All My Loving

Why are you crying? Part 2


Paz.

Era isso Quinn sentia no momento, brincando com Marley ao redor do palco. As duas amigas estavam em seu centro, com a loira imensamente tentando alcançar a garota de olhos azuis.

— Mais alguns passos, Q.- Disse, sem movimentar um músculo, só esperando pela outra.

— Eu estou tentando!- Um passo foi dado com a muleta, seu pé quase inteiramente apoiado no chão oco de madeira grossa e estável.

As cinco semanas de fisioterapia haviam inspirado Quinn a ousar um pouco mais quando se tratava do ferimento. Ela sabia que, em pouco tempo, tiraria os pinos que rondavam sua perna e se encorajava a colocá-la em provações. Conduta que, de jeito nenhum, Rachel aprovaria, mas que ela não fazia questão de mostrar.

A jovem deu mais um passo até Marley, colocando a língua para fora, em provocação. Os olhos quase verdes desviando-se dos pés para olhar a desafiante, que permanecia parada.

— Sabe que estou chegando, Supergirl.

— Não me chame de Supergirl, Fabray!

Risos ecoaram pelo ambiente, ricocheteando nas paredes aveludadas em vermelho e espalhando-se lentamente. O riso, porém, não era a única coisa que se alastrava.

— Não irá mesmo se mexer, querida?- Perguntou a cantora, somente um passo distante. Ela sentia algo novo no ar e percebeu que os olhos de sua amiga brilhavam anormalmente, mas algo em sua mente fez com que essa informação fosse colocada de lado, e então ela deu o último passo. A respirações já batiam uma na outra. Marley suspirou devagar, dando um sorriso.

— Está tudo bem?

— Sim.

— Hm.- A morena tomou uma respiração funda.- Na verdade, talvez eu queria me mover agora.

Quinn sentiu seu estômago afundar com o intensidade do seu olhar, que parecia penetrar todo o seu ser. Ela não gostava disso, ela não queria isso.

— Marley...- Ela sussurrou, sentindo a garota colocar as mãos em sua bochecha.- O que você está fazendo?

— Por favor, Quinn, me deixe falar.- A loira fechou os olhos com força. Ela sentiu o que aquilo significava, e já suas sentia as consequências.- Quando nós nos conhecemos, há, não sei...sete anos atrás?- Ela riu, sentindo a confusão nos olhos avelã, mas ela já se cansava de guardar para si.- Tudo que eu queria era te fazer feliz, te amar como você merecia ser amada e sentir você como eu queria sentir. Infelizmente, nem tudo aconteceu da forma que queria, e tivemos de nos separate por três anos. Pensei que esse sentimento tivesse acabando dentro de mim, Quinn...- As mãos de Marley se encaixaram na mandíbula de Quinn.- Mas tudo que eu quero é te beijar de novo e sentir que a paixão é recíproca.

Quinn sentiu o mundo rachar embaixo de seus pés. As rachaduras tornando-se maiores com o passar dos segundos, a queda era uma certeza.

Suas mãos massagearam seus próprios cabelos, a fim de acalmar-se. Depois, retiraram as de Marley das suas bochechas, dessa forma, passando a segurá-las.

— Você sabe o quanto eu te amo.- Apertou suas mãos levemente, algumas lágrimas preenchendo seus olhos por saber o que faria a seguir.- Foi minha primeira paixão, Marley, você foi incrível, o nosso "nós" foi maravilhoso. Só que ele acabou pra mim, não posso mentir para você...eu não sou mais apaixonada. Nem mesmo posso entrar em relacionamentos agora, você sabe como a mídia é, eu tenho um papel a interpretar.
Marley deixou algumas lágrimas caírem, antes de se afastar e separar suas mãos das de Quinn. A cabeça baixa e a respiração profunda.

Até que ela se levantou novamente, carregando olhos que lembravam o mar, antes uma gigantesca tempestade, quando as ondas começam a agitar-se.

— Me responda uma coisa, Q:- A loira sentia como se agulhas fossem fincadas em seu coração.- Você ligou para ela?

