E mais uma vez o sol se punha no horizonte. A enorme bola de calor se direcionava para outra parte do mundo e levava consigo seu brilho, dádiva para muitos, tormento para outros. E acima da linha do horizonte a lua, preguiçosa, se fazia aos poucos o mais notável astro ocupando o céu azul naquele inicio de noite. A mesma cena se repetia dia após dia. Primeiro se vai o sol, o calor, a luz e por fim, tudo o que fica para traz é o brilho cinzento da lua que em tantas vezes nem se dá ao trabalho de aparecer e cumprir com o seu trabalho de dissipar ao menos um pouco da escuridão clamada pela noite.

Há exatos 37 dias Lilly e James viam esta mesma cena. Há 37 dias eles não haviam perdido tudo. Há 37 dias os dois jovens para quem nada nunca antes havia faltado passaram a ser condenados por um crime que eles não sabem qual foi ou por quem foi cometido e tudo o que eles mais prezavam lhes foi tirado. Há 37 dias seus pais se foram, a pouco menos de 37 dias Alice lhes foi tirada dos braços, e há exatos 37 dias eles não sabiam mais quem eram. A única certeza que tinham era de que a estúpida pista que os guiava os caminhos estava levando-os para oeste.

Para achar a resposta, mal vão precisar procurar.

O caminho será mostrado, se as trilhas de sangue souberem seguir.

O sol nasce assim como se põe. A escuridão é inevitável.

O que importa não é o começo, mas, o fim.

As malditas quatro linhas faladas por um maníaco ainda sem rosto assombravam os pensamentos de James e Lilly. 37 dias atrás Lilly não sabia que seu primo tinha tamanho domínio de armas de fogo. 37 dias atrás ela também não pensaria em si mesma como alguém capaz de tirar uma vida. 37 dias atrás James não sabia que as lições de luta e tiro a alvo que seu pai o havia ensinado seriam de tamanha valia. 37 dias atrás ele não pensaria que seria capaz de realmente puxar o gatilho. Ele nunca pensou que Lilly o faria também.

E quem diria a eles que aquelas malditas palavras fariam algum sentido no final. Quem os contaria que as “trilhas de sangue” seriam feitas com o liquido vermelho que saia de dentro deles a cada vez que se cruzavam com um dos cruéis assassinos que os encontravam a cada esquina pelo caminho. Era uma trilha feita com o sangue de James e Lilly. Sangue esse que eles não sabiam, mas era manchado pelos pecados cometidos pelos seus pais.

– James, veja! – Lilly disse em uma espécie de sussurro esganiçado que chamou James de volta à Terra. Até aquele momento o rapaz que mal conseguia manter os olhos abertos estava com o pensamento vagando em qualquer outro lugar. Nem ele mesmo saberia dizer onde sua mente havia se atrevido a tentar leva-lo dessa vez. – Acho que finalmente chegamos aonde deveríamos ter chegado.

A frase dita por Lilly trazia o fim para o tormento dos últimos 37 dias. A garota de cabelos vermelhos e olhos que não expressavam calor algum. Não havia mais fogo naquela alma. Seus lábios estavam marcados pelo corte recebido em um dos confrontos pelos quais passaram. Sangue manchava-lhe os nós dos dedos das mãos. Sangue seco. Tão seco quanto as esperanças destruídas da jovem.

James encarou o enorme galpão à sua frente. Nada fazia dele especial. A porta era pintada de vermelho vivo, vermelho sangue. Aquela era a pista que restava para encerrar o quebra cabeça.

O que importa não é o começo, mas, o fim.

A maldita frase se repetia na mente do rapaz de olhos antes tão expressivos. Os cabelos agora negros grudavam à testa marcada pelo suor dos últimos dias. Uma mancha roxa já quase azulada era visível do lado esquerdo de sua mandíbula. Sangue marcava a manga da camisa que tentava em vão esconder o horrendo ferimento em seu ombro. E a porta vermelha á sua frente era tudo o que ele conseguir encarar. O fim, finalmente parecia próximo. E não importava mais para ele o que seria este fim. Ele só queria que o maldito pesadelo que o assombrava a 37 sombrios dias finamente acabasse. Ele queria que a dor fosse embora, queria paz. E se a morte o esperasse do outro lado da porta ele a abraçaria sem receios, mas não sem antes ter suas repostas. Tudo o que James queria saber era o motivo que o havia levado a ter que passar pelo inferno por 37 dias.

Nenhum dos dois jovens ali sabia o que aquela porta guardava atrás de sua tranca tão simples de abrir, mas ambos sabiam que ao passar por aquela porta o pesadelo teria fim. Se ela levava ao inferno ou a paraíso eles não sabiam, mas o que os dava força para sair do carro em caminhar em direção a ela era a certeza que eles tinham de que os 37 dias finalmente haviam chegado ao fim. Não havia mais nada a perder.

Por que nesses últimos 37 dias James e Lilly já haviam perdido a vida.

– Você está certa. - Foi a vaga resposta vinda dos lábios de James. - Chegamos.

E então, sem dificuldade alguma, ele girou a maçaneta. A enorme porta vermelha se abriu.