POV Rachel

Leva alguns segundos para que meu cérebro se dê conta de tudo o que acabou de acontecer.

Jesse. Ele me viu beijando Finn. E ele foi pra longe de mim.

“Jesse!” - grito, e me levanto para ir atrás dele. Meus olhos estão se enchendo de lágrimas enquanto tento localizá-lo entre as pessoas no shopping, mas ele é extremamente mais rápido do que eu, e já o perdi nos segundos que passei travada no mesmo lugar. Enquanto continuo tentando o localizar, sinto alguém segurando meu braço, e quando me viro, é Finn.

“É isso, você está com o Jesse? Você me largou pra ficar com o Jesse?” - ele pergunta, e eu vejo dor nos olhos dele. Eu me sinto tão quebrada, tão perdida, que só quero sair correndo e gritar e encontrar Jesse e me jogar nos braços dele e passar minhas mãos por seus cachinhos e saber que vai ficar tudo bem. As lágrimas escorrem pelos meus olhos.

“Não… Eu te larguei E eu estou com o Jesse.” - É tudo o que eu consigo dizer, entre os meus soluços.

Finn solta meu braço, e seu rosto se fecha.

“É…” - ele balança a cabeça - “Eu nunca tive chance mesmo, né? Ele é seu melhor amigo, te conhece a vida toda. Quem sou eu? Sou só um carinha do Glee. Eu nunca tive como competir com ele.” - diz.

“Você é… muito… especial… Finn.” - Ainda estou tentando me recuperar, mas estou soluçando como uma criancinha, e minhas palavras saem entrecortadas entre os barulhos do meu choro.

“Mas eu não sou o Jesse.” - ele diz.

“Não.” - eu completo.

E ele se vira e sai de perto de mim.

Pego meu celular e disco o número de Jesse o mais rápido que consigo. O telefone chama até cair. Ele não me atendeu.

Eu me apoio na parede mais próxima e começo a chorar compulsivamente. Jesse, Finn, eu magoei os dois caras que me amaram nessa vida. Jesse, o que eu fiz com ele, onde ele está, o que está sentindo agora? Nada disso foi de propósito, mas eu pareço magoar tudo aquilo que toco.

Vejo Kurt correndo na minha direção.

“Rach, o que aconteceu?” - Ele me abraça, enquanto eu continuo soluçando.

“Eu… to...me apai...xo...nando… pelo... Jesse!" - Digo, abraçada no pescoço de Kurt. - “E...ele… vai...me...odiar...agora..!" - explodo novamente em lágrimas.

“O Jesse nem sequer tem essa habilidade, Rachel.” - Ouço a voz de Quinn. Estou chorando tanto que nem a percebi se aproximando - “Principalmente se tratando de você. Ele te ama, você não vê isso?” - Ela me estende um lencinho, que eu pego e tento usar para secar as lágrimas que não param de cair.

“Eu...traí...ele….” - Consigo balbuciar. Ela dá uma risadinha.

“Todo mundo viu que o Finn te beijou do nada, Rachel.” - Kurt diz - “Jesse e Blaine já estavam bem perto da gente quando o Finn fez isso.”

“Cadê...o...Jesse….?! Ele… não….me...atende…!!!” - eu sacudo o celular no ar. Quinn pega o lencinho da minha mão, e seca as minhas lágrimas.

“Deixa ele pensar um pouquinho, tá?” - Ela diz, e ajeita o meu cabelo atrás da minha orelha. Puck aparece de repente, segurando dois copos de água. Ele me entrega um dos copos, que eu começo a beber, e passa o outro para Quinn. De repente me lembro que ela está grávida e que não deveria estar levando sustos.

“Des...cul...pa.” - Falo, tentando me recuperar, e passando a mão na barriga dela.

“Aí, igualzinha ao Jesse!” - ela dá um sorriso, e coloca sua mão por cima da minha - “Eu tenho que ficar lembrando esses seus padrinhos de que eu não vou desmontar do nada, filha!”

“Eu?” - digo, e ela balança a cabeça.

“Bom, você e Jesse vão provavelmente se casar um dia, né? Vamos oficializar logo, Madrinha Rachel.” - ela diz, e eu sinto um misto de tristeza e alegria, vontade de rir e chorar, então meu sorriso acaba saindo em meio aos soluços. Jesse já havia me dito que Quinn queria que ele fosse o padrinho, e fico muito feliz que ela me queira como madrinha, também. Eu a abraço.

“Vamos dar uma andadinha pelo shopping até você se recuperar, tá bem?” - Ela pega minha mão, e me conduz até uma vitrine cheia de roupinhas para bebê.

—---

Estou parada na porta da casa de Jesse, tentando desamassar minhas roupas e segurar o choro. Fui pra casa, joguei uma água no rosto, peguei a chave de emergência do apartamento dele… e desatei a chorar outra vez.

