AMAZONIA: RESERVA EXTRATIVISTA

Ripley segura as alavancas da maquina, e coloca os pés nos pedais. A mulher puxa as alavancas, e ao começar a pisar nos pedais. O robô que ela opera se põe de pé. A ruiva tem o tronco e a cabeça protegidos por uma espécie de porta de metal, com um grosso vidro no meio, que permite visualizar o operador da maquina. Suas pernas e braços estão protegidos dentro das pernas e braços do robô. Dentro da fuselagem da maquina, fios isolados e a prova d’água distribuem a energia pelo corpo do aparelho, até as costas do gigante, onde se conectam a caixa de força. Os braços do robô terminam em duas pinças, com perfuratrizes no centro de cada uma delas.

Sob o comando da mulher, o robô avança pela floresta, e entra em um buraco destinado a extração mineral, onde mais dois Robôs semelhantes trabalham. Ellen ficou impressionada quando conseguiu o emprego, e viu que trabalhadores humildes operavam maquinas como esta. É o efeito de Duzentos anos.Ripley se lembra que quando estes robôs surgiram, eles eram tecnologia exclusiva do governo e dos militares; Uma voz no comunicador a tira de suas reflexões

KELLY

– E ai Ellen? Como vai o trabalho?

RIPLEY

– Tranqüilo, colega. O que posso fazer por você?

KELLY

– A velha Ellen, direta como sempre (disse rindo). Então, Vamos almoçar juntas hoje?

RIPLEY

– Por mim tudo bem. No lugar de sempre, certo?

KELLY

– Tá combinado, então. As duas horas a gente se encontra lá! Até mais!

Ripley escuta o outro lado da linha se desligar, ao mesmo tempo em que aumenta levemente a força das perfuratrizes de seu robô. Ellen conheceu Kelly poucas semanas depois de ter chegado a Amazônia, há mais de três anos. Kelly era mais nova do que Ripley, muito mais nova do que poderia imaginar. Quando Ripley conheceu a garota, ela estava na mesma situação que ela, pedindo emprego na reserva. Kelly é daquele tipo de pessoa tagarela, que acha que pode ser amiga de todo mundo. Na opinião de Ellen, foi isto que a fez ser enganada tão facilmente por um homem que a engravidou para logo depois fugir.

Mas apesar deste jeito um pouco tolo, Kelly se tornara uma boa amiga para Ripley. É claro que Ellen nunca contou a ela a respeito de seu passado, e de sua verdadeira natureza. Ripley contou algumas historias, e a ingenuidade de Kelly fez o resto.

Um alarme tocou no robô, anunciando que o minério precisava ser descarregado. Ellen Ripley então guiou o robô para a área de armazenamento.

BASE MILITAR SHADON CHARON

Nyssia e Hurt estão sentados em uma sala de espera, cada um com uma xícara de café na mão. Hurt não esta conseguindo acompanhar o ritmo da companheira, que já esta na décima xícara, enquanto ele esta apenas na terceira. Tom Hurt entendia o nervosismo da colega. Alguém que passou no mínimo quatrocentos anos congelado e enterrado em uma área remota do Pólo Norte acordou após ter o corpo descongelado. A equipe médica do Dr. Holm a principio ficou totalmente sem ação, já que o “cadáver” que estavam analisando começou a respirar.

Holm recuperou o controle da situação, e ordenou para que o espécime fosse removido com extrema urgência para uma sala onde alguém vivo pudesse ser examinado. A sala para onde o paciente fora levado não contava com observatório, por isso Nyssia e Hurt aguardavam na sala de espera ao lado. Neste momento, Hurt nota a perna de Nyssia, que se balança freneticamente, a medida que seu pé bate cada vez mais rápido no chão. Antes que a pesquisadora perceba que esta sendo observada, a porta eletrônica se abre, permitindo a entrada do Dr. Holm, que não consegue dizer palavra alguma, pois é interpelado por Nyssia.

NYSSIA

– Como ele esta, doutor?

DR. HOLM

– Conseguimos estabilizá-lo. O corpo dele parece ter entrado em choque ao voltar a respirar. Ele entrou em coma, mas não acredito que permaneça neste estado muito tempo. O organismo dele esta se recuperando á uma velocidade impressionante.

NYSSIA

– Eu fico feliz em saber disso, Doutor. Mas isto ainda não responde a pergunta principal, como aquele homem pode estar vivo?

DR. HOLM

– Eu ainda não sei dizer ao certo (Confessa o Dr. Holm). Não descobrimos muita coisa neste novo exame. Seja ele quem for é mesmo do sexo masculino. Mas tem muita coisa estranha nele. O rosto dele está bem deformado, mas não conseguimos ainda determinar o motivo. Todo o corpo está coberto pelo que parecem ser queimaduras químicas, e em algumas regiões menores, há uma espécie de sutura feita com fios de aço. Mas o que mais me chamou a atenção foi a resistência de sua epiderme. Ela é dura demais para os padrões humanos. Desconfio que esta seja uma das razões da pele dele não estar horrivelmente queimada. Pelo tempo que passou no gelo, deveria estar.

