POV Rachel

Seletivas. Finalmente chegou o dia, e estamos todos muito eufóricos. A seleção será no auditório da nossa escola, e estamos usando a sala do coral como local de concentração antes de subirmos ao palco. Seremos a 5ª escola a se apresentar, e somente as 3 primeiras colocadas seguem para as Regionais.

Estou sentada de frente para o espelho que o Sr. Schuster colocou na sala, uma espécie de penteadeira improvisada, para que possamos nos arrumar melhor. É quando vejo o reflexo de Blaine Anderson, vindo por trás de nós.

Kurt e eu nos levantamos de imediato, já na defensiva. Blaine tem estado quieto nas últimas semanas, mas nunca sabemos o que esperar dele. Já tirou a tala da perna, mas a cintura e o braço continuam enfaixados. Ele ainda não voltou a usar a jaqueta do time.

“Posso falar com você um instante?” – Ele diz, olhando diretamente para Kurt, e fingindo que eu não estou ali. Sam e Finn estão no vestiário masculino, terminando de se arrumar. E embora a sala esteja cheia, não vou deixar o idiota psicótico falar sozinho com Kurt de jeito nenhum.

“Nem pensar.” – digo, batendo o pé.

“Isso mesmo, pode dizer o que tiver que dizer na frente de Rachel.” – Kurt ainda teme um pouco a presença de Blaine.

Ele rola os olhos.

“Eu queria agradecer pelo que você fez naquele dia,” – ele está obviamente se referindo ao ataque que sofreu dos próprios “amigos”, com os quais não fala mais – “por ter me segurado e tudo o mais.”.

Estamos um pouco chocados de ouvir um pedido de desculpas de Blaine.

“Disponha.” – Kurt fala, e se vira de costas para Blaine, voltando a se sentar de frente para o espelho. Blaine, por algum motivo, permanece ali.

“É só que, porque você fez isso? Quer dizer, eu tenho tornado a sua vida miserável nos últimos 2 anos, que motivo você teria pra me defender?” – eu estou muda, e os dois interagem como se eu não estivesse ali.

“Porque eu não sou assim. Eu não sou igual a você.” – ele diz, olhando pra Blaine através do espelho, e retocando o pó do rosto. Blaine apenas balança a cabeça, como se já esperasse uma resposta dessa, e sai de perto de nós.

Kurt respira fundo.

“Achei que fosse desmaiar.” – Kurt fala, e eu concordo com ele. Blaine ainda nos intimida, apesar de tudo.

Eu pego a sacolinha que estava guardada na minha bolsa até agora.

“Vou ali fora rapidinho, ok? Você só me deu mais forças pra fazer uma coisa que eu realmente preciso fazer.”.

E saio dali, deixando Kurt sem entender direito.

POV Quinn

Estou no banheiro, retocando a maquiagem. Minha barriga, antes inexistente, está começando a despontar, mas por enquanto ainda passo por uma garota com uma barriguinha de gordura. Observo o vestido que estou usando, o figurino da apresentação, e outra lágrima corre pelo meu rosto. É a terceira vez que retoco a maquiagem por causa do meu choro. Essa é minha última apresentação no Glee Club, e eu deveria estar agradecida até por estar participando desta, pois tive sorte de minha folga cair justamente na quarta. Tenho trabalhado naquela lanchonete de segunda a domingo, e só tenho direito a uma folga semanal que nunca é num fim de semana. Puck ainda não conseguiu um emprego, e por isso está aqui também. Ele até já raspou o moicano, e não desiste de procurar todos os dias.

Vejo pelo reflexo do espelho que Rachel Berry entra no banheiro. Ela não consegue disfarçar o quanto acha que eu sou uma vagabunda que trai Jesse. Rolo os olhos e espero que ela não fale nada, não estou com paciência para julgamentos nesse momento.

“Oi.” – ela fala, timidamente.

“Oi, Rachel.” – respondo, corrigindo o estrago que o choro fez em minha maquiagem.

“Eu queria falar com você, rapidinho.”

Talvez sejam os hormônios, ou o fato de que não gosto da forma como ela me olha, mas eu resolvo que não vou aguentar calada. Me viro e a encaro.

“Olha, eu sei que você não me entende, mas por favor, me respeite, tá? Só tenta não me julgar.” – eu volto a olhar pro espelho. Ela se aproxima de mim, e coloca uma sacolinha de presente ao meu lado, na pia.

Eu a abro, um pouco desconfiada. São sapatinhos de bebê.