A pergunta foi direta. Um nome surgiu na cabeça de Quinn "Molly Howard", a garçonete que deu seu telefone.

— Sim...Sim, eu liguei para ela.- O arrependimento gritava em seu peito.

— Sabe o que é pior, Quinn? Essa garota vai ter mais de você do que eu mesma vou.- Ela negava com a cabeça, incrédula.

— Marley, por favor...

— Você se lembra do que me disse quando terminamos?- Perguntou a morena.

— Eu vou voltar para os seus braços um dia.- Disseram em uníssono.

Quinn se lembrava de tudo daquele momento.

Flashbacks

O dia de verão estava morno e agradável. As duas jovens estavam sentadas no chão da varanda, absorvendo a tensão que exalavam. Quinn corria suas mãos pelos braços de Marley, que sorria de leve.

— Londres é linda, Q. Sabe que vou te mandar fotos todos os dias, certo?

— Claro que sei.- Analisou seu rosto, os olhos presos nas esferas azuis clara. O olhar transmitia a paz que precisava para continuar, ela só tinha uma certeza: - Eu vou voltar para os seus braços um dia. Nós somos feitas uma para a outra.

Marley sorriu, conferindo se não havia alguém ao redor e dando um beijo delicado nos lábios de Quinn, que fez o mesmo em seu pescoço.

— Por que despedidas são tão difíceis?- Suspirou, desviando seu olhar para a rua à sua frente.

— Três anos de arte em Londres, Supergirl. Vai valer a pena.

A morena deu um tapa leve no ombro de Quinn, para depois apoiar sua cabeça lá. Ela sentia a saudade em cada parte se seu corpo, corpo que Quinn conhecia tão bem.

— Odeio quando me chama de "Supergirl".

— Você é a cara dela, já disse.

— Só um pouco parecidas.- Pronunciou a morena, divertida.

— Totalmente parecidas.

Na rua, um carro preto parava, encostando-se à calçada. As duas jovens sentiram-se desoladas quando a mãe de Marley abriu a janela e gritou:

— Vamos, Mars?

— Estou indo!- Respondeu, vendo a porta se abrir e Millie Rose aproximar-se. Seu olhos analisaram os traços de sua ex-namorada com uma angústia. Seria a última vez que apreciaria sua beleza pessoalmente em três anos.- Vamos nos ver de novo.- Prometeu, e Quinn assentiu, as lágrimas caindo descontroladamente.

— Já se despediu de sua amiga?- Falou Millie, sinalizando Quinn com a cabeça.

— Sim, mamãe.

— Tudo bem, Q?- Sua voz era grossa e decidida.

— Tudo sim, senhorita Rose.- Disse, limpando seu choro com o dorso da mão.

— A amizade de vocês é uma das coisas mais lindas que já vi.- Afirmou a mais velha, sorrindo.- Logo se verão de novo.- Seus olhos encontraram sua filha, não entendendo o suficiente de seu sofrimento.- Precisamos ir, querida.

Fim do flashback.

— Claro que eu me lembro.

Marley suspirou, tentando manter-se firme.

— Quinn, eu só quero te avisar que se você continuar desse jeito, tudo vai se perder. Tudo, cada pedacinho. Se deixar de tomar cuidado com as pessoas que se relaciona, a mídia vai descobrir a verdade sobre sua sexualidade. Você ainda tem noção do que seu pai pode fazer com a sua vida assim? Você ainda depende dele e sabe disso.

A loira deslizou sua mão para os bolsos, segurando o gorrinho azul que já não a deixava. Sua cabeça passeou pelas lembranças de sua frágil avó. Algumas lágrimas molhavam sua jaqueta de couro.

— Sinto muito.

Marley lhe deu um sorriso triste, para logo depois dizer:

— Espero que seja feliz, Q. Com quem quer que conquiste seu coração.

Dessa maneira, deixou a amiga. Seus passos ecoando no auditório vazio. Ela sentou-se na beirada do banco de seu piano e deixou que sua mente flutuasse no meio de sua própria confusão. Tudo seria tão mais fácil se tivesse o controle que precisava, mas não possuía nenhum.

