Abri meus olhos lentamente, sem ouvir nenhum barulho. Sentei-me lentamente na cama, com muita preguiça. Fiquei alguns minutos sentada na cama apenas ouvindo o som dos pássaros. Hoje era apenas mais um dia comum de aula e eu, como sempre, acordei sozinha. Eu sempre fui acostumada a acordar cedo, então nunca precisei de um despertador, e eles também são muito barulhentos e é desconfortável acordar com um. Suspirei fundo e me levantei começando a me trocar e me arrumar rapidamente, antes que eu fique com mais preguiça e me atraso novamente. Peguei minha bolsa e corri para a sala, meus pais já tinham saído para trabalhar, às vezes eles não vão tão cedo e eu tomo café da manhã e falo bom dia para alguém, mas... Tanto faz.

Comecei a caminhar, acelerando meus passos cada vez mais. Minha casa era bem longe da escola e eu sempre tenho que ir a pé. Meus pais até falaram para eu ir de ônibus por ser muito longe, mas eu já fui uma vez e é horrível, muito barulho e muitas pessoas a minha volta gritando e falando alto, às vezes eu até sentava com alguém desconhecido por falta de lugar. Eles até tentavam conversar comigo, mas até seus cumprimentos eram falsos, aqueles sorrisos e aquelas risadas... Eu percebo essa falsidade de longe.

Depois de alguns minutos eu finalmente avistei a escola e comecei a diminuir meus passos assim que vi alguns alunos passando correndo ao meu lado em direção da escola. Eles corriam diretos para os seus diferentes grupos ou seus amigos que os recebiam de braços abertos. Até quando eles estariam lá para te receber? Acho que ninguém nunca pensou nisso. Claro, meus pensamentos são tão idiotas.

Quando entrei na escola ouvi o sinal bater, dessa vez eu iria chegar um pouco atrasada na sala de aula. Isso é um pouco ruim, todos olhando para mim por ser a única em pé lá no meio deles. Caminhei até minha sala de aula que ficava no terceiro andar, parando em frente da porta. Não sei por que eu estava com tanto medo, pensei que já estava acostumada, eu sempre chego atrasada por morar longe. Suspirei e abri a porta dando um passo pra dentro da sala, todos olhavam para mim, como esperado. Surpreendi-me com uma garota ao lado da professora e de frente para sala, ela tinha cabelos lisos e longos, um marrom escuro. Ela olhou para mim e sorriu. Eu apenas estranhei, como alguém podia sorrir para mim?

– Verloren, vá já para o seu lugar, tenho que apresentar uma nova aluna pra classe. –a professora ordenou ao lado da garota.

Afirmei com a cabeça e caminhei rapidamente para o meu lugar que ficava no final da sala. Uma nova aluna? Era raro ter uma nova aluna na nossa classe.

– Bem classe, essa é a nova colega de vocês, ela foi transferida. Por favor, pode se apresentar. –a professora sorriu.

– E-Er... E-Eu me chamo Lieve, m-muito prazer em conhecer vocês! –ela disse com um ar de confiança nas ultimas palavras, mas mesmo assim parecia nervosa.

– Recebam muito bem Lieve e não a façam ficar muito nervosa! Tudo bem querida, logo você vai se instalar perfeitamente aqui. Acho que tem uma carteira vazia ao lado de Verloren, pode se sentar lá. –ela apontou para a carteira vazia ao meu lado. – Ok! Vamos começar a aula! Não quero ouvir nenhuma conversa!

A garota foi até o lugar ordenado pela professora. Ela se sentou e suspirou aliviada, antes ela realmente parecia muito nervosa. Olhei para frente e tentei evitar olhar para ela a todo o momento.

Uma garota nova, ou melhor, transferida, logo ia se instalar muito bem aos idiotas daqui, todos iam querer ficar com ela por ser nova e logo ia se tornar um deles, sempre é assim, não vou nem me preocupar ou tentar ver se ela é diferente, eu já cansei de fazer isso e sempre fracassar no final e ser tratada da mesma maneira.

