—Oooh! –os olhos do padre quase pularam para for a em surpresa- Você o protegeu de um assassino?!

Os três estavam em bancos de madeira no refeitório do dormitório da igreja. Lionel bebia alguma coisa, Aiden quase não tinha tocado na comida e o padre comia animado.

—Bem… Mais ou menos… -Aiden sentiu-se embaraçada- é meu trabalho, então…

—Foi muito corajoso! Você tem sorte de ter uma guarda-costas tão dedicada. –ele bateu nas costas de Lionel, fazendo-o derrubar um pouco da bebida-

—...

Lionel continuou com um sorriso sem graça no rosto, as sobrancelhas dele demonstravam certa preocupação.

—Bem, você sabia, senhorita Aiden, esse garoto aqui devia ter orgulho das habilidades dele! –Isaack colocou o braço em volta dos ombros do outro, puxando-o para perto- Ele pode ser humilde o tempo todo, se eu fosse ele, provavelmente ia ficar me exibindo por aí, por isso não fui dotado com esses poderes!! Gwahahaha! –ele gargalhou-

—Padre Isaack…

O rosto de Lionel estava completamente vermelho, até as orelhas, vendo o quanto ele estava envergonhado, o padre riu-se ainda mais.

Até alguém como ele fica envergonhado, hein?

—Ele não é um garoto fofo?! Devia aproveitar a chance! É raro encontrar um homem bom nos das de hoje, senhorita cavaleira!

Esse homem é mesmo um padre? Ele não se parece com um.

—Padre Isaack… -Lionel tossiu forçadamente-

—Não precisa ser tímido! Ei, Aiden, você sabia?

O padre largou Lionel e pôs uma mão ao lado da boca para fofocar algo, se aproximando da mulher, ela se curvou para trás alguns centímetros, com medo da próxima ação dele. Ele sorriu e disse com seu timbre alto, embora pretendesse sussurrar:

—Esse rapaz aqui é muito, muito forte! Ele pode agir como se fosse fraco, mas é só porque ele não quer ficar nos holofotes! Ele foi promovido a sumo-sacerdote quando tinha apenas dezenove anos, há cinco anos, sabia disso?!

—Dezenove anos…?

Foi jovem demais!! Como ele conseguiu uma posição tão alta nessa idade…?! Na ordem dos cavaleiros, não podemos virar lordes cavaleiros até termos 30, isso significa que temos de adquiri uma experiência considerável para nos tornarmos lordes… Para um homem como ele, com essa personalidade frágil…

—Não me diga que ele não te contou como se tornou um sumo-sacerdote? –Isaack arqueou uma das sobrancelhas num tom inquiridor-

—Não…

Aiden estava estupefata e lançou um breve olhar para o sacerdote que esteve acompanhando. O rosto dele não parecia se agradar com a situação. O olhar dele se escureceu e a feição dele tornou-se séria.

—Padre Isaack, por favor… –ele interrompeu o homem numa voz rigorosa-

Então ele não gosta de falar sobre o passado… Há coisas que mesmo um padre como ele prefere esconder dos outros…? Isso soa bastante suspeito… Uma pessoa não deveria se sentir feliz em ser promovida a um nível maior?

—Oh… -o outro homem paralisou como se tivesse sido atingido por um golpe atordoante- Me perdoe… -ele coçou a cabeça- Me esqueci de que prefere não recordar de tais eventos… Eu sinto muito de verdade, padre Lionel. –a um sorriso fraco apareceu nos lábio do homem-

—...

A cavaleira assistiu a cena, quando Lionel começou a sorrir de novo, mas ela podia dizer que ele sentiu-se magoado em algum momento daquela conversa, o sorriso dele não parecia convincente o suficiente. Suspirou profundamente.

—Está preocupada com algo? –Isaack a questionou-

—Ah… Não… Só estava me perguntando que tipo de pessoa tentou nos atacar… Da última vez, o assassino escapou, e me pergunto se existem outros assassinos contratados nesta cidade…

—Se preocupando sobre o trabalho agora? Não devia ser tão densa! –o padre bateu no ombro da mulher- Não precisa fazer essa cara, senhorita cavaleira, nosso Lionel aqui pode tomar conta dele mesmo, além do mais, essa cidade é lotada por conta da riqueza e variedade de matéria-prima, as pessoas vem e vão rapidamente, só tem que prestar atenção, a maioria deles são mercadores ou ferreiros. Eles não serão nenhuma ameaça para um único padre e sua cavaleira fiel. Apesar de que, os arredores da cidade são ultrajantes. Muitos assassinos e pessoas de má índole vem e passam por esta cidade, por isso é importante manter um olho aberto.

