– Alô?

– Bom dia. Poderia me informar se estou falando com algum parente da senhora Patrícia Carter ou da senhora Laraine Madison? – A voz um tanto mecânica do outro lado a linha falou fazendo James respirar um pouco mais fundo. O que poderia ter acontecido a elas?Estariam em perigo?

– Sim senhora. O que deseja falar? – Ele respondeu com a voz mais seria que possuía no intuito talvez inconsciente de parecer mais responsável. Digno de receber a noticia.

– Senhor, aqui é hospital St. Julio e temos uma informação para lhe dar. – A voz falou ainda em seu tom robótico causado pela ligação e James hesitou antes de prosseguir com a conversa. Ele não sabia ainda se queria ouvir uma resposta para seus temores. Lilly ao seu lado parecia prestes a explodir em fagulhas. O medo palpável saltando das órbitas.

– Prossiga. – Ele disse simplesmente se esforçando ao maximo pra não perder a força na voz. Ele não podia fraquejar.

– Pois bem. – A mulher tornou a se pronunciar. – A policia local encontrou um carro em estado precária na auto estrada central. O veiculo tinha marcas de disparos e a estrada tinha marcas de freios bruscos. As duas senhoras estavam dentro do veiculo senhor. –A mulher terminou o discurso ensaiado, e James quase não segurou a lagrima que teimava em querer lhe saltar dos olhos. Ele tinha que ser forte.

– Qual o diagnóstico? – Ele falou surpreendendo a si mesmo com usa aparente frieza. Lilly apertou mais Alice contra si. Estava apavoradamente apreensiva.

– A senhora Carter teve traumatismo craniano e algumas fraturas simples. A senhora Madison sofreu uma pancada ainda mais forte na cabeça e os médicos precisaram induzir ao coma. Ademais, apenas escoriações leves. – Ela prosseguiu e James se sentiu no direito de respirar um pouco mais aliviado. Elas ainda tinham chances de sobrevivência. O tal acidente de fato não teria sido apenas coincidência com o ataque a sua casa. Quem quer que os estivesse atacando, queria toda a família morta. Mas se é assim, por que não ficaram na casa ou ao menos tentaram procurar por ele e Lilly? Sem esquecer de Alice é claro. E quer na possível compaixão de tal pessoa seria a mais clara demonstração de loucura explícita.

– Aguardamos autorização para uma possível transferência senhor. – A voz do telefone voltou a soar depois da aparente falta de reação de James. Ele sabia que com “autorização” a mulher queria dizer “dinheiro”.

– Eu chego ao hospital em no maximo trinta minutos. Preparem a documentação pra o melhor hospital para o qual elas possam ser transferidas. Não se preocupe com valores. – Ele disse desligando rapidamente o aparelho e se virando pra Lilly com um olhar pesaroso.

– O que houve James? – Ela pergunta voltando a chorar.

– Pare de chorar. Não posso acalentar as duas. – Ele disse se referindo a Alice que logo choraria também. – Fique atrás de mim. Precisamos ir ao hospital St. Julio.

– Pare de fazer isso agora. – Lilly ordenou quase gritando enquanto encarava os olhos profundamente azuis de Derek, que naquele momento mais pareciam o céu mais escuro e tempestuoso que ela já havia visto. Era como encarar de perto uma noite vazia e sem estrelas. Não havia brilho ali.

– Parar com o que? Não temos tempo para o seu drama criança. – Ele respondeu com a pouca paciência que lhe restava e viu a menina trincar os dentes em sinal de desgosto obvio.

– Devo lhe lembrar quem foi que nasceu primeiro? – Ela falou rispidamente e ele riu. A risada mais assustadoramente seca que Lilly já havia visto vindo dele.

– Devo lhe lembrar que estamos em casa, onde acabamos de sofrer um atentado assassino com uma criança nos braços e sem idéias do que virá a seguir? – Ele perguntou revirando os olhos e fazendo Lilly perceber de uma única vez talvez a gravidade real da situação. – Não temos tempo para discussões Lírio. – Ele falou se aproximando um pouco mais dela e usando do apelido que seus pais costumavam usar para se referir a garota desde a infância. O tom de voz agora era de longe mais brando. – Vovó e tia Patrícia estão no hospital. Precisamos ir até lá e cuidar pra que elas fiquem bem. Arrumar um lugar seguro para descobri o que é que vamos fazer e tudo isso sem tomar um tiro de alguém e antes de a policia chegar aqui. Entende agora por que é que não temos tempo? – Ele falou e ela o encarou séria.

