O peco corria na sombria floresta. Estava frio porque a noite havia caído. Aiden olhou os arredores, em alerta, preparada para cortar qualquer inimigo ou monstro que aparecesse.

—Senhorita, não está cansada?

— Senhor, eu prefiro não ser chamada de ‘Senhorita’, sou Aiden, a cavaleira encarregada do dever de protegê-lo, e não estou cansada, mas podemos parar e descansar se não conseguir prosseguir sem dormir.

—Isso não é um problema para mim, Aiden. Posso ficar sem dormir por três dias inteiros. Mas, claro, isso não é nem um pouco saudável. Eu apenas estava preocupado que estivesse se forçando a continuar.

—…

Três dias acordado?! Ele está mentindo! É impossível que um sumo sacerdote fraco como ele aguente três dias inteiros!! E ele ousa me tratar como se eu fosse fraca!!

Ela franziu o cenho, dizendo num tom duro:

—Se pode aguentar a jornada direta até a cidade, creio que seria melhor gastar menos tempo para chegar até lá.

—Claro.

Ele sorria sem nenhum tipo de ressentimento pelo tom que ela utilizara. E eles seguiram caminho até a cidade.

. . .

A noite havia caído e a floresta estava escura, Aiden empregava um esforço maior para se manter em guarda. As pálpebras dela pesavam, e a mente dela tentava se focar nos arredores do sacerdote que também aparentava estar cansado.

Ouviram o som de folhas crepitando. A cavaleira parou e gesticulou imediatamente para ele.

—Pare.

—...

O sacerdote olhou em volta, tentado descobrir a origem do som. O crepitar continuou, ficando cada vez mais alto. E então, dois orcs estavam à vista ao longe.

O peco ficou nervoso e o cavalo também. Os orcs notaram a presença dos dois humanos, e começaram a mover-se na direção deles. Falavam algo na linguagem deles, mas Aiden não conseguia entender.

Ela já havia sacado a espada e se preparado para a batalha. Os orcs empunhavam machados, um deles, arremessou o machado na direção do sacerdote, o cavalo relinchou e o machado o atingiu. Após isso, o cavalo correu como um louco, carregando o sacerdote junto.

Não!

A cavaleira cerrou os dentes e olhou para os inimigos se aproximando, tentou cortar ambos com um só golpe de espada. Um deles caiu, mas o outro retribuiu o corte, ela bloqueou com a espada e fez com que o peco o pressionasse até o chão, então, ela montou no peco e se apressou para achar o cavalo desgovernado.

—Senhor Lionel!! –ela gritou do fundo dos pulmões-

O cavalo estava por perto, ela podia ouvir os relinchos, mas não conseguia identificar de qual direção vinham.

—Senhor Lionel!!

Puxando as rédeas, parou o peco para procurer nos arredores. O cavalo relinchou novamente, e desta vez, ela pode seguir o som. Encontrou Lionel sentado ao lado do cavalo que bufava dolorido. O machado estava no chão, coberto pelo sague do pobre animal.

—Se ele não tivesse se precipitado, eu teria sido atingido no lugar dele… -ele suspirou pesadamente- Pobre criatura.

—... É só um cavalo, é óbvio ue ficaria assustado.

—... Você tem razão…

Ele sorriu para ela e voltou o olhar para o animal. Fechando os olhos, impôs uma das mãos sobre o ferimento e sussurrou algumas palavras. Uma luz brilhante e morna envolveu a mão dele e o ferimento.

Aiden estava impressionada. Ela nunca tinha visto um sacerdote utilizer os poderes tão de perto. Quer dizer, ela havia visto noviços usarem poderes de cura, mas o poder dele era diferente, parecia ser mais forte e também, mais calmo.

O cavalo se moveu alguns segundos depois, estava energético de novo, de pé sobre as quatro patas. Lionel afagou a crina do quadrúpede, que pareceu apreciar o gesto.

—Agora pode andar novamente, amigão.

—De qualquer forma,

A cavaleira foi interrompida pelo som de um orc. Aquele que ela não havia ferido. Irritada, guiou o peco para acabar com o inimigo. Mas o orc utilizou o machado para derribá-la da montaria, e o peco continuou a correr, parando a metros de distância dela.

