O corpo sentado no sofá assemelhava-se a uma estátua. Seus olhos enevoados miravam qualquer coisa além da realidade.

Fios loiros caiam em uma bagunça complicada, da qual não deveriam culpá-la. Lucy Heartfilia, em seu estado de estranheza com relação ao mundo e a nova realidade que a aguardava, fez questão de lavá-los e penteá-los para mantê-los bem cuidados, exatamente como faria em um dia qualquer ao longo da semana.

Infelizmente, não era tão simples, uma vez que pegou-se às madeixas loiras mais ainda de uns tempos para cá, negando-se imaginar a si mesma sem elas. Entretanto, não era só a perda deste que a assustava.

A sensação de estranheza que penetrava no velho apartamento mostrava-se no silêncio incômodo, ferindo o seu cotidiano agitado.

Talvez o mais estranho não fosse a mudança no dia a dia que corria, mas sim o silêncio. Lucy odiava o que a envolvia e incomodava seu desempenho no trabalho. O pior de tudo era que ouvia o barulho dos carros percorrendo as ruas e o uivar do vento batendo em sua janela, todavia, o mundo continuava inaudível.

Tal impressão piorava tudo, afirmando várias vezes que não tinha escolha. O futuro a encontraria, como uma espécie de carrapicho insistentemente preso à pele alva, e nada poderia fazer quanto a isso. Mesmo assim, desejava adiar seu infortúnio o quanto fosse possível.

A desgraça batia à porta da Heartfilia, mais especificamente, alojara-se ao fígado e causara um mal-estar horrendo. No último dia, teve uma série de vômitos depreciáveis, dignas de bile e sangue, e seus dentes começaram a manchar pelo ácido estomacal. Se continuasse assim, teria sérios problemas, mas a outra opção lhe soava ainda mais assustadora.

Pensou, desgostosa, que parecia um ratinho traiçoeiro escondendo-se em seu buraco, com medo demais do mundo lá fora para sequer pensar em deixar o lar. Contudo, o que poderia fazer? O tratamento aterrorizante do qual necessitava não era nada convidativo, e a internet em seu apartamento só piorou a situação. As fotos e relatos que lera gelavam o estômago, e a fina coragem que possuía em si emudecia, afundando-se nas profundezas do mar obscuro da própria vontade.

Ouviu, em algum momento, a porta da pequena e confortável sala em que vivia abrir. Não pulou de susto, tampouco se afobou, apenas virou o rosto rapidamente, curiosa, meio encolhida no assento que ocupava.

Seu acanhamento não deu-se pela surpresa, mas sim ao notar quem adentrava o abrigo.

Natsu Dragneel, o garoto de cabelos cor-de-rosa.

O rapaz continuava igual a como o vira uma semana atrás, após receberem o laudo da consulta médica, depois de ser internada por uma crise de vômito enquanto passeavam no parque central de Magnólia.

A face leve com a preocupação estampada, junto do sorriso sem jeito brincando nos lábios, sorriso este que chegava às orbes ônix, sempre a faziam sorrir de volta, portanto, não foi surpresa quando acabou deixando os cantos da boca subirem de leve como uma resposta automática. O único oi que se permitiria dar no momento, algo tão silencioso e lento como o mundo que frustrava-a.

Sua cabeça enchia-se de problemas, e o fato de saber que o namorado vinha visitá-la com um objetivo não auxiliava em nada seu humor.

Viu-o entrar com um vaso de flores curiosas em mãos, que prontamente depositou sobre a bancada que dividia a sala da cozinha, e vir em direção a loira no sofá, sua direção.

Ao contrário do que a Heartfilia pensou, Natsu não fez questão de abraçá-la, muito menos a tocou de alguma forma, apenas sentou-se no chão preguiçosamente, escorando-se no assento e olhando para si com o sorrisinho plácido que tinha. No entanto, não fora ali por trivialidades, e sua descontração não era mais do que a tentativa de acomodar a pessoa que o encarava, retraída.

