Eu senti uma forte dor de cabeça ao cair no chão após perder a luta para Tamina. Tentei me levantar, mas minhas forças pareciam sumir à medida que tentava. Era como se algo estivesse entrando em minha mente, como uma adaga fina perfurando meu cérebro.

Escutei um som alto e estrondoso como um trovão, mas não parecia que iria chover naquele momento, então achei estranho. Tamina que estava prestes a me chutar novamente parou e mirou o céu, surpresa. Algo estava ficando muito estranho ali e ninguém parecia compreender o que era.

Com dificuldade consegui me levantar e Jonathan logo se aproximou para me ajudar, quando cambaleei sentindo a dor em meu tornozelo. Ficamos observando o céu que parecia tranquilo naquele instante, o som parecido com trovão havia cessado.

Olhei ao redor e percebi que todos os jovens estavam atônitos. Fahir apareceu com Arya, Tauriel e Légolas e eles pareciam não estar tão preocupados como nós estávamos, e então conclui que eles já sabiam do que se tratava aquele som.

Tão rápido como um relâmpago, um vulto azul escuro surgiu no céu e fez com que os galhos das árvores balançassem freneticamente. Ele surgiu tão inesperadamente que nem se quer pude acompanha-lo com o olhar.

Filha de Turiel?

Uma voz grave e estrondosa soou próxima de mim, e senti um arrepio percorrer minha espinha. Parecia ter soado em minha própria mente e seu eco fez com que minha cabeça doesse.

Não tenha medo...

A voz soou novamente e instantaneamente cambaleei de dor. Coloquei as mãos na cabeça e estava prestes a gritar.

— O que é isso? Quem é você? – Gritei, enquanto Jonathan me apoiava com o braço.

Sou Magnus, e você minha cavaleira...

Minha pergunta foi respondida mentalmente e a cada palavra dita era como se fosse uma corda lançada e amarrada em minha mente. Por fim, não tive mais forças para suportar aquilo e então minha visão ficou turva e ouvi alguém me chamar, mas a voz soava longe.

Senti braços apararem minha queda e vi um par de olhos azuis acima de mim. Era Jonathan, eu acho, pois ele estava mais próximo de mim. Logo Légolas e Arya se aproximaram, enquanto eu ainda tentava suportar a dor em minha mente.

— Fahir, venha rápido! – Arya gritou, enquanto me fitava com olhos surpresos.

Rapidamente o Elfo se aproximou e impressionantemente esboçou um sorriso, o que achei estranho mediante a dor intensa que eu estava sentindo, mas logo percebi um brilho azulado em meu colar. A pedra safira brilhava intensamente e chamava atenção de todos. Tamina estava petrificada e olhava para mim com uma expressão confusa e curiosa.

— Este é o seu dragão, Astrid. Magnus, Escamas de Gelo – Disse Fahir, com os olhos fixos no céu, acompanhando os movimentos do dragão.

O dragão estava sobrevoando sobre a floresta em um ritmo muito mais lento, de maneira que era possível ver suas longas asas azuladas planando elegantemente. Ele tinha escamas azuis que resplandeciam com a luz solar e elas eram como capas de couro revestidas por muitos cristais e safiras.

— Parece que temos um novo visitante! – Comentou Légolas, com certo brilho nos olhos ao ver o dragão pousar cuidadosamente no chão.

Jonathan e Arya me levantaram apesar de minhas pernas estarem bambas, ainda mais agora com a chegada do dragão. O meu colar ainda reluzia com a mesma intensidade e parecia me atrair para mais perto da bela criatura a minha frente.

Com passos pesados eu me aproximei, mantendo os olhos fixos nos azulados do dragão. Ele me olhou de forma curiosa e senti o ar quente que soprava de suas narinas à medida que me aproximava. Por impulso estiquei meu braço e toquei seu focinho escamoso. Ele rosnou baixinho e então uma luz começou a irradiar da minha mão, juntamente com o colar. O brilho era tanto que fechei meus olhos, mas não era a luz que me incomodava, e sim a dor. A dor em minha cabeça recomeçou mais forte, e, além disso, minha mão queimava irradiando um brilho azul. Era como se eu estivesse passando a mão em uma fogueira, enquanto batia a cabeça em um muro de pedras.

