Alinhamento Astral.

Capítulo 11 – Uma visita da minha... mãe?!


Capítulo 11 – Uma visita da minha... mãe?!

CHARLIE

Quando acordei na manhã seguinte, jamais imaginaria que meu dia seria tão... agitado. Tente entender, é difícil manter a situação de semideusa foragida da Caçada - o que ainda arranca bastante comentários - e ainda se preocupar com a ideia de que, além do causador da minha entrada na Caçada, o causador da minha saída não estava exatamente cooperando para que o oceano revolto de emoções se torne uma lagoa calma. Ou, mais para o meu caso, que as estrelas não estejam tão confusas no céu e as travessias entre encruzilhadas se tornem mais vantajosas.

O que, no meu caso, não estava acontecendo.

Ok, eu podia lidar com isso facilmente, afinal, era isso que semideuses faziam. Cuidar dos problemas dos outros e salvar o mundo. Isso era fácil. Menos pela parte do cuidar dos problemas. E a do salvar o mundo. Mas era isso que fazíamos, pois já estávamos acostumados. E também sabíamos lidar sempre com o empecilhos pessoais que praticamente todo semideus tem em sua voda.

No meu caso e o de Lua, era que éramos ex-Caçadoras de Ártemis e desistimos da imortalidade por amor, no único dia de livre arbítrio que Afrodite conseguiu arrancar da Lady nos dias em que a Lua se alinhava com o planeta Vênus, que seria a forma romana da deusa do amor. E foi isso que fizemos: eu e Lua desistimos por eles e agora estamos no Acampamento Meio-Sangue mendigando por alguma coisa vinda deles. E mesmo assim, estamos lidando facilmente com isso. Eu estou lidando facilmente com isso - principalmente eu, que odeio orgulho ferido.

Enfim, a questão não seria essa, de jeito nenhum! Acho que estou lidando bem melhor do que imaginaria, na situação em que estava. Acontece que não era esse o caso.

O caso era que, na manhã seguinte, eu não acordei lidando muito bem em ver um mulher no meu quarto.

E eu gritei, ah, se gritei! Como assim uma mulher aparece do nada no meu quarto, sem mais nem menos, e eu nem a conheço?! Não podia deixar que ela era muito bonita - mesmo que assustadora - com os olhos roxos imutáveis, o cachos ruivos e uma espécie de tiara que de repente me pareceu muito familiar. Até que eu finalmente me lembrei: era idêntica à reprodução do pollos que eu tinha. E então eu a reconheci, com um arrepio na espinha. Eu estava na presença de ninguém mais, ninguém menos que...

– Hécate?! - eu exclamei, o mais estupefata possível.

Hécate abriu um sorriso macabro, mas que, pelo brilhos em seus olhos, poderiam ser de afeto.

– Charlotte, meu anjo. - ela disse, dando um passo em direção à minha cama.

Eu rapidamente levantei o cobertor como uma defesa. Sabe quando éramos crianças e ficávamos escondidos debaixo do cobertor, como se apenas assim ninguém poderia vir até você e lhe cortar a garganta?! Como se viesse, vesse onde estávamos e simplesmente pensasse "ah, esse não porque ele está em baixo do cobertor"?! É, isso mesmo! Poxa, eu não tinha outra escolha! Tinha acabado de acordar e estava no meu mal-humor matinal, com o cabelo embaraçado e os dentes com aquele gosto azedo de quando acordamos.

Geralmente quando acordamos esperamos poder dar uma ajeitadinha básica nisso antes que o garoto que você ama - que por acaso está a caminho daqui - te veja em estado deplorável. Mas, não! Eu tinha que lidar com minha mãe deusa que aparece de repente no meu Chalé e me chamando de anjo. Não que eu a odeie, não! Muito pelo contrário! Aliás, fora ela que me ajudara em todos esses anos em que tive que aguentar um pai que me espancava.

