" As juras mais fortes consomem-se no fogo da paixão com a mais simples palha."

William Shakespeare.

Borboun Street - New Orleans

Horas depois

A brisa fresca da noite soprava pelas ruas iluminadas de Nova Orleans, deixando o clima agradável, sem o tradicional calor sufocante das últimas noites. Contudo isso não diminuía a raiva que pairavam sobre os olhos do híbrido Original, Niklaus parecia a ponto de explodir em um surto de ódio matando qualquer coisa que ousasse cruzar seu caminho. Caminhou pela principal ignorando a bolha de felicidade que parecia emanar das pessoas a sua volta, ignorou as mulher que lhe tocavam o braço e a música alta e alegre dos bares.

O aroma adocicado do perfume ainda estava presente no ar, era suave e com traços de flores silvestres. Mesmo prometendo a si mesmo que não a seguiria. Seus passos eram pesados e mesmo sabendo onde a encontraria, Klaus parecia traçar o caminho mais longo. As palavras de Elijah ainda ecoavam por sua memória, a forma polida e tom sarcástico que usara ao se referir sobre os sentimentos dele para com a garota. Niklaus não se importava com o destino de Holly Labonair, ele teria o que era seu por direito com ou sem a loba, a entregaria para o ritual da colheita e finalmente teria o poder supremo. Se Holly morreria ou não, isso não lhe dizia respeito, contudo não entendia o magnetismo que ela exercia sobre ele, a força que emanava daquela jovem o fazia se arrastar por toda Nova Orleans a sua procura, apenas para permanecer sentado sobre a grade da sacada a observando dormir. O rosto relaxado, os cabelos dourados espalhados sobre os travesseiros, a forma como o fino lençol lhe cobria as pernas e o arrepiar de sua pele quando a brisa fresca da madrugada soprava dentro do quarto.

Klaus se sentia infeliz toda vez que o fazia, se obrigando a observá-la e apenas isso. Klaus conseguia sentir seu cheiro, escutar sua voz mais nunca tocá-la, parecia algo impossível, contudo, em determinado momento o cheiro doce de Holly se misturou ao de outra pessoa. Klaus não sabia a quem pertencia, mas era forte e não era humano. O híbrido sentiu um rosnado se prender em sua garganta e uma fúria contida se apossar de seu corpo e a passos rápidos voltou a seguir o cheiro que a cada rua parecia ainda mais forte. As sensações que a jovem mulher provocava em seu corpo eram um tanto desconhecidas, não que o híbrido não soubesse o que era desejo, a grande questão é que ele apenas conhecia isso. Se tratando do sexo oposto, Klaus possuía o mínimo de contato possível, não permitindo que a relação com mulheres deixasse de ser plenamente casual. Mas com Holly ele sentia que se a possuísse uma única vez, a desejaria todos os dias, como um vampiro recém transformado com sua sede ilimitada por sangue. Niklaus a queria, e apenas ele sabia o grau de intensidade que esse desejo conseguia alcançar, em contra peso existia o receio de não conseguir nunca mais abandoná-la e Klaus não estava disposto a por seus planos a prova.

Holly Labonair seria o sacrifício. A vida que se perderia para que ele pudesse reinar soberano sobre a pequena cidade pantanosa de Nova Orleans.

Com sua audição sensível a simples mover das folhas, Niklaus conseguiu escutar murmúrios vindo do prédio onde a jovem se hospedava. Mesmo que a um quarteirão de distância, aquela distância não sabia com exatidão se a voz sussurrada pertencia a Holly, mas a curiosidade corroeu seu peito e em questão de segundos ele confirmava suas suspeitas. A frente do prédio de arquitetura colonial, Niklaus não só afirmou que a voz pertencia a Holly como teve a certeza de que ela não estava sozinha em seu quarto. O cheiro quente dos corpos em movimento preenchia aquela parte da rua e os suspiro extasiados de Holly, assim como os rosnados contidos do homem que a acompanhava deixavam o híbrido furioso. Mas ainda sim sua curiosidade era maior que a fúria que ele permitia crescer em seu peito.