Entre meias palavras sem significado, a tentativa de descontração do Dragneel mostrava-se cada vez mais falha. Chegou ao ponto em que, mesmo com sua qualidade insistente, desistiu do sorriso brincalhão, tomou a preocupação nos olhos, enquanto a suavidade do rosto provasse ser mais gentil, quase suplicante.

— Precisamos conversar sobre o tratamento, Lucy. O doutor quer marcar a primeira sessão para o início do mês que vem, mas você tem que dar uma resposta.

— Eu pensei que já tivesse dito que não faria tratamento nenhum — respondeu arisca, o cenho franziu, e a teimosia que sempre fora-lhe característica surgia à flor da pele.

— Lucy, você precisa fazer. Se não fizer, você… sabe muito bem o que pode acontecer... — Não ousava pronunciar a sentença. Certas coisas são como pragas, não devem ser ditas, pois alastram-se e consomem. Ele não testaria o limite das palavras.

Enquanto isso, a loira engolia em seco, preferindo não pensar no assunto. Sabia muito bem o que podia acontecer, vira tal mal acometer à própria mãe, e por isso relutava tanto.

Layla Heartfilia definhou lenta e dolorosamente pelo que a alcançou. Uma característica de família. A quimioterapia não ajudou, só fez com que os danos fossem mais aparentes. Ela emagreceu, tornou-se um fantasma, e as lindas madeixas loiras que tanto amava foram-se uma a uma, até que não sobrasse nem mesmo a esperança de que voltariam a crescer um dia. Se foi até que não conseguisse formar sequer uma frase conexa, e que seus olhos se perdessem em longos e silenciosos devaneios.

Em meio a todo esse caos, o fim derradeiro da mulher fora tão sombrio quanto e deixou as marcas da fria realidade para trás. Nem no seu enterro teve descanso. Colocaram uma peruca no cadáver, e a viram cair enquanto carregavam o túmulo. Foi vergonhoso, assustador, e um choque de realidade terrível, como se a vida apontasse o dedo na cara de todos e provasse o quão cruel poderia ser com alguém, não se importando com jogos dolorosos e peças trágicas.

Lucy não queria passar por isso, não queria morrer um pouquinho a cada dia, e, principalmente, não queria que sua família a visse tornar-se algo além de si mesma, como um vulto em uma maca, tão frágil que ameaçava desaparecer aos sete ventos. Ela tinha medo de um dia olhar nos olhos do pai, do namorado ou da prima e enxergar a surpresa de quem encontra um estranho. Acima de tudo, tinha medo de perder a si mesma.

O silêncio perdurou entre os dois por um momento. Ambos encarando-se, conflitantes. Ela, com seu jeito que escondia todo e cada pensamento, não negou nem xingou. Tudo o que fez foi buscar a mão do rapaz que descansava no assento, tornando a face sombria e libertando um pouco da enchente que infestava o peito.

Se fosse Natsu, ouviria. Ele sempre soube ouvir quando era preciso, julgava, sempre julgamos, porém, era cuidadoso, guardava seus pensamentos para si. Ele, em seu estado de gritos e euforia comum, era melhor confidente do que aparentava a terceiros.

— Eu não quero morrer, Natsu. Eu não quero mudar, não quero virar outra pessoa. Não consigo me imaginar incapaz de visitar o parque de Magnólia com você, nem deixar de ver a Michele nas apresentações do coral dela ou não ajudar o papai a consertar o telhado da casa. Ou não fazer parte do aniversário de dezoito anos do nosso sobrinho. Não quero morrer em um hospital e não quero me ver em um espelho sem reconhecer o meu próprio reflexo… Eu sei que esse tipo de coisa acontece. Eu já vi, e você estava lá comigo. — “Eu só não quero me perder”, proferiu a mente. Os olhos umedeceram, e a voz embargou.