Ela levantou-se agilmente, tocando na armadura que cobria seu estômago, onde havia levado o golpe. Tentou desferir um corte no oponente, mas a mão dela deslizou, e o inimigo tentou cortar for a o braço dela. Desvio com um pulo para o lado, tentando atingir a lateral do inimigo, mas ele reagiu instantaneamente com um golpe, abrindo um corte na bochecha esquerda, ela conseguiu desviar o corpo para o lado, fazendo com que o corte não fosse profundo. E finalmente, ela acabou com orc trespassando a lâmina pelo corpo dele.

—Ah… -she arfava-

— Você está bem?!

O sacerdote correu para ajudá-la.

—Oh… Esse corte…

—Me deixa em paz! –ela afastou a mão dele violentamente- Não preciso da sua ajuda.

—Tenha calma… Seu orgulho não vai sarar o corte…

—Não venha me dar lições de moral, estou bem com meu orgulho.

—Senhorita Aiden, não devia agir dessa forma…

Ele envolveu uma das mãos dela nas dele, e fechou os olhos, uma repentina luz apareceu diante dela. Ela sentiu um tipo de energia emanado dele enquanto ele tocava a mão dela. Como se uma brisa morna passasse por seu corpo. Fascinada pela magia dele, ela despertou do transe quando ele a soltou. Ele tinha uma expressão séria desta vez.

—Compreendo que queira cumprir seus deveres como cavaleira, eu também tenho minha missão como um sumo sacerdote, e ela é ajudar as pessoas, não importando quem sejam. Você pode ser minha guarda-costas, porém, da mesma fora, é alguém que eu devo ajudar se houver necessidade.

O tom dele não foi rude ou ameaçador, mas ela pode dizer que aquilo era uma bronca. Ele sorriu, se levantando e ajudou-a a se levantar.

— Podemos ir para a cidade agora?

Ele subiu no cavalo calmamente. Tocando a bochecha, ela sentiu que o corte não estava mais lá, e franziu o cenho de novo, subindo no peco. Eles seguiram para a cidade sem mais obstáculos.

. . .

Manhã,

Na cidade de Alberta.

. . .

Eles finalmente chegaram à cidade. Era animada, havia multidões caminhando pelas ruas, mercadores negociando suas mercadorias e artefatos, crianças brincando nas ruas, uma fonte no meio da praça da cidade; casais caminhando lado a lado, e viajantes vagando pela cidade, assim como nossos dois personagens em questão.

—Precisa ir a algum lugar agora? –a cavaleira perguntou educadamente-

—Gostaria de ir à igreja primeiro, para me situar sobre os assuntos relacionados à cidadedepois disso, farei as visitas para ajudar as pessoas.

Ele fala como se fosse fácil ajudar as pessoas. E ele sorri com tanta frequência que me irrita. Ele não pode estar feliz o tempo todo, essa farsa toda me incomoda.

Quando será que ele vai revelar a verdadeira face…?

—... Entendido… mas não deveríamos alugar quartos numa estalagem antes de ir para a igreja?

—Ah… Sobre isso, não precisa se preocupar… A igreja nos providenciará instalagens adequadas enquanto estivermos na cidade… E acredito que acontecerá o mesmo nas nossas próximas paradas também…

—Sério? –os olhos dela se abriram em surpresa-

—Sim. –ele sorriu brilhantemente-

Bem, é uma igreja afinal… Eles deve se preocupar com esse tipo de coisas… Embora, eu realmente não faça questão, poderia até dormer numa floresta, se preciso.

—Vamos para a igreja primeiro, então.

Foram até a igreja principal da cidade, era uma enorme construção feita de blocos de pedra, com janelas de vidro e portas de madeira. Os olhares de muitos caíram sobre eles, enquanto subiam as escadas de pedra depois da entrada.

Era porque havia um sumo sacerdote muito jovem na cidade uma ocorrência rara, uma vez que a maioria dos membros da igreja que vinham de visita á cidade eram velhos. Mas não Lionel, as vestes dele provavam que era de um alto rank.

—Você atrai muita atenção, padre Lionel… -Aiden sussurrou-

—Não posso fazer nada quanto a isso… -ele respondeu em tom baixo, com uma pontada de culpa na expressão- As pessoas não estão acostumadas a ver sumo sacerdotes frequentemente, e elas esperam algo de mim, talvez, elas devem ter sentido que a guerra está se aproximando, por isso estão tão apreensivas e curiosas. Além disso, eu lhe disse que não gosto de ser chamado por títulos, sou apenas Lionel, não sou diferente de você como pessoa em nenhum aspecto, Senhorita.

—Então pare de me chamar de Senhorita, eu sou uma cavaleira, não uma dama! –ela resmungou-

—Sua obstinação me impressiona, Aiden.