NYSSIA

– Então ele tem a pele resistente? É um fator importante, mas ainda não explica como pôde ter sobrevivido. Tem idéia de como vamos descobrir?

DR. HOLM

– Precisamos conversar sobre isso, Dra. Lanchester.

Hurt notou o desconforto de Nyssia não só pelo tom excessivamente cuidadoso usado por Holm, mas tambem porque diferente de quase toda comunidade cientifica, Nyssia preferia ser chamada pelo nome de batismo, e não pelo sobrenome.

NYSSIA

– Sobre o que especificamente, Dr. Holm?

DR. HOLM

– Sabe que este assunto esta fugindo de nossas áreas, Doutora. Vamos ter que entregar a condução da pesquisa para a companhia.

NYSSIA

Nem pensar !(diz indignada). Nós é que encontramos o Senhor Picolé naquela caverna. O Hurt quase morreu por causa disso. Esta descoberta é nossa, e não da companhia! Por que deveríamos entregar a pesquisa?

Nesse momento, uma voz vinda de trás do trio fala

– Por diversas razões, Dra. Lanchester.

Um homem alto e magro, usando um bem cortado paletó entra na sala. Ele aparenta ter cerca de cinquenta anos, um pouco mais jovem que o Dr. Holm. Seus cabelos ruivos, que começam a ficar grisalhos, estão cuidadosamente penteados.

DR. HOLM

Este é o...

NYSSIA

– Eu sei quem é o Dr. Thesiger.

DR. THESIGER

– Como eu estava dizendo, Doutora, existem diversas razões para a companhia assumir esta pesquisa. Em primeiro lugar, isto esta fora da sua área. Em segundo lugar, só com os recursos da Companhia esta pesquisa poderá ser levada adiante. Como pode ver Doutora, esta é a coisa certa a se fazer.

NYSSIA

– Isso é o que você acha, Doutor. Vocês têm os recursos, mas minha equipe fez a descoberta. Concordo em vocês conduzirem, mas eu vou acompanhar.

DR. THESIGER

– Mandaremos-lhe relatórios atualizando-a.

NYSSIA

– Nada Disso. Vou acompanhar pessoalmente.

DR. THESIGER

– Creio que esteja fora de questão.

Nyssia se aproxima, fuzilando o cientista com o olhar.

NYSSIA

– Veremos Dr. Thesiger. Posso falar com o senhor a sós por um minuto?

A um olhar de Thesiger, Holm se dirigiu para fora da sala, mas Hurt permaneceu onde estava.

HURT

– Nyssia, você tem certeza?

NYSSIA

– Tenho sim. Agora por favor Hurt, me dê licença.

AMAZONIA: RESTAURANTE

Ripley esta sentada em um restaurante tendo Kelly e a pequena filha dela, de aproximadamente dois anos, a sua frente. Elas acabam de fazer o pedido através do cardápio holográfico da mesa.

KELLY

– Que bom que você veio. Eu estava precisando mesmo falar com alguém.

RIPLEY

Quando você começa assim, lá vem.

KELLY

– Não seja injusta. Nem é assim como você tá falando.

RIPLEY

– Não enrola, menina. Qual é o assunto?

Kelly respira fundo antes de falar.

KELLY

Acho que consegui uma chance pra Carrie e eu sairmos daqui e termos uma vida melhor. Eu conheci um cara...

RIPLEY

– Ok, Kelly, pode parar por ai. Já ouvi esta historia antes. Na melhor das hipóteses tu vai acabar no quarto, chorando. Na pior, Carrie ganha um irmão.

KELLY

– Não precisa pegar pesado (reclama ela). Não vai acontecer, pois tomei precauções. Alem do mas, é diferente desta vez. O cara falou que vai me conseguir um emprego em uma frota espacial, Ellen! Pode ser uma grande oportunidade!

Ripley olha para Kelly com pena no olhar, e diz em tom amargo.

RIPLEY

– Não há nada de bom pra se ver lá, Kelly. E se houver, é bom que o homem não saiba, pois vai acabar destruindo. Como quase fez com este planeta.

BASE MILITAR SHADOW CHARON

Hurt já esperava sua companheira há vinte minutos, quando Nyssia e Thesiger surgiram no corredor. Ele tinha uma expressão de reprovação no rosto do cientista. Ele se dirige a seu subordinado.

DR. THESIGER

– Holm, vamos remover o espécime para uma área mais adequada do complexo. A doutora e o companheiro dela têm autorização para acompanhar o processo, mas não podem mexer no cadáver sem a minha permissão. Isso é tudo.