— Afinal, do que adianta amar ter controle e ser tão instável?

Ela retirou a mão de seus bolsos e apoiou o gorro azul no canto do piano. Seu peito era ocupado por um grande vazio, os olhos claros vasculharam o piano antes de encherem-se de lágrimas e acompanharem o ritmo calmo que começou a ser produzido pela cantora. Uma respiração profunda, lágrimas impedidas. Ao longe, Rachel Berry atravessava a porta.

O corpo da menor arrepiou-se assim que reconheceu a melodia, o coração batendo intenso contra o tórax. Ela se movia diretamente até o piano, consciente de que sua aproximação não tinha sido notada. Sua atenção foi tomada pelo sofrimento da loira à sua frente e, quando percebeu, tinha parado para admirar suas mãos percorrendo todo o instrumento e a forma como a música combinava com seu tom de voz.

They told me once nothing grows

When a house ain't a home

Is it true, honestly

When it's all a part of me?

A couple years of waiting rooms

Finding God and lose him too

Wanna scream but what's the use?

Foi então que a fisioterapeuta percebeu, no canto do piano, a presença da pequena peça de roupa colorida. Algo naquilo atingiu diretamente todo o seu corpo, ela sabia sua origem e agora também percebia o conforto que o objeto trazia a Quinn.

— A filha...- sussurrou.

They told me once nothing grows

When a house ain't a home

Is it true, honestly

When it's all a part of me?

A couple years of waiting rooms

Finding God and lose him too

Wanna scream but what's the use?

As mãos pararam de soar por um instante. Instante no qual Rachel apareceu em seu campo de visão, abraçada ao próprio corpo, com o jaleco e uma tiara delicada na cabeça. Os olhos avelã encontraram os
castanhos e a música foi terminada.

And when you decide it's your time to arrive

I've loved you for all of my life

And nothing could stop me from giving a try

I've loved you for all of my life

Love you more

Somehow I'll still love you more

O silêncio anterior retornou, até que Rachel se apoiou no piano e começou a encarar o instrumento. Ela sabia, pela letra da música e expressão de Quinn que a loira não estava bem, ao olhar melhor, era até possível ver um antigo rastro de lágrimas refletir em seu rosto. Sua vontade era de aproximar-se e conversar com a loira, mas ela não poderia. Não vestindo seu jaleco, ou com as palavras de Santana implorando "para que não se aproximasse" presas na cabeça.

A morena pensou no motivo de sua chateação. "Talvez tivesse a ver com o garçom que lhe mandou um número na lanchonete". Rachel não chegou a vê-lo, por causa da grande confusão daquele dia, mas a experiência pode ter sido frustrante para Quinn. Era exatamente por isso que a morena evitava relacionamentos, quer dizer, sempre tinha evitado entrar em um.

— Sempre quis tocar piano...Me imagino cantando no palco da Broadway às vezes, tocando e talvez cantando Funny Girl ou algo tipo.- Suas mãos arrastavam-se pela tampa do instrumento, os olhos morenos não deixando a expressão de Quinn. A atenção da loira passou a acompanhar os dedos de Rachel, sentindo uma movimentação estranha em seu íntimo. O contato visual havia retornado quando ela disse:

— Talvez eu te ensine um dia, quem sabe.- Sua voz ainda estava instável, mas a loira permitiu-se passar tranquilidade e esconder a grande confusão que vivia.

— Eu não recusaria.

Quinn assentiu, seus olhos pararam no gorro azul, que ainda permanecia em cima do piano. Assim, o retirou de lá, sabendo que era olhada por Rachel. Ela não se sentia exatamente exposta, era mais como "descoberta". A ideia não era tão ruim.

— Ficou sabendo do trato da tour, certo?

— Sim, eu aceitei. Imaginei que em algum momento o final de seu tratamento e o início de sua tour coincidissem.

— Pensei que não acompanhasse o meus shows.- Quinn ergueu as sobrancelhas, um olhar divertido cruzando seus olhos opacos de tristeza.
Rachel balançou a cabeça, sorrindo abertamente.

