—O que foi isso, Loki? – pergunto irritada enquanto minha mão descansa no meio das suas costas, e a outra junto a sua erguida, da mesma forma que se dança em Midgard, por isso não fiquei nervosa, podendo concentrar tudo em apenas Loki.

—Foi o quê? – perguntou inocente e revirei os olhos com o seu sorriso de quem não sabia do que eu estava falando.

—Aquilo, com Gustav! Porque você não disse que eu era de Midgard? Acho que todo mundo já sabe – observo e Loki finge olhar para outro lugar e cumprimentar alguém.

—Prefiro que todos continuem a pensar que você voltou para a sua casa. Eles não sabiam o seu rosto direito. E agora, parecendo uma legitima asgardiana, melhor ainda – responde tranquilamente, e até com um certo orgulho em seu sorriso.

—Porque? – pergunto confusa. Não fazia muito sentido para mim.

—Temo que as consequências não seriam muito positivas – responde finalmente olhando em meus olhos – Entende o que eu quero dizer? – pergunta sério e assinto com a cabeça.

—Prefere não arriscar – completo e ele afirma – Mas e Brianna? – pergunto preocupada com minha filha. Imagino que ela também não foi avisada disso.

—Thor está encarregado dela, e se estiver muito bêbado, o que aposto que vai ficar, Rachel sabe o que fazer – responde e espanto com sua tranquilidade. Simples assim?

—Então eles sabiam disso, menos eu? – pergunto irritada e ele assente com a cabeça. Fecho os olhos e respiro bem fundo – Qual o problema de me contar? Estou aqui há semanas! Poderiam ter me contado – digo com muito pesar. Esconder é a pior coisa. Agora entendo como Steve se sentia.

—Venha comigo – ele desfaz a dança e me puxa delicadamente para o outro lado do salão, onde haviam grandes portas de madeira que eu não sabia para onde dava.

Passamos por todas as pessoas dando espaço com pressa ao rei e se curvando perante a ele, novamente, e enquanto ele quase não prestava atenção, apenas segurava a minha mão e me levava com uma certa pressa.

Ao chegarmos, ele abriu a porta, um vento frio da noite bateu nos meus braços me pegando de surpresa. Era uma sacada, com uma vista fenomenal de toda a cidade, além das estrelas brilhando no céu escuro e as luas, iluminando ainda mais uma cidade que se valorizava por ser tão brilhante.

Fiquei tanto tempo admirada com a paisagem que não notei que comecei a tremer de frio logo em seguida, mas logo senti a capa de Loki sobre meus ombros me aquecendo, agradeci e ele se apoiou na mureta de pedra branca e frente para mim enquanto eu ficava ainda observando a vista.

—Você podia ter me contado... – eu disse baixinho, mas eu tinha a certeza que ele escutou, pois ouvi seu suspiro, dizendo que ele se arrependia por isso, e que iria explicar com calma o porquê de ele ter feito isso – Parece que todo mundo esconde algo de mim, não importa o que seja e nem quanto tempo se conhecem ou quanto confiem um no outro – acabo desabafando, e eu poderia ter começado a chorar ali mesmo se não fosse pelo abraço do moreno.

—Eu não te contei para que você não se sentisse diferente, que não se arrependesse ou se preocupasse com isso. A culpa é mais minha do que sua. Não fique assim. Dói para mim mais que você imagina te ver triste – sorriu enquanto cerco seu corpo com meus braços me sentindo bem ali.

—Obrigada... – agradeço baixinho, ele beija o topo da minha cabeça em resposta.

—Quais seriam as chances de você ficar mais alguns dias? – pergunta descontraído com o queixo sobre a minha cabeça, e rio com o seu pedido. Usando artifícios para me convencer a ficar mas tempo. Bem que eu queria...

—Nenhuma, zero, porque tenho que voltar a trabalhar, estou muito tempo fora – explico e ele faz uma enorme cara de dúvida, eu até podia ver o enorme ponto de interrogação em cima da sua cabeça.

—Mas o seu pai é dono da empresa onde você trabalha – lembra e concordo enquanto desfazemos o abraço.

—Sim, mas ele não fica de olho em mim mais, diz que tenho que assumir minha própria vida e minhas próprias consequências, isso no ano em que comecei a trabalhar lá como estagiária – conto e Loki concorda sorrindo.

—E agora seus superiores pegam no seu pé você sendo filha do dono ou não – completa e assinto com a cabeça – Você não é do tipo que tem vantagens por isso? – pergunta curioso e nego.

—E nem gosto – completo e ele sorri.

—Eu gosto de pessoas assim, honestas – conta e reviro os olhos voltando para a vista – O que é? – pergunta risonho.

—Nada, apenas que para alguém chamado de deus trapaceiro, não é muito comum – explico e ele ri se apoiando na mureta também, observando mais para a minha esquerda, espero que ele não veja a espinha no canto da boca.

