O loiro caminhava tranquilamente pelos imensos corredores do castelo, as criadas passavam para lá e para cá, certamente estavam tendo muito trabalho por causa do baile. Seu traje cinza escuro contrastava com seus cabelos dourados e os olhos azuis pareciam entediados, hoje era o aniversário de 320 anos de seu avô, que fora rei antes de seu tio. Por mais que bailes fossem divertidos, ele não estava nem um pouco contente em ter que aturar aquele velhote falando que ele precisava arranjar uma noiva ou ao menos aceitar uma das princesas que lhe indicara. Como se ele tivesse alguma vontade de se casar, tinha apenas vinte anos. Aproveitaria o máximo que conseguisse antes de desposar alguma das princesas interesseiras para continuar a linhagem real, ah sim, porque estava cercado por mulheres interesseiras, que só queriam usá-lo para ter a coroa, por isso ele não via problemas em usá-las também. Havia também as que o idolatravam sem conhecê-lo, estas chegavam a ser mais irritantes ainda. O príncipe preferia manter distância.

— Vincent, está atrasado! — Sua mãe, a princesa Aili, lhe repreendeu no momento em que cruzou as grandes portas de madeira que davam no salão, onde todos já estavam para a festa.

— Sinto muito. — Ele pediu, porém Aili sabia que ele não sentia nada. Conhecia-o muito bem para deixar-se enganar por aquele sorriso bonito, ele não queria estar ali.

— Vá parabenizar seu avô. — Ela mandou, o que resultou em uma pequena careta do loiro, não queria ter que aturar seu avô agora, ele abriu a boca ligeiramente, porém foi cortado — Sem reclamar. — mandou a mais velha — que não aparentava ter mais do que 20 anos — e ele não seria louco de desafia-la, ela era uma das magas mais poderosas de Aster, além de ser sua mãe. O loiro caminhou até onde seu avô estava. Este estava como sempre, tanto ele quanto sua vó não aparentavam nem metade da idade que tinham.

— Vincent! — Seu avô cumprimentou ao vê-lo.

— Olá meu avô, parabéns por seu aniversário. — cumprimentou o loiro educadamente, para logo engatar uma breve conversa com os avós, por sorte seu avô não tocou no assunto de casamento, o que fez com que a conversa fosse até divertida. Algumas moças tentavam cercar o príncipe, que escapava com maestria. Não estava disposto a estar com nenhuma delas nesta noite, tinha uma reunião com seu pai e seu tio, o rei, após o baile. E não estava com paciência para aturá-las sem ter nada em troca depois.

O baile se arrastou, talvez porque Vincent quisesse que ele acabasse logo, estava curioso sobre o que o rei queria tratar com ele, afinal se fosse algo trivial apenas lhe falaria durante o café da manhã ou em uma situação menos informal que uma reunião. Seria algo a respeito do trono? Mas bem, seu tio ainda era novo e estava muito longe de sua coroação. Sim, ele seria coroado rei. Seu primo havia renunciado ao trono para casar-se com uma humana normal, e foi para o Japão. Seu tio concordou desde que Vincent concordasse em assumir o trono, pois não confiava em outros príncipes. Mesmo nunca tendo almejado a coroa e sabendo que teria que viver com o grande peso dessa responsabilidade nas costas, Vincent acabou aceitando, pois não se perdoaria se atrapalhasse a felicidade do primo. No final todos abençoaram o casamento e o “ex-príncipe herdeiro” mudou-se para o Japão com a esposa.

— Vince. — O loiro ouviu a voz de sua mãe atrás de si — Seu pai e o rei estão na sala de reuniões. — Ela o informou e ele logo pode notar que ela estava preocupada, e que o assunto era sério, ela sempre chamava seu tio apenas de “Jeile” quando não havia mais ninguém por perto, ela estava nervosa com algo.

— Mãe, a senhora sabe o que eles vão dizer, não sabe? — O rapaz perguntou, fazendo a mulher assentir.

