Amizade Inusitada

Acabei esperando por ele


A guerra por anos, já havia sido terminada. Shinpachi e Saitou foram os únicos sobreviventes do Shinsegumi... E claro, Harada Sanosuke, aquele que conta a história depois do final.

Depois de anos, havia encontrado Sinpachi-san, quando já havia perdido as esperanças de algum dos antigos companheiros estarem vivos e depois encontrou Saitou-san, que se tornou um ótimo policial. Shinpachi-san contava histórias sobre os tempos da antiga capital, sobre o shinsengumi e se vangloriava mais do que deveria, ocultando o fato de ter saído do shinsengumi ao mesmo tempo que ele, mas poucos se importavam com as mentiras contadas.Por anos, os três foram caçados e tiveram que mudar de novo, mas depois de uns anos, tudo ficou calmo e puderam voltar a usar os nomes antigos. Houve boatos de que Chizuru estava viva, mas nada confirmou este fato e então, agora, depois de velhos, eles desistiram de sua procura. Aceitando seu terrível fim.

Todos estavam velhos, Saitou virou um colecionador de espadas famosas depois de sua aposentadoria, Shinpachi fazia a mesma coisa que antes e... O que restou a mim foi esperar por Kyo para tomarmos nosso chá a tarde, a sombra deste pé de sakura.Se não fosse por ele, aquela noite, estaria morto, juntamente com os seus antigos companheiros. Shinpachi poderia não ter escapado e Saitou teria sido o único sobrevivente daquela guerra. Kyo não mudou exatamente nada, talvez somente o corte do cabelo.

Riu-se baixo. Claro, ele mudou o corte de cabelo, estava curto e liso. Mudou as roupas para algo mais da época e seu comportamento era o do mesmo moleque que conheceu. Kyo era um oni e somente os três sabiam deste segredo. Shinpachi, com sua língua afiada, quase dedurou o companheiro por incontáveis vezes, fazendo com que Kyo falasse algo debochado sobre a memória do mesmo, que não era mais a mesma de sempre, mas o humor nunca mudou.

Olhou para o relógio em cima da mesa e pensou que Kyo estava atrasado, já passava das 17:30 da tarde, porém, continuou sentado a porta, olhando para fora e se lembrando do passado.

Kyo era um oni maravilhoso para algumas coisas e péssimas para outras. Quando pediam a ajuda dele, ele não negava, porém sempre falava algo debochado como "Humanos envelhecem e ficam impotentes.", porém, Kyo sempre ia vê-lo. Nunca se negou a fazer companhia para eles enquanto um ficava sozinho. Não se recordava se em algum momento do passado, Kyo havia sido tão bondoso como agora.

Naquela noite, em que estava gravemente ferido, ele estancou o seu ferimento e o levou para uma tenda, onde fizeram uma cirurgia e estancaram o sangue totalmente, costurando sua pele e o medicando devidamente. E nesse tempo, ele foi se encontrar com Shinpachi, o levando até onde estava. Depois desse dia, Shinpachi continuou com seu trabalho de levar cartas de grande importância de um para o outro. Até esse momento, Saitou não havia dado sinal de vida e Toshi já havia sido morto por Kazama.

- Ele ainda não veio? Deve ter se esquecido, ele é mais velho que nós. - Shinpachi-san o roubava de seus momentos de devaneio, sentando-se ao seu lado. Os olhos verdes estavam tão expressivos quanto naquela época, porém os cabelos não tinham mais a mesma cor e o corpo já estava todo enrugado e flácido.

Shinpachi continuava o mesmo rapaz por dentro, isso nunca mudou. Continuava brincalhão como sempre, mas não tinha mais tanta disposição como antes. Nunca parava de falar, isso também não mudou.

Saitou continuava calada e poderia se dizer, depois da morte de Souji, Saitou se manteve mais calado ainda. Fugia de assuntos sobre o passado e quando estava perto de algo daquela época, seu humor mudava, mesmo que nada dissesse.

- Acredito que ele não vem. - Shinpachi continuava com a sua faladeira sobre o atraso de Kyo. - Será que ele se cansou de você, velhote?

- Não sou tão velho quanto você, Shinpachi. - Ria-se baixo após o dito.

- Sou o mais moço daqui... O que mais tem disposição.

Ambos caiam na risada enquanto que Saitou se sentava ao lado deles, com sua xícara de chá favorito, porém nada dizia. Saitou ainda tinha aquele brilho cruel no olhar e aquela aura misteriosa a sua volta. Porém, não era o mesmo de antes. E talvez nunca voltaria ser o mesmo. Ele nunca entendeu sua amizade com Kyo e nunca também criticou, apenas se mantinha a distância, sem perturbar ninguém.

