Aluga-se um Homem

Aquele momento em que se acorda e se encontra com um fofo


Essa foi a pior noite da minha vida. Porque as luzes estão fortes? É o sol. Certo.

Meu corpo está ligeiramente dormente e duvido muito que eu vá me levantar tão cedo dessa cama aconchegante.

Cama. De onde é essa cama?

Fique calma, Natasha. Isso tem uma explicação. Com certeza tem uma explicação acordar em uma cama desconhecida, em um quarto completamente desconhecido e possivelmente em uma casa desconhecida. Vamos olhar em volta, sempre há pistas. O melhor é que ainda estou com meu vestido. Não está em seu melhor estado, mas com certeza é melhor do que nada.

Primeira parte: Tenho que levantar. Não posso continuar esparramada nessa deliciosa e desconhecida cama. Uma cama de quem não sei quem é. Ótima forma de começar o dia. O primeiro dia de mulher solteira e abandonada é comemorado em uma casa de um desconhecido, se pelo menos estivesse nua significaria que tinha aproveitado.

No momento em que meus pés tocam o piso gelado do quarto sinto um grito preso em minha garganta. Eu realmente odeio coisas frias pela manhã. Começo a vagar pelo quarto surpresa por não encontrar nada pessoal. Não haviam porta-retratos, livros espalhados ou roupas. Não consigo compreender como alguém pode viver tão organizadamente e ao mesmo tempo vazio. Não havia nada no quarto que me fizesse sentir que ali vivia alguém. O vestido começa a me incomodar. Ele esta sujo, molhado e fedendo. Eu quero muito trocá-lo. Tomar um banho.

–Aonde estou? – começo a avançar ainda mais ate abrir a porta do quarto. E paro no mesmo instante, pois um cheiro maravilhoso entra pelas minhas narinas e não sei como segue ate o meu estomago que reclama. Eu estou com fome. Começo a salivar. Eu sei que sim, pois sinto a saliva se acumulando e transbordando muito lentamente.

Assim que mais me aproximo do cheiro um vulto surge em minha frente. Grito sem perceber ate me deparar com o semblante assustado do homem. O homem mantinha os olhos arregalados ao segurar uma espátula. Começo a olhar para ele fixamente. Eu sinto a curiosidade aumentar. O homem possui um corpo bem definido apesar de vestir uma calça de moletom e blusa folgada. Seus cabelos cacheados encontram-se rebeldes, mas o que chama atenção nele além dos olhos é o formato de sua boca.

Perfeito para ser beijado.

No que estou pensando? Acabei de ser largada. Tenho que pelo menos ficar de luto dois dias.

–Vejo que acordou – até a voz do homem é agradável. Como pode existir alguém assim? – Estive esperando por esse momento a algumas horas – ele sorriu. Realmente encantador – Sou Bruce Banner, e você é?

–Eu? Sou Natasha. Natasha Romanoff.

–Romanoff. Nome interessante – Porque ele tem que sorrir de novo? Eu estou com o coração em pedaços. Se ele continuar sorrindo acabarei me jogando em cima dele. – Não está enjoada ou com dor de cabeça?

E ainda faz o tipo de homem preocupado. Muito fofo mesmo.

–Não, eu deveria?

–Para quem bebeu praticamente duas garrafas de tequila, eu diria que sim.

–Certo, eu bebi – Droga!. Não lembro de nada.

–Espero que o casamento não seja cancelado por minha culpa. – o tom amigável e gentil quase me faz chorar. Ainda existem homens assim no mundo? Como eu sou azarada por ter encontrado aquele cafajeste.

–Não se preocupe com isso. Acho melhor ir embora – olho em volta e percebo que não estou com o véu – Viu o meu véu por acaso?

O sonoro som da gargalhada dele me fez rir. Foi inevitável.

–Da ultima vez estava no chão do bar.

–Oh, entendo.

–Desanimada? Podemos ir lá.

–Não, definitivamente não. Obrigada pela hospitalidade, eu acredito. Não faço ideia de como vim parar em sua casa, mas agradeço por ter cuidado de mim.

–Na verdade, você me acusou de ser o seu noivo, me xingou, bateu em mim e depois desmaiou, pela segunda vez. Primeiro nos braços de meu amigo e depois nos meus.

–Eu fiz isso?

–Sim, foi divertido de qualquer forma. – sorriu novamente ao exibir seus dentes perfeitos e seu olhar dócil.

–Me desculpe, eu.. estava bêbada – o constrangimento começa a me incomodar. Nunca pedi tantas desculpas antes.

–Isso acontece.

–Eu preciso ir, mas pode me dar o seu numero? Quero compensá-lo de alguma forma. – ele olhou desconfiado para mim, tenho certeza. Ele está esperando que eu desista?

–Não precisa me compensar.

–Eu acabei com a sua noite, provavelmente, e ainda me trouxe para a sua casa. O que é um pouco estranho. Sempre traz desconhecidas bêbadas e confusas para a sua casa? – pergunto sorrindo ligeiramente. Tenho certeza que minha maquiagem está borrada.

