Desde pequena, a lenda dos dois mundos sempre me cativou. É uma história que ouvimos repetidamente, mas nunca deixa de provocar um arrepio de mistério e excitação. Nossos dois mundos são duas dimensões dentro de uma dimensão única que fica no universo, onde o Mundo do Sol e o Mundo da Lua coexistem, divididos por fronteiras. O magnífico sol é melhor visto no Mundo do Sol, e a maravilhosa lua é melhor vista no Mundo da Lua.

Os anciãos, professores e outros habitantes mais antigos, repletos de conhecimentos e memórias, contam que, antigamente, as pessoas podiam atravessar livremente entre os dois mundos, compartilhando saberes, culturas, amizades e recursos. Alguns poucos se relacionavam, casavam-se e tinham filhos, gerando uma rica diversidade com a mistura das duas genéticas. Hoje em dia não vimos mais ninguém com as tais características físicas do mundo da lua.

Embora nenhum livro do nosso mundo mencione mais o mundo da lua, algumas pessoas mais antigas ainda preservam histórias de seus ancestrais sobre como era o povo de lá. Dizem que os habitantes do mundo da lua possuíam uma beleza única, com pele pálida que refletia o brilho das estrelas. Seus olhos variavam entre tons prateados e escuros, cada um carregando um mistério próprio. A maioria do povo tinha estatura baixa, mas alguns poucos eram altos e esguios, movendo-se com uma graça quase sobrenatural. Ele viviam em aldeias encantadoras, construídas de materiais que brilhavam suavemente sob a luz lunar. As aldeias eram centros de cultura e aprendizado, onde a introspecção e a conexão espiritual com o cosmos eram altamente valorizadas.

As relações eram baseadas em um profundo respeito mútuo e uma compreensão empática das emoções alheias. Eles acreditavam na importância de sonhos e visões, frequentemente consultando oráculos que previam o futuro através das constelações. A ciência e a magia estavam entrelaçadas em seu modo de vida, e muitos eram hábeis em alquimia e na manipulação de energias naturais. Os mais velhos ainda lembram das lendas sobre os sábios do mundo da lua, que possuíam conhecimentos que transcendiam o tempo e o espaço. Estes sábios eram consultados não apenas por suas previsões, mas também por sua habilidade em curar doenças e resolver conflitos com sabedoria e compaixão.

Apesar de vivermos separados por uma barreira invisível, o legado do mundo da lua ainda persiste nas lembranças de alguns, uma lembrança do que já foi um tempo de unidade e harmonia entre os dois mundos.

O Mundo do Sol, com sua luz e calor, complementava o Mundo da Lua, cheio de serenidade e mistério. No entanto, após um grande cataclismo, marcado por guerras e desentendimentos, a passagem principal entre os dois mundos foi perdida, isolando-os completamente. Os mapas antigos e os livros esquecidos nas bibliotecas empoeiradas que andei lendo e pesquisando mencionam outra fronteira localizada na Floresta de Fogo, um lugar estranho e temido no Mundo do Sol. Esses livros, que encontrei praticamente escondidos, estavam prestes a serem descartados, pois sempre que algo relacionado ao nosso mundo vizinho era descoberto, era prontamente eliminado.

Há poucas informações sobre esse lugar, e quase ninguém ousa ir até lá. Dizem que agora é assustador, com um ar estranho que envolve quem entra. Contudo, os livros ainda afirmam que, para encontrar essa fronteira, é preciso atravessar toda a floresta até chegar a uma formação peculiar: dez árvores enfileiradas perfeitamente de um lado e do outro, formando um caminho estreito no meio. Dizem que, ao passar pelo meio dessas árvores, você entra rapidamente na fronteira entre os dois mundos. Sempre me senti atraída por essa lenda, fascinada pela ideia de que, além da Floresta de Fogo, há um caminho para um outro mundo de serenidade e mistério.

Muitas vezes sonhei em explorar a floresta e encontrar a passagem perdida. Imagino como seria atravessar a fronteira e descobrir o Mundo da Lua, sentir sua calma e experimentar suas belezas ocultas. Como contado nas histórias, o conflito entre essas duas dimensões rapidamente se transformou em uma guerra devido ao desrespeito de dois elementos fundamentais: água e fogo.

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No Mundo do Sol, as pessoas aproveitavam a luz e o calor constantes, enquanto no Mundo da Lua, a serenidade e o frescor das noites eram valorizados. Juntos, eles mantinham um equilíbrio perfeito, utilizando o fogo e a água para prosperar, além dos outros elementos também. O fogo era a nossa força criadora, enquanto a água trazia cura e vida. Mas então, um conflito irrompeu. Ninguém sabe exatamente como começou, mas o desrespeito pelos elementos que sustentavam nossas vidas foi o catalisador. O fogo, que nos dava calor e energia, tornou-se uma arma de destruição. As chamas devastaram aldeias e florestas, não apenas no Mundo do Sol, mas também no Mundo da Lua. Em resposta, a água, que deveria curar e sustentar, se transformou em uma força avassaladora, inundando tudo em seu caminho.

Esse desequilíbrio dos elementos rapidamente se transformou em uma guerra total. O fogo e a água, que antes simbolizavam força e cura, foram usados para causar dor e destruição, misturando ainda mais os outros elementos, criando o caos. Infelizmente, ainda não descobriram como tudo isso começou, como aconteceu esse desequilíbrio dos elementos que atingiu nossos mundos, que antes estavam unidos e agora se separaram completamente. A passagem principal foi perdida, e com ela, a esperança de reconciliação. Mas agora que sei dessa segunda passagem, então não perderei a esperança!

O meu Mundo se tornou um lugar de luz perpétua, onde a vida florescia sob os raios intensos do sol. O Mundo da Lua tornou-se um reino de mistério e silêncio, iluminado pela luz prateada da lua, o sol lá era mais longe e consequentemente iluminava de forma mais leve. Aqui a lua era mais distante, onde a noite não se completava totalmente...

As palavras "O Sol queima suas vidas e a Lua os engana para a escuridão" se tornaram uma advertência sagrada, repetida incansavelmente pelos anciãos de ambos os mundos. Essas palavras serviam como um lembrete constante dos perigos do outro mundo e da necessidade de manter distância. Com o tempo, essa lenda moldou nossas culturas, influenciando nossas leis, nossos comportamentos e até mesmo nossas crenças mais profundas. Essa crença nos impediu de explorar e entender verdadeiramente nossos vizinhos, mantendo-nos presos em uma bolha de ignorância e medo.

No entanto, apesar das advertências e do medo, sempre houve aqueles que questionavam a veracidade dessas histórias. Alguns sussurravam em segredo sobre a possibilidade de que a lenda fosse apenas uma maneira de controlar e dividir nossos povos. Alguns poucos, como eu, sentiam uma curiosidade insaciável sobre o Mundo da Lua, uma atração inexplicável que desafiava as normas estabelecidas. Crescer no Mundo do Sol significava viver com essa dualidade constante: por um lado, a segurança e a familiaridade da luz; por outro, a tentação do desconhecido, daquilo que estava além de nosso alcance.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.