Amature World Jam

Seven Nation Army


–" I'm gonna fight them off, aseven nation armycouldn't hold me back... " - Alyssa cantava com a maior voz de fumada. Ela na verdade não parecia se importar muito com isso. Ninguém além de mim parecia se importar.

– PARAA, PARA TUDO! - gritei eu, bem alto, e ainda com o microfone ligado. - Cacete, já perceberam que só eu que to tocando de verdade aqui?? - acho que dessa vez eles realmente viram o quanto indignada eu estava.

Larguei a guitarra no sofá e me sentei do lado dela. Foda-se a Sam amiguinha. Agora eu era a Sam líder, a Sam exigente que esperava respostas quando perguntava. O som tava uma merda, e eles ainda queriam que eu ficasse de boa?

Assim como eu, todos os outros largaram seus instrumentos e sentaram perto de mim, formando uma espécie de roda. Passaram-se pelo menos 3 minutos até que eu finalmente obtive minha resposta.

– Sei lá. Tocar guitarra é a minha paixão. Essa banda inteira é a minha paixão. Além da gente ser foda, eu ainda to aqui tocando e me divertindo com os meus melhores amigos. - quando Johnny disse isso me deu vontade de chorar, pelo modo como ele falou. - Só que já fazem mais de quatro anos que a gente ta junto, e isso nunca resultou em nada. Ta, ganhamos aqueles concursos na escola e tal, mas isso não mostra como a gente é capaz. A gente tem que crescer profissionalmente. Pra mim parece que não vai dar em nada.

O silêncio tomou conta de novo, mas dessa vez por menos tempo.

– Ta querendo dizer que acha melhor a gente... - Matheus não teve tempo de terminar a pergunta. Foi interrompido pelo “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH” na introdução de “Scream”, do Avenged Sevenfold, que era o toque do meu celular.

Pedi silêncio e atendi, ligando o viva voz.

– Alô?

– Alô? Samantha Ribeiro, guitarrista da banda “Why”? – disse a voz do outro lado da linha. Era rouca, como que gasta.

– Eu mesma – respondi, com um meio sorriso no rosto, já imaginando sobre o que a ligação se tratava.

– Meu nome é Marcos Andrade, - ebaaaaaa, só não gritei porque o cara tava escutando - eu sou o organizador da eliminatória estadual do “Amature World Jam”. Estou ligando pra avisar que vocês foram aceitos para a competição. – enquanto os outros faziam cara de tipo “que porra?”, eu me matava de rir, de tanta felicidade. – A competição vai acontecer no dia 5 de novembro, às 19h no Teatro São Pedro, em Porto Alegre, mas é ideal que as bandas cheguem antes pra fazer a passagem de som.

Momento indescritível.

– Sim. Pode confirmar a nossa presença, com certeza estaremos lá. Só uma pergunta; as músicas têm que ser originais ou pode ser cover?

– Eu não devia dizer isso, mas se vocês trouxerem algo novo, ganham pontos extras... – o cara disse, com uma voz tipo ”por favor, me surpreendam”.

– Ok, muito obrigada, estaremos lá. Até mais.

OMG! Assim que desliguei o celular, olhei pra cima e vi as caras das pessoinhas em volta de mim. Minha reação foi tipo “CHUUUUUPEM, motherfuckers’, agora a gente não vai ter que parar com essa porra de banda, porque eu sou foda e consegui fazer a gente entrar nesse concurso extremamente fodão que tem uma eliminatória estadual, nacional e depois uma mundial.” MUNDIAL, sacaram?

– Adivinhem qual é o prêmio... – falei. Como de costume, não obtive respostas. – Ta bom, eu falo. O ganhador do “Amature World Jam” vai abrir um evento que durará 48 horas, sem intervalos, com shows de Metallica, Red Hot Chili Peppers, Steven Tyler, Slipknot, Avenged Sevenfold, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, U2, Green Day, Evanescence e Foo Fighters. O resto são bandas pop ou artistas mais lights. E o apresentador vai ser o cara mais foda do qual eu já ouvi falar: Matthew Sanders.

Eu acompanhei os olhos de cada um deles. Momento indescritível 2. Daniel se atirou em cima de mim, me abraçando. Sério, ele era tão grande e forte que eu mal consegui respirar. Assim como ele, todos os outros vieram e me abraçaram, agradecendo por ter finalmente encontrado um motivo pra toda aquela nossa loucura da adolescência, de formar uma banda.

– Ta, agora eu acho bom a gente ensaiar, porque a competição começa em três semanas e a gente ta mal a fuder. – disse Alyssa, a menina de poucas palavras. É, ela falava bem pouco mesmo, mas quando começava a cantar...

Cara, agora que Marcos Andrade falara que poderíamos ganhar pontos extras na competição com músicas originais, eu tinha que chamar a Isabella, né?