Tudo certo.

Meu pai, obviamente, deixou. Aliás, com exceção de coisas comprovadamente femininas, como festas do pijama na casa de Tina Cohen-Chang e idas ao, bem, ginecologista, não me lembro de quase nada que Rachel e eu tenhamos feito separados. Um dos lucros de ter pais que também são melhores amigos.

E sim, eu estava lá por ela. Na primeira vez que ela foi ao, bem, ginecologista. Ela me forçou a ir, e disse que nunca mais falaria comigo se eu não fosse. Então eu fiquei lá fora na recepção, com cara de idiota (apesar de ela ter praticamente implorado pra que eu entrasse com ela), enquanto ela e Shelby entraram. E então, depois que elas saíram, ela me contou os detalhes da consulta. Coisas de Rachel Berry: ela nunca percebe quando me deixa embaraçado.

Ela não estava, bem, mocinha ainda, mas quando fez 11 anos, Shelby a levou até um. O que acabou se provando desnecessário, já que só aconteceu dois anos depois.

“Acorda, criatura!” – Escuto, enquanto recebo um tapa na cabeça. Rachel.

“Anh...?” – pergunto, com todo o meu jeito “másculo” de ser – “Aonde estamos?”

“Estamos tentando ficar acordados e não babar no ombro da melhor amiga, é isso que nós estamos.” – ela diz, e eu focalizo meus olhos. Estamos no ônibus da equipe de filmagem do jornal para o qual Shelby está trabalhando. É um micro-ônibus, na verdade, e nós estamos nele porque,bem, é mais barato do que levar todo esse pessoal de avião até o Tenesse.

A equipe é bem grande. Tem o pessoal da iluminação, os câmeras, os maquiadores, o diretor, o pessoal responsável pelo texto, Shelby, e bem, Rachel e eu. Todos são muito legais, e muitos deles trabalhavam na equipe de Shellby no Canadá.

Estamos no ônibus há apenas 2 horas e eu já cai no sono no ombro de Rachel umas duas vezes.

“Falta muito?” – pergunto, esfregando os olhos.

“Estamos indo para o Tenesse, o que você acha?” – Rachel diz, tirando os fones do ouvido – “Agora deixa de graça. A gente vai chegar lá pela noite, ai você dorme.”

“Ok, então o que você quer fazer?”

“Sei lá! Podemos cantar aquelas musiquinhas de viagem!” – ela diz, pulando na cadeira.

“Nem pensar. Eu não canto!” – digo, prontamente.

E eu não canto mesmo. Embora meu pai seja o diretor do Clube Glee, cantar definitivamente não é pra mim.

Rachel apenas me olha com sua cara assassina. Encosto minha cabeça em seu ombro e tento dormir outra vez, mas ela soca o meu braço.

“Droga, Rachel!” – digo.

“Da próxima vez não trago mais vocês dois.” – Shelby, que está chegando com um copo de café, diz, sentando na nossa frente.

“Não!” – dizemos, e nos abraçamos instataneamente.

Passamos o resto da viagem jogando cartas, e conversando, e rindo, e enfim, sendo nós mesmos. Até o momento em que acabamos pegando no sono juntos, nossas cabeças encostadas uma na outra.

“Rachel, Jesse, acordem!” – ouvimos, e Shelby está no sacudindo. Chegamos ao hotel em que vamos passar a noite. A matéria será gravada amanhã, numa fazenda que é um pouco mais no interior do Tenesse.

O hotel não é luxuoso, mas também não é ruim. Shelby e a equipe tiveram seus quartos individuais pagos pela emissora. Como Rachel e eu somos os “penetras” da viagem, Shelby vai pagar do próprio bolso o que nós gastarmos, como o quarto do hotel.

“Então, meninos, só há vagas em quartos de casal. E eu definitivamente não vou pagar dois quartos pra vocês, já que provavelmente os dois vão dormir enfiados no mesmo quarto.” – Shelby diz a verdade-universal-de-Rachel-e-Jesse: não importa o quanto tentem nos separar, a gente sempre acaba dormindo no mesmo quarto.

“Tudo bem, mãe, estamos de acordo.” – Rachel diz, com um jeito que faz com que as pessoas ao redor até pensem que ela é um ser humano normal. O que se prova totalmente o contrário quando nós entramos no quarto, e a primeira coisa que ela faz é ficar de pé na cama, pulando.

“Destruição de propriedade privada, éh?” – Digo, trancando a porta e deixando nossas malas no chão. Rachel desce da cama e me puxa para cima, e então estamos os dois pulando nela mais rápido do que eu pensei ser possível.

Faz frio no Tenesse. Rachel toma um banho quente e se enrola num roupão, para se trocar no quarto. Saio para o banheiro, para lhe dar privacidade, e tomar meu banho. Quando volto, Rachel está usando roupas comuns.

“Vem cá, você não vai dormir não?” – pergunto.

“Não agora. Depois coloco meu pijama.”

Ficamos vendo TV até que o sono começa a bater. A cama de casal é grande o suficiente para nós dois, então vamos dormir juntos, como sempre. Já estou vestindo meu pijama, que nada mais é do que uma bermuda larga e uma camisa branca de mangas, e Rachel pega seu moletom do frajola da mala. Ela o tem desde os 11, quando ele ficava terrivelmente grande.Agora ele cabe, mas a estampa do frajola está quase desaparecendo totalmente.

Quando dou por mim, Rachel está apenas de sutiã, na minha frente.

É a primeira vez que percebo como as coisas mudaram. Como Rachel e eu não somos mais os mesmos garotinhos que cresceram juntos. Eu tenho 18 anos, e Rachel tem 16. Eu sou maior de idade perante a lei. Sou um homem, por assim dizer. Rachel é uma adolescente com rostinho de criança.

E corpo de mulher.

Não fico olhando. De maneira nenhuma. Assim que a vejo sem blusa, desvio o olhar para o teto. No entanto, é impossivel negar que seus seios presos no sutiã branco de renda não atrairiam os olhares de qualquer homem. Não são grandes, mas são graciosos. Preciso esquecer que os vi, e me concentrar no teto.

“Criatura, não é melhor você se trocar no banheiro não?” – digo, ainda olhando para o teto. Rachel está tirando suas calças agora, mas eu me recuso a olha-la.

“Qual é, nós já nos vimos em roupas intimas um milhão de vezes.” – ela diz o que eu também pensava – “Além disso, você estava só de cuecas no dia que eu cheguei do Canadá.”

“Eu não sabia que você estava voltando.”

“Você também estava assim no dia seguinte.”

Rachel não percebe. Não percebe que tudo mudou. Não importa quantas vezes eu a tenha visto em roupas íntimas antes, porque agora eu não sou mais aquele garotinho e ela não é mais a minha menininha. Agora eu sou um homem, um homem com desejos e extintos, e por mais repugnante que eu me sinta com relação a isso, Rachel é uma garota atraente que desperta sensações em mim.

E foi por isso que eu não contei a ela o que eu sonhei naquele dia.

Porque eu sonhei com ela.