Nunca senti nada assim antes, em nenhum dos meus pseudo-relacionamentos que deram errado, eu nunca me senti assim, completamente sem chão. Tenho tanto medo do que Jesse vai dizer, tanto medo de que ele não queira mais falar comigo. Jesse sempre foi o meu melhor amigo, ele sempre esteve ali por mim em todos os momentos, e não consigo me imaginar sem tê-lo ao meu lado. Eu não sabia que o amor podia fazer isso com a gente. E mesmo assim, eu já o amo tanto.

Reúno toda a coragem que me resta e abro a porta.

A sala está escura, as luzes apagadas, apenas a TV ligada. Jesse está sentado no sofá, olhando pra televisão, e seu rosto parece um pouco sério. Ele olha em minha direção, e vejo que seus olhos parecem estar um pouco vermelhos, também. Eu entro, fechando a porta atrás de mim, e permaneço parada ali, olhando pra ele.

Ele me estende os braços e me oferece seu colo. E eu corro para ele o mais rápido que consigo, me aninhando em seus braços com toda a força que tenho.

Permanecemos assim por um tempo, abraçados tão forte que poderíamos nos fundir em um só. Tenho certeza que estou empapando a camisa dele com minhas lágrimas, ele mexe no meu cabelo, e eu sinto o seu coração batendo tão próximo ao meu.

Ergo minha cabeça e o encaro. Ele faz carinho no meu rosto.

“Eu pensei que você fosse me odiar.” - Digo. E ele sorri pra mim, um sorriso leve e sem humor.

“Porque eu faria isso?”

“Você não está chateado comigo?” - Pergunto.

“Não. Eu vi tudo, o Finn te beijou do nada, e você travou. Exatamente como quando eu te beijei pela primeira vez. E mesmo que você tivesse beijado o Finn por vontade própria, eu não ficaria com raiva de você.” - Ele diz, suas mãos brincando com uma mecha do meu cabelo.

“Então porque você me deixou lá? - Digo, descendo do colo dele e me sentando ao seu lado no sofá - “Porque não me atendeu quando eu te liguei?”

Ele olha para a tela da tv.

“Eu não estava com raiva de você. Só estava com medo.”

“Medo?” - pergunto, atraindo o rosto dele com minhas mãos, para que me olhe nos olhos.

“É. De que com esse beijo, você percebesse que ainda sente algo por ele.” - Ele respira fundo - “Quer dizer, ele é o seu primeiro amor, um dos caras mais populares do colégio, seu parceiro no Glee Club… que chances eu teria contra ele?”

Eu o beijo. O beijo mais sincero que já demos. E enquanto minha língua procura pela sua e ele me recebe em seus lábios, quero que ele sinta tudo o que não consigo dizer. Quero que ele me ouça, mesmo que as palavras sejam tão difíceis de formular. Quero que ele saiba como me sinto, o que penso, do que tenho medo. Quero que ele saiba de tudo.

“Sabe o que ele me disse, Jesse? Que ele não tinha como competir com você.” - Digo, acariciando seu rosto. - “E ele tem razão. Você é o cara mais importante da minha vida inteirinha. Você é o meu Jesse St. James Schuester, nascido em 23 de agosto e que detesta bolinho de chuva.” - Digo, e ele sorri - “Você é o cara que come quase uma pizza inteira todas as vezes, mas continua tão gato que eu não consigo nem imaginar como só beijou 3 garotas na vida. Você é o cara que eu penso quando acordo, quando estou tomando banho e quando vou dormir. Você é o primeiro cara que me tocou, que me fez querer ser tocada desse jeito.” - Estou olhando em seus olhos, ele olhando nos meus - “Você é o meu melhor amigo, Jesse. Você sabe tudo sobre mim, eu sei tudo sobre você, e eu sempre soube exatamente o que esperar de nós dois.” - E enquanto ele observa meus olhos, deixo fluir as palavras que sinto que preciso dizer - “E eu estou me apaixonando por você. E isso é assustador.”

Ele sorri, seus olhos estão quase tão molhados quanto os meus. E quando uma lágrima escorre pelo seu rosto, eu a seco e o beijo bem onde ela caiu.

“Eu amo você, Rachel. E isso é… confuso, e novo, e assustador também. Mas… eu amo você.” - ele sorri, e eu sorrio também - “E eu posso esperar até que você tenha 100% de certeza. Que você esteja totalmente segura de que é isso mesmo que você quer.”

Sei que parece loucura, considerando tudo o que eu disse, tudo o que eu sinto. Mas dar esse passo com Jesse é algo que me paralisa e me trava no lugar. Tenho tanto, tanto medo das mudanças que virão com o nosso relacionamento, da possível quebra da convivência familiar que sempre tivemos… Eu tenho tanta sorte de tê-lo, que ainda não consigo acreditar que é possível.

Eu só quero um tempo para organizar tudo dentro de mim mesma e definir como preciso agir.