Uma semana. Foi o tempo necessário para que tudo passasse de ruim para péssimo. James e Lilly estavam na estrada a dias. No caminho até a cidade vizinha, eles tiveram que enfrentar um ataque no primeiro dia, e mais dois isolados no segundo. O que os levou a crer que nenhum dos ataques era, de fato, isolado. A cada nova fronteira para mais uma cidade, James e Lilly trocavam de carro. Não que o dinheiro que eles tinham fosse o suficiente para isso, mas os dons de atuação de Lilly, somados ao desempenho “físico” de James davam a eles certas vantagens para deixar sua lista já nem tão pequena assim de crimes, um pouco maior.

– Tente não estragar tudo dessa vez. – James pediu assim que eles se direcionaram ao local onde seria provavelmente o estacionamento de uma boate.

– Tente roubar um carro que seja ao menos um tanto confortável, por favor. – Lilly resmungou enquanto tentava ao maximo se tornar “apresentável” para a próxima vitima deles.

– Tente se lembrar que é você quem escolhe a vitima, o que nos leva a conclusão de que você é quem escolhe o carro, não eu. – James disse e Lilly revirou os olhos. – E anda logo com isso, temos pouco tempo até que alguém perceba o que estamos fazendo.

– Já estamos a mais de três dias sem parar para dormir em algum lugar, estamos morando em carros roubados, Procuramos por uma família que a gente não sabe onde está e nem sabemos para onde estamos indo exatamente. Acredite James, péssima hora para mandar eu me apressar. – Lilly disse e puxou um pouco mais a blusa fazendo com que James lançasse a ela um olhar desaprovador.

– Não quer você mostrando os peitos por ai Lilly. Já estamos indo longe de mais assim... – Ele reclamou visivelmente irritado e ela deu a ele como resposta uma risada irônica.

– Nós estamos indo roubar um carro, e você acha que mostrar os peitos para conseguir a atenção de um babaca qualquer é ir longe de mais? – Ela disse com desgosto e ele a encarou, livre de emoções expressas.

–Tio Andrew me mataria se soubesse disso, com certeza. – Ele resmungou e ela riu, se aproximando um pouco para sussurrar para ele.

– Papai te mataria caso soubesse apenas que você ousou colocar essas suas mãos imundas sobre a filhinha dele James, só com isso essa coisa toda de roubar carros já ficaria esquecida facilmente. – Ela soprou no ouvido dele fazendo com que James usasse toda a sua força de vontade para não revidar a provocação.

– Preocupe-se com as mãos daquele imbecil que você vai enganar agora, e não comas minhas, por favor. – Ele disse abrindo a porta do carona e dando a Lilly passagem para fora do carro, em uma ordem clara de que ela devia ir cumprir sua parte no plano.

Assim que ela saiu, James observou como Lilly agia. Ela era graciosa. Cada movimento fazia com que ela chamasse a atenção de alguém. As roupas um tanto surradas pela correria dos primeiros dias, os cabelos presos de forma despreocupada, o andar firme. Ela fazia o tipo de garota “má” parecer uma bonequinha. E James percebeu o olhar interessado dos rapazes por ali. A grande maioria deles já estava bêbado, ou drogado. Já passava das altas horas da noite. E foi então, que um deles decidiu se aproximar. De frente para James estava as costas de Lilly, o que deu a ele uma boa visão do rosto do cara que tentava se aproximar dela. Com um aperto decidido no braço dela, ele a fez parar. Conseguiu a sua atenção. Bingo. James sorriu ao ver que logo ele colocaria as mãos no mais novo veiculo de fuga dos dois. Mesmo que isso custasse a ele ter que ver a “prima” e parceira, nos braços de um desconhecido por alguém minutos.

