Eu não gritei. Não muito alto. Meu pai e Emma costumam ter um sono pesado, mas eu não queria que eles viessem aqui agora. Ter Rachel como testemunha já era mais do que suficiente. Então, para disfarçar o desconforto, eu soltei um ruído de dor.

Rachel piscou os olhos, e acordou. Seu braço já não estava mais no lugar atingido. Antes que ela pudesse ver alguma coisa, me virei e agarrei uma almofada.

“Hey, o que foi?” – ela disse, se espreguiçando.

“Coisas.” – disse. Nunca fui bom em mentir para ela – “Preciso ir ao banheiro.” – falei, jogando o travesseiro pro lado. Mas antes que eu tivesse tempo de levantar, Rachel se esticou para acender o abajur, que fica no criado-mudo ao lado da cama. Do meu lado da cama. Então ela viu.

“Ai meu Deus!” – ela disse, com espanto – “Jesse, você está excitado!”

E eis que toda a minha dignidade se foi.

Me joguei na cama, e enterrei minha cabeça num travesseiro.

“Caramba!” – ela disse.

“Juro que essa sua naturalidade ainda me assusta.” - disse, com a cabeça no travesseiro.

“Ual! O que foi que você sonhou?” – ela me perguntou, com animação na voz. Como se tivesse visto minha primeira espinha e não minha primeira...coisa.

“Não sei.” – eu disse. Ela ficou em silencio, e como isso é quase impossível vindo da parte dela, levantei a cabeça para vê-la. Ela estava me encarando com cara de incrédula, como se eu estivesse lhe escondendo a identidade do assassino do presidente Kennedy.

“Sério, não me lembro.” – disse, erguendo as mãos. Ela olhou para os pés, sentada sobre eles como uma índia. Estava usando um dos meus shorts e minha camisa favorita de dormir. Nós sempre fazíamos isso, quando queríamos que ela dormisse aqui. O velho truque de estar tão pronto para dormir que os seus pais não vão ter coragem de dizer não. Quando eu ia pra casa dela, levava uma camisa e um short na mochila, em caso de dormir lá. Ao menos que eu quisesse dormir de camisola.

“O que?” – perguntei.

“Você...”

“Eu?”

“Você sabe, teve aquela coisa que..., bem participa na formação dos bebês, não foi?” – ela perguntou, meio envergonhada.

E eu afundei minha cabeça no travesseiro outra vez.

“Isso é tão humilhante.” – disse, com a voz abafada pelo travesseiro.

“Qual é, eu já aprendi essas coisas na aula de ciências.” – ela disse. Continuei com a cabeça afundada no travesseiro. Quem sabe se eu ficar sem ar esse momento desapareça?

“Então foi desagradável, sim, eu sei que foi. Mas acho que há um jeito de ficarmos quites.” – ela disse, e mesmo quando eu ergui a cabeça do travesseiro para olha-lá, ela não disse mais nada.

Dois anos depois, eu finalmente entendi o que ela quis dizer.

Eu estava deitado na minha cama, olhando para o teto, esperando a ligação diária dela. Ela estava 2 horas atrasada. Então, quando o telefone tocou, eu atendi no primeiro toque.

“Fala, Barbra.”

“Aconteceu. Minha primeira menstruação. Enquanto eu estava dormindo.” – ela disse, de uma vez. Só consegui ficar em silêncio, com a boca aberta.

“Estamos quites, agora.” – ela disse, e nós dois acabamos rindo.

Desde o momento constrangedor, Rachel e eu dormimos em camas separadas. Não que ela tenha ficado muito feliz com essa história, mas eu achei melhor assim. Mais apropriado.

Quando termino de arrumar nossas camas, vou para o outro banheiro, e tomo um banho rápido. Esqueci de pegar minhas roupas, então me enrolo na toalha, e saio para o quarto. Rachel está saindo do meu banheiro nessa hora. Ela ainda está usando os meus shorts e a minha camiseta de dormir.

“Sua mala está aqui no chão.” – eu digo, pegando minhas roupas no armário.

“É, eu sei. Mas eu gosto de dormir com as suas. Gosto do cheiro delas.” – ela diz, brincando com o cabelo.

Corro para o banheiro, e visto minhas roupas. Quando volto, Rachel está sentada na minha cama, visivelmente cansada. Desejo-lhe boa noite, apago a luz e deito no meu colchão.

Cinco minutos se passam. E Rachel está virando de um lado pro outro na minha cama.

“Não consigo dormir.” – ela diz, se sentando.

“O que há de errado?” – pergunto, me sentando também.

“Sinto sua falta.” – ela diz. E não há nada mais que importe, além do fato de que eu também sinto falto dela. Sinto tanta falta dela como se ela ainda estivesse no Canadá.

Não sei se é por causa da frase, que usávamos todas as vezes que nos comunicávamos enquanto ela estava longe, não sei se é simplesmente porque eu não consigo negar nada que ela me peça, mas no próximo segundo, já me levantei do meu colchão, e me deitei ao seu lado na cama.