—Então esse é um lugar perigoso no fim das contas…

—Acho que não… -Lionel pôs uma das mãos no queixo, ponderando sobre algo- Quando chegamos nesse lugar, eu pude sentir muitas “energias”, a maioria delas era forte e cheia de bravura, mas não maligna, o que mais me incomoda é … Como se houvesse apenas existências malignas lá…

—Ora, padre Lionel, o senhor está relativamente seguro aqui. Enquanto não aparecer muito na cidade, pode ficar a salvo. Mas se for para as áreas pobres da cidade ou para for a dela, mesmo dentro das minas, há perigos que não devem ser ignorados.

—Perigos? Quer dizer que há inimigos que tentariam matá-lo? –Aiden franziu o cenho-

—Não ele em específico, mas qualquer um que invadir o território. Tem monstros dentro das minas, e também as criaturas dos campos de Einbroch… Muito embora os homens estejam mais assustados com as criaturas das minas, já que a maior parte das criaturas do lado de fora são pacíficas.

—Dentro das minas?

—Sim. Os trabalhadores, -a voz dele soava como se ele contasse uma história de terror- Contam uma lenda sobre grandes criaturas que sugam o sangue dos homens lá dentro e amaldiçoam qualquer um que pise naquele lugar. Alguns até são petrificados… Muitos desapareceram e até morreram pelas mãos dessa criatura… Ninguém nunca retornou para dar uma descrição precisa da criatura! Não temos certeza se é realmente um monstro ou uma peso por trás desses mal feitos.

—I-isso é um grande problema!

—Por isso eu tive uma sensação ruim vinda daquele lugar… -Lionel tinha o semblante preocupado-

—Claro que é! E foi por esse motive que chamei o padre Lionel para cá! Pode purificar as minas, não pode? E encontrar quem ou o que está causando esses problemas… -Isaack sorriu- Porque os trabalhadores tem tido problemas dentro das minas, muitos estão com medo de ir até lá e trabalhar como de costume, então a economia está diminuindo… Se pararmos de vender matéria prima, esta cidade irá eventualmente decair, e outras pessoas que tiverem coragem de fazer o trabalho irão roubar as riquezas da mina…

—Mas se é uma purificação, você não poderia fazer algo sobre isso? –Aiden foi curta e rude com a sentença-

—Eu gostaria que sim, senhorita cavaleira… Mas temo que eu não possa… O trabalho do Lionel inclui fazer esse tipo de serviço também, já que é pelo bem da cidade e das pessoas, e para evitar que ela se torne um lugar a ser conquistado na guerra que está por vir…

—Eu compreendo… Se a cidade enfraquecer, vai se tornar uma porção territorial e as nações mais fortes brigarão por ela…Porque é uma região rica em materiais… Mas eu não sabia que Lionel deveria fazer algo sobre isso…

Ela franziu as sobrancelhas ainda mais ao olhar para o jovem sacerdote que simplesmente sorria como se não tivesse nenhum comentário a fazer sobre a afirmação dela.

—Não é uma questão de quem deve ou não fazer isso, senhorita. –o padre mais velho explicou minuciosamente- E sim sobre quem é capaz de fazer isso. Não sou apto para esse tipo de trabalho, sabe. Estive tomando conta da igreja e ajudando as pessoas da cidade, mas meus poderes não são nada comparados aos dele. Se eu por algum acaso falhar em capturar ou matar a criatura e morrer, esta paróquia não possui ninguém que possa me substituir…

Os olhos dele estavam repletos de tristeza e o sorriso coberto de melancolia. Por um ínfimo segundo, Aiden viu os olhos entristecidos daquele padre direcionarem-se para Lionel, mas logo ele estava olhando para a mesa mais uma vez.

Sinto que ele não quer enviar o Lionel… Porém, acho que ele não tem outra escolha…? Assuntos políticos?

—Lionel é um homem forte. Ele não more fácil, não é, Lionel? –o sorriso dele estava brilhante de novo quando ele bateu nas costas do outro-

—Hã… Sim…? –ele respondeu com um sorriso desajeitado-

Ele não tem confiança nenhuma… Isso me irrita… Agindo como um fraco, mas todo mundo fala que ele é forte… Se o poder dele vier de sua estupidez, ele deve ser mesmo poderoso.