Sem mais palavras, Thesiger se retira da sala. O Dr. Holm se retirou logo em seguida para preparar a remoção do ex cadáver.

NYSSIA

Thesiger disse que só temos que esperar aqui para que um dos militares nos leve para os quartos aonde vamos ficar. De lá, nós avisamos o resto da nossa equipe.

HURT

– Espere ai. Como você conseguiu convencer o cara?

NYSSIA

– Isso não é importante.

HURT

– Como assim não é importante?Você fica falando com o cara lá o maior tempão, e milagrosamente, o velho cabeça dura muda de idéia? Não, tem alguma coisa errada ai. Você prometeu alguma coisa pra ele?

Nyssia fulmina o parceiro com os olhos.

NYSSIA

– E o que eu prometeria pra ele?

HURT

– Eu... Eu não quis dizer o que você esta pensando (diz sem jeito). É só que...

NYSSIA

Claro que não quis dizer (diz olhando com reprovação para ele). Os argumentos que eu usei pra convencer o Thesiger é problema meu. Sou sua superiora, não se esqueça disto. E a propósito, eu demorei mais, por que tive que convencer aquele babaca a permitir que você permanecesse aqui.

Antes que Hurt possa responder, um militar entra na sala.

MILITAR

Dra. Lanchester. Fui enviado para mostrar á senhora e a seu acompanhante onde ficam seus aposentos.

NYSSIA

Me chame de Dra. Nyssia se puder, soldado.Vamos

Sem dirigir uma palavra a Hurt, ela acompanhou o soldado, o que não deixou nenhuma outra escolha ao rapaz a não ser seguir os dois.

SEDE DA UNITED SYSTEMS MILITARY: ALGUMAS HORAS DEPOIS

O holograma de Thesiger esta em uma sala escura, falando para um homem atrás de uma mesa.

DR. THESIGER

– A remoção do espécime para a área principal foi concluída. Começaremos novos exames imediatamente. Ele ainda não acordou do coma, mas deve fazê-lo em poucas horas

DR. CLIVE

Os exames de sangue podem confirmar minhas suspeitas, e devemos ter a confirmação total quando ele acordar. Mais uma coisa Dr.Thesiger, creio que irei para Shadow Charon assumir a pesquisa pessoalmente.

DR. THESIGER

Como quiser, Doutor. Quanto à garota, achei melhor deixá-la ficar, mas confesso que estou preocupado. Talvez ela possa causar problemas.

DR. CLIVE

– No atual momento, Nyssia vai causar mais problemas se for afastada. Deixe-a ai. Agora tenho que fazer outros contatos, Doutor. Até breve..

O holograma desapareceu. Clive apertou um botão em sua mesa, o que abriu uma espécie de gaveta de vidro na mesa. Atrás do vidro, estava um livro de aparência muito velha. O cientista pôs um par de luvas azul escuro fosforescente, e com um movimento de suas mãos, a capado livro dentro da vitrine foi virada, como se uma mão invisível o tivesse feito. Na primeira pagina do livro lia-se escrito a tinta um pouco descascada: Memórias De Victor Frankenstein.

Após folhear um pouco o diário, o Dr. Clive retirou as luvas, fechou a gaveta, e pressionou algumas teclas em sua mesa. Riscos brancos surgiram a frente da mesa, onde antes estava Thesiger. Logo um homem negro, e um pouco careca, com alguns cabelos ladeando a cabeça, surgiu em forma de holograma.

DR. CLIVE

General Henriksen, prepare-se para fazer o que eu pedi. Vamos levar o arquivo Auriga para o Pólo Norte.

GENERAL HENRIKSEN

– Muito bem, senhor. Começarei a providenciar isto.

SALA DO GENERAL

O General desligou seu comunicador. Ao apertar um botão em sua própria mesa, ele viu o Arquivo Auriga que ele devia transportar para Shadow Charon no Pólo Norte. Em um laboratório, dento de tanques do tamanho de pilares de rua, preenchidos com um liquido verde, estavam os restos carbonizados dos Aliens Tudo que a Companhia conseguira juntar depois da queda da nave Auriga na terra. Meia Cabeça carbonizada de Alien bóia confortavelmente dentro do liquido verde.

AMAZONIA: CASA DE RIPLEY

Ellen Ripley sobe na varanda de sua casa, e senta em uma das cadeiras posicionadas neste lugar. Fora um dia cansativo, mas mesmo assim agradável. A conversa com Kelly a reocupou um pouco. Ela espera que a garota não faça nenhuma tolice, mas talvez tenha conseguido dissuadi-la um pouco. Sentada em sua cadeira, Ripley pensa como é bom ter preocupações simples. Nada de Aliens ou coisa que o valha.

O por do sol passa a ser maculado por grossas nuvens negras. Ripley podia jurar ter visto um raio entre elas. Com certeza havia uma tempestade chegando