Ela virou a cara para o lado, emburrada, e eles entraram na igreja. Era um lugar claro. A luz do sol entrava por todas as janelas de vidro colorido, e o silêncio parecia separar aquele ambiente do resto da cidade.

Havia um padre de joelhos no altar, orando. Lionel fez o sinal da cruz e se ajoelhou perto dos inúmeros bancos da igreja também, fazendo suas preces silenciosamente.

—...

Aiden franziu as sobrancelhas e olhou para o altar mais uma vez, o local emanava um tipo de aura pacífica que acalmava sua mente e seu coração. Repentinamente, os olhos dela ficaram pesados, e sua respiração, profunda. A mente dela ficou em branco, e ela sentiu-se sonolenta. Por fim, ela caiu no chão e o som do baque ressoou pelo local. A última coisa que ela conseguiu ouvir foi uma voz gritando:

—Aiden!!

.

.

.

Uma brisa morna e suave entrou pela janela do quarto. Aiden estava deitada na cama dormindo. Ela abriu os olhos, lentamente reavendo os sentidos. Virou a cabeça, e ao lado dela estava Lionel. Os olhos dele estavam fechado s e ele segurava uma cruz, murmurando algumas palavras num tom muito baixo. Quando ele abriu os olhos, viu que ela havia finalmente acordado.

—Bem vinda de volta.

O sorriso dele era gentil e caloroso. Ela estreitou os olhos, ainda cansada, e sentou-se relutantemente na cama. Ela se sentia leve, e os olhos dela quase pularam para for a quando descobriu o porquê.

—Cadê a minha armadura?!

Ela estava usando o traje que havia por baixo da armadura, um vestido de manga curta de cor azul clara. Isso a incomodava. Ela odiava não estar de armadura.

—Ah, as freiras tiraram para você. Você desmaiou no chão da igreja. Eu tentei te acordar utilizando minha cura, mas as irmãs disseram que você estava apenas cansada da viagem e precisava dormir um pouco.

—... Não gusto que as pessoas mexam na minha armadura…

—Não se preocupe, por favor. Elas não vai mexer mais do que o necessário, pode perguntar onde está depois que descansar bem... Tenho certeza de que elas tomaram muito cuidado com seus pertences.

—Por quanto tempo estive dormindo?

—Por um dia inetiro.

—U-um dia inteiro?! Não me diga que esteve aqui esse tempo todo… Ah, espera… Não podia sair porque eu que sou sua guarda e fiquei incapacitada, certo? –ela suspirou pesadamente-

—Sim, essa foi uma das razões, mas é claro que, eu estava mesmo preocupado com sua saúde, jpa que você esteve tentando bancar a durona o tempo todo. Temo que seu corpo não possa acompanhar sua rigidez, por isso eu estava orando por você.

—Pare com essa conversa mole. Está me dando náuseas.

—... –ele ficou surpreso pelas palavras dela- Bem, eu sou um sacerdote, é meu dever orar pelas pessoas, ainda mais por aquelas que não aceitam minhas preces. –ele sorriu de novo-

Não consigo engolir isso… Ele pode ser um sacerdote, mas não confio nele ainda… Mas ele disse que esteava aqui o tempo todo, não foi?

— Esteve acordado o dia todo? –ela perguntou intrigada-

—Sim? –ele respondeu confuso-

—Não significa que você não dormiu nem um pouco?

—Sim…

—Como você pode ainda estar bem depois disso…? –ela questionou com um misto de indignação e perplexidade- Eu desmaio por ficar acordada um dia inteiro, e você não dormiu nesses últimos dois dias e ainda está acordado?

Ele deve estar mentindo pra mim! Ora, ora se não temos um sacerdote mentiroso! Peguei você no flagra…

—Hahahah –ele de um riso abafado- Eu já lhe falei que posso ficar acordado por três dias.

Ah… eu me lembro que ele disse algo do gênero, mas pensei que ele estava fazendo alguma piada… Ele estava realmente… me dizendo a verdade?

—... S-sim, eu me lembro…

—Apesar de que estou bem cansado agora… Eu gostaria de ter um Descanso antes de iniciar meu trabalho aqui… Deveria dormer um pouco mais também…

—...

Ele saiu do quarto, deixando-a um tanto admirada. Ela respirou profundamente e deitou-se de novo, se cobrindo com os lençóis. Os olhos dela não se fechavam.

Talvez… Eu esteja errada…?

Não consigo mesmo entendê-lo…