E eu volto a chorar mais uma vez.

“Eu comprei amarelos porque não sei se é uma menina ou um menino.” – ela parece envergonhada enquanto olha pra mim.

“Obrigada” – eu falo, com a voz embargada. Meu pequeno ainda não nasceu, mas eu já me sinto uma mãe. Ver os sapatinhos só me confirma do quanto eu já amo o meu bebê.

“Olha, eu te devo desculpas. Eu julguei você, e não tenho te dado o apoio que você precisa. Acho que eu estava com ciúmes, e querendo proteger o nome do Jesse, você sabe. Nós somos muito amigos.” – ela se senta na pia ao meu lado. É incrível, chega a ser inacreditável que ela não perceba que é dela que Jesse gosta. Eu entendi isso na primeira vez que vi a forma como ele olha pra ela.

“Tudo bem.” – eu falo, ainda olhando encantada para os sapatinhos. Não vou dizer a ela, mas esse é o primeiro presente que meu bebê recebeu. Isso realmente mexeu comigo.

“Você gosta de escrever?” – ela pergunta, de repente.

“Gosto...” – eu respondo, sem entender o motivo da pergunta.

“Ótimo, então o Jesse estava certo. Vai ser perfeito pra você.” – ela fala, toda entusiasmada.

“O que vai ser perfeito pra mim?”

“O estágio.” – ela diz – “Olha, eu sei que você já está trabalhando, e sei que não falei nada com você, mas é que surgiu uma vaga de estágio lá no trabalho da minha mãe, e eu tomei a liberdade de dizer a ela pra indicar você. Aliás, nós já mandamos o seu currículo. Você tem que comparecer lá na sexta feira para uma entrevista, mas parece que gostaram do seu perfil.” – ela está falando tudo de uma vez só – “O salário não é grande, mas o legal é que a carga horária é reduzida, e você pode organizar ela entre segunda e sexta da forma que ficar melhor pra você, o que significa que...”

“Eu não vou precisar sair do Glee Club.” – completo automaticamente, em voz alta. E quando a ficha cai, eu praticamente me jogo em cima de Rachel, envolvendo-a em um abraço.

“Mas... você não prefere ficar com a vaga pra você?” – pergunto, secando os olhos, e ainda sem entender porque ela me indicou.

“Não, eu não gosto de escrever, além do mais é pra trabalhar todos os dias perto da minha mãe, não ia dar certo.” – ela ri – “Minha mãe ia indicar o Jesse, mas ai eu pensei em você. Não se preocupe, ele não se importou nem um pouco.” – E esse é o Jesse que eu conheço, o cara que abre mão das coisas por aqueles que ama. Eu espero que Rachel se dê conta do quanto ele é especial, e não o faça sofrer.

Eu a abraço novamente, e estamos rindo juntas, quando a porta do banheiro se abre. É Tina Cohen-Chang.

“Opa, que isso, casal novo? Como devo chamá-las, Faberry?” – ela ri, e nós rimos também – “O Sr. Schuster pediu pra chamar vocês, já está quase na nossa vez.”.

Nós saímos de lá, apressadas.

“Eu estou com um fôlego renovado” – digo, sorrindo – “e pronta para subir naquele palco e arrasar!” – digo, e elas concordam comigo, sorrindo também.

POV Jesse

Estou sentado no auditório do colégio, esperando o New Directions subir ao palco. Meu pai acabou de se sentar ao meu lado, e o rosto dele é de pura alegria. Meu pai é treinador do Glee Club desde que começou a lecionar no Mackinley High, e minha mãe e eu costumamos vir assistir as performances. Ela também estava lá no camarim, ajudando as meninas a se arrumares, e se senta ao lado dele.

Respiro fundo. Desde que comecei a namorar Quinn, eu sentia orgulho de vê-la se apresentando nos palcos, ela canta e dança muito bem. Mas ver Rachel, cujo sonho é ser uma estrela, finalmente subindo em um palco para brilhar, mexe comigo de uma forma indescritível. Como o melhor amigo que a viu crescer e compartilhar os seus sonhos, e como o homem que vê a garota que ama resplandecer de tanta alegria.

Ela será a solista da noite, e estava eufórica quando conversamos hoje pela manhã. Meu coração está acelerado, e mal vejo a hora do início da apresentação.