– Você não é um herói James. – Ela falou na defensiva e ele sorriu triste.

– Não Lilly. Eu não sou. – Ele falou virando as costas e caminhando para a garagem. – Mas no momento, sou tudo o que você tem. – Ele falou e ela sorriu. Sabendo que ele não poderia ver. Sorriu nervosamente. Ela estava desesperada. Mas ficava feliz em saber que James estava ali. Mesmo que ela nunca fosse deixar o rapaz saber disso. Ao menos esse era o seu plano.

Ela segurou Alice e a bolsa onde levava as coisas que havia pegado antes e segui James de perto. Ele parecia com um daqueles caras dos filmes de ação que eles costumavam assistir em casa. Alerta a qualquer suposto perigo e armado até os dentes. Quem visse James Madison agora não diria que ele era o mesmo nerd que ficava horas de frente a um jogo de computador ou que tirava notas altas na escola. Por um momento ela pensou em como seria o time de futebol da sua atual escola se tivesse um atleta como ele. Provavelmente os outros rapazes deixariam o queixo cair se visse a capacidade do nerd de derrubar brutamontes no braço e segurar uma arma. As aparências realmente enganam.

– Entre no carro. – A voz autoritária dele soou a tirando de seus devaneios. A menina corou na simples menção de o ouvir. A vergonha de seus últimos pensamentos sobre ele estampada em sua testa. Por sorte, James pareceu não notar. – Entre atrás e deite-se escondendo Alice em você. Eu não sei o que pode estar nos esperando do outro lado da porta no quintal. – Ele falou e ela obedeceu admirando mais uma vez a capacidade estranhamente nova de raciocino de seu primo mais novo.

O rapaz deu partida no Audi de seu pai, tendo a certeza de que morreria se o mesmo o visse fazendo isso. Não importava agora. Ele escolheu uma chave aleatória e foi o alarme dele que acionou. Poderia ter sido o de uma das BMW’s, mas já que não foi, ele usaria o Audi, mesmo que preferisse o Porshe prata que estava um pouco mais a esquerda. O carro preferido de seu tio Andrew.

Ele observou atentamente o quintal. Os vidros fechados impossibilitavam a visão de um possível observador externo. Ele estava em plena pane interno. A adrenalina se subido com a sensação de perigo o fazendo sentir prestes a explodir. Olhou em todas as direções possíveis arrancado devagar com o veiculo caro. Sentiu uma pequena dificuldade inicial. Ele nunca havia pilotado aquele carro. Usar o seu próprio carro, uma Ferrari prata, seria de fato mais fácil, se esse não estivesse estacionado fora da garagem, no canto da rua. O barulho das sirenes poderia ser ouvido de longe. Era questão de minutos para que a cavalaria chegasse. Ele não sabia por que, mas tinha impressão de que não devia ficar ali e esperar pela possível ajuda. Algo dentro de si, como um alarme gritava para que ele fosse para longe.

– James... – A voz baixa de Lilly soou sem sucesso na tentativa de chamar a atenção do rapaz. Ela podia ver de onde estava, por um ângulo diferente do que o rapaz tinha visão. Ângulo esse que a permitia ver no telhado da casa vizinha, um atirador a postos. JAMES! – Ela gritou assim que viu o homem mirar o rifle na direção certeira do primo. Ele se virou para Lilly apenas a tempo de sentir o impacto da bala contra o vidro da frente do carro. Bem a frente do seu nariz. E foi naquele momento que ele deu graças a Deus por o carro ser blindado. No entanto, ele sabia que outro tiro daquela mesma arma no mesmo lugar e o vidro se partiria em mil e um pedacinhos a sua frente. Assim como a sua cabeça. E isso não era algo agradável a se imaginar. Os gritos de Lilly se tornaram borrões apenas, no momento quem que uma chuva de balas foi disparada contra o carro. Por sorte, eram de armas menos potentes vindas de atiradores de todos os cantos.

– ABAIXE A CABEÇA E CUBRA ALICE COM SEU CORPO. DEITE NO FUNDO DO CARRO E PUXE ELA COM VOCÊ. – Ele fritou a ordem acelerando veiculo o maximo que podia. Abrir o vidro e revidar seria suicídio na certa. Correr, mesmo que sendo um ato covarde, era tudo o que ele poderia fazer, Naquele momento, covardia era sinônimo de inteligência.