Alice in My Veins

Desenhos e fotografias


Capítulo 7 - Desenhos e fotografias

Alexia encarava Morfeu, com as suas asas sendo balançadas pela brisa que passava por ali.

É claro que é estranho ventar ou até mesmo ter um sol para diferenciar o dia da noite ali, de baixo da terra. Mas Alexia estava um pouco... Ocupada demais vendo o homem que atormenta seus sonhos bem em sua frente.

Quem sabe aquilo fosse apenas mais um sonho? Tem tido alguns bem diferenciados depois que encontrou o livro.

Em poucos minutos, as flores não davam mais sinais por ali, haviam fugido, procurando uma presa para saciar sua fome. E Rábido branco estava parado, frente a frente com Morfeu.

– Bem a tempo, você chegou – Disse Rábido Branco, limpando o paletó.

Alexia achou aquele movimento estranho. Rábido não havia nem participado da luta enquanto ela estava cheia de terra em lugares que nem imaginava que poderia acontecer tal coisa.

– Achou mesmo que eu deixaria você sozinho com a Alice? Você já foi um grande amigo, até se unir com a vermelha.

– Não escolha minha foi! – Exclamou Rábido branco ofendido – Uma dívida, eu tenho. Com medo eu estou. País das maravilhas minha casa é, ajudar eu vou.

Morfeu suspirou e assentiu, voltando a olhar Alexia novamente.

– Já estava ficando preocupado, Lexy. – Morfeu disse de forma calma e serena. Alexia franziu o cenho dando alguns passos para trás, poucas pessoas a chamavam assim. Ela não sabia muito sobre este homem (se é que podia chama-lo assim) mas ele com certeza sabia o suficiente sobre ela. – Você demorou bastante para vir visitar seu verdadeiro lar.

Alexia se sentiu um livro aberto. As pessoas sabiam coisas sobre ela que ela mesma desconhecia. Descobriam seus segredos antes mesmo dela saber de suas existências.

– Não sei do que está falando... Minha casa está lá em cima, e eu estou apenas procurando um modo de voltar para a minha família. – Disse Alexia convicta. Quanto tempo ainda teria que passar naquele lugar? Quantos perigos teria de enfrentar?

Morfeu suspirou novamente e caminhou, ficando apenas dois dedos de distância de Alexia. Ela podia sentir o cheiro de se hálito. Era tabaco.

– Nós somos a sua família, Lexy – Disse ele sem mudar seu tom de voz.

– Não são não, eu não sou nada parecida com vocês. – Ralhou Alexia – Quem você é? Eu consigo reconhecer todos os personagens daqui, menos você!

– Não me reconhece, Alexia? – Riu Morfeu fingindo estar ofendido – Eu sou a lagarta. – Diz ele se afastando ainda com seus olhos fixados nela e um sorriso travesso. Chegou perto de um cogumelo e de lá tirou um narguilé. Pegou uma das mangueiras e levou até a sua boca, jogando contra o rosto de Alexia uma intensa baforada.

Alexia leva a mão a frente de seu rosto, abanando e afastando a fumaça, tossindo.

– Você não me convenceu – Disse Alexia entre as tossidas – Se você e a lagarta, por que não se parece com uma?

– Uma lagarta se torna no que, Alexia? – Disse ele de uma forma mais impaciente.

Alexia raciocinou um pouco. Viravam borboletas, é claro. Mas Morfeu não se parecia com uma borboleta.

– Vamos dizer que o nosso processo de transformação é um tanto... diferente. E você é uma de nós, Alexia – Diz ele se aproximando dela novamente e pegando seu braço, mostrando-lhe sua marca em seu punho.

Era uma marca diferente. Sua mãe sempre desconversava quando Alexia perguntava sobre ela. Sempre dizia que era de nascença. Sua mãe também tinha. E sua avó também.

– Esta é a prova, Alexia – Continuou Morfeu – Não tente fugir disso. Sua mãe já te afastou por tempo demais. É hora de seguir com o seu destino.

– Mas que destino?! Não sou eu quem faço meu próprio destino? – Disse Alexia ficando irritada.

– Em partes sim. Mas você tem o sangue da Alice, Lexy. E isso acrescenta coisas a sua vida que podem tornar o seu destino... Previsível e inevitável.

Alexia já estava uma pilha de nervos e pensou em explodir ali mesmo. Então olhou para trás. Jared estava com a fúria estampada em seus olhos, talvez por ciúmes. Alexia ouviu Morfeu rir. Uma risada melodiosa e tranquila.