O rosado não ousou dizer uma palavra em resposta, apenas encarou as íris castanhas por um tempo, tentando descobrir qual a melhor forma de prosseguir. Como conclusão, levantou de onde estava, alojando as duas mãos aos lados do rosto da loira. Demorou-se um tempo ali, meio perdido naquela depressão que parecia rodeá-la.

O nariz escorria, e os bolsões das noites mal dormidas surgiam sob os olhos. O cabelo era uma bagunça, e, provavelmente, ainda não avistara o chuveiro. Entretanto, ainda era Lucy ali. Lucy era Lucy, sempre seria, ainda que com o jeito instável e cheio de mudanças de humor malucas. Ela era a pessoa que a estaria ali por ele se fosse o contrário.

Acabou voltando ao sorriso leve e gentil de sempre, como o calmante de cabelo cor-de-rosa mais agitado do mundo. As testas encontraram-se sem a menor pressa. Encostaram-se e ficaram ali enquanto os olhos dele estavam cerrados, e os dela, caídos.

— Vou fazer um chá pra você. Acho que vai gostar — comentou, afastando-se e bagunçando levemente os cabelos loiros antes de rumar à cozinha.

A Heartfilia o acompanhou com os olhos, curiosa, contemplando-o tirar as folhas da planta florida que trouxera e esquentar uma caneca de água.

Focou-se na planta da bancada: pequena, rasteira, com hastes compridas de onde surgiam as folhas em forma de agulha. As pequenas flores lilases brotavam em certos cantos, assemelhando-se às orquídeas que via na casa do pai, mas não eram orquídeas, mas sim flores de alecrim.

Natsu, notando a curiosidade da namorado graças ao olhar fixo no pequeno vaso de alecrim, acabou virando-se à ela.

— Gostou? É um presente para você. Comprei na floricultura dos Conbolts enquanto vinha pra cá — comentou, sem desviar a atenção do processo que executava cuidadosamente.

— Você me trouxe um pé de alecrim? O que está planejando? — redarguiu, desconfiada.

Fitou o chá que acabara de tornar-se suspeito, embora nem estivesse pronto. Já imaginava que tipo de droga o Dragneel colocou ali para levá-la desmaiada até o hospital.

Tal atitude fê-lo dar risada.

Não respondeu até ter terminado. Fazia tudo lentamente, calmo, aproveitando o dia barulhento da cidade. Para alguém como o Dragneel — que tinha o péssimo costume de querer incendiar as coisas —, trabalhar com tamanha delicadeza tornava-se incomum. Ainda sim, era bom de vez em quando vê-lo na cozinha, movendo-se de forma tão natural que parecia estar ali desde sempre.

Colocou o líquido quente em duas canecas de porcelana e dirigiu-se novamente ao seu lugar ao pé do sofá. Ofereceu uma à loira, mas está ainda mantinha seu olhar questionador.

Passaram alguns minutos até que Lucy aceitasse a caneca estendida lentamente, encarando o líquido amarronzado dentro da mesma. A forma como ele, mesmo turvo, ainda refletia a si. Quem encarava-a do outro lado não era ninguém menos e ninguém mais do que a depressiva Lucy Heartfilia, a garota que se escondia no lugar escuro.

O reflexo franziu os lábios, insatisfeito. O que via não lhe era agradável.

O rosado aproveitou para tomar uma longa golada do líquido, sentindo a ardência na boca, mas se importou, visto que sempre teve uma amistosa relação com o calor.

— Não vai beber? — perguntou, encarando o rosto angustiado que ainda fitava a caneca.

— Não sei o que você colocou aqui — retrucou em um grunhido mal humorado.

— Água, folha de alecrim e açúcar. — Deu mais uma golada no líquido, aproveitando o dia. Tudo tão calmo, tão sereno, mas a loira sabia que havia algo estranho, ou, pelo menos, preferia acreditar nisso.

