Tudo que eu quero é nada mais

Que ouvir você batendo na minha porta

Porque se pudesse ver seu rosto mais uma vez

Poderia morrer um homem feliz, tenho certeza

Quando voce disse seu último adeus

Morri um pouco por dentro

Me deito chorando na cama a noite toda

Sozinho, sem você ao meu lado

Mas se você me amava

Porque você me deixou?

Desde a madrugada não havia parado de chover. O relógio marcava 20h e estava fazendo muito frio. Havia se passado 5 dias desde que Stiles havia mudado o modo como escrevia suas cartas. Havia 5 dias que Stiles não lamentava sua situação por todo canto. Independente de ainda esperar que Lydia desse um sinal de vida a cada instante, ele resolveu não parar de viver como havia feito antes. Lydia não iria querer aquilo. Não iria querer ver a amizade dele com Scott e Allison destruída, então ele mudou. Não apenas por ela, mas por si mesmo, estava cansado de não reconhecer a si mesmo.

O micro-ondas apitou avisando que a pipoca estava pronta. Stiles se encaminhou até lá, pegou a pipoca e abriu o saco para que a fumaça quente pudesse sair. Foi até a geladeira, pegou uma latinha de refrigerante, pegou novamente a pipoca, se encaminhou até o sofá e se jogou lá. A TV já estava ligada e o filme já estava começando, se enrolou no edredom, pegou um punhado de pipoca e enquanto estava direcionando ele até a sua boca, ouviu a campainha tocar. Bufou largando a pipoca no saco e se levantou encaminhando-se até a porta. Não se passou pela cabeça quem poderia ser aquela hora e debaixo daquela chuva. Apenas estava incomodado pois gostava do tempo assim, achava que ele combinava perfeitamente com pipocas e filmes, só não queria ser incomodado por estar aproveitando isso.

Ao abrir a porta e ver quem era, ele ficou estático.

*

Lydia terminou de fechar sua mala e olhou pela última vez para a cama onde havia dormido nos últimos sete meses. Sete meses. Ela suspirou fundo, não conseguia acreditar que havia ficado tanto tempo fora. Tanto tempo longe de Stiles… Ela não queria mais pensar nisso. Agora ela era uma nova pessoa, ela só queria voltar para os braços de Stiles. Ela só esperava que ele a aceitasse de volta.

Após horas dentro de um avião, Lydia pegou um táxi direto para casa. Chovia muito em Beacon Hills, o que ela achou bem irônico. Também sentia falta da chuva, o lugar em que havia ficado não costumava chover. Quando o táxi parou, ela pegou a sua única mala e a sua bolsa de mão e se encaminhou rapidamente para a varanda. Suspirou. Abriu a sua bolsa e tirou dela a única coisa que poderia talvez fazer Stiles ouvi-la. Segurou em sua mão e ficou olhando para a aporta fechada. Não se incomodava com o vento gelado que batia contra o seu corpo. Tudo o que conseguia pensar é em como seria. Como seria vê-lo novamente? Qual seria a reação dele? Ele estaria com alguém?

Lydia permitiu que seus olhos se fechassem por um breve momento e deixou sua mente ser levada até a última vez que esteve ali.

Stiles havia saído para o trabalho e Lydia havia ficado em casa, sozinha. A mesma coisa vinha acontecendo havia desde que ela voltara do hospital para casa, o que fazia uma semana.

Ao acordar, ela chorou. Abraçou seu travesseiro e permitiu que as lágrimas rolassem livremente pelo seu rosto. Desejava que elas levassem embora toda dor que sentia. E se possível, toda memória do que havia passado. Não se contendo, ela se levantou e caminhou até a porta do quarto. Girou a maçaneta calmamente e soluçou quando se deparou com o conteúdo do quarto. Ela caminhou para dentro dele, pegou o primeiro ursinho de pelúcia que ela havia comprado para Benjamin. O mesmo que usou para contar a Stiles que estava grávida. Se encaminhou até a cadeira de amamentação, ali se sentou e abraçou o urso enquanto chorava livremente.

Toda vez que a ruiva fechava seus olhos, se lembrava de Benjamin.

Se lembrava de quando descobriu que ele não era saudável.

Se lembrava de quando indicaram o aborto.

Se lembrava de quando soube que os ossos de Benjamin se quebravam dentro de seu útero.

Se lembrava de quando ele nasceu.

Se lembrava das três horas em que pôde segurar seu bebê ainda vivo.

Se lembrava de quando ele parou de respirar.

Se lembrava de quando seu mundo havia sido destruído e toda cor que havia nele, havia sido arrancada de suas vidas.

Ela não aguentava mais estar ali. Não aguentava não ter sido capaz de ter tido uma gestação saudável. Não conseguia passar por aquele quarto, não conseguia olhar para Stiles pois Benjamin, mesmo tão pequeno, se parecia tanto com ele…

Lydia então se levantou, se encaminhou até o seu quarto, juntou poucas coisas, somente o básico, enfiou em uma mala e saiu de casa deixando apenas um bilhete para Stiles com os dizeres: Me perdoa, eu te amo!


Ela abriu os olhos, respirou fundo, e tocou a campainha.