– Vamos. Vou lhes mostrar algumas coisas.

Ele começou a caminhar mas Alexia e Jared continuaram no mesmo lugar. Então Morfeu parou e se virou para trás.

– Vocês não vem? – Ele arqueou a sobrancelha, impaciente.

Alexia resmungou e começou a caminhar atrás de Morfeu, junto com Jared e Rábido Branco.

Caminharam bastante. Alexia não saberia dizer quanto tempo, era como se o tempo passasse de um modo diferente no país das maravilhas. Seus pés já começavam a doer, seu corpo estava todo suado, seus cabelos loiros já ficavam grudando em seu corpo quando chegaram numa grande árvore.

– É... Chegamos – Alexia ouviu Morfeu dizer se aproximando da árvore. Ela tinha um buraco ali em baixo, perto das raízes. – As damas primeiro. – Ele piscou para Alexia que se aproximou um tanto desconfiada e encarou o buraco.

– Ahn... E agora? – Perguntou ela e antes mesmo de recuperar o fôlego que havia perdido com a frase, se sentiu sendo empurrada por Morfeu buraco abaixo.

Alexia omitiu um grito, achou que despencaria até a morte. Mas parece que os buracos que envolvem o país das maravilhas são sempre cheios de surpresa. No primeiro ela flutuou para baixo e agora... Estava escorregando feito uma criança num parque em cima de um escorregador.

Quando Alexia chegou lá embaixo, teve que se acostumar com toda aquela luz, mas quando conseguiu enxergar o que havia lá embaixo... A luz de repente já não incomodava.

Dezenas que fadinhas voando de lá pra cá, e de cá pra lá. Criaturinhas do tamanho de um dos seus dedos com vozes finas, nuas como Alexia com flores minúsculas que Alexia nunca encontraria a olho nu.

Alexia perdeu o foco quando ouviu o grito estridente de Jared descendo pelo escorredor e caindo por cima dela. Alexia sentiu algo meio duro em suas costas... Seria cômico, se não fosse trágico.

Alexia empurrou Jared, ficando extremamente vermelha e desviando o lugar. Só queria achar uma muda de roupas, era só o que queria. Era tão difícil assim?

Então levantou-se tirando a terra de seus braços, o que parecia impossível por sinal. Escutou alguém descendo pelos escorregadores, mas não gritava. Então provavelmente fosse Morfeu. Alexia se sentiu extremamente deselegante... Sem comentar a reação de Jared. Ele era mais másculo no mundo real, mas quando se está num mundo com flores humanoides carnívoras e fadinhas, é normal que se soe como uma criancinha.

– Muito bem, e agora? – Alexia cruzou os braços impaciente.

– Ué... Não está curiosa para desvendar alguns segredos, Lexy? Pensei que passou muito tempo esperando por isso – Disse Morfeu sorrindo, passando por todas aquelas fadas e pararam toda a bagunça ficando paradas enquanto ele passava. – Vamos logo.

Alexia então deu de ombros e seguiu Morfeu, com Jared logo atrás. Se perguntou onde estava Rábido Branco. Ele havia sumido do nada.

Morfeu abriu uma grande porta, toda decorada com pedrinhas de várias cores, formando mosaicos parecidos com o que a mãe de Alexia fazia quando estava na adolescência. Alexia passou pela porta assim como Jared.

Era uma sala bem grande com alguns tapetes no centro e alguns sofás de couro. O local era cheio de prateleiras e um enorme mural com pergaminhos presos com várias coisas escritas e letras que Alexia não entendia.

No meio da sala havia uma mesa com um bule e várias xícaras de chá. Logo a sua frente havia uma parede de vidro com uma caixa na parte de trás.

– Vamos, sentem-se – Disse Morfeu, mas Alexia se manteve imóvel e como Jared não estava nada afim de fazer algo que Alexia não estivesse fazendo, continuou parado. Morfeu respirou fundo e revirou os olhos – Tudo bem, vocês não são nada simpáticos. Por onde querem começar.

– Por que a maldição? – Alexia arqueou a sobrancelha, cruzando os braços, sem rodeios.

– Bem... Alice quando caiu no buraco, adquiriu uma maldição. E agora está sendo passada para a sua família por gerações.

– Isso eu já sei – Ralhou Alexia – Como acabar com ela? Por que apenas mulheres tem? Meus primos são normais.

