"Querido caderno velho,

Hoje completam exatos dois anos em que vivo arrastando-me pelas ruas de Nova York. Para falar a verdade, não sei exatamente a quanto tempo estou aqui. Perdi a noção do tempo a muito tempo. Meu velho relógio continua parado em meio dia e quarenta e cinco á seis meses, portanto não posso dizer com total precisão quanto tempo se passou desde que deixei meu seguro e tranqüilo lar na casa de minha mãe.

Saint Jimmy está morto, ao menos para mim. Hoje ele é como uma simples lembrança ruim, da qual não faço muita questão de me recordar.

A cinco meses as drogas já não me fazem efeito. Cocaína e maconha já não são mais suficientes para aliviar o grande vazio e desespero dentro de mim. Não tenho certeza de como ainda consigo me manter lúcido após tudo isso. Não tenho nem mesmo certeza se ainda continuo lúcido.

Estou sozinho agora. Aquilo que a principio me parecera tão bom, hoje é simplesmente perturbador. Todos aqueles que diziam-se meus amigos se foram, a incrível sensação de prazer e liberdade que senti em meus primeiros meses na rua hoje transformaram-se em crescente angustia.

Não consigo nem ao menos me lembrar do nome dela(whatsername), e de tudo que me aconteceu, isso é o que mais me deixa triste. Talvez não seja a palavra certa,já que "triste" não chega nem perto do que sinto, mas no momento é a única palavra que me vem a mente.

Começo a pensar seriamente na hipótese de voltar para casa. De rever meus antigos amigos e rir de coisas estúpidas. Penso em como seria voltar... O que minha mãe diria? Será que me aceitaria de volta após tanto tempo? Não sei, e para dizer a verdade, também não gostaria de saber. Talvez ela me odiasse hoje, o que era mais provável, e o pior era que ela teria razões suficientes para isso. Eu havia sido odioso, havia desprezado não só ela como meus amigos, e pior, não havia dado valor algum a perfeita vida que levava lá, onde era considerado o Jesus do subúrbio. Eu havia sido um otário."

Naquele momento a chuva começara a cair sobre mim, primeiro pequenas gotinhas inofensivas, logo depois transformando numa grande tempestade e encharcando-me da cabeça ao pés. Ali, morrendo de frio, medo e incertezas eu fiquei, contemplado a chuva borrar minhas memórias escritas naquele pequeno caderno velho, meu único companheiro fiel.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.