A verdade é que eu gosto das apresentações. Gosto de ver as coreografias, que me lembram das minhas aulas de dança da adolescência, e gosto das canções também. Eu não comento muito com o meu pai sobre isso, e nem sequer com Rachel, mas acho que gosto dessa coisa de Show Business, e até assisto a alguns musicais pela internet, talvez seja a influência de Rachel falando sempre sobre isso na minha cabeça. De qualquer forma, o palco não é pra mim, eu só me apresentei algumas vezes com a cia de dança da qual fiz parte, e embora eu tenha gostado muito da sensação, sou mais um cara acadêmico. Se tudo ocorrer conforme o planejado, devo cursar Direito ano que vem.

O locutor anuncia que é a vez do New Directions, e um refletor se ilumina no palco, enquanto a introdução da música favorita de Rachel começa a tocar. Quando Quinn não pôde ser a solista, meu pai precisou de uma canção que fosse cativante, e de uma performance convincente. Rachel apresentou essa música, e segundo a descrição do meu pai, ele soube na hora que seria ela.

Música: Don’t Rain On My Parade

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=8xuIDbrZv4g

Não me diga para não viver

Só sentar e vagabundear

A vida é doce e o sol é uma bola de manteiga

Não traga a nuvem para fazer chover no meu desfile

A voz de Rachel surge de traz do auditório, e todos nos viramos para observá-la, que surge cantando de traz das cortinas. Meu pai sempre gosta de fazer coisas inesperadas, para surpreender os juízes. Nem eu sabia que seria assim.

Não me diga para não voar

Eu simplesmente tenho que fazer isso

Se alguém leva um tombo

Sou eu e não você

Quem disse que você está autorizada a fazer chover no meu desfile

Rachel passa pelo corredor do auditório, indo em direção ao palco. Seu rosto é fascinante, a emoção transbordando em sua voz. Sem deixar de cantar perfeitamente, ela interage com a plateia, olhando em seus olhos, e o controle que ela tem da própria performance é contagiante. Ela está se aproximando do lugar onde estamos sentados, e eu estou sorrindo como o maior idiota desse planeta, quando ela simplesmente se senta no meu colo, e canta um trecho da música olhando diretamente pra mim. Meu coração pode explodir a qualquer momento dentro de mim.

Eu vou marchar com a minha banda

Eu vou tocar o meu tambor

E se eu for mandado embora

É a sua vez de arremessar, senhor

Pelo menos eu não fingi, chapéu, senhor

Eu acho que eu não consegui

Mas se eu sou a rosa de perfeição absoluta

A sarda no nariz de tez da vida

Uma Cinderela ou a menina dos seus olhos

Ela levanta do meu colo, e continua seguindo para o palco, o riso do meu pai indica que o momento partiu da inspiração e emoção de Rachel. Ela sobe no palco, e o restante do New Directions entra por trás do palco, enquanto ela finaliza a canção.

Tenho que voar uma vez

Eu tenho que tentar outra vez

Só pode morrer uma vez, certo, senhor?

Ooh, a vida é interessante

Interessante e, veja

Eu tenho que pegar a minha parte, senhor

Prepare-se para mim, amor

Porque eu sou um que comparece

Eu simplesmente tenho que marchar

O meu coração é um baterista

Não traga a nuvem para fazer chover no meu desfile

Eu vou viver e viver agora

Conseguir o que quiser, eu sei como

Uma vez só para a coisa toda

Uma jogada só e o sininho vai fazer barulho

Olho no alvo e bam

Um tiro, um tiro e bam

Hey, Sr. Arnstein, aqui estou eu

Eu vou marchar com a minha banda

Eu vou tocar o meu tambor

E se eu for mandado embora

É a sua vez de arremessar, senhor

Pelo menos eu não fingi, chapéu, senhor

Eu acho que eu não consegui

Prepare-se para mim, amor, porque eu compareço

Eu simplesmente tenho de marchar, o meu coração é um baterista

Ninguém, não, ninguém, vai fazer chover no meu desfile!

A plateia explode em palmas, e estou batendo minhas mãos tão rápido uma na outra que quase sinto que elas começam a doer.

A próxima canção é um solo de Rachel e Finn, e reconheço a melodia da minha canção sendo tocada ao fundo. Eu entreguei a letra e as partituras com a melodia à Rachel, para que ela a usasse como sua no Glee Club, mas sinceramente não esperava que meu pai fosse gostar tanto dela a ponto de usá-la na apresentação de hoje. E não se trata de nepotismo, já que eu pedi à ela que não dissesse a ninguém que fui eu quem escrevi a canção. Não me importo de não obter crédito por ela. Eu não escrevo por querer nada em troca, escrevo para expressar o que sinto e penso, e para me libertar de sentimentos que mantenho aprisionados dentro de mim. É natural que eu tenha escolhido dar a canção à Rachel. Afinal, a canção é sobre ela.