—Não, não é, e qual o problema? – responde irônico, dou de ombros enquanto sinto sua mão se aproximar da minha, não receio em segurar a sua mão gelada, muito gelada.

—Nossa Loki, suas mãos, você não está com frio não? – pergunto espantada enquanto pego sua outra mão e tento aquecê-las com as minhas.

—Não, claro que não – ele responde risonho – Mãos macias – ele elogia e agradeço. Continuo a aquecê-las, mas ele não pede para parar, e muito menos insiste. E só depois de alguns instantes, eu as solto, agora bem mais quentinhas graças a mim.

—Se eu não estivesse com tanto frio e você com essa armadura toda fechada, eu te devolveria a capa – confesso e ele nega, recusando a sua própria capa, pelo menos por enquanto.

—Não precisa, você fica bem com ela – responde com sinceridade, o que me faz sorrir.

—Não acho que verde escuro combina comigo, fica perfeito em você, mas em mim, acho que não – respondo e só sinto as suas mãos nos meus ombros ajeitando a capa que insistia em deslizar de tão lisa que era.

Havia duas cordas que permitia amarrar em volta do pescoço e assim elas não caíam, algo que eu não havia notado, já que ele apenas encaixava na armadura quando usava.

—Você fica melhor do que imagina – responde terminando de amarrar e segurando com carinho o meu queixo forçando a olhar para ele, que era consideravelmente mais alto do que eu. Então ele olhou para a minha boca e desviou o olhar voltando a ficar encostado na mureta. Aposto que ele notou a espinha...

Suspirei me arrependendo de ter cutucado ontem à noite, eu não devia ter feito isso, e agora está vermelha e dolorida. Aposto que a Rachel deve ter alguma coisa para isso.

—Emily terei que viajar amanhã – Loki diz e só depois de alguns segundos que percebo realmente o que ele quis dizer.

—Mas para onde? – pergunto surpresa, apesar de que não era a primeira pergunta que surgiu na minha cabeça, mas sim porque.

—Não é longe, e somente por alguns dias – responde pegando nas minhas mãos e as segurando com firmeza. Sinto na sua voz o nervosismo, e na maneira também como segurava as minhas mãos.

—Porque? – pergunto e acabo passando a decepção ao ouvir, e aposto que isso também está explicito nos meus olhos, pois ele me puxa e me abraça apertado depositando vários beijos na minha testa, eu até podia sentir a barba espetando a minha pele como o Steve fazia.

—Obrigações de rei que não posso remediar – responde e suspiro sabendo que ele acharia tão chato quanto eu estou achando que vai ser, sendo que nem sei para quê exatamente.

—Mas você é o rei, você pode mandar eles virem até você – digo esticando o pescoço para ver o seu rosto, ele ri e me abraça apertado de novo.

—Nesse caso, não posso, bem que eu gostaria, mas não posso – responde e assinto com a cabeça – Mas a levarei para um passeio quanto eu voltar, pode ser? – pergunta e assinto novamente com um leve sorriso.

—Tudo bem – digo e ele me solta, olhando bem nos meus olhos.

—Eu volto, ok? É uma promessa.

—E uma promessa não se quebra – aviso e ele assente concordando comigo – Então tá. Mas acho melhor voltarmos, podem notar nossa ausência, e não levar isso tão na boa quanto a gente – aviso e ele assente. Abro a porta e saio primeiro com ele logo atrás. E não esqueço de devolver sua capa. Ele tem razão, fico bem de verde.

Meia hora de passou, e passou como se fosse cinco minutos. Eu realmente estava me divertindo aqui, não fazia ideia de onde Brianna estava, mas estava me divertindo. Eu não ficava parada no lugar feito um poste, estava sempre conversando, rindo e dançando, seja com quem quer que seja.

E enquanto eu ria de um comentário de uma senhora elegante, alguém tocou no meu ombro, vi que era Brianna, com um sorriso radiante no rosto. A abraço apertado sentindo um pequeno alivio por ela finalmente estar sobre a minha vista.

—Onde você estava? – pergunto tentando esconder a minha preocupação e alivio, não por causa da Bri, mas sim porque eu não queria demonstrar o meu real sentimento na frente da senhora.

—Eu estava com o Erick, mãe, e fica tranquila, não aconteceu nada demais – ela responde e assinto com a cabeça pronta para apresenta-la a doce senhora com quem eu estava conversando.

—Brianna, essa é...

—Frigga, é um prazer conhece-la, sua mãe falou muito bem de você – ela diz me interrompendo e oferecendo um aperto de mão da mais nova, que apertou simpática.

—Brianna Rogers – ela cumprimentou de volta.

—Então, meu neto está te tratando bem, Brianna? – perguntou Frigga e me pergunto logo em seguida se foi aquilo mesmo que eu ouvi. Ela se referiu ao Erick como neto? Como assim?

—Neto? Ele é seu neto? – pergunta surpresa a mais nova, tentando assimilar a informação, assim como eu.