— Eles vão lhe explicar tudo. — Aili falou, fazendo-o repetir seu gesto com a cabeça e caminhar em direção a porta que dava para o interior do palácio — Vince! — Ela chamou, fazendo o rapaz olhar para trás — Não seja precipitado, faça o que você achar correto. Okay?

— Okay. — respondeu levemente surpreso, o que seu pai e seu tio queriam? Que decisão importante ele teria que tomar. Ele estava ansioso, caminhava apressadamente. Usaria um espelho para se mover mais rápido, porém não havia nenhum na sala de reuniões — para evitar interrupções. Finalmente chegou na pequena porta de madeira, esculpida com diversos detalhes, bateu levemente duas vezes para anunciar sua chegada antes de entrar. Seu pai e seu tio estavam sentados a mesa, e ambos tinham expressões sérias. Alam apontou o lugar a sua frente com a cabeça, Vincent sentou-se ali, ao lado esquerdo de seu tio e a frente de seu pai.

— Vince, nós o chamamos aqui por um motivo muito importante. — Seu tio tomou a palavra, e era raro ver Jeile tão sério, ele só ficava assim para tratar de coisas a respeito do reino. — Creio que saiba das ameaças que vem ocorrendo por parte do reino de Gália. Eles ameaçaram guerra contra Aster e ameaçam a paz entre os reinos, inclusive quase acabaram com a paz entre nosso reino e o reino de Alúrion, é por isso que lhe chamamos aqui...

— Houve algum problema com Alúrion? — Vincent perguntou, assustado. Já sabia que o pequeno reino de Gália estava causando problemas, mas não imaginava que ameaçavam a aliança com Alúrion, uma guerra com um reino tão grande quanto Aster seria absolutamente horrível.

— Felizmente não, pois o rei August também se deu conta de que era tudo armação de Gália. Porém os nobres que sabem sobre o assunto ainda estão inseguros, é por isso que foi feita uma proposta. — Alam falou, deixando o loiro aliviado, e ao mesmo tempo confuso.

— Proposta? — perguntou, direcionando o olhar aos dois que se entreolharam, antes de Alam voltar a falar.

— Uma proposta para “selar” a aliança entre Aster e Alúrion, um casamento entre as famílias reais. O príncipe herdeiro de Alúrion, Eliot, já é casado; de modo que só resta sua irmã Charlotte. E como você é o único príncipe solteiro de Aster... — Alam deixou as palavras soltas no ar.

— Eu devo me casar com Charlotte para que a nobreza de Aster e Alúrion estejam seguras de que a aliança entre os reinos é sólida. — concluiu Vincent, entendendo a gravidade da situação. — E Charlotte, o que pensa disso?

— Ao que sei, ela não se pronunciou, o que podemos aceitar como um sim. — Jeile respondeu pensativo. Vincent se calou. Mesmo que não quisesse se casar, esta era uma situação delicada, sabia o quanto os aristocratas podiam ser egoístas e irritantes nesses casos, e qualquer insegurança entre os reinos seria má, ainda mais com as atitudes do atual rei de Gália. Esse casamento seria um incomodo a ele, e provavelmente Charlotte também não se agradava disso, porém aceitou pelo seu reino.

— Eu irei me casar com a princesa Charlotte. — decidiu o loiro, surpreendendo os mais velhos.

— Está certo disto, Vincent? — Seu pai lhe perguntou, fazendo-o assentir.

— Tem certeza Vince? — Dessa vez fora Jeile quem perguntara — Ouvi dizer que ela nunca sai do palácio, consegue pensar em um motivo para isso? Essa mulher pode ser incrivelmente feia! — Jeile falou com um drama excessivo, fazendo Vincent segurar a risada, seu tio de sempre já estava de volta.


— Não me importa. — O loiro falou — Quando eu aceitei assumir o trono no lugar de Joseph eu aceitei todas as responsabilidades de ser o príncipe herdeiro. Sei muito bem que esse casamento é o melhor para Aster, eu me casarei.