Passaram-se algumas aulas, a maior parte do tempo eu estava quase dormindo, não tinha dormido bem noite passada. Distrai-me e olhei para o lado e, para a minha surpresa, a garota estava olhando para mim. Ela sorriu gentilmente ao ver que eu olhei para ela. Virei à cabeça rapidamente para ela sem corresponder ao sorriso. Como essa garota podia estar olhando para mim? Ok, é só uma pessoa nova tentando conhecer melhor a sua nova classe, mas, eu? Não quero mais olhares e nem sorrisos falsos vindo para mim, são ridículos. Antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa o sinal que dava inicio ao intervalo tocou.

– Podem sair e não corram e nem se empurrem! –ordenou a professora com um ar sério.

Todo mundo saiu da sala com cuidado e quando chegaram ao corredor começaram a correr em direção do pátio. Como sempre, fui a ultima a sobrar na classe e a ultima a sair, nem a garota nova estava lá, aposto que o povo já tinha puxado ela para algum grupinho.

Desci lentamente até o pátio e tomei rumo ao meu lugar de sempre, uma grande árvore. Sentei na grama ficando em baixo de sua sombra, era muito agradável lá. Mas, a única coisa ruim é que sempre algumas pessoas passavam ao meu lado e falavam alto, isso me irritava. Abri minha bolsa e tirei um sanduíche e um suco de laranja de dentro, abrindo o suco e dando um gole, colocando-o ao meu lado. Eu sempre fazia meu lanche antes de vir para a escola ou deixava já pronto.

Olhei para um grupo de garotas passando ao meu lado e a garota nova estava com elas. Eram garotas da minha classe e como esperado já tinham conseguido puxá-la para perto delas. Logo ela também vai ir a festas e beber como todos. Uma das garotas que foi a que passou mais perto de mim derrubou a minha garrafa de suco.

– Ah! Que droga! Meu sapato! Por que você foi deixar essa coisa ai? –ela olhou rapidamente para mim.

A outra garota começou a rir. A aluna nova que estava com elas apenas olhou para mim e depois voltou a andar cabisbaixa com elas, parecia pensativa.

Suspirei, não sei se isso foi azar ou foi de propósito, mas nem quero saber, contando que elas não fiquem perto de mim. Olhei para o céu e senti o vento bater em meus cabelos e no meu pescoço, era mais um dia comum da minha rotina tediosa. Sempre os mesmos pensamentos e não vou mudá-los até que as pessoas mudem seus comportamentos ou abram os olhos para enxergar seus passos e ver qual caminho elas estão construindo para si mesmas.

De repente senti uma mão tocar no meu ombro, que me fez rapidamente olhar para o lado. Era a garota nova.

– Ah, e-eu... Olá! –ela tirou a mão do meu ombro e acenou, sorrindo.

– Hm. –olhei com desanimo para ela. Por que ela veio até mim? Uma das garotas a mandaram vir me zoar?

– S-Sabe, eu... –ela olhou para os lados sem saber como agir. – Eu fiquei meio decepcionada com o que elas fizeram com você! Desculpe-me!

– Hm, e daí? Isso não vai mudar nada. Além do mais, não é você que precisa se desculpar, são elas. Então nem precisava ter vindo aqui. –falei, como sempre fria.

Ela arregalou os olhos e pareceu meio surpresa e chocada com a minha reação, tinha certeza que ela nunca mais iria vir falar comigo.

– A-ah... Desculpe te incomodar... –ela desviou o olhar.

– Se você sair não irá mais incomodar.

– C-certo...

Ela se agachou e colocou uma caixinha de suco do meu lado, sorrindo.

– Agora seu lanche está completo. –ela riu. – Até mais, Verloren!

Ela saiu de lá e voltou para as outras garotas de antes, que agora me encaravam com um olhar sério. Ignorei-as e olhei para a caixinha de suco ao me lado. O que foi isso? Por que ela fez isso? Eu não fui muito fria e rude com ela? Mas mesmo assim... Ela sorriu. Que garota estranha...

Dei mais mordidas no meu sanduíche e tomei um pouco daquele suco. Era de uva, estava muito bom. Olhei novamente para o céu e continuei comendo, logo já tinha acabado com o sanduíche e o suco. Olhei rapidamente para trás e a avistei sentada em um banco com as outras duas garotas levantadas na sua frente, ela não estava lanchando. Será que ela havia dado seu lanche pra mim, um suco? Que estanha... Não entendi nada.