—Então a senhora é mãe do...

—Thor e do Loki sim – ela respondeu novamente me interrompendo, algo que realmente não gosto, mas que devido ao choque nem percebi e notei – Peço desculpas se eu realmente não me apresentei devidamente ao nos conhecermos, Emily – Frigga respondeu e concordei.

—Não, tudo bem. E desculpa por estarmos assim, tão... Surpresas, é que sempre pensamos que a senhora estivesse nos reinos dos elfos com o seu marido – expliquei tentando ser o mais educada possível.

—E eu moro lá ainda com Odin, apenas eu quis visitar a minha real casa e os meus filhos – explicou e concordei complacente com a sua intenção – Mas então, Brianna, Erick está se comportando como um príncipe para você? – Frigga perguntou juntando as duas mãos na frente do corpo com um sorriso doce no rosto.

—Sim, claro, ele é o sonho de toda mulher – ela respondeu sorridente e tentei esconder o meu sorriso feliz, infelizmente não passado despercebido pela asgardiana, eles são bons nisso, nossa.

—Fico feliz em ouvir isso, ensinei Thor a se comportar com damas como um príncipe, e que agisse como tal. E é um alivio ao saber que ele está passando o mesmo para o filho – ela contou e Brianna concordou com ela – Minha querida, você poderia dar um tempinho para eu e a sua mãe conversarmos um pouquinho, por favor? – Frigga pediu com doçura e Brianna aceitou e avisou que estaria com Rachel.

—Eu realmente fiquei surpresa, eu não...

—Olha, eu vi você e Loki na varanda – Frigga me interrompeu me surpreendendo, não por ser a terceira vez que ela faz isso, mas pelo tom de sua voz, urgente, ansioso, nervoso e como se eu tivesse feito algo de errado. Mas era discreta, tentei fazer o mesmo.

—Fomos apenas conversar, apenas isso – respondi já prevendo que todos no salão pensam que eu estava envolvida com Loki de alguma maneira além da amizade, disparando os meus sinais de alerta internos.

—Isso eu sei, sua bobinha, eu me refiro a você ser casada e ficar sozinha com um homem solteiro – respondeu e fiquei sem reação, mesmo que aquilo tudo eu já soubesse.

—Qual o problema de estar perto do Loki? Somos apenas amigos – será que tenho que explicar isso para todos? Inclusive para a mãe dele?

—Eu confio no meu filho para isso, mas as pessoas nesse salão não e nem em você, e a sua filha está aqui – Frigga responde olhando nos meus olhos com seus redondos olhos azuis – Eu não sou sua mãe, mas é o que eu diria se eu fosse – ela conta e assinto com a cabeça.

—Os asgardianos não confiam em Loki? – pergunto e ela assente com a cabeça – E obrigada pelos conselhos, não quero arranjar ainda mais problemas para Loki – expliquei e ela dá um sorriso complacente de lado. Enlaça o meu braço no seu caminhando lado a lado comigo devagar.

—Eu fico feliz que você tenha entendido o lado dele, mesmo que ele não admita. Olha, ele confia muito em você, gosta muito de você, mas tome cuidado. Pela sua carinha, posso quase afirmar que Loki já foi o motivo de brigas entre você e o seu marido, acertei? – ela pergunta e assinto com a cabeça.

—Steve é ciumento, não entende que a relação entre ele e eu é somente amizade – expliquei e ela concorda entendendo o meu lado.

—Foi você a midgardiana que atiçou o interesse dele, não é? – pergunta e assinto um pouco envergonhada – Lembro-me bem desse dia. Loki se aproximou de mim dizendo, “mãe, conheci uma garota”, o sonho de toda mãe preocupada com seu filho – ela conta e sorrio com a história –Mas eu fiquei sabendo pelo Thor que você tinha um namorado, o seu atual marido, não?

—Sim, é sim, desde aquela época – respondo tentando esconder o orgulho que sinto ao saber que estou casada com o mesmo homem há vinte anos, mesmo com tantos problemas entre nós dois.

—Foi nesse momento que a minha preocupação nasceu, e vem crescendo medida que o tempo passava. Loki não estava bem, tinha momentos em que ficava bem, mas logo em seguida já estava mal de novo. Eu acolhi o meu filho mesmo depois das coisas monstruosas que ele fez em Midgard, mas parece que aquele Loki daquela época ainda não havia desaparecido por completo – conta parando de andar. Me viro de frente para ela pegando em suas mãos macias.

—Ele foi o tempo todo um príncipe para mim, desde me ajudando em sair de problemas, em me acolhendo quando eu não estava bem, até mesmo em me aconselhar. Assim como Thor e Rachel estão fazendo um bom trabalho com Erick, a senhora fez um ótimo trabalho com Loki também – digo com toda a sinceridade que posso transmitir com palavras, sempre tentando ser o mais convincente possível. Ela sorri feliz e emocionada.