Como de costume as portas da sacada estavam abertas e a cortina perolada balançava para dentro do quarto, que se encontrava mergulhado em penumbra, nada que impedisse a visão perfeita do que ocorria sobre os lençóis. O corpo de Holly se embolava ao do homem sobre si, os cabelos loiros espalhados sobre o colchão e os lábios vermelhos entre abertos buscando ar. Niklaus trincou os dentes enquanto seus olhos claros se fechavam, um gemido alto preencheu o quarto seguido dos estralos ritmados da madeira que colidia com a parede. As respirações se tornavam pesadas a medida em que o ritmo aumentava provocando uma onda forte de irritação em Niklaus. Garantia a si, que se pudesse teria invadido o quarto e matado o homem que tomava para si o corpo de Holly, dando a ela prazer e satisfação, algo que Niklaus gostaria de fazer. Não deixava de pensar que deveria ser ele a estar ali.

— Craig!

Os olhos furiosos voltaram a se abrir quando tal nome fora pronunciado. Enquanto Holly deixava que seus gemidos gritassem pelo quarto enquanto o ápice parecia colidir com seu corpo em ondas quentes, a arrastando em direção ao nirvana. Klaus ficou tão atordoado quanto furioso, Nova Orleans se mostrava uma caixinha de surpresa, tal situação parecia trabalho do destino esfregando a verdade no rosto atônito do híbrido, mostrando a ele que não seria assim tão fácil se livrar de Holly Labonair. E de alguma forma Elijah tinha razão, não da forma como insinuara, mas Holly não seria facilmente persuadida, não depois da chegada de Craig.

Aquele homem daria sua vida se precisasse e mataria quem fosse preciso para proteger a mulher que agora tinha em seus braços. A história se escrevia assim como planejado e as palavras de Rebekah ainda soavam em seus ouvidos entorpecidos. Não podia acreditar em sua falta de sorte no momento, mas nada que ele não pudesse reverter. No momento em que ergueu os olhos e conseguiu enxegar o corpo suado de Holly relaxar sobre os lençóis ainda nos braços de Craig, ele aceitou o desafio. Afinal ele era Niklaus Mikaelson, o híbrido Original. Tudo o que desejasse deveria ser seu e agora ele queria Holly Labonair, o trato fora quebrado e nada além daquele mulher em seus braços ele desejava. Holly seria sua, por livre e espontânea vontade ou a força.

[...]

Local desconhecido

Fracos raios de sol adentravam pelas frestas deixada pela madeira vermelha que preenchia o cômodo abafado. Tochas e velas se espalhavam iluminando o mapa em papiro amarelado, que se encontrava estendido sobre a mesa gasta. Não se sabe ao certo se o local onde o grupo de três pessoas se encontravam, mas de fato era o longe o bastante da civilização, se é que existia alguma em um longo raio de 20km. As pontas dos cabelos negros da mulher tocaram o mapa suavemente, enquanto seus olhos verdes percorriam as linhas traçadas, algumas formavam rios que não existia mais e outras pequenas vilas que foram destruídas a mais de quinhentos anos pelos malditos que perseguiam a tantos dias.

Marcados a tinta vermelhas estavam os pontos onde o Coven de bruxas vermelhas havia deixado sua marca. Anos a fio as perseguindo, apenas para deixá-las escapar no último instante, permitindo que elas voltem a matar crianças e mulheres inocentes apenas para reafirmar seus poderes.

— Dois dias ao sul — murmurou o homem alto ao lado da pilastra precária. — Contornamos o vale e chegamos algumas horas antes do primeiro ritual da lua.

— O vale é largo — apontou o segundo homem que trazia consigo uma adaga de prata. — Perséfone já deve ter previsto que iríamos por este lado, é provável que ela tenha deixado armadilhas espalhadas pelo canto oeste do rio e próximo ao bosque de Sangue.

— São as duas únicas passagens — afirmou a única mulher do grupo observando os cabelos dourados do homem que ainda brincava com a adaga entre os dedos longos. — Não podemos deixá-las escapar uma segunda vez, não estou com paciência para caçar bruxas vadias por mais duas semanas feito um cão farejador. É nossa última chance ou as pegamos na primeira Lua do ciclo ou as deixamos ir.

— Deixá-las ir não é uma opção — um rapaz magro que fora apelidado carinhosamente de Sky por seus belos olhos azuis se pronunciou pela primeira vez. — Estou cansado de recolher e enterrar corpos.

