Além de Tudo

Limerência: os sinais do amor patológico


Só teve um momento em que pensei que o "amor" era uma droga. Só teve um momento, também, em que pensei que o "amor" me salvaria de tudo, chegando ao ponto que o idolatrasse. Em minha própria honestidade, já não sentia mais amor. Alguma anomalia se diferenciou daquele sentimento, materializando-se num ser egoísta e opressor

Ah, sim. Ela foi embora. As férias chegavam ao fim numa velocidade quase imperceptível. Eu carregava um semblante que hoje em dia abominaria demonstrar aos outros, temendo que estes se tornassem tão depressivos quanto. Meu pai e minha avó se preocupavam com minha mudança de humor, mas não poderiam me ajudar; não poderiam porque eu não permitiria qualquer tipo de ajuda. Era um problema meu e de mais ninguém, mas recusava-me a creditar tal responsabilidade sobre mim; era problema totalmente meu, entretanto eu não tinha culpa. Eu era vítima.

Sobre o que dizer dessa adolescente confusa? Certamente, fui uma adolescente normal. Agora compreendo que a hipocrisia de todos os julgamentos relativos aos ocorridos é massacrada pelo sentimento comum de vivência, porque sei que não fui a única a me sentir perdida nem serei a última. Estava apaixonada e condicionada a um pensamento: "eu a amo, eu preciso dela e não posso viver sem". E se eu vivesse, o que aconteceria? Seria prova de que eu não a amava, então eu deveria estar triste e confusa para que tudo isso fizesse um sentido. Em minha mente deturpada era assim que encontrava lógica para meu sofrimento.

Meu pai não se afastou, pois tentava discutir alguns assuntos comigo e percebia que eu me tornava cada vez mais dispersa. Realmente na época era impossível que eu percebesse, mas ele realmente ficou chateado com sua impotência de poder me ajudar. Se eu pudesse voltar atrás e dizer que não era culpa dele e que não precisava se preocupar tanto... Garanto que o pouparia de muitos anos de estresse e solidão.

Minha primeira série de Ensino Médio começou. No primeiro dia de aula havia grande alvoroço das pessoas. Eu não conhecia o meu novo colégio, que tinha algum nome de santo e era direcionado por algum padre velho e ranzinza. Suspirava com tamanha tristeza ao observar muitos rostos animados e infantis. Eu sabia, de forma bem realista, o que era um colégio católico. Poderia não saber daquele, mas a parte imóvel aplicável a todos seria seu método de ensino. O típico método em que o professor lhe faz engolir a matéria após vomitá-la durante horas de aula e exercícios. Sem contar das missas e rezas chatas que teria que participar.

Senti falta de Mischa, claro. Na verdade, para ser bem sincera, eu não saberia dizer se a saudade era por ela... Mais parecia que quem habitava meu corpo era Mischa e não eu. Poderia ser que eu sentisse falta de mim e não soubesse. Ela tinha "roubado" minha personalidade, pois deixei que a tomasse quase por inteira. Minha responsabilidade, minha culpa e minha loucura. A cada dia que passava sem vê-la, ouvi-la ou saber de sua vida, meus pensamentos enterravam meu espírito em reflexões de desespero. Entretanto, ignorava a razão e seguia o "amor"; esse mesmo, o lobo em pele de ovelha. Meu guia para o inferno.