—E tem mais, ele tem uma ponderosa e fiel cavaleira ao lado dele! –o padre bateu no ombro da mulher-

Esse cara está simplesmente passado o bastão para nós, não é? Tudo que eu consigo ver é um velho jogando a responsabilidade nem nossos ombros!! Nossa…

—Os ataques acontecem mais pela noite, então não precisam se preocupar… -Isaack disse calmamente-

—Então, farei algumas preparações… -Lionel se levantou- Se estiver tudo bem para você, eu gostaria de estudar um pouco mais sobre essa lenda da cidade, e podemos entrar nas minas em três dias… -ele olhou para a cavaleira-

—Qualquer dia está bom, minha missão é te proteger, não te dar sugestões.

—...

Lionel sorriu uma vez mais e saiu do refeitório, Aiden estava prestes a sair também, mas Isaack a chamou.

—Você fica. Precisamos conversar. –Ele apoiou o queixo numa das mãos-

—...?! –Aiden franziu as sobrancelhas, encarando o homem-

Isaack tnha uma expressão dura, e um tipo de aura ponderosa emanava dele.

—O quê…?

—Quero conversar sobre o Lionel.

Ele sorria, mas o tom severo ainda recobria sua voz. Ela sentou-se de novo em frente ao homem e perguntou apreensiva.

—Vai fazer piadas sobre ele mais uma vez? Não… Suponho que vai me contar algo sobre o Lionel que eu não saiba?

—Se eu fosse te contar algo que não sabe sobre ele, podíamos passar dias aqui… Pelo que eu vejo você não sabe de nada sobre ele ainda… Isso me preocupa porque ele já tem uma multidão de pessoas que o odeiam e o criticam fazendo-o parecer uma pessoa que não tem méritos. Isso me preocupa.

—Posso não gostar dele, mas não irei criticá-lo por respeito a posição dele. –ela foi clara-

—Oh… Isso me preocupa ainda mais… Sabe, um passarinho me disse que você estava falando sobre amigos e eu sei que você parece não aceitar a personalidade dele, pude dizer só de olhar, mas você continua fiel aos seus deveres e até se preocupa com ele em alguns momentos…

—Que relação esse assunto tem com nossa missão atual? –ela estava ficando impaciente com os rodeios dele na conversa-

—Tudo. –ele quase falou letra por letra- Ele pode não parecer, mas esteve suportando muito pra uma pessoa só. Você é muito esperta, mas não conseguiu captar nada sobre ele ainda… Lionel não é fraco e nem é alguém que sempre sorri, ao invés disso, ele é alguém que se preocupa em ajudar os outros mesmo tendo falhas. Um verdadeiro homem que prefere ocultar sua tristeza, mostrar um belo sorriso e que esteve escutando as reclamações das pessoas e sendo atacado pelas costas por elas desde que se tornou um sumo-sacerdote.

Não entendo a razão dessa conversa… Ele só está tentando fazer o Lionel parecer um cara legal aos meus olhos, não é…? Eu não poderia me importar menos…

—...

—Você deve certamente ser capaz de entender pelo menos um ponto: desde que se tornou um sumo-sacerdote, metade dos membros da igreja se recusaram a aceita-lo como um, e a outra metade estava convencida de que ele era capaz. O problema principal é que as pessoas que deveriam, supostamente, estar do lado dele ajudando-o a impedir a guerra vindoura podem ser aquelas que estão contratando assassinos para matá-lo. Mesmo assim, ele esteve escutando sem dizer uma única palavra. E eles estiveram falando mal dele, fazendo alguns membros que estavam do lado dele mudarem de lado.

—Isso é bem a cara dele… Resolver as coisas pacificamente… -ela murmurou para si-

—Ele não pode dizer nada, se abrir a boca, eles terão mais motivos para criticá-lo. E é aí que você entra, Aiden, com seu orgulho e regozijo em ser uma cavaleira, deveria estar protegendo ele, e tem feito um bom trabalho, mantendo-o vivo, contudo, há um problema…

—E qual seria…?

—Só está protegendo o corpo dele, mas não é nenhum pouco diferente daqueles que tentaram mata-lo, mentalmente falando... Eu vi mais cedo na cidade aquela cena entre você e sua amiguinha…

—A-Amy? –ela respirou fundo- Me desculpe, isso não vai acontecer.

