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Capítulo Único – O Caminho Certo


Um mundo idílico.

Wanda Maximoff estava a um passo de conseguir tudo o que sempre quis...

... Não fosse o fato de seus filhos se encontrarem imensamente assustados em sua presença, jogando qualquer coisa alcançável por seus bracinhos curtos para afugentá-la.

Ela lutara tanto. Buscara tanto. Por que tudo se desfazia diante de seus olhos?

Atrás de Wanda, America Chavez tinha um portal em formato de estrela aberto, conectando o mundo em que nascera – em que amara, em que perdera tudo – com o lugar onde seus desejos se tornavam realidade; alguns passos à frente, era difícil para a feiticeira observar a expressão nos olhos da garota, o desespero de estar à beira da morte segundos antes cedendo lugar à piedade enquanto pacientemente esperava a decisão de Wanda.

— Bruxa! – As crianças gritavam, quase em coro. – Saia de perto da nossa mãe!

— Billy, Tommy, parem...

O choro se acumulava nas pálpebras inferiores dos olhos de Wanda a cada tentativa frustrada de falar; sua mente embaralhava entre quem verdadeiramente era e quem gostaria de esconder diante deles a todo custo.

— Parem, por favor...

Como explicaria tudo o que aconteceu para as crianças? Que ela não era um monstro, apenas sentia muita falta deles?

— Por favor!

Esse debate interno continuou até uma voz surgir como a salvação:

— Não se preocupem, meninos. Ela não vai machucá-los.

Billy e Tommy cessaram o ataque e abaixaram a cabeça, rapidamente saindo de perto para acudir sua mãe naquele universo, enquanto a Feiticeira Escarlate observava as próprias mãos trêmulas, incapaz de olhar para cima por imediatamente ter reconhecido a origem do comando. Demorou alguns segundos para ela sussurrar uma pergunta retórica:

— Vis?

O homem nada disse, permanecendo em pé e meramente estendendo a mão para ela se levantar da escada, gentil oferta a qual timidamente aceitou. Pondo-se novamente sobre os dois pés, tomou coragem para levantar o queixo e encontrar um rosto familiar a poucos palmos de distância do seu.

— Ela não faria mal para vocês em nenhum universo.

Um som gutural emergiu de Wanda quando esta enlaçou o pescoço de Visão, o rosto afundando instantaneamente em seu suéter macio. Soluços cada vez mais altos e desesperados deixavam sua garganta enquanto as pontas dos dedos se prendiam na pele sintética por baixo da roupa.

— Como você sabia? – Sussurrou ela pouco depois.

— Real e perigoso, lembra?

Subitamente, era como se Wanda fosse novamente a jovem adulta que se juntara aos Vingadores tempo antes, toda a experiência dos anos no campo de batalha se esvaindo de sua essência à medida que fechava os olhos e apenas sentia o abraço apertado daquele que fora seu amigo, confidente, amante e marido. A culpa, que antes pesava uma tonelada, se tornava um grão de areia quando dividida com ele, ainda que sem palavras.

Lembrava-se das inúmeras noites deitada naquele mesmo abraço, escutando as teorias multiversais pesquisadas por ele até cair em um sono tranquilo e profundo, gesto que se repetia na antiga Base dos Vingadores, em Edimburgo, e até mesmo em Westview. Cada respiração era um suspiro; cada suspiro, uma memória; cada memória, uma lágrima molhando o tecido de sua vestimenta. Wanda agarrava-se a Visão da mesma maneira que alguém segura a própria vida, até ele lentamente se afastar e mover as mãos para segurar seus ombros esguios.

— Wanda.

Era a primeira vez que ele a chamava pelo nome. Mesmo por cima do tecido do uniforme, sentia o calor de seu toque, calor, este, que percorria seu pescoço chegando ao rosto na forma de maçãs do rosto brilhantes e quentes.

— Isso não é você.

O tom de voz de Visão não indicava raiva, tampouco a culpava. Quando Wanda tomou coragem e olhou seu rosto, notou apenas a expressão gentil e sem julgamentos que estava acostumada. Ele a encarava como uma pessoa inocente, deixando-a no limiar da vergonha e do conforto.

