Thomas já tinha perdido a noção de tempo dentro daquele ônibus. Ele podia escutar os pingos de chuva que caiam sobre a vidraça da janela, lhe transmitindo um pouco de tranquilidade pela primeira vez desde que fora colocado dentro da clareira. Mas ainda escutava uns barulhos estranhos vindo das estradas, estavam sendo emitidos pelas pessoas que tentavam alcançar o ônibus, elas pareciam esquisitas como aquela que o interceptara antes de entrar na grande máquina velha. Corriam como loucas em sua direção.

O céu cinzento dificultava a visão do garoto para o lado de fora da janela, mas pôde avistar algumas cidades e vilas ao caminho das estradas, ou pelo menos o que avia sobrado delas.

Thomas tirou os olhos da janela e olhou em sua volta. Todos os clareanos pareciam estar dormindo e inclusive Teresa que acabou adormecendo em seu ombro a uns dez minutos. A mulher que havia falado com eles a algumas horas, agora, estava sentada no assento da frente ao lado do homem que dirigia o ônibus, eles pareciam estar conversando e bebendo algo de algumas garrafas em suas mãos.

Thomas agora se pegou olhando para o teto do ônibus. Estava enferrujado, assim como o chão e a maioria dos assentos.

O garoto não percebeu, mas seu corpo pedia urgentemente por descanso, ele estava cansado, muito esgotado, mas não conseguia dormir. Havia coisas que martelavam sua cabeça. Quem eram aquelas pessoas? Como os encontraram? Para onde estão os levando?

Mesmo que tenham os salvados daquela mulher, na instalação do CRUEL, Thomas teria que se manter em alerta. Mais ninguém devia se machucar. Depois de muitas perdas ele não queria que ninguém mais morresse. Assim como...

Chuck.

O pobre Chuck.

Foi terrível. Ele nem tivera tempo para sofrer a morte do amigo desde que fora resgatado por essas pessoas, foi tudo muito rápido. E agora a culpa tomara conta de seu corpo. Thomas se sentia um estúpido. Ele podia ter feito algo e não simplesmente ficar parado no mesmo lugar, ele podia ter se desviado, mas não, ele não fez e era um estúpido por isso.

Ele viu o pequeno garoto se jogar à sua direção, para lhe proteger, sendo atingido pela faca no seu lugar, a faca que Gally havia jogado. O pequeno se sacrificou por Thomas. Droga Chuck, não deveria ter feito isso. Ele foi o único amigo de Thomas quando ninguém naquela maldita clareira quisera.

Parecia que a culpa se concentrou apenas em um lugar, em seu peito. A dor estava absurdamente grande.

Os olhos de Thomas começaram a arder, ele estava ao máximo se segurando para não chorar e acordar todos os clareanos. Ele não queria que os outros o vissem chorando como um bebê chorão e era isso o que ele mais queria, poder chorar, descarregar a dor que sentia em seu peito por perder um amigo, um irmão.

Thomas sabia que não ia segurar por muito tempo, seu estômago agora estava se revirando, a sensação matinal de borboletas em seu estômago havia voltado. Ele não quer aceitar isso.

Droga Chuck, porque fez isso? Falou pra se mesmo.

Thomas olhou para a garota em seu ombro, fez o mínimo que podia para se livrar dela e não acorda-la. Numa onda de raiva se levantou do assento e em pé observou novamente em sua volta. Queria se certificar que ninguém estava lhe olhando.

Devagar caminhou em direção ao fundo do ônibus, deu mais uma olhada para frente. Ele não queria que alguém lhe atrapalhasse, ele queria estar sozinho, e poder sofrer a perda do amigo, o único amigo que teve desde que a sua vida infernal começara.

Ele se sentou no assento ao lado da janela. Baixou a cabeça e começou a observar o chão enferrujado. Não soube quando, mas as lágrimas já caiam de seus olhos, que ardiam como nunca.

As poucas lembranças que tinha do garoto se formavam em sua mente. Era desesperador. Foi quando se lembrou da promessa.

Aquela maldita promessa.

Thomas não tinha como parar agora que começou. Soluços saiam de sua boca, sua respiração estava irregular, ele não conseguia se controlar. A dor no seu peito piorou, era como agulhas penetrando sua pele. Ele podia cair ali mesmo.

Realmente lembrar-se daquela maldita promessa foi de mais para Thomas. Ele ainda se lembra do rosto inocente do garoto em expectativa para sair daquele lugar de mértila. Ele prometeu que ia fazer de tudo para tira-lo daquele lugar com vida e encontrar seus pais. Thomas falhou e o perdera para sempre.

Ele cruzou os braços e os apoiou no assento a sua frente e encostando sua testa cobrindo os olhos.

Mesmo com as memórias de antes da clareira apagadas, ele sabe que nunca sentiu algo semelhante. Uma parte dele foi junto com Chuck e talvez ele nunca mais a recuperaria de volta.

Thomas perdeu os sentidos quando sentiu uma pequena movimentação, passos leves a sua direção. Alguém se sentou no assento ao lado do seu.