Fora ela que me ensinara o básico da magia sempre que pudesse e me ajudava com o fato de que minhas emoções estariam sempre estampadas no cabelo e nos olhos, mesmo que eu tentasse escondê-las em minhas expressões. Fora ela, inclusive, que levou as Caçadoras até mim quando pedi ajuda depois de quase ser molestada pelo meu próprio primo. Mas acontece que ela nunca aparecera para mim. Ela sempre fizera isso apenas por pensamentos lançados em minha mente. Então não me julgue se eu não estou dando pulos de alegria ao vê-la e correndo para um abraço maternal.

– O que está fazendo aqui? - eu perguntei e ela me olhou com aqueles olhos roxos que poderiam ser amedrontadores.

– Vim trazer-lhe um presente. - ela disse, se aproximando da minha cama e se sentando na ponta do colchão.

Puxei minhas pernas bem a tempo de não ser esmagadas. Hécate pegou algo escondido em seu vestido longo e negro, onde estavam estrelas estampadas, assim como as que tinham no teto do Chalé. Quando vi o que tinha em mãos, ofeguei baixinho. Era uma varinha. Uma varinha vermelha com uma pequena bolinha de cristal na ponta. Era linda.

– Ahn... Obrigada, eu acho. - agradeci meio gaguejante quando ela me entregou a varinha.

– É importante que sempre a leve consigo. - ela disse, olhando bem em meus olhos azuis escuros confusos. - Fiquei um pouco receosa de lhe entregar agora, mas percebi que você precisava quando eu a vi fazendo a poção de cura para aquele garoto di Angelo. Ele realizara os feitiços e poções muito mais rapidamente. E se transformará em uma espada quando disser as palavras certas.

Eu a olhei com os olhos mesclados de azul confuso e rosa de vergonha. De todo aquele discurso que era fizera, a única coisa que mais me interessava era a parte em que ela me vira cuidando de Nico. Quando ela viu meus olhos se mesclando em rosa, ela abriu um sorriso. Mesmo que ele fizera um arrepio atravessar minha coluna, eu percebi que era um sorriso encorajador.

Eu joguei o coberto para o lado, mas cruzei as pernas.

– Eu aprovo muito o que você fizera, Charlotte. Posso não ser Afrodite para diferenciar isso muito bem, mas sei que isso é amor. E ele te protegendo mostra que é um amor recíproco. - ela disse e eu sentia meus olhos se transformando em roxo.

Eu estava bem insegura sobre isso. Será que era mesmo?! Ou era apenas a consciência de mãe de uma única filha que queria que ela arranjasse alguém?! Na verdade, eu não sabia. Eu não queria descobrir. Não que eu seja masoquista, longe disso! Tudo o que eu mais queria era que Nico me amasse do mesmo modo como eu o amava, mas acreditar nessa possibilidade só traria mais sofrimento desnecessário para mim.

Hécate viu o roxo de insegurança em meus olhos e rapidamente passou a mão por meu braço. - Não fique assim, querida, você pode se surpreender.

Eu ia responder. Ia lhe dizer que nada era tão fácil assim de se conseguir, principalmente quando ele parecia ainda me ver apenas como uma semideusa que saíra da Caçada na primeira oportunidade e que quase fora molestada pelo próprio primo. Ia dizer que Nico era um garoto muito lindo e que provavelmente tinha muitas garotas aos pés e que só fora carinhoso comigo por causa do que Will me fizera.

Eu ia dizer tudo isso.

Mas uma batida na porta não me permitiu.

Eu gritei um "entre", enquanto olhava atentamente para Hécate, pedindo que, caso ela não sumisse, para não me envergonhar. Era o que eu menos precisava naquele momento. Principalmente quando fora Nico que entrara meio receoso pela porta e parou assim que viu os dois pares de olhos roxos parando sobre si.

– Ahn... Eu posso voltar de... - ele disse, mas Hécate logo o interrompeu.

– Não será preciso. Pode entrar, filho de Hades, eu já estava de saída.

Ela se levantou da cama e, sorrindo - mesmo que meio intimidadoramente -, disse a Nico, que estava encostado sobre a parede estrelar ao lado da porta.

– Cuide bem dela, di Angelo, e não deixe Will Solace se aproximar dela. - quando Nico assentiu, um pouco receoso, Hécate se virou virou para mim. - Charlotte, querida, acho que Infernum et divisiones te ajudará em algumas coisas.