— Não queria ter feito isso, Vis. Eu juro. – Wanda engoliu um punhado de saliva enquanto secava os olhos com os punhos. – Eu só queria os nossos filhos de volta, no nosso universo...

A voz de Wanda falhou antes dela terminar a frase. Virando o pescoço em sua diagonal, conseguiu ver de relance os gêmeos segurando firmemente a barra da blusa de sua mãe, a outra versão dela com quem vinha praticando dominação onírica nos últimos tempos.

— ... Eu sinto muito – completou.

As palavras não eram dirigidas a ele, e sim a ela mesma; para ambas as versões presentes naquele cômodo. Visão lentamente balançou a cabeça, tocando o rosto de sua amada em todos os universos – algumas diferenças eram perceptíveis para Wanda, como uma joia diferente em sua testa, porém a pele vermelha, olhos azuis e sorriso de canto de boca permaneciam os mesmos. Não parecia ser um super-herói, mesmo que fazer o bem fosse algo presente em sua natureza desde sempre.

Wanda repetiu aquelas palavras enquanto novamente abraçava Visão, sentindo mais lágrimas caírem com a certeza de que deveria ir embora. Mais uma vez, seu tempo estava esgotando. Os dedos do sintozóide lentamente alisavam seus cabelos ao passo que ela tinha uma epifania: Wong estava certo. Era reconfortante saber que, em algum universo, uma Wanda Maximoff conseguiu alcançar seus sonhos; quem sabe em quantos mais? Por que não ela própria em breve?

— Você não é má, Wanda. – Ele gentilmente falou, sua voz soando como música para os ouvidos dela. – Você apenas precisa voltar para o caminho certo.

Caminho certo. Era uma expressão que causava arrepios em sua espinha, porém, ao observar os seus arredores com o canto dos olhos, ainda conseguia ver o portal aberto conectando-a com a sua origem. Era só... voltar. Parecia difícil até ser feito.

— Promete que vai cuidar deles?

Foi o que conseguiu perguntar, preocupada com a segurança daquela versão de sua família. Visão assentiu com um aceno de cabeça, beijando o topo de sua cabeça.

— Nós amamos você. Sempre amaremos.

Era difícil ler através dele, pois várias interpretações surgiam daquela frase tão curta – sentir-se amada, contudo, dispensava explicações de circunstâncias, apenas era, fosse por seu marido em todas as suas formas, fosse pela sua outra versão com os filhos que a perdoava pelo ocorrido. Uma sensação quentinha abraçou o corpo de Wanda mesmo depois dela se soltar de Visão. Escorregando as palmas das mãos pelos braços dele, seus dedos se entrelaçaram, soltando-se um a um até que os dois indicadores estavam unidos por uma pontinha a qual se recusava a deixar ir. Movendo o olhar de suas mãos para os límpidos olhos azuis de Visão, os lábios de Wanda separaram suas bochechas em um largo sorriso quando disse:

— Sabe, eu sinto falta do Visão do meu universo.

Inusitadamente, ele sorriu de volta. Um sorriso sincero e feliz.

— Tenho certeza que vocês irão se reencontrar muito em breve. – Ele soltou sua mão da dela e caminhou em direção às crianças. – Eu e a minha Wanda também fizemos uma promessa de reencontro há algum tempo.

Na brevidade do momento, Wanda observou sua família alternativa até o portal se fechar e apenas o horizonte gelado do Monte Wundagore preencher sua vista. Virando a cabeça para Wong ela silenciosamente pediu desculpas, e fez o mesmo na direção da jovem America para, enquanto eles fugiam, ter certeza que destruiria todas as versões do Darkhold para impedir que mais usuários de magia fossem corrompidos como ela foi.

Uma única lágrima desceu por suas bochechas, agora geladas – um pequeno sinal de que estava viva sob os escombros de Wundagore – e a certeza de um reencontro com as pessoas que tanto amava preenchia o peito de Wanda com certeza quando se moveu pelas páginas do livro maldito destruindo-o em todas as realidades que encontrasse.

Era só encontrar o caminho certo de novo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.