— Qual é a do alecrim? Você não é do tipo que traz plantas de presente pros outros — comentou meio apática, sem ousar tocar no chá.

Ele, como reação, apenas desviou a atenção às plantas, perdendo-se nas mesmas por um momento. reparou nas cores, nas nuances, no modo como a luz que escapava das janelas parecia encantá-las com delicadeza, enquanto aproveitavam.

— Você não gostou? — indagou com um tom que ela não soube interpretar. Não era engraçado, nem irritado, muito menos magoado. Parecia simplesmente interessado na resposta, não pretendendo mudar o mundo ou mover o mar pelo resultado. Só… uma pergunta normal. Tudo estranhamente normal. Tão diferente do silêncio agonizante dela.

— Gostei… — respondeu, encarando novamente as flores. Eram bonitas, meio delicadas. Não parecia a primeira escolha para um buquê, nem para dar de presente a alguém, porém, tinham o seu charme. O tipo de charme natural e confortável do dia-a-dia, onde ela cairia muito bem.

— Sabe, Lucy, as flores de alecrim são muito desvalorizadas. Você não as vê por aí na entrada das casas, nem nos batentes das janelas, tampouco nos jardins ornamentais malucos que as pessoas inventam, mas elas também são muito lindas. Eu particularmente acho agradáveis. Na casa da minha mãe tinham várias delas. Praticamente, passei a infância comendo alecrim. Sabe, eu nunca entendi do porquê minha mãe tinha tanto alecrim. Um dia ela me explicou o motivo, e, sinceramente, ainda não tinha entendido. Hoje penso que você precisa dela tanto quanto minha família…

Houve uma pausa enquanto perdeu-se em devaneios por um curto período. O vento que batia nas janelas continuou, e os carros correndo na rua seguiram seu percurso. Até mesmo o silêncio de Lucy tornou-se estranho, inquieto, meio ansioso e arisco ao mundo, afinal o silêncio era o reflexo dela.

Natsu precisou respirar fundo para continuar, sentindo dificuldades em encontrar as palavras certas. Na respiração, até mesmo o ar tenso do lugar parecia ficar mais leve, mais agradável, diferente de todo o silêncio que Lucy odiava.

— As flores de Alecrim significam coragem, alegria e felicidade, confiança e espiritualidade. Minha mãe costumava dizer que elas ajudavam a enfrentar um dia de cada vez, a ser corajosa e confiante em si mesma. Dizia que elas alegravam seu dia, e que, mesmo quando o futuro parecia ruim, poderia encará-las e assim encontrar a vontade pra continuar seguindo… Eu não sei se foi muito útil para ela no final, mas gostaria que fosse para você — terminou, apoiando a xícara de chá na pequena mesa de centro à frente do sofá. O peito dele pesou desconfortavelmente, enquanto a própria energia parecia esconder-se nos olhos ônix.

Natsu não gostava de falar dos pais. Era um assunto que contorcia as cicatrizes delicadas em sua mente, preferia não cutucá-las.

A Heartfilia, tendo tal percepção, aderiu ao silêncio do cômodo. Os olhos castanhos voltaram-se novamente à xícara, entrementes pensamentos divagadores tomavam a mente. Ou talvez não. Quem sabe apenas viajou nas profundezas da própria imagem, buscando alguma verdade em si mesma.

Tudo o que encontrou foi Lucy Heartfilia. A mesma garota que sempre foi, e deixou de ser constantemente. A mesma essência, as mesmas cores. Só Lucy e seus mil e um tons de marrom da superfície do chá. A mesma Lucy que precisava, naquele momento, de alguma mudança. Todavia, ainda sentia-se assustada, como se um pequeno animal sorrateiro chorasse dentro de si, encolhendo-se, amedrontada demais para esquecer o mundo.