— Eu não acompanho, mas tenho uma amiga que é sua fã e não para de dizer o quão feliz ela está porque comprou um ingresso para o show que vai acontecer aqui.

A fisioterapeuta observou a expressão da cantora suavizar-se, parecendo genuinamente feliz com a afirmação.

— Qual o nome dessa amiga?

— Tina.

— Tina, huh?- Saboreou.- Diga a ela que ficarei muito feliz ao vê-la em meu show.

Rachel cruzou os braços, franzindo o cenho e respirando fundo. Quinn era tão inconsistente que chegava a irritá-la, em algumas horas tão irresponsável e impulsiva, em outras calma e carinhosa. "Como alguém se mantinha assim?" Perguntava-se. Ela imaginou o quão entusiasmada Tina ficaria só de saber que foi lembrada por Quinn.

A loira analisou a confusão de Rachel e a apreciou por alguns segundos, sentindo uma grande satisfação pessoal. Logo depois, suas mãos se estenderam até suas muletas e ela tentou se levantar, muito cuidadosamente, para não forçar sua perna em recuperação.

— Gostei de ver que está tomando cuidado.- Rachel disse ao recolher sua maleta.

— Claro que estou.- Lembranças da dança há poucos minutos atrás preencheram a garota. O vazio foi sentido novamente, mas a cantora preferiu ignorá-lo e dar seu braço para Rachel, a qual estava séria novamente, como todas as vezes que começavam suas sessões de fisioterapia.

Os passos foram dados de forma sincronizada, e Rachel analisava o andar da paciente. Quinn sentiu seu corpo arrepiar ao perceber as esferas amendoadas alastrando-se por todo seu corpo e encarou o rosto da professional, que engoliu em seco e desviou-se.

...

Era fim de tarde quando a morena deixou a mansão dos Fabray. Da janela de seu quarto, Quinn observou um carro parar na calçada e um garoto desajeitado e alto sair do carro para abrir a porta para ela. No momento, pensou que tivesse alucinando, mas lá estava Finn, buscando Rachel com um sorriso no rosto. Todas as partes de seu corpo que Rachel havia tocado formigavam com a cena, um suspiro invadiu o quarto.

Quinn se mexeu desconfortável ao ver Rachel dar um beijo na bochecha do rapaz e olhá-lo com carinho, entrando no carro. Algo quente invadiu suas veias, e a loira lembrou-se do quão triste a garota estava no dia do banheiro. Nunca pensou nela como alguém que cedesse a um relacionamento, o que estaria acontecendo? Estaria ela feliz? Por que nada foi lhe falado? Deveria Rachel ter contado algo?

Repentinamente, uma parte dela quis ligar para Marley e passar a tarde toda conversando inutilidades, mas ela não podia, não agora. Foi enquanto o carro deixava a rua, que Quinn Fabray saiu apavorada até o quarto de seu porto seguro. Sua perna reclamou com puxões, algumas lágrimas marejarando seus olhos. Ela agarrou-se à porta e chegou onde queria.

— Hey, Q! Quanto tempo faz que não te vejo...- Disse a voz rouca.- Por que está chorando? Alguém te ofendeu?

— Não, vovó.- Ela sorriu forçadamente para a mais velha. Sue Sylvester, sentada na ponta da cama, estava vestindo um de seus antigos uniformes de treino, um azul, com listras brancas na lateral. Seu cabelo quase todo branco constratava lindamente com seus olhos preocupados e envelhecidos.

— Abraça a vovó.- Pediu a Sue, e assim que o fez, Quinn desabou em um choro que não acabaria tão cedo. Os braços circundaram delicadamente a antiga treinadora, que fazia leves carinhos em suas costas. A mente da cantora confusa demais para chegar a uma conclusão, seus pensamentos alternavam entre a visão de Marley a deixando e Rachel entrando no carro de Finn, aparentando felicidade.

— Eu sinto que a perdi, a perdi mais do que posso imaginar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.