– Por que Alice é uma garota e caiu aqui? Que pergunta mais óbvia, Lexy... – Morfeu negou com a cabeça impaciente. Alexia teve a sensação de ele estar mentindo – E quanto maldição. Você terá que fazer algumas... Provas por aqui. Concertar algumas coisas. Logo em seguida, você poderá sair daqui com o seu... Hum... Namoradinho – Disse ele acenando para Jared com a cabeça.

– Então é só fazer isso... E vamos embora? – Jared franziu o cenho – Ora, então é fácil! Quando começamos?

– Calado, mortal. Quem fará essas coisas será Alexia. Você vai no máximo ajudar – Resmungou Morfeu que logo olhou para Alexia e riu - Tenho mais uma coisa para mostrar a vocês.

Então Morfeu se aproximou da parede de vidro e mostrou uma foto de Alice quando era criança, antes de cair na toca do coelho. Em seguida mostrou-lhes outra, de Alice saindo do buraco.

– Prestem bastante atenção nas fotos. Procurem nas entrelinhas, as fotos sempre nos guardam segredos. Bem, eu vou ir buscar umas mudas de roupa para vocês e um lugar para tomarem um banho quente e descansarem. Não saiam daí.

Morfeu, mais do que depressa, saiu da sala. Alexia mordeu o lábio inferior, um tanto incomodada e voltou a olhar para foto. Alice não tinha marca nenhuma em seu braço, por que Alexia tinha? Teria vindo de seu avô?

Mas então olhou para a outra foto e viu uma marca no braço de Alice. Era estranho... Alice não tinha aquela marca antes.

Alexia mordeu o lábio inferior. Talvez fosse aquilo o símbolo da maldição. Se passasse pelas provas, talvez as marcas sumissem.

Alexia mordeu o lábio inferior e então começou a andar pela sala. Via desenhos de Alice caindo no buraco, Alice tomando chá com o chapeleiro e pintando as rosas brancas de vermelho.

Nas prateleiras haviam livros de todos os tipos e de todas as língua. E haviam inúmeros exemplares e livros relacionados a Alice no país das maravilhas. Para um local tão... Louco, aquela sala estava bem mundana, segundo Alexia.

Então em seguida, Lexy caminhou até a parede de vidro. De longe viu um poema, chamado Jaguadarte.

"Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.
Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Fefel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassura!

Ele arrancou sua espada vorpal e foi atras do inimigo do Homundo.
Na árvore Tamtam ele afinal
Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, olho de fogo,
Sorrelfiflando atraves da floresta,
E borbulia um riso louco!

Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante!
Cabeca fere, corta e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.

‘Pois entao tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!’
Ele se ria jubileu.

Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.”

Alexia se lembra de ter lido algo parecido no livro de Alice, mas achava que era apenas uma invenção de Lewis Carrol. Agora via que era algo (bem) real.

Então Alexia continuou andando pelo cômodo quando encontrou mais fotos. Uma garota com uma esponja na mão em frente um mar. Numa outra foto, ela tomava chá com o Chapeleiro. E a mais incrível dela: De frente, com grandes asas de borboleta e tatuagens em seus rosto, iguais às de Morfeu. Alexia apertou os olhos e se aproximou ao máximo, quase encostando o rosto no vidro.

A bela mulher... Era sua mãe. O desenho era praticamente idêntico ao que seu pai fazia. Mas não podia ser! Sua mãe não poderia ter vindo ao país das maravilhas, sua história favorita na adolescência e não ter te contado nada... Poderia?

Alexia começou a ficar tonta novamente, era muita informação para um dia só. Provavelmente passou a noite em claro, ou talvez dias, não tinha noção de tempo.

– Lexy, está tudo nem? – Alexia ouviu Jared se aproximar e apertar seu ombro como sinal de cuidado.

Neste mesmo instante, escutam a porta se abrir.

Morfeu entra com mudas de roupas coloridas e um sorriso em seu rosto. Encarou Alexia e Jared e inclinou levemente a cabeça para o lado, franzindo o cenho mas sem tirar o sorriso do rosto.

– Ai estão vocês... O que aconteceu, parece que viram um fantasma.

Alexia sentiu seu sangue ferver e subir até a cabeça. Como ele podia leva-la até aquele quarto e agir como se não tivesse nada de mais por ali?

– Por que a minha mãe está naquele desenho? – Ralhou Alexia, apontando para o desenho.

Alexia viu o sorriso de Morfeu desaparecer aos pouquinhos e sua tontura aumentar cada vez mais.

E de repente, escuridão.