Música: Pretending

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=JKTbP8MBO94

Cara a cara e de coração para coração

Estamos tão perto e tão distantes

Eu fecho meus olhos, eu me afasto

Isso é só porque eu não estou bem

Mas eu permaneço firme, fico forte

Me perguntando se ainda pertencemos um ao outro

Será que algum dia vamos dizer as palavras que sentimos?

Alcançar no fundo, por baixo

Derrubam todas as paredes

Será que alguma vez teremos um final feliz?

Ou será que vamos sempre fingir?

Estaremos sempre fingindo

Finn e Rachel estão cantando a minha canção, e tenho que admitir que as vozes deles combinam. Eles não só cantam, mas interpretam também, e sinto ciúmes da forma como ele a olha, embora ela não seja minha, e sim dele. Eu tenho evitado estar próximo quando eles estão juntos, e considerando que eles respeitam os amigos e não ficam se agarrando em público como alguns casais de namorados fazem (o que me irrita profundamente), não tem sido assim tão desagradável estar perto deles, embora eu sinta vontade de matar o Finn todas as vezes que coloca os braços ao redor dela.

Quanto tempo eu fantasio

Faço de conta que ainda está vivo

Imagine que eu sou bom o suficiente

Se pudermos escolher aqueles que amamos

Mas eu permaneço firme, fico forte

Me perguntando se ainda pertencemos um ao outro

Será que algum dia vamos dizer as palavras que sentimos?

No fundo, por baixo

Derrubam todas as paredes

Será que alguma vez teremos um final feliz?

Ou será que vamos sempre fingir?

Eles estão cantando, e sei que a canção está quase no fim. O New Directions faz o coro da música, deixando-a ainda mais bonita, e Rachel e Finn incluíram algumas notas que se completam muito bem.

Será que (oh oh) sempre (oh) mantendo segredos seguros

Cada movimento que fazemos

Parece que ninguém está abrindo de mão

E é uma vergonha

Porque se você sente o mesmo

Como eu vou saber

Será que algum dia vamos dizer as palavras que sentimos?

No fundo, por baixo

Derrubam todas as paredes

Será que alguma vez teremos um final feliz?

Ou será que vamos sempre fingir?

Será que iremos sempre fingir?

Estou me preparando para bater palmas ao fim da canção, quando o inesperado acontece. Rachel e Finn se olham intensamente. E se beijam.

Estou congelado em minha cadeira.

“Isso estava no script?” – inclino a cabeça para o lado, e pergunto ao meu pai, que está com uma expressão de choque no rosto que é quase tão grande quanto a minha.

“Não.” – ele respira fundo.

O silêncio no auditório é geral. Não há palmas, não há reação alguma. Rachel e Finn voltam para perto do restante do grupo, e começam a cantar a música que Finn escreveu.

Música: Light Up The World

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=1hTfCwLpbaw

Leva um tempo para que a plateia volte a reagir. A música de Finn é animada e contagiante, e logo as pessoas começam a se levantar e bater palmas. Meus pais se levantam também, mas eu permaneço sentado. Eu ainda estou em choque, ainda estou triste, e ainda estou com raiva. Eu nunca tinha visto Rachel beijando Finn, e embora em alguma parte da minha mente eu ainda me lembre de que ela não é minha, não consigo deixar de me sentir traído. Como se toda a esperança que eu inutilmente ainda mantinha tivesse sido cruelmente arrancada de mim.

A música termina, a plateia mais uma vez aplaude intensamente. Rachel está sorrindo, todo o coral está se abraçando e sorrindo, e eu estou sério, ainda sentado na minha cadeira. Nem sequer tenho vontade de me levantar.

POV Rachel

“Chica loca, cuál es tu problema? Y usted, ‘boneco de Olinda,’ vamos a perder a causa de ustedes dos!!!” – Santana está gritando em espanhol, apontando para Finn e eu. Sam a está segurando pela cintura, e ela está chutando o ar nesse momento.

Não consigo entender porque a reação do grupo foi tão negativa. Santana começou a gritar assim que colocamos o pé nos bastidores.