—Não estou te dando bronco por se encontrar com uma amiga, mas acho que não entendeu o significado das tentativas de Lionel em te dizer que amigos são preciosos. Sabe, desde criança aquele garoto perdeu o que lhe era precioso, ele acabou sem ter ninguém para chamar de amigo, e quando se tornou um sumo-sacerdote, a situação só se agravou. Ele esteve ajudando as pessoas e caminhando sozinho nessa estrada. E você, que deveria entender perfeitamente como é sofrer com o preconceito consegue imitar os mesmos comportamentos que os outros…

—E-eu não sabia disso! Se ele tivesse me dito claramente, eu teria escutado! –ela tentou se defender-

—Não estou te dizendo para gostar dele, mas não me venha com esse “respeito” meia-boca. Se vai demonstrar respeito, faça isso direito, com todo seu coração. E não o julgue pelo que sabe dele agora. Ele é mais do que você aceita ver.

Eu não aceito enxergar quem ele é de verdade…?Não… Eu tenho certeza de que não consigo compreender aquele homem… Lionel é demasiado complexo… Eu ainda não consigo decifrar o que ele está escondendo?

—Eu…

Naquele momento, uma voz a chamou, era Lionel, ele voltou para buscá-la:

—Aiden? O que ainda faz aqui…?

Quando ela se virou par falar com ele, seu rosto estava pálido, como se o sangue tivesse fugido das veias dela, e ela estava assustada em conhecer o outro lado do padre Isaack que era tenebroso enquanto brigava com ela.

—Aiden…? Não parece estar bem… -Lionel se aproximou-

—Oh, só estávamos disutindo uns assuntos. –Isaack sorriu- Mas creio que já acabamos, ela não está se sentindo bem.

—Eu… -a mulher procurava por palavras-

Lionel pôs uma mão na testa dela, mas ela não estava com febre. Ele ponderou cautelosamente, franzindo o cenho, e a ajudou a se levantar. Isaack saiu do lugar e Lionel guiou Aiden pelos corredores do dormitório.

—Ele disse algo vergonhoso de novo…?

—Não… Aquilo foi… -ela não tinha certeza do que falar, claro que não podia dizer que aquilo tinha acontecido por causa da conversa sobre ele-

—Então… -Lionel parou de andar- Não precisa dar muita atenção às palavras dele… O padre Isaack pode ser bem indelicado e usar palavras bruscas, mas, por favor, não pense mal dele… Ele é uma pessoa incrível…

—O que- ela estava atordoada porque ele sabia exatamente a origem das preocupações dela-

—Tudo bem. Não dê muita atenção ao que ele diz, ele tem o habito de falar coisas que não de via sobre os outros…

—...

—Vamos nos preparar para amanhã, quero reunir informações pela tarde e amanhã de manhã também. Vamos entrar nas minas para matar essa criatura misteriosa em três dias.

O sacerdote sorriu para ela novamente, e a deixou na porta do quarto, sumindo pelos longos corredores.

Como ele sabia que eu tinha ficado assim por causa das palavras do padre Isaack? Talvez pelo meu rosto? Ou será que ele ouviu tudo…? Quando ele diz coisas assim, sinto como se eu fosse a única que está sendo protegida aqui.

Mas… É verdade que ele… Aquele Lionel foi rejeitado até pela cúpula da igreja? Isso seria realmente muito triste…

Ah. OLionel não acabou de dizer que eu não deveria me importar com as palavras daquele homem?! Claro que ele está exagerando… Como se um sacerdote amado como ele tivesse problemas em ter amigos… As pessoas o adoram aonde quer que ele vá… É quase impossível que ele não tenha nenhum amigo…

Apesar do sorriso dele ser cheio de segredos… Não consigo dizer se ele está sorrindo apenas para aliviar o estresse dos outros ou se é um sorriso verdadeiro…

Eu não o conheço bem mesmo… Me pergunto se o lorde Glenn sabia que minha personalidade se chocaria com a do Lionel.

Por que me escolheu para protegê-lo, general Glenn? Por quê…?

Aqueles pensamentos continuaram na mente dela até que se sentisse cansada e entrasse no quarto. Ela chegou à conclusão de que ainda tinha um longo caminho pela frente se quisesse entender tanto Glenn quando o sacerdote de quem cuidava.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.