— Sky tem razão. Elas não tem essa opção, podemos pegar a rota dos carneiros ao lesto do vale, é um pouco mais longe e a demora fará com que cheguemos durante o ritual. O ponto alto da lua as deixa mais vulneráveis — os dedos longos trançavam o caminho indicado e depois circularam a clareira extensa onde as bruxas deveriam iniciar o ritual.

— Mas só tens uma chance, um minuto a mais e as garotas vão estar mortas — observou Sky coçando a sobrancelha franzida. — Mesmo assim temos que ser rápidos, se o ritual se completar as garotas morrem, elas são a prioridade, certo?!

A única mulher do grupo baixou os olhos musgo para o mapa mais uma vez naquele início de dia. Caçar bruxas era divertido e por muitas vezes emocionante, mas o simples fato de ter de recolher os corpos mutilados de jovens de no máximo dezenove anos acabava com o dia de Belinda em uma velocidade impressionante.

— Onde elas ficam durante o dia? — Belinda perguntou mordendo o interior de sua bochecha esquerda, levantando os olhos para o homem loiro ao seu lado.

— Algumas na cidade e duas ou três em algum lugar da floresta mantendo as garotas refém até a hora do ritual. Mas disso você já sabe, por que a pergunta? — os olhos azuis claros se pregaram aos verde de Bella e lá permaneceram esperando por sua resposta.

— Temos um dia completo para achar o local onde elas estão presas. Resgatamos as jovens e as levamos para um local seguro, esperamos as bruxas retornarem para ritual e as matamos. Simples — prôpos erguendo os ombros.

— Não tão simples assim — Sky abriu a boca chocado. — Feitiços de ocultação, miragens enlouquecedoras e uma infinidade de outras coisas. Já tentamos isso uma vez e Chad ficou quase uma semana vendo cobras pela casa toda. Eu quase tinha um ataque cardíaco a cada grito dele.

— É uma idéia, podemos nos dividir...

— Belinda! Não podemos — a morena concordou sentindo o celular vibrar em seu bolso direito.

— Tenho certeza que eu não gritava assim tão alto — Chad murmurou cruzando os braços observando Belinda se afastar para atender o celular.

— Vocês dois, nem comecem — o loiro murmurou apontando o dedo para os mais jovens que rolaram os olhos.

Chad se afastou da coluna caminhando até o mapa estendido, era péssimo nisso se ficasse sozinho em uma floresta com um mapa em mãos morreria em dois dias. Seu senso de direção era péssimo, e por essas e outras estava sempre com um GPS no bolso, poderia ser um tanto pesado mas já o salvou de poucas e boas.

— Somos em três e as bruxas talvez em oito — comentou desinteressado, ponderando as chances quase nulas que ele pareciam ter.

— Isso não foi muito animador, Chad — Sky retrucou suspirando.

Ambos os rapazes encararam o líder que ao menos parecia ter escutado o comentário, pois continuava a observar o mapa com um vinco entre as sobrancelhas. Todos ali sabiam que ele desejava voltar para casa, tanto quanto os outros, mas diferente deles, o homem tinha para quem voltar o que tornava toda aquela operação ainda mais tensa. Chad conseguiu ver pelo canto dos olhos Belinda retornar a pequena sala, seus olhos verdes estavam arregalados e sua expressão era de preocupação.

— Temos um problema — informou com a voz apressada.

— O que houve dessa vez? — Sky se pronunciou esfregando as mãos no rosto cansado.

Belinda abriu a boca e depois a fechou, repetindo o processo três ou quatro vezes. A mulher parecia escolher as palavras, tentar amenizar a força de suas próximas palavras, seus olhos verdes estavam colados no homem loiro que retribuía os olhares e parecia tão confusa quanto os outros.

— Um amigo ligou tem notícias de Nova Orleans — murmurou controlando a voz trêmula. — Os Originais estão na cidade a algum tempo.

— Disso já sabíamos — o mais velho da equipe comentou estranhando o comportamento de Belinda. O mesmo se afastou do mapa cruzando os braços sobre o peito e esperando que a mulher terminasse.

— Eu sei, mas esse não é problema. Mas que droga, não consigo encontrar uma forma melhor de dizer isso — falou mais para si do que para os outros. Ainda com os olhos colados aos azuis a sua frente ela disparou. — Sua filha esta em Nova Orleans.