A primeira coisa que pensou foi em olhar para a pessoa, mas não queria que o olhassem desse jeito, como um bebê chorão. Ele respirou fundo, sentido o ar lhe causar desconforto por dentro, tentou controlar a respiração e mantê-la normal, mas era algo difícil no momento.

Disfarçando, enxugou os olhos com as palmas das mãos e se preparou para olhar a pessoa que estava em seu lado.

—Você está bem trolho? –Antes que Thomas pudesse se virar para a pessoa, ela falou, e no mesmo minuto reconheceu a quem pertencia à voz.

Era Minho.

—Você faz muito barulho e não está me deixando dormir. –Antes podia se ver preocupação na voz, agora só restara o sarcasmo de sempre.

Thomas não podia culpar o amigo. Minho só estava sendo o Minho.

Thomas ergueu a cabeça e agradeceu por estar escuro, assim Minho não poderia ver como o rosto de Thomas estava horrível. Ele olhou em direção ao asiático, ainda conseguia ver sinais de sono no rosto alheio.

—Sinto muito. –Foi a única coisa que Thomas conseguiu dizer. Ainda estava tentando manter sua respiração normal. –Eu não queria...

Thomas não terminou, foi interrompido por algo pressionado contra seus lábios.O garoto abriu os olhos se certificando da realidade. Por um momento a dor foi embora, as preocupações se foram, era como um refúgio para o medo e desespero.

Foi apenas um beijo inocente.

Aquilo era bom. Trouxe a Thomas uma sensação familiar na boca, algo que a muito tempo não sentia e definitivamente estava precisando daquilo.

Minho se afastou e Thomas gemeu em negação.

—Eu precisava fazer isso. –O asiático sussurrou, ele parecia envergonhado. –Ou não conseguiria dormir. –Minho tentou olhar qualquer coisa que não fosse Thomas. –Senti falta disso.

Desde quando o menor entrou no labirinto para salvar a vida do asiático, algo se formou em ambos os corações. Foi também a mesma noite em que compartilharam um beijo, as imagens ainda eram bem frescas na cabeça de Thomas. Então se tornou rotineiro entre os dois na clareira, sempre dormiam um ao lado do outro e antes que possam fechar os olhos trocavam beijos e abraços. Pena que nas últimas horas eles não tiveram tempo para tal ato.

—Eu também senti falta. –Falou Thomas, quase como um sussurro, ainda estava limpando o rosto. Ele não queria parecer fraco perto de Minho, o asiático era o mais forte entre eles e não queria parecer um patético.

Thomas se ajeitou no assento, relaxando as costas para trás e deixando a cabeça encostada no metal atrás de se. O asiático copiou o ato.

—Sinto muito por Chuck. –O asiático foi direto com as palavras. Mesmo sendo um assunto muito delicado, ele só era um garotinho.

—Não sinta. –Thomas apertou os olhos se esforçando para não voltar a chorar. –A culpa foi toda minha, eu os convenci a sair daquela maldita clareira. Se não fosse eu, ele e outros ainda estariam vivos. –Ele olhou para o asiático, que lhe retribuía o olhar. O menor não aguentou. Deixou que as lágrimas caíssem.

—Thomas, você não teve culpa. -Minho tentou conforta-lo, mas nada parecia ajudar.

—Foi sim. -Thomas já soluçava, tentava se segurar e não conseguia. Só se sentia mais estúpido ainda.

Minho chegou mais perto e abraçou o garoto em crise. Ele podia sentir o quanto Thomas estava destruído.

—Por favor, Thomas. -Minho falava com o queixo sobre o ombro de Thomas. -Pare de se culpar. -Sua voz saíra triste e ao mesmo tempo suplicante. -Vai ficar tudo bem, ok.

Thomas não sabia, mas Minho estava tentando ser forte, ele também estava sofrendo. Mas ele precisa ser forte pelo amigo, ele precisava ser forte por Thomas.

—Por favor. -Thomas suspirou. -M-ee, me promee-ta. -O garoto sussurrou entre lágrimas e soluços. -Me prometa que nunca vai me deixar.

—Sim. -Minho não pensou duas vezes.

—Não aguento mais perder ninguém, principalmente você.

Thomas parecia mais passivo, estar com Minho era bom. Ele se sentia seguro com ele e certamente, perde-lo seria um grande inferno.

Passou uns dez minutos assim, os dois abraçados. Thomas acariciava uma vez ou outra os cabelos do asiático. Sentir o calor do outro sobre seu corpo era muito tranquilizante, Thomas queria que aquele momento durasse pra sempre.

O garoto estava bem melhor. Thomas coloca a mão no peito de Minho, e o afasta suavemente.

—O que foi? -Minho perguntou confuso.

—Estou com sono. -Thomas esfregou os olhos que pediam urgentemente a serem fechados. -Dorme comigo. Por favor.

Sentiu vergonha como saiu a última palavra. Foi necessitado, suplicante e como uma criança pedindo aos pais para ficarem com ela e lhe protegerem do bicho papão.

—Claro. -Minho respondeu sem hesitar.

Minho se levantou e foi onde estava sentado antes de ir até Thomas, pegou umas almofadas e cobertores. Voltou até Thomas e se posicionaram para dormir.

Aos poucos, os olhos de Thomas foram ficando mais pesados até finalmente se fecharem.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.