Espo comentou. – Pelo menos nada voou pela delegacia ainda.

- Isso é amadurecimento. – Ryan replicou. – E eu estou impressionado.

- Eu vou ver se Tori encontrou alguma coisa. – Johnny avisou.

Os três detetives voltaram a fitar o quadro, em busca de algo que tenha passado despercebido, quando ouviram o barulho de algo se quebrando.

- Até que demorou para você perder a calma Anne. – Kate se voltou para a sala de descanso, quando viu a garota parada no corredor, pálida.

- Só que eu não fiz isso. – Anne assegurou, segurando a alça da caneca quebrada.

Passos vindos do elevador chamaram a atenção deles, que se viram surpresos ao encontrar Yohan caminhando delegacia adentro, com uma pistola com silenciador em mãos.

- Quanto tempo que eu não vejo vocês. – Yohan declarou. – Mais uma vez, vocês apareceram no meu caminho.

- E por acaso você foi pago para nos matar? – Anne demandou.

- Somente uma pessoa. – O assassino afirmou, apontando a pistola para Kate.

Antes que um disparo pudesse ser executado, Anne imobilizou o braço que segurava a arma, forçando-o a soltar.

- Nem pensar. – Anne sussurrou ao ouvido dele. – Você vai ir até a sala de interrogatório comigo e vai responder a algumas perguntas dos detetives. – Ela determinou, algemando o assassino e o forçando até a sala de interrogatório. Chegando lá, ela soltou uma das mãos dele, para prendê-la rapidamente contra as costas da cadeira. – Espere aqui que eles já vêm falar com você. – Ela avisou, saindo da sala e fechando a porta.

- O que aconteceu? – Gates demandou, vendo Anne sair da sala de interrogatório.

- Encontramos nosso assassino. – Anne explicou. – E ele acaba de tentar assassinar a Detetive Beckett.

Ela viu Gates entrar na sala de observação, e sair com uma expressão indignada.

- Por acaso ele não é o mesmo homem que tentou assassinar você há dois anos? – Gates interrogou.

- Ele mesmo capitã. – Anne afirmou, reparando que Johnny saía da sala de Tori.

- Joseph Yohan está aí dentro? – Ele inquiriu, vendo Anne afirmar. – Eu vou matar este...

- Não vai não. – Anne o impediu. – Você virá comigo. Capitã se quiser interroga-lo, a honra é toda sua. Caso contrário, eu estou vendo uma dupla de detetives que está ansiosa para fazer isto. – Ela declarou, indicando Espo e Ryan.

- Detetives... Façam as honras. – Gates ordenou à dupla, que se prontificou a realizar o interrogatório. – Vocês dois, tragam os arquivos do caso Johanna Beckett.

- Sim senhora. – A dupla assentiu, indo até o arquivo.

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Em torno de três horas da manhã, Anne chamou Beckett para irem para casa. Afinal, o caso não ia sair dali. E, depois do susto de algumas horas atrás, Kate nem discutiu com a garota.

- Anne. – Kate chamou. – O que levou você a amadurecer tão rápido?

- Honestamente? – Anne interpelou. – A sequência de eventos, eu acho. Ser atropelada para logo depois ser sequestrada e torturada por um serial killer, quase perder meu namorado para outro serial killer... E agora reencontrar o que nas HQs se chamaria de meu arqui-inimigo. – Ela concluiu, esfregando o rosto. – Sem falar que estava demorando para eu crescer. Eu já estou com dezesseis anos.

- Com tudo o que aconteceu, acabamos não celebrando seu aniversário. – Kate afirmou em um tom arrependido.

- Não tem problema Kate. – Anne garantiu. – Eu não faço tanta questão assim. É só um dia que me lembra de que eu envelheci mais um ano.

- Só se for para você. – Kate retrucou, estacionando o carro. – Para mim, um aniversário é importante, e torna aquele dia especial quando se tem pessoas especiais nascidas na data. Como 16 de Janeiro se tornou uma data especial para mim, pois é o aniversário de Alexis. Ou como 12 de novembro é uma data duplamente especial, pois é o aniversário de James E o seu. Ou com...

- Kate. – Anne a interrompeu. – Jamie nasceu no meu aniversário? – Ela perguntou com os olhos marejados.

- Sim. – Kate assentiu. – O que me lembra de que não celebramos o dele também.

Depois daquela surpresa, Anne não falou mais nada até chegarem ao loft, simplesmente esboçando um sorriso bobo. Quando entraram, ela avistou o bebê sentado no colo de Castle, que estava cochilando no sofá. Ela se aproximou dos dois, pegou Jamie e acordou Rick.

- Hey. – Ela o viu abrir os olhos atordoado. – Você apagou aqui com James.

- Que bom que voltou. – Castle suspirou aliviado. – Estávamos preocupados.

- Eu sei. – Ela replicou, com um sorriso. – Obrigada. Aos dois.

- De nada. – Rick respondeu confuso. – Mas por quê?

- Por serem vocês. – Anne declarou. – E por este eterno presente de aniversário. – Ela indicou James. – Vamos pequeno?

O casal olhou admirado para a adolescente entrando no quarto de Jamie, e ouvindo-a cantar para ele dormir.