Agora você será minha cavaleira

A voz do dragão soou em minha mente e eu não suportei, desta vez minha visão ficou totalmente escura e só senti o baque do meu corpo se chocando contra o chão.

***

Acordei com a visão embaçada, mas me sentindo bem melhor do que antes. A dor de cabeça havia passado e agora a única coisa que ainda me incomodava era minha mão direita, que estava envolta com uma faixa branca e o curativo em meu ombro esquerdo, onde Tamina havia me atingido com a espada.

Tentei me sentar e percebi que não estava em meu quarto, mas sim na sala de cura de Arya. Todos os leitos estavam vazios e tudo permanecia em silêncio, o que era bom para descansar a minha mente.

Eu não sabia exatamente por quanto tempo havia ficado desacordada, mas a julgar pelos castiçais e lanternas acessas no ambiente pude imaginar que já era noite.

Durante alguns minutos fiquei apenas observando o lugar. Ora olhando para a minha mão, ora olhando para a luz dos castiçais e ora imaginando o que é que havia acontecido comigo quando vi o dragão pela primeira vez.

Depois de um tempo Arya apareceu e me despertou de meus devaneios, e de certa forma agradeci por ela ter vindo, pois ainda queria saber mais a respeito do dragão e tudo o que dizia respeito a ser uma cavaleira.

— Fico feliz que tenha se recuperado – Arya se aproximou carregando uma bandeja com algumas frutas e um copo d’água.

— Eu também, Arya – Concordei, com a voz um pouco falha – O que aconteceu?

— Bem... – Arya hesitou e suspirou – Acho melhor comer alguma coisa antes de fazer perguntas, você ficou desacordada durante toda à tarde e está um pouco fraca – A elfa me entregou a bandeja e sorriu quando concordei impaciente.

Comi algumas uvas e duas maçãs e conclui que estava com mais fome do que pensava, porém minha maior inquietação ainda era de matar a curiosidade sobre o que havia acontecido comigo. Arya pareceu compreender minha ansiedade e então se propôs a explicar.

— Como pode ver você agora é uma cavaleira – Ela começou, sentando-se em um banco de madeira próximo – Magnus sentiu a sua presença, ele conheceu seu cheiro e lembrou-se de Túriel. A dor que você sentiu em sua cabeça foi causada pela “invasão” de sua mente. – Arya fez uma pausa.

— Invasão da minha mente? – Perguntei, não contendo minha curiosidade.

— Sim, magos, dragões e até mesmo alguns elfos tem este dom. O dom de falar mentalmente e compartilhar emoções, mas isto é mais comum entre cavaleiros e seus dragões. – Ela respondeu com um brilho nos olhos.

— Mas como é possível? Como ele fez isso? – Indaguei ainda não satisfeita com a resposta.

— Ora Astrid, eu não sei muito bem como lhe explicar, mas é algo normal para alguns dragões. Magnus apenas concentrou-se em sua mente e simplesmente se comunicou – Arya sorriu e parecia imaginar enquanto falava – O fato dele falar em sua mente lhe causou uma dor, pois ela estava vulnerável, podendo ser facilmente invadida. Naquele instante, suas emoções, sentimentos e pensamentos estavam sendo revelados a Magnus. Ele sentiu tudo o que você sentiu e também teve conhecimento de suas lembranças.

Fiquei em silêncio por um instante tentando assimilar tudo o que eu havia acabado de ouvir, e acredite, eu não gostei nada de saber que os meus pensamentos e emoções seriam descobertos pelo dragão. De certa forma me senti vulnerável, pois imaginava que ele apenas pudesse falar em minha mente e não tornar-se parte dela. Por fim, suspirei e Arya continuou a explicar.