–Foi a primeira – ele me assegurou com aquele sorriso meigo. O que estou fazendo? Eu fui abandonada. Deveria estar chorando e gritando, mas não tem como fazer isso com um sorriso desses sendo pra mim.

–Me sinto ligeiramente aliviada por não ser algum louco.

–Não sou, Romanoff.

–Estou aliviada.

O vejo olhar para mim atentamente como se estivesse me analisando.

–Vou anotar o meu numero – falou após ser vencido por mim. Foi inevitável não olhar para o seu caminhar elegante. Não demorou dois minutos para ele me entregar um pedaço de papel com o seu numero. – Não quer trocar de roupa? Tenho uma calça de moletom que deve caber em você.

Mais um constrangimento. Maravilhoso. Me vi olhando para mim mesma novamente antes de assentir envergonhada.

–Você me salvou duas vezes.

–Sou quase um herói, certo? – ele sorriu ao sumir de minha vista ao ir para o quarto. O mesmo quarto aonde acordei.

Heroí. Essa palavra soa amarga. Tão amarga.

Não consigo conter a curiosidade ao olhar em volta, nada discretamente. O apartamento dele parece aconchegante, apesar de seu tamanho. A sala não possuía muitos moveis, um sofá para duas pessoas, uma poltrona próxima a varanda, a televisão acoplada na parede e um aparelho de som. Apenas isso.

Esse homem consegue ser incrivelmente simples.

–Desculpe a demora – ele voltou segurando uma calça dobrada perfeitamente e um casaco – Espero que sirva.

A única coisa que posso fazer é sorrir. Não tem como agradecer tantas vezes sem parecer ser irritante. E eu nunca sou assim. Jamais sou assim, não como estou sendo com ele. Provavelmente devido a bebida.

–Pode tomar um banho se quiser – ele me aconselhou sorrindo. Ele sempre sorri? Realmente é um homem fofo. – A primeira porta antes do quarto – só faço assentir ao me dirigir para a porta do banheiro – Tem toalhas limpas no armário, sabonete e acho que uma escova de dente também – eu o escuto antes de fechar a porta e trancá-la. O banheiro dele conseguiu ser impressionante se comparado com a sala. A pia de mármore branco, os azulejos em branco e o armário em preto. O banheiro conseguia ser encantador. Começo a me despir com dificuldade. Demorei mais do que pretendia para tirar o vestido sentindo meus braços doloridos por me contorcer tanto. Abro o box, ligo o chuveiro e faço o possível para não gemer ao sentir a agua cair em meu corpo. Nunca me senti tão limpa quanto agora. Perco a noção do tempo quando saio procuro a toalha no armário, me enxugo e vejo que não tenho calcinha.

–Maravilha – minha voz com toda a certeza soou sarcástica e mal humorada. Me vejo tentada de usar a suja, mas não consigo. Uso a roupa que ele me entrega sem vestir nada por baixo. Quando abro a porta do banheiro não escuto som nenhum. Sigo para a cozinha e a encontro vazia. Talvez eu deva ir embora antes que ele volte. Já fiquei muito constrangida por um dia. Seguro o meu vestido com força ao ir para a sala, busco algum papel e caneta.

Obrigada por ter me ajudado novamente.

Entrarei em contato para compensá-lo, o mais breve possível.

Natasha Romanoff.

Está bom. Impessoal e gentil. E aquele cretino ainda dizia que eu nunca era gentil. Coloco o bilhete em frente a televisão e sem olhar para atrás sigo para a saída. Preciso sair o mais rápido da casa daquele homem. Aquele estranho e gentil homem.

Abro a porta surpresa por não vê-la trancada. Ando pelo corredor, aperto o botão do elevador e não consigo conter a minha impaciência. O plano é ir embora antes que ele apareça. Após segundos de espera, o barulho característico do elevador me faz sorrir. Entro, aperto o botão do térreo e espero. Ansiosamente.

–O ataco bêbada, o humilho, ocupo a sua casa e depois fujo – falo sozinha. – é realmente perfeito.

Me viro e encaro o meu reflexo no espelho. Eu estava um caos.

–Vai ser um longo dia – suspiro no momento em que as portas se abrem, saio sem perceber a presença do homem em minha frente – Me desculpe – sussurro sem o olhar ate sentir sua mão em meu pulso – O que.. – paro de falar ao ver quem era: meu salvador fofo. – Banner.

–Romanoff estava fugindo de mim? – como ele consegue sorrir tão encantadoramente quando estou tentando me soltar dele e correr? Porque sou assim com ele?

–Não, eu preciso ir trabalhar. Estou atrasada na verdade.

–Posso lhe dar uma carona.

–Seria estranho ir trabalhar sem calcinha – sorri afetada antes de perceber o que disse. Sei que meu rosto esta vermelho. Sinto minhas bochechas queimarem. – Eu não queria falar isso.-- o encaro e curiosamente ele está sorrindo apesar de seus olhos demonstrarem sua vergonha. –É melhor eu ir, foi um prazer, Bruce Banner – falei antes de me livrar de sua mão e seguir para longe dele. A medida que ando sinto seu olhar sob as minhas costas.

Se eu olhar seria louca, certo?

Certo.

Sigo em frente tentada a me virar, mas consigo resistir.