Ela abriu os olhos. A partir daquele momento viveria em um mundo físico. A capacidade de se levantar não lhe era fácil. Podia se movimentar com facilidade, e os equipamentos respirátorios não lhe eram necessários

A criança era clara, muito clara. Seus olhos eram castanhos, cor de mel, iguais aos os da mãe. Assim como seus cabelos, castanhos claros. O pai possuia olhos azuis como e da cor do mar, claros e cristalinos. Seus cabelos eram ruivos. Vermelhos com leves tons de alaranjado, como o fogo. A criança não havia herdado uma característica física do pai. Dele, ela só possuia lembranças. Lembranças, que eram o único meio de ela estar com seu pai.

A enfermeira pegou-a para mostrá-la ao pai. A criança vestia um vestido azul celeste, quase da cor dos olhos do pai. A jovem passou a menina para os braços de uma senhora parteira. A senhora ofereceu ao pai que carregasse a garota em seus braços, mas ele recusou. A mulher a colocou cuidadosamente no berço.

-Como estão as coisas lá dentro?

-Nada bem. -O pai e a senhora começaram a dialogar.

-E “ela”?

-Eu temo a dizer, pois a luz está deixando seus olhos.

-Ela está morrendo?

-Aos poucos, mas sim, ela está morrendo.

-Quanto tempo ela tem?

-Não está confirmado, mas creiamos que isto é questão de algumas horas. Ou até dias talvez. Ainda está muito indeterminado.

-Então, eu devo deixá-la?

-Talvez sim, talvez não. Isto é uma escolha SUA. Só você pode decidir o que fazer.

-E a criança?

-Se você for, ela irá ser encaminhada à uma família que cuidará bem dela. E com certeza ira à amar.

-Creio que sei o que fazer. Mas antes preciso ver minha esposa.

-Ela está tendo muita dificuldade em falar, e em... - a mulher suspirou fundo.

- Não é a melhor hora para...

-Amélia, eu preciso vê-la! Por favor. Apenas alguns minutos.

-Tudo bem, mas seja rápido, ainda estamos em tempo para salvá-la.

-Eu vou ser, dona Amélia, eu vou ser. Ele saiu.

-Espere! - a senhora gritou. Ele se virou rapidamente. - Boa sorte.

O homem assentiu com a cabeça e saiu da sala.Na qual dizia “Quarto 22”. Lá de fora já se podia ouvir os gritos de uma mulher. O homem respirou profundamente e então tocou a maçaneta. Ela estava fria, e ele podia sentir um vento frio vindo da fechadura. Ele estava nervoso. E então, girou a maçaneta cuidadosamente até completar uma volta. Estava preste à abrí-la, quando ouviu alguém destrancando a porta por dentro. A chave fez seu giro completo. E esta pessoa abriu a porta. Ele se afastou e então viu uma jovem bem clara.

-Ah! Olá senhor. Hã... quero dizer...Nome por favor. - A jovem se corrigiu.

-Ah, claro. Meu nome é Philipe Stone, sou o esposo da... - ele foi interrompido pela jovem.

-Ah, doutor Stone! Pode entrar.

-Obrigada, minha jovem A jovem sorriu.

-Com sua licença. - Uma senhora saiu do quarto.

Felipe notou que ambas enfermeiras carregavam em suas mãos, algumas toalhas exarcadas de sangue. Mas seguiu seu caminho sem questionar nada. Entrando no quarto notou também que muitas enfermeiras corriam pelo quarto pegando toalhas novas e tentando ajudar a mulher, ou então tentando fazê-la parar de gritar.

Ela estava no leito. Ele foi caminhando até a cama. Ouviu sua esposa gritar por seu nome repetidas vezes. Ao chegar até ela, a esposa agarrou sua mão.

-Philipe? Amor, nossa filha é tão linda, você viu? Ela é... - ela foi interrompida por um de seus gritos.

-Tente não falar. Disse o homem sorrindo. Ela assentiu com a cabeça e fechou os olhos. Ele alisou seus lindos cabelos castanhos com a mão, e só então ela relaxou e parou de gritar. As médicas pareceram surpresas ao vê-la se acalmar. Ainda com os olhos fechados ela falou:

-Philipe, você está bem?

-Sim, claro amor. Porque não estaria?

-Você está tremendo. -disse abrindo seus deslumbrantes olhos castanhos. - É que eu estou emocionado, meu amor só isso.

-É a nossa filha, não é? - disse sorrindo.

-É amor. É sim. Ela é muito linda. E é tão pequena.

-Isso mesmo. Sabe querido, eu estava pensando. Quando me tirarem daqui, deveríamos ir morar em uma casa de campo. Seria ótimo para os bebês.

-Querida, você entende que...

-Entendo. E iremos criar a menina com muito amor e carinho.

-Sim, iremos. Você está melhor agora?

-Sim, creio que já posso sair.

As médicas fizeram sinal de não, para ele.

-Vamos ficar aqui só mais um pouco está bem?

-Está bem. Mas agora estou com sono, e estou faminta.

-Você não pode dormir agora, mas tente relaxar um pouco. -Ela assentiu com a cabeça e fechou os olhos.

-Isto. Eu te amo.

-Também te amo. Mesmo. Mais que tudo. Ele sorriu e disse. Agora descanse. Ele lhe deu um breve e caloroso beijo e então se levantou. Um\\ lágrima escorreu em seu rosto. Abriu a porta. Deu uma última olhada na esposa e então a ouviu dar seu último suspiro. As enfermeiras correram com seus equipamentos tentando ajudá-la. Mas ela já havia dormido e só acordaria em outro plano. Ele levantou a cabeça, respirou fundo e então caminhou até a saída. Olhou o horizonte e então saiu andando com apenas um colar na mão. Um colar que pertencia à alguém que amava. Ele deixou a criança. Deixou-a para uma família que pudesse realmente amá-la.