“Ela está certa. Os juízes vão achar isso antiprofissional.” – Quinn, abraçada em Puck, fala, visivelmente entristecida.

“Não acho que vá ter tanto problema assim, nós simplesmente passamos a emoção que nó sentimos.” – Finn envolve meus ombros com o seu braço, e eu apoio a cabeça no seu peito.

“Emoção demais, Finn, emoção demais.” – Sr. Schuster entra na sala, com Jesse e a Sra. Schuster atrás dele. Jesse fica parado perto da porta, e eu aceno pra ele. Ele continua parado no mesmo lugar, olhando pra mim com uma expressão séria no rosto.

“Esse tipo de comportamento não costuma ser tolerado pelos juízes.” – Sr. Schuster continua falando – “Entendam bem, vocês são adolescentes, a maioria ainda é menor de idade. Ainda que nós estivéssemos apresentando uma peça, tudo teria que ser aprovado por um comitê antes. Eles podem alegar qualquer coisa, que nós estamos incentivando comportamentos inadequados, até que fugimos do tema da apresentação, que não envolvia interações românticas explícitas.”.

Sr. Schuster está nos preocupando, e estou com medo de ter prejudicado o grupo e causado nossa derrota. No momento, pareceu tão certo beijar Finn, a química que fluía entre nós era visível e quase palpável. Eu sei que agi por impulso, mas ainda não consegui pensar o suficiente para me arrepender.

Jesse chama o pai, e sussurra algo no ouvido dele. Sr. Schuster balança a cabeça em afirmação, e Emma faz carinho no ombro dele, quando ele passa por ela. Ele sai da sala sem nem sequer olhar pra mim.

Temos 10 minutos de descanso antes que seja anunciado o resultado. Não entendo porque Jesse já está indo embora. Ficamos tantos anos separados, e eu quero que ele esteja aqui agora, eu quero poder comemorar com ele quando ganharmos.

Sr. Schuster nos libera para bebermos água, lancharmos, ou o que decidirmos fazer. E eu saio correndo atrás de Jesse.

Ele está andando rápido pelo corredor quando o encontro. Grito o nome dele, e ele para, e olha pra mim. Nunca o vi com uma expressão tão enfurecida no rosto.

“Hey, porque já está indo embora?” – pergunto, chegando mais perto dele.

“Eu só não quero ficar, só isso.” – ele responde friamente.

“Mas eu quero que você fique!” – estou usando minha voz que costuma convencê-lo a fazer o que eu quero. Não dá certo dessa vez.

“Pra que? Pra assistir outra palhaçada dessas? Desculpa Rachel, mas não sou obrigado!” – ele se vira e está saindo de novo.

“Que isso Jess, foi só um beijo!” – uso o apelido de criança, que parece deixa-lo ainda mais chateado. Provavelmente ele está preocupado com a imagem do pai. O que o Sr. Schuster disse faz todo o sentido, e embora eu não tenha pensado em nada disso na hora, confesso que estou com medo, agora.

“Não acredito que você usou a minha música pra isso, Rachel, a minha música!”

“Jesse, eu sei que você tá preocupado com o seu pai, mas olha, Finn e eu podemos conversar com os juízes, explicar que ele não teve culpa e...”

“Não é isso! Caramba, você não entende mesmo, não é?” – ele está gritando, e eu nunca o vi desse jeito.

“Então me explica!” – eu grito de volta, e estou prendendo o choro na garganta. Não consigo entender porque ele está me tratando desse jeito, num dia que é tão importante para mim.

“Deixa pra lá, Rachel.” – ele sai andando mais uma vez. Eu estou ficando com raiva dele, ele não vai estragar o dia mais feliz da minha vida por causa de um pitaco que nem quer me explicar de onde surgiu.

“Porque você se importa tanto, então?” – minha voz sai estrangulada, o choro escapulindo da minha garganta.

Ele se vira para mim. Avança rapidamente na minha direção. E me beija.

Sua mão está segurando minha cabeça, e seus lábios estão tocando os meus com força e intensidade. Ele está com os olhos fechados, e eu estou paralisada no mesmo lugar, sem saber o que fazer, sem saber como agir. O beijo é rápido, dura apenas alguns segundos, e quando ele me solta, eu estou chocada, parada no mesmo lugar, todos os neurônios do meu cérebro foram desligados, e não sei como mexer um músculo sequer do meu corpo.

Ele se vira e vai embora antes que eu consiga me mover, o gosto dos seus lábios preso para sempre nos meus.