Além do horizonte

Capítulo 1: Fuga na noite


Era uma noite fria e escura. O vento soprava forte anunciando a chegada do inverno. Corujas piavam alto e o zumbido do vento nos galhos das árvores produziam uma sinfonia assustadora. O brilho crepuscular da lua escondida pelas nuvens revelava a sombra de uma densa floresta.

O som de cascos de cavalos ecoavam ao longe. Um homem cavalgava a toda a velocidade tentando fugir de soldados e seu nome era Rufus. Em seus braços estava uma criança com poucos dias de vida, que chorava com a agitação a sua volta.

Rufus diminui o ritmo ao se aproximar do rio e foi adentrando-o aos poucos. Os soldados chegaram próximo da beira, mas alguns desistiram de continuar.

– Vocês são homens ou apenas ratos medrosos!- gritou o comandante. - Peguem este homem e tragam a criança!

Os soldados restantes seguiram o comandante na travessia do rio, e este aproximou-se de Rufus e o atingiu no rosto com sua espada. Com um soco Rufus desequilibrou o comandante do cavalo e fe-lo cair correnteza abaixo.

Rufus continuou a jornada e conseguiu despistar o restante dos soldados. Ele olhou para a criança em seus braços e ela parecia faminta já que não parava de chorar.

Mais adiante, ele avistou os primeiros pontos iluminados de um vilarejo. Ao final da floresta havia uma vasta campina. Com dificuldade o homem encontrou uma estrada e a seguiu até chegar em um vilarejo de nome Florenzia.

O lugar era simples e as casas assim como as ruas eram de pedras.

Rufus entrou em uma estalagem e no salão principal havia muitas pessoas, a maioria homens, que bebiam,conversavam e cantavam canções que falavam de lendas e da vida cotidiana. Ele não deixou de perceber os olhares espantosos das pessoas, elas deviam achar estranho um homem aparecer do nada com uma criança em plena noite fria de outono.

Rufus alugou um quarto. A atendente olhava-o com tamanha curiosidade. A mulher fizera perguntas e Rufus dissera que havia perdido a irmã quando esta dava a luz a sobrinha, então decidira procurar um outro lugar para criar a criança.

A mulher comoveu-se com a história e ofereceu um pouco de leite para o bebê. Rufus a agradeceu e subiu para o quarto. O chão rangia a medida que ele pisava, o corredor era estreito porém bem iluminado. O homem abriu a porta do quarto e a trancou novamente. O comodo era pequeno e continha apenas uma cama, uma cadeira e uma pequena mesinha no canto, no qual estava a lamparina que iluminava tudo.

Ele ajeitou a criança na estreita cama e a observou.

– Você precisa de um nome- Disse ele observando-a. - Hum. Que tal Astrid. Esse era o nome de minha irmã...Ela ficaria feliz em saber que você, tão jovem e corajosa recebesse o nome dela.

Rufus retirou seu longo capuz e o cinto no qual pendia uma espada. Mirando seus olhos no metal ele viu seu reflexo, com os cabelos desgrenhados, o rosto arranhado e pesadas olheiras.

" Agora sei porque as pessoas não confiam em mim, e elas tem boas razões para isso" Pensou enquanto se observava.

Ele se jogou em uma cadeira, estava extremamente exausto com a viagem. Não demorou muito e o homem já havia adormecido.

Lá fora o vento soprava frio e continha um aroma capaz de mudar o destino das coisas.