P.O.V Kit

Não sabia mais o que pensar, os protestos de Effy da última vez que a vi, seus gritos...

Pude ouvi-la gritar do outro lado daquelas portas, era insuportável, tudo o que eu queria era invadir aquele quarto e tirá-la de lá. Mas não tinha como, tudo o que eu fui capaz de fazer foi tentar inutilmente nocautear os dois brutamontes que me agarravam me impedindo de salvar Effy.

Ainda não havia tido notícias dela, na verdade esta era a última lembrança que vagava em minha mente depois daquele dia. Não me lembro de mais nada, tudo o que ecoava em minha mente eram os gritos cortantes de Effy em meus ouvidos. Eu não havia a visto desde então.

Eu me perguntava se Effy poderia estar do mesmo jeito que eu, talvez até pior.

Me perguntava se era possível, ela não devia estar nada bem. Effy nunca havia passado por isso antes, o choque na mente dela poderia ter tido muito mais impacto nela do que em mim.

Bom, eu ainda não tinha saído da minha cela, não tinha comido nada. Não havia mais vontade de comer, minha cabeça doía, meus ouvidos zumbiam, era insuportável e bastante dolorido. Havia um vazio em minha mente, a agonia de não conseguir me lembrar era horrível. Me deixava nervoso, com vontade de socar algo, sentir qualquer tipo de dor, apenas para me deixar um pouco mais entorpecido.

***

P.O.V Narrador

—Me deixem sair! -Effy gritava sem parar, sua garganta doía, era impossível gritar mais. -

Depois da "consulta" do outro dia, Effy foi levada de volta à solitária. Se sentia tonta, e desorientada. Se lembrava de Kit, por alguma razão ele era sua única lembrança.

A garota sentia seu estômago embrulhar, a vontade de vomitar era nojenta. Quase não conseguia controlar. Haviam deixado um balde do lado de dentro de sua cela.

-Por favor! -Ela chorava, se sentia esgotada, e se sentia vazia. Não se lembrava de muita coisa, apenas de alguns momentos aleatórios antes do choque. -

Effy se sentiu ainda pior quando seus soluços e as lágrimas se misturaram com o vômito que a atingiu em cheio, botou tudo para fora, ela se forçou a lembrar da última vez que tinha comido alguma coisa, mas não importava. Já não estava mais preocupada.

Seu estômago estava vazio, sua mente estava vazia. Tudo em seu corpo estava vazio. Não sentia suas pernas, tudo o que ela queria fazer agora era dormir, talvez para sempre se pudesse.

Mas por incrível que pareça Kit não saía de sua mente. E por um momento achou que nunca sairia. Se permitiu sorrir.

***

—Bom dia senhor Walker. -A voz doce e quase irritante da Irmã Mary Eunice. –

—O que está fazendo aqui? –Perguntei me levantando e tentando encarar a claridade. –

—Vim ver como está. Soube que sua “amiga” não está reagindo muito bem à sua primeira consulta de eletro-terapia. –Respondeu com um falso sorriso. –

—Effy...-Sussurrei finalmente acordando. –

—Sim, ela está dormindo, mas passou muito mal na noite passada, acho que ela irá demorar a se acostumar com os métodos da Irmã Jude.

—Onde ela está?!

—Tivemos que tirá-la da solitária. Ela não estava em condições de nenhum confinamento extremo.

—Como é? Effy voltou para o corredor? Ela não está mais do meu lado?

—Não, mas você ainda poderá vê-la na sala de recreação. –Sorriu novamente. –

***

Seu coração se afundou, só de pensar em Effy se contorcendo de dor, as lágrimas rolando por seu rosto, seus gritos agoniados. Tudo isso lhe dava um nó no estômago. Algo, novo, nada bom. Somente novo.

Kit desejou por um instante poder estar longe dali, e levar Effy consigo, ter uma vida comum. Apesar de Effy não parecer este tipo de garota, ele podia se imaginar com ela.

Estava decidido, Kit definitivamente estava encorajado a levar este plano a diante.

Ele estava mesmo disposto a sair daquele lugar no qual já havia perdido boa parte de sua vida, e levaria Effy com ele, não deixaria que ela também perdesse sua vida presa como um animal doente.

Ele faria isso por ela, ele precisava fazer.