Ao se sentir-se melhor, Glen foi autorizado a ir para casa. Já era a hora da saída e Zach fez questão de levá-lo. O motorista entrou com o carro no colégio, e todos viram os dois entrarem no luxuoso veículo. Mas Grace o perguntou:

- Aonde vai?

- Vou levá-lo p’rá casa. Segura as coisas lá em casa.

- Mas êle é rico. Tem motorista.

- Ah, não amola.

E assim o carro saiu. Grace ficou só com seus pensamentos: “Aí tem coisa, Zach nunca faria isso. Mal faz comigo. Mas eu vou descobrir.”.

Ao chegarem numa mansão com um enorme jardim, Glen agradeceu novamente:

- Obrigado, Zach. Você se mostrou um bom amigo. Mas como vai p’rá casa?

- Ah, eu me viro.

- Nada disso. Victor, leve-o para casa.

- Pois não, mestre Glen. Senhor... – Victor indicou a porta aberta para Zach, e êste entrou sem cerimônia. Glen acenou até o carro sair do perímetro da casa.

Ao entrar, Glen subiu diretamente para seu quarto. Sentou à sua mêsa, pegou uma fôlha de papel e um lápis e pôs-se a desenhar. “Que coisa é essa?” perguntava êle a si mesmo. O que é isso que sente por Zach? Seria amôr? Durante sua vida inteira, Glen acreditou que o amôr viesse num gesto, numa expressão, na luz de um olhar, num modo de sorrir, numa apresentação ou até mesmo no jeito de falar. E parecia estar certo. O jeito como Zach tê-lo-ia tratado, como o gesto de salvá-lo durante a aula, ou até como êle sorria com ternura...

Nessa altura, o mordomo entrou em seu quarto e perguntou-lhe:

- Vai querer almoçar agora, amo?

- Hã? Ah, Sim. Já vou descer.

- Pois não.

Glen desceu as escadas. Almoçou ràpidamente e volveu a seu quarto para terminar seu desenho. Passou um bom tempo traçando e apagando linhas. Quando terminou, olhou atentamente. Era como uma fotografia a lápis de Zach Clark. Assinou com alegria o trabalho bem feito, beijou-o e guardou no seu caderno, junto com outros desenhos. Fechou o caderno, levantou-se precipitadamente, e partiu para a janela onde ficou a observar o imenso jardim por detrás da casa, com a lembrança do período escolar indo e vindo à sua cabêça.

Zach, já em casa, almoçava com o olhar de Grace a vigiá-lo. Isso perdurou por um tempo até que êle, enfim, reclamou:

- Que é garota? Agora deu p’rá me vigiar? Vai procurar quem te ature.

- Não é nada, Zach. Só estou olhando. – respondeu Grace secamente.

- Já não fez o suficiente? – diz Zach, limpando a bôca com o guardanapo.

- Se você acha que me engana com essa historinha de amizade p’rá cima do aluno nôvo, pode apostar que não. E eu não vou deixar que faça qualquer maldade com êle, fui clara?

- Que tipo de gente você acha que eu sou?

- Do tipo que se aproveita e depois descarta.

- E o que vai fazer? Grudar no garôto?

- Se fôr preciso.

- Então que assim seja.

Jackie, avó dos dois, entra na sala e diz:

- Não briguem meninos. É tão feio. Aqui, bebam um pouco de suco.

- Não, obrigado vovó. P’rá mim chega. – diz Grace se retirando.

- P’rá mim também. – responde Zach, fazendo o mêsmo.

Zach entrou em seu quarto, pôs um CD e deitou-se em seu leito, a pensar no que faria. Grace já havia notado alguma coisa. O prêmio que pensava que ganharia, era tentador. E teria que consegui-lo como fôsse.

Grace fechou a porta do quarto, pegou o celular e discou para Emily:

- Emily, preciso de um favor seu.

- Diga.

- O Zach, êle...

- Quer dizer que tem a ver com o gato do seu irmão? Ai, que legal, êle é tão sexy e...

- Emily! Não vem ao caso. Escuta, acho que êle e os amigos estão...

- E você já viu os amigos dêle? Claro, não são como o Zach, mas se você pensar...

- Emily, cala a bôca e escuta. Ou você não quer sair com o Zach?

- Sair com o Zach? Meu Deus! Você está brincando...

Foi decorrida meia hora, e nada de plano para desmascarar Zach e seus amigos:

- EMILY!!! Só escuta. Você vai sair com o Zach amanhã e vai tentar descobrir alguma coisa sôbre o aluno nôvo, o... Glen! Entendeu bem?

- Sim.

- Ótimo. Vemo-nos mais tarde.

E assim ela desligou. Pensou muito na possibilidade de magoar Glen. Mas se fôsse, já o teria feito. O que poderia ser?

Na hora do jantar, Diane havia chegado, e Grace foi falar-lhe sôbre Zach:

- Mãe, Zach está aprontando. Não sei ao certo o que é, mas pode ser grave.

- Grave como, querida?

- Veja só a situação: Veio um aluno nôvo e o Zach foi p’rá cima dêle com um contexto de amizade e...

- Mas o que é que tem isso? Zach sempre têve facilidade de fazer amigos, não vejo como isso...

- O garôto é filho dos Andrews. O bilionário, dono daquela fábrica de carros. E quando o assunto é dinheiro, já viu...

- Certo querida. Vejamos no que isso dá. Se você tiver alguma prova, pode me mostrar. Agora, vá chamá-lo. O jantar está pronto.

Do outro lado da cidade, Glen jantava só, como tôdas as noites. Mas hoje era diferente. Não estava só. Tinha um sentimento morno no peito que o aquecia profundamente. Mal podia esperar para o dia seguinte para ver Zach novamente e estar a seu lado. Mas ao mêsmo tempo, não podia se mostrar apaixonado pelo herói que lhe havia salvado a vida. Teria que ter certeza de que Zach sentiria o mêsmo por êle. Pobre Glen, mal sabia que isso tudo fazia parte de uma aposta, em que poderia sair ferido bem no coração, onde o corte nunca se fecha. E mal sabia Glen, que tudo isso que êle sonhava, seria uma desilusão depois...