O que Saitou poderia entender da estranha amizade deles, sendo que nem ele mesmo entendia? Kyo, por dias, havia sido inimigo mortal. Um rival. E depois, se tornou seu melhor amigo, seu ouvinte, seu salvador. Kyo se mostrou ser uma companhia de luta muito agradável, onde algumas palavras saiam no meio da luta, provocando-lhe e xingado-lhe. Ele não era de todo o mau, concluiu. Havia mais pontos positivos do que pontos negativos naquele oni cabeçudo. E se lembrou, de repente, que Kyo nunca foi atrás dos seus antigos companheiros.

"- Não irá procurar por eles?"

No passado, havia perguntado para ele.

"- Porque eu deveria procurar? O passado fica no passado. Não sou tão importante assim para eles. E nem eles para mim."

E ele havia respondido de forma mais sincera que pôde. E nesse momento, Sano se viu pergunto se ele realmente não sentia falta dos antigos companheiros. De ser conhecido como um demônio impiedoso... Ou nem tanto assim.

Sentia a atenção dos outros dois velhos companheiros para si no momento que riu para si mesmo sobre os pensamentos do antigo Kyo.

Ele por vezes, o lembrava daquele jovem que entrou no shinsengumi, logo no começo. Quando o "velho" o trouxe.

- Está muito quieto hoje, não me diga que já irá morrer? - Shinpachi o puxava para o presente novamente, rindo sozinho e o provocando. - Ainda está cedo.

- Não diga tolices. - Respondeu.

Não poderia morrer. Não se sentia mal. Não sentia nada de diferente. Queria sentir o gosto daquele chá quente, que já deveria estar frio. Queria ouvir a voz de Kyo novamente e queria ter a certeza de que não foi esquecido pelo oni.

- Espero que não tenha me atrasado muito. - Observava o oni, em sua elegante roupa escura, se aproximar dos três. - Mas aposto que o chá já esfriou... Ou será que Shinpa tomou tudo? - Kyo franzia levemente a testa, dando um sorriso amigável.

Shinpa era um apelido que Shinpachi havia recebido do mesmo. Saitou para ele era Sai, mas raramente trocavam palavras.

- Você está atrasado. - Disse por fim, de uma forma arrastada e se sentindo um pouco para baixo, nesse momento.

- Sim, eu sei. - Kyo se sentava ao lado dele, se escorando no batente da porta. - Meninas... Você sabe como é. - Ele sorria de forma travessa, mas logo voltava ao seu habitual. - Não me esqueceria de vocês. - Dizia, num tom baixo para Sano.

Saitou, por sua vez, ergueu-se com a ajuda de sua espada favorita, a que usou na época das guerras, e se retirou e logo Shinpachi se retirou também. Acreditava que ele tinha ido fazer companhia a Saitou.

O silêncio predominou no local e Sano se viu com saudades daquele tempo, onde poderia fazer o que quisesse, onde o que importava para ele e seus companheiros era a amizade, os dias de risadas e as travessuras do dia a dia. Antes de tudo começar a desmoronar. Envelhecer não era tão bom no final.

O oni, por sua vez, estava mais calado que o normal e não conseguia não se perguntar o porque. E subitamente, se lembrou de algo que uma vez o mesmo havia dito.

"- Nós, onis em geral, podemos sentir quando uma pessoa irá morrer. Preferimos nos afastar do que sentir o peso sobre nós."

- Você sente o peso agora? - Perguntou, baixo, ao oni.

- Hein? - A voz arranhada do mesmo se fez presente, fazendo com que um sorriso travesso brotasse nos lábios já enrugados do antigo espadachim.

- A morte. Lembra quando você falou sobre o peso e a morte... Está com o corpo jovem ainda e a mente muito fraca, hm? - Não conteve-se em provocar o amigo, dando tapinhas de leve na coxa dele.

- Não, não sinto. Você não irá morrer hoje, acredite em mim. Irá durar por muitos e muitos anos ainda, velhote. - Kyo piscava-lhe um dos olhos azuis e sorria. Porém, o sorriso não chegava aos olhos e então soube que ele estava mentindo, porém não se importou.

O oni fora até a mesa pegar a bandeja com chá, já frio, e o relógio marcava 20:46 da noite. Não havia notado que havia se passado tanto tempo desde a última vez que olhou para o mesmo. Realmente, voltar ao passado tomou bastante do seu tempo.

Kyo lhe entregou uma xícara e então se sentou ao seu lado, ambos compartilhando do silêncio do outro. A amizade já havia sido selada a anos e só veio a notar naquele dia. O dia em que esperou por Kyo, como Shinpachi o esperava no dia em que quase morreu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.