Alinhamento Astral.

Capítulo 8 – Fantasmas do passado


Capítulo 8 – Fantasmas do passado

LUA

Quando eu e Leo e Nico alcançamos o Chalé de Hécate, Charlie já tinha se trancado lá dentro, aparentemente sem querer ver ninguém. Sabia que ela não se abriria com os garotos. Olhei para eles, como uma súplica, e disse:

– Meninos, deixem que eu converse com Charlie sozinha. Esperem até que chame por vocês. Ela não irá se abrir com vocês.

– Mas... Lua, eu não posso ficar de braços cruzados vendo ela assim. Deixe-me ir também. - implorou Nico, com evidente preocupação.

– Nico, não se trata de deixar ou não. Mas se eu conheço a Charlie ela não dirá nada se você estiver lá. E alguém precisa vigiar a porta. E se o Will aparecer?

– Eu acho que ela está certa, Nico. Vamos ficar aqui fora vigiando e depois você terá a chance de conversar com ela. - disse Leo tentando ajudar. Ele está me dando a razão?!

– Ok. Mas depois eu falo com ela. - concordou Nico. E quando eu me virei pra bater na porta ele segurou meu braço: - Cuida dela, Lua.

Eu apenas confirmei com a cabeça. Voltei para a porta e bati com os nós dos dedos: - Charlie sou eu, Lua. Abra a porta apenas para mim.

– Vai embora, Lua. Deixe-me sozinha um pouco. – gritou ela de dentro do Chalé.

– Charlotte Hastings, não vou te deixar sozinha numa hora dessas. Entramos nessa juntas e estaremos juntas até o fim! Abra essa porta! - Gritei já meio irritada. Não era só ela que tinha problemas com a paciência.

Meio minuto depois ela apareceu atrás da porta com os olhos numa mistura de preto, cinza e bege. Ela estava pensativa, sombria e arrasada. Tudo exceto raiva, mesmo eu tendo a chamado pelo nome. Ela lançou um breve olhar para Nico que não tive tempo de captar o significado. E, em seguida, me puxou para dentro do Chalé.

– Sinto muito, Charlie. De verdade por tudo que aconteceu. Eu sou sua amiga vou entender se não quiser falar, mas ás vezes desabafar ajuda.

– Ah, Lua... Eu só não consigo ficar perto daquele monstro. O que ele fez comigo... E só de saber que meu pai quem o incentivou... Argh!

– Espera! O que você disse, Charlie? Seu pai incentivou o Will a estuprar você? Explica-me direito, porque eu realmente não estou entendendo.

– Que boca a grande a minha, hein?! - xingou-se por ter soltado aquilo. Ela não queria falar, mas como tinha começado iria até o fim. - Eu vou contar só pra você, está bem?

Afirmei com a cabeça. Algumas lágrimas caíram dos olhos de Charlie. Ela respirou fundo e começou:

– Aconteceu pouco antes de eu entrar pra Caçada. Eu e Will somos primos, ele vivia indo na minha casa e conversava comigo e com meu pai. Mas meu pai me batia e espancava. Will sabia, mas não tomava partido de nada. Ele apenas me consolava. Mas um dia nós fomos pra uma festa de um amigo dele e eu já queria ir embora, mas Will tinha bebido todas. Eu o convenci a me levar para casa, passamos perto de um beco e ele me puxou para a escuridão que era o tal beco. Lá ele tentou me agarrar e me beijar e arrancar minha roupa à força. Não sei o que aconteceu, mas meu pai chegara e por um momento eu pensei que ele fosse me ajudar, mas ele apenas disse: “não foi assim que te disse pra fazer.” Eles estavam tão ocupados brigando que eu consegui fugir. Rezei pra minha mãe implorando por ajuda e eis que as Caçadoras apareceram.

Mas enquanto ela contava a história com os olhos escorrendo lágrimas, eu observei a mudança na cor de seus olhos. Finalmente o acinzentado havia sumido, dando lugar ao verde. Nesse momento ouvimos um barulho do lado de fora e corremos para ver o que era. Quando passamos pela porta, foi suficiente para ver Nico e Leo correndo na direção da Fogueira.

– Merda! Eu me esqueci de colocar o feitiço de abafamento! - a cor nos olhos de Charlie já estava laranja-avermelhados, ela estava furiosa consigo mesma. - Eles devem ter ouvido a nossa conversa e ido atrás do Will.

– Anda, vamos depressa! Antes que eles arrumem muita confusão! - eu disse, puxando Charlie pelo braço na direção em que os garotos foram.

Chegamos a tempo de ver a briga começando. Will estava sentado perto de uns irmãos do Chalé de Apolo. Nico e Leo chegaram gritando com o cara:

– Por que você fez aquilo com ela, seu filho da mãe? Você é primo dela, como pôde fazer o que você fez? ­- Gritou Nico já levantando os punhos para dar um soco na cara de Will.

O soco atingiu em cheio o olho direito de Will. Mas Will retribuiu o soco com um empurrão que quase fez Nico perder o equilíbrio. Leo também atacou, mas ele se jogou pra cima de Will como um touro em direção ao toureiro e o agarrou pela cintura o derrubando no chão. Will deu um soco no nariz de Leo e o tirou de cima dele. Nico invocou sombra e Will invocou uma luz. Nico deu outro soco em Will, que defendeu dessa vez. Will devolveu o soco com outro na mandíbula de Nico.

Charlie estava ansiosa do meu lado. Então corremos para entrar no meio e separar os garotos. Charlie entrou na frente de Nico e eu fiquei entre ela e o Will.

– Se você tentar falar com minha amiga de novo ou se aproximar dela, eu juro que te afogo no mesmo segundo. - ameacei. Estava cansada desse garoto. O que ele fez com Charlie era imperdoável. - Agora saia daqui antes que eu resolva adiantar a sua visita a Hades!

Assim que ele se virou e saiu, eu corri até Leo que estava com o nariz sangrando. Com calma eu tirei a mão dele do rosto para avaliar o estrago. Estava muito feio. Ele tinha quebrado.

– Você está bem? - perguntei preocupada.

– Melhor agora. - ele deu um sorriso. Como ele podia brincar até mesmo depois de uma surra? Eu só podia sorrir de volta.

Virei-me para ver o estado de Nico, ele parecia menos machucado que Leo. Então voltei para Leo para ajudá-lo a se levantar. Depois olhei Charlie e ela devolveu o olhar. Então eu disse:

– Você cuida desse aí que eu cuido desse aqui.

Ela apenas mostrou um sorriso e confirmou com a cabeça. E eu disse para Leo:

– Vamos para o meu Chalé. Devo ter néctar e ambrosia em algum lugar.

Fomos deixando Charlie e Nico para trás. E andamos em direção ao Chalé de Poseidon. Sozinhos na noite de setembro. Leo estava cheio de sangue que escorria do machucado. Mas lá daríamos um jeito em tudo.