O sinal para voltar às aulas tocou, todos correram para dentro da escola em direção a suas salas. Levantei-me e caminhei lentamente para a minha sala, eu odiava sair daquele belo lugar para voltar a aquela sala cheia de gente e muito barulho. Quando eu entrei na sala a professora entrou logo em seguida, essa foi por pouco. Fui para o meu lugar e sentei.

– Ok alunos, eu me lembrei de um texto que tinha feito para vocês copiarem e acabei esquecendo de passar. Esse texto vai ajudar nos estudos, vai servir como um resumo. Então prestem atenção e copiem, não quero ninguém perdido. –ela tirou o caderno da sua bolsa e colocou os óculos, começando a folhear o caderno e se preparando com o giz para começar a escrever.

Peguei o meu caderno e fiquei copiando para não me atrasar, já que eu me distraia muito. Olhei de novo para a aluna nova ao meu lado, ela parecia desesperada procurando alguma coisa, ela abria o estojo e a bolsa toda hora, revirando tudo.

– Meu lápis... –ela falou baixo, mas o suficiente para eu conseguir ouvir. Sabia que ela não estava falando para mim porque ela nem olhou para mim, continuava olhando para o chão e para o estojo, procurando-o.

Peguei um lápis reserva no meu estojo e coloquei em cima de sua carteira.

– Obrigada... Pelo o que você fez no intervalo... –falei um pouco baixo, mas tinha certeza que ela ouviu.

– Não foi nada, fico feliz em ter te ajudado. E muito obrigada! –ela pegou o lapís e sorriu para mim.

Ela começou a escrever rapidamente para acompanhar a professora. Fiz o mesmo, mas aos poucos eu começava a escrever mais e mais devagar. Não acredito que eu tinha agradecido uma pessoa... Eu estava sendo falsa? Se eu não quero ninguém perto de mim, eu não deveria ter feito nada! É assim que eu afasto as pessoas e todos os sorrisos falsos. Mas... Aquele sorriso... Era realmente igual a dos outros? Não! Agora não é hora de pensar nisso! Não é para pensar nisso!

Quando percebi já era tarde demais, a professora já tinha escrito muito e eu estava bem atrasada. Ela pegou o apagador para apagar bem na parte onde eu tinha parado que era logo no começo. Comecei a escrever rapidamente, mesmo sabendo que não ia dar tempo.

– Professora! –a aluna nova levantou a mão. – Você pode esperar um pouco? Estou um pouco atrasada.

– Ah... Tudo bem Lieve, mas só dessa vez. –a professora soltou o apagador e se sentou em sua mesa, esperando.

– Obrigada! –Lieve abaixou a cabeça e fingiu que estava escrevendo. Ela olhou para mim e sorriu novamente.

Apenas a olhei um pouco e virei minha cabeça para frente, tentando me concentrar para acabar antes que a professora apague. Ela já tinha terminado de escrever, eu tinha certeza disso. Então, ela fez isso para me ajudar? Por quê? Essa garota... É realmente estranha...

Passaram algumas horas e já havia passado as aulas e o sinal para o encerramento das aulas acabava de tocar. Todos comemoraram e alongavam os braços, aquele texto foi realmente gigante. Todos saíram depressa e eu desci as escadas lentamente até sair da escola, caminhando direto em direção a minha casa. Enquanto andava pela calçada Lieve passou bem ao meu lado de bicicleta e, quando percebeu que era eu, olhou para mim e acenou.

– Até amanhã, Verloren! –ela sorriu e voltou a pedalar.

Dei uma acenada rapidamente, mas como sempre não correspondia seu sorriso. Ela está sendo gentil comigo... Ela quer se aproximar de mim? Por quê? Pensei que ela havia me achado rude e ignorante como todos os outros. Eu nunca fiz uma amizade, não sei como começa, mas sei que sempre termina. Eu não queria começar uma amizade para no fim terminar, eu estaria vivendo uma coisa falsa... Mas... Por que eu me sinto feliz?