James saiu do carro em que estava decidido a se aproximar do casal. Dali em diante, ele os seguiria e logo traria consigo uma Lilly bastante irritada e um carro novo roubado. Porém, o olhar confiante no rosto de James foi substituído por um súbito de raiva no momento em que ele percebeu o olhar desdenhoso de Lilly ser trocado por um olhar de pânico expresso. A mão que antes tocava de leve no braço dela, agora segurava com força os fios de cabelo da moça. Com um ruído de dor abafado pela mão do rapaz, Lilly lançou a James um olhar de suplica. James já estava preparado para por as mãos em uma das suas armas, quando um “clik” foi ouvido vindo de trás dele.

– Já era campeão. Mão onde eu possa ver e passos rápidos. Meu colega ali não entendeu bem o sentido da palavra “descrição”, ao que me parece. Não vamos querer criar uma cena maior ainda não é? – A voz melodiosa veio de uma mulher, isso era obvio. James se virou para encarar a loira que apontava discretamente uma arma na sua direção. Ela lançou a ele um olhar furtivo enquanto indicava com a cabeça a direção que ele devia seguir. Sem outra opção eminente, ele seguiu andando. Assim que eles chegaram ao destino previsto James resolveu arriscar. Em um movimento rápido, ele tirou do esconderijo uma de suas armas. E o olhar de surpresa que ele esperava ver estampado no rosto da moça que o ameaçava simplesmente não estava lá. Ela sorriu, como quem não parece nada surpresa e só ai James percebeu o motivo disso. No canto mais afastado do beco onde eles estavam, Lilly estava no chão, enquanto o mesmo homem que a trouxe apontava uma arma na direção dela.

– Já chega herói. Você fez um bom trabalho, agora se entregue e facilite as coisas para nós. – Ela disse com uma combinação de sarcasmo e ironia que fez James querer vomitar. A arma em sua mão não vacilou sequer por um segundo.

– É o seguinte grandão. – James disse par ao rapaz que ameaçava Lilly ignorando completamente o olhar ameaçador que ele recebeu da moça à sua frente. – Você tem a minha garota na mira, e eu tenho a sua. Uma bala minha, uma bala sua, e uma bala dela. No final estamos todos mortos e o dinheiro é todo seu. Então eu te proponho uma coisa: Me deixa matar essa vadia na minha frente, e ai minha cabeça é sua. – James propôs apertando com força a arma que tinha em mãos. Sem nunca desviar os olhos da moça.

– Eu prefiro matar a sua garota, ver você morrer e depois eu mesmo cuido do que restar. – Ele disse e James pode apostar que ele estava sorrindo. Um brilho de fúria passou pelos olhos da loira que o mantinha refém e sem uma palavra sequer, ela atirou no próprio parceiro. Cm um baque surdo, um corpo sem vida e coberto de sangue foi ao chão. James pode ouvir ainda o grito que veio dos lábios de Lilly antes que ele desse o seu próximo passo. Sem tempo para calcular um tiro e evitando chamar a tenção dela para si outra vez, visto que a mira da moça era boa, fato comprovado segundos atrás, James, em um movimento rápido deu um chute certeiro nas mãos dela, a deixando desarmada em pouco segundos. Agora sim, estava ali o olhar de surpresa, subjugado em seguida por mais uma onda de fúria avassaladora. Ela se lançou contra James que não teve tempo de atirar. Ambos começaram um embatem violento onde sobreviver era o objetivo.

– Pare de tentar bancar o herói James. – Ela disse enquanto tentava manter as mãos dele impossibilitadas de puxar o gatilho da arma contra ela. – Você está correndo país carregando uma garota inútil atrás de pessoas mortas. – Ela disse e sorriu ao ver um brilho de dor tomar conta dos olhos de James. – Sua parceira vai morrer não importa o que você faça, por que ela fraca, e isso vai matar vocês dois. Afinal, você não estaria aqui agora lutando comigo se não tivesse tentado salvar a vida dela ao invés e só a sua. A fraqueza dela enfraquece você James. – A mulher sussurrou enquanto levou a mão de James a se direcionar ao lugar onde Lilly estava antes. E foi com surpresa que ambos notaram que agora lá estava vazio. E James não teve tempo ainda de ficar surpreso, já que no instante seguinte, a moça com quem ele lutava caiu inerte aos seus pés.