— Sei que pode parecer estranho Astrid, mas você será treinada para dominar esta habilidade e mais breve do que imagina aprenderá a usar sua mente para se comunicar com Magnus e se defender de possíveis “invasões” por telepatia – Arya se levantou e segurou minha mão enfaixada – Esta marca une suas mentes e significa que você é uma cavaleira – Concluiu, com um fraco sorriso.

— E o brilho do colar? – Perguntei, desviando os olhos da mão para a pedra de safira.

— Este é um colar especial – A elfa sorriu e segurou a pedra em suas mãos – É uma pedra safira Guia e segundo Gandalf, o Branco, ela brilhará quando seu dragão ou alguém especial para você estiverem em perigo e também lhe mostrará o caminho quando estiver perdida.

— Pensei que fosse o símbolo da imortalidade – Disse, com tom de ironia e logo desconfiei que nem toda a verdade havia sido contada para mim.

— Fahir não queria que soubesse naquele instante, Astrid – Arya comentou, já sabendo o ponto que eu queria chegar – Tudo tem um tempo certo e você saberá de tudo que for necessário quando chegar a hora – Ela tocou meu ombro e me olhou seriamente - Entenda, ser uma cavaleira é uma honra, mas também requer muita responsabilidade e treinamento. Você está apenas no começo, mas conforme for avançando seu treinamento as coisas começarão a ser esclarecidas e tudo começará a fazer sentido realmente.

— De certa forma eu entendo, Arya. Só não quero que mintam para mim... - Afirmei.

— Você chegou aqui sem saber nada de sua origem, Astrid – Arya manteve seus olhos em mim - E então soube que sua mãe era uma cavaleira de dragão e elfa e que seu pai era um jovem guerreiro. Soube que era, na verdade, uma Meia elfa e não humana. Soube também que poderia ser a próxima cavaleira de dragão, e olha só para você... – Ela apontou para mim – Agora está mais confirmado do que nunca que Astrid é a nova Cavaleira de Magnus, Escamas de Gelo! – Afirmou em um tom cerimonial.

Eu apenas a olhei com um sorriso torto e ela continuou seu discurso.

— Foram muitas informações em apenas duas semanas minha jovem. Tenha paciência e não fique ansiosa com o futuro, pois mais breve do que possa imaginar você descobrirá tudo o que precisa – Arya concluiu com um enorme sorriso, parecia estar discursando para os jovens elfos no dia da competição, como Fahir havia feito. Por fim, acabei concordando e me divertindo com sua expressão motivacional.

— Tudo bem, prometo que não vou ser tão ansiosa – Afirmei com um sorriso torto, ainda não contendo a ansiedade – Será que posso ver Magnus agora?

— Ainda não Astrid, já é noite e não seria nada prudente você tentar se comunicar com ele novamente. No entanto, poderá vê-lo amanhã pela manhã, são ordens de Fahir – Afirmou Arya.

— Ordens de Fahir, claro! – Disse irônica, fazendo a elfa sorrir.

— Amanhã você verá não só o seu dragão, mas também Logan, Fergus e Marine – Comentou Arya.

— Logan! – Quase gritei não contendo minha ansiedade, estava tão concentrada em Magnus que nem me lembrei de que Logan também estaria a caminho – Eu preciso vê-lo Arya, por favor!

— Sinto muito, mas todos já foram dormir – Ela murmurou – Já passa da meia noite e você também precisa descansar, ainda está fraca.

Eu ia protestar e insistir mais um pouco, no entanto eu sabia que seria perda de tempo e que ainda me sentia um tanto indisposta.

Arya me ajudou a me levantar e disse que me acompanharia até meu quarto. A cada passo que eu dava sentia minha cabeça pesar, como se eu tivesse levado um coice de cavalo minutos atrás, e também sentia um desconforto no curativo em meu ombro, que havia começado a pinicar.