– Ahn... Obrigada, Hé... Mãe!

E com isso ela lançou uma piscadela no ar e desapareceu.

– Bem legal, sua mãe. - Nico disse, em um claro tom de sarcasmo, que eu apenas fiz questão de ignorar e revirar os olhos.

E então ocorreu um momento constrangedor quando Nico olhou para mim. Na verdade, ele olhou para meu pijama. Que não passava de uma simples camisa cinza que era, pelo menos, três tamanhos maior do que o meu. Eu rapidamente me joguei embaixo dos cobertores enquanto minhas bochechas coravam e o roxo em meus olhos passavam para o rosa novamente. E dava para ver claramente a dificuldade de Nico de desviar os olhos. Não que eu estivesse reclamando, mas assim que ele olhou para a porta com certo desespero, eu tive a certeza de que ele ainda me via como Caçadora ainda.

Suspirei magoadamente antes de dizer. - Me dê um segundo que eu já troco de roupa.

Nico assentiu e saiu do Chalé, sem olhar mais uma única vez para mim. E Hécate ainda realmente acreditava que ele me amava!

Cinco minutos depois e eu já estava com um jeans rasgado, uma bota preta de cano alto e sem saltos, a blusa do Acampamento Meio-Sangue, os cabelos presos em um rabo de cavalo que, graças aos deuses, disfarçava as mechas vermelhas, e a réplica do pollos de Hécate caindo delicadamente sobre a testa. Claro, além da varinha vermelha presa dentro da bota.

Saí do Chalé e encontrei Nico encostado sobre uma das pilastras que o sustentava e, quando saí, me olhou de cima à baixo antes de se aproximar e me dar um beijo. No topo da cabeça, mas não deixava de ser um beijo. E meu coração quase saltou para fora, mas eu me manti firme, mesmo com medo de ele ouvi-lo.

– Bom dia, bruxinha. - ele disse em uma voz doce. Mas mesmo assim eu fiz uma careta provocativa.

– Dormiu bem, mini projeto de zumbi? - eu perguntei ironicamente e ele riu. - Ou prefere fantasminha?

– Por mim tanto faz, bruxinha. - ele disse, me abraçando pelos ombros e me empurrando em direção ao Pavilhão do Refeitório.

– Então será o primeiro que eu me lembrar. - eu disse rindo, enquanto ele fazia uma careta.

– Sua mãe é estranha, sério. - ele disse. - Dá até medo.

Eu gargalhei. - Então quer dizer que eu também sou assustadora.

Nico revirou os olhos e entramos no Pavilhão. E eu fiz de tudo para não deixar que o riso se fechasse em meu rosto quando vi todo mundo nos olhando. Eu sei, é estanho ver um filho de Hades com uma ex-Caçadora de Ártemis, mas, poxa, precisava mesmo encarar pra valer?!

– Nos encontramos depois, Charlie. - Nico disse, parecendo não se importar com tantos olhares sobre nós, e depositou um leve beijo em minha testa, antes de se afastar para sua própria Mesa.

Bem... Se ele não se importava, eu que me importaria?!

~*~

E foi durante nosso desafio na escalada que eu resolvi entrar em ação.

– Nico. - eu o chamei para mais perto de mim, enquanto Lua subia na parede e desviava de vários jatos de lava quente e Leo a segurava pelo cabo de segurança.

– Fala, bruxinha. - ele se aproximou, sorrindo.

Apesar daquele sorriso causar diversas sensações em mim, eu revirei os olhos diante do apelido que ele me dera.

– O que acha de tentar invocar a mãe da Lua?

– Agora? - ele perguntou, arqueando a sobrancelha. E eu quase arfei. Cara, ele era muito lindo.

– E por quê não?!

– Tudo bem.

E então Nico fechou os olhos e se concentrou pra valer. E eu estava ali, observando os músculos tensionados que apareciam sob sua camisa preta do Acampamento. Mas então eu vi uma movimentação na parede de escalada. E quando desviei meu olhar de Nico, meu coração quase foi à boca.

Lua estava despencando.