Quando cheguei ao meu quarto me joguei em minha cama ao sentir a dor aumentando aos poucos. Não sabia o motivo de aquilo ainda estar me atormentando, mas apenas decidi dormir numa tentativa de aplacar meu desconforto.

— Tome isso – Arya me estendeu um copo com um liquido esverdeado – Vai ajudar a acabar com a dor.

— Porque ainda esta doendo tanto? – Perguntei analisando o conteúdo que não parecia nada bom.

— Você bateu a cabeça quando desmaiou. A dor da ligação de sua mente com Magnus foi apenas instantânea – Ela explicou – Agora beba isso logo, creio que o gosto é bem melhor do sentir dor – Insistiu um tanto impaciente com minha repugnância ao conteúdo.

Levei o copo até a boca e bebi tudo de uma só vez. O gosto era agridoce, no entanto mais amargo do que doce.

— Isso parece grama e é muito amargo – Murmurei, fazendo uma careta ao terminar o último gole.

— Ora são apenas ervas medicinais – Ela suspirou – Vai me agradecer quando se sentir melhor, agora tente dormir um pouco – A elfa pegou o copo e se rumou até a porta – Boa noite – Disse antes de sair.

Eu fiquei mirando o teto por um longo tempo pensando se naquele instante o dragão estaria a par de meus pensamentos. Por um impulso tentei me concentrar em falar mentalmente, mesmo sem saber como fazê-lo.

Boa noite Magnus.

Apenas imaginei o dragão em algum lugar do vasto Reino de Thranduil ao tentar lhe enviar algum pensamento. Imaginava que ele estivesse na floresta, talvez sobrevoando toda a extensão do território a procura de algo para caçar.

Mais rápido do que havia imaginado acabei pegando no sono e senti meu corpo flutuar quando sonhei estar voando sobre a floresta. Em meu sonho eu apenas via a paisagem passando rapidamente, enquanto avançava pelo céu a toda velocidade, sentindo o vento no rosto e o leve calor do sol do ocaso. A sensação era muito boa, porém eu não sabia se estava flutuando ou sendo carregada por alguma ave gigante para um passeio da tarde. Senti que estava voando por pelo menos uma hora, até que de repente eu parei de flutuar no céu e cai de uma só vez em um monte de folhas de carvalho.

Acordei assustada com o tombo que eu havia sofrido no sonho. Percebi que meu cabelo estava grudado em meu rosto todo suado. Pelo menos a dor de cabeça havia passado e mais tarde realmente teria de agradecer a Arya. A julgar pela escuridão que era me revelada pela janela conclui que era mais ou menos umas três horas da madrugada, porém havia perdido completamente o sono.

Decidi vagar pelos corredores afora e aproveitar para passar o tempo livre explorando o lugar. No entanto eu não iria até a sacada onde Légolas me encontrava com frequência, não é que eu não gostasse dele, mas a presença do elfo me deixava muito desconfortável ultimamente.

Eram muitos corredores e passarelas que chegavam a dar um nó na cabeça, porém depois de tanto caminhar por eles eu finalmente aprendi a me guiar pelo imponente Reino de Thranduil. Rapidamente conclui que o melhor lugar era o jardim onde eu treinara com Légolas na semana passada. Ele era perfeito e extremamente calmo, então mais sutil do que um gato eu me esgueirei pelas passarelas que levavam até o local.

Me sentei em um banco e fiquei admirando a fonte que fluía levemente. Tudo ali estava muito bem iluminado e eu podia ver as flores e estátuas que enchiam os olhos de tanta beleza.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas novamente o sono veio e me fez dormir encostada em um tronco de uma grossa árvore do jardim. Tive a impressão de ouvir uma voz ecoando ao longe, mas já estava totalmente embargada pelo cansaço.

Posso sentir sua presença

Com isso dormi como uma pedra sem que nenhum sonho pudesse me despertar novamente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.