Lucy tinha muito medo, mas, ainda sim, precisava fazer algo. Esse algo não veio exatamente de um vaso de flores com um significado geral para as massas, nem de simbolismos estranhos e familiares. A sua decisão veio dele, dos sentimentos dele para ela, dos sentimentos que sua família e as pessoas queridas tinham para si, sentimentos esses que não vinham de uma cultura, nem uma crença, mas sim de alguém.

Talvez alecrim não significasse coragem por uma história, mas sim porque alguém a presenteou com esses sentimentos. Natsu não vinha entregá-la como símbolo da própria família, muito menos como símbolo da sua infância, vinha entregá-la como seus desejos, suas crenças e seu amor. Entregava-a como um vaso de alecrim florido, repleto de entrelinhas e de si mesmo. Do apoio, carinho, e força que desejava passar.

E, para Lucy, entregava coragem.

As mãos apertaram a xícara com força, em plena ideia sobre como prosseguiria, contudo, hesitava. Ainda tinha ressalvas, medos e inseguranças, ainda ameaçava perder-se, mudar e ser esquecida. E tinha tanto medo de se esquecer. Esquecer a si mesma e suas longas madeixas loiras que balançavam como um ninho de rato dourado e bem cuidado na cabeça.

— Natsu… Talvez eu faça tratamentos pesados. Posso emagrecer, ficar muito frágil e… e vou ter que raspar o cabelo. — Sentiu dificuldade em pronunciar tal sentença, que talvez não a incomodasse em outras circunstâncias. Como se, naqueles fios, encontrasse um dos símbolos de si mesma. Ali estava a Lucy que tinha medo de perder, a Lucy que tinha medo de transformar em algo que jamais quis. — Depois de tudo isso, o que você vai ver em mim?

“Você” não era só Natsu. “Você” também referia-se aos amigos, à família, à senhora que a servia chá na cafeteria há dez anos. “Você” era a vizinha que sempre a convidava em todos os feriados e fazia as melhores tortas de maçã do mundo, era o sobrinho com que ia jogar videogame no final de semana, a cunhada que possuía o péssimo costume de visitar o bar em horas inoportunas. Era ela, Lucy, e todas as pessoas do mundo.

Quem encontrariam quando a encaravam? Quem estaria lá, depois que Lucy afundasse tão profundamente dentro de si que talvez não achasse saída?

O Dragneel, em um cuidado que não era habitual, pareceu buscar a mão da mesma. Apertou delicadamente, vendo o mundo e a própria história que já teve quando as duas mãos se tocaram. Algo como o vento, como o momento, algo tão seu que jamais pareceria tão distante como era.

Ele não gostava de mentiras. Preferia evitá-las, ocultá-las. Preferia ser claro sobre o que pensava, sem ressalvas ou medos demais sobre as consequências. Contava que o caso de Lucy, por ainda não ser um estágio grave, fosse muito mais fácil de lidar, entretanto, admitia que tinha tanto medo de vê-la sofrer, vê-la murchar, quanto ela própria. Tanto medo de vê-la desaparecer, medo de ver o mundo e não encontrar mais os fios cor de trigo oscilando perto de si.

No entanto pedir à Lucy que se sentasse e chorasse em um canto, como se o mundo punisse-a, não faria diferença. Era a trilha alternativa que a levaria a um final tão cruel e horrível quanto, talvez até mais. Com isso em mente, proferiu a sentença com certeza do que falava:

— Vou ver a mesma pessoa que sempre vi. Lucy Heartfilia.

A loira inspirou profundamente, farejando do chá quentinho que aguardava em suas mãos. Aproximou-o dos lábios calmamente, sentindo o calor a mínima distância entre ambos.

Antes de prosseguir, permitiu-se encarar novamente o vaso de alecrim. Os olhos cairam, subiram e dançaram pela flores lilases. Viu-as balançar com o vento mínimo que entrava no apartamento, as únicas espectadoras da cena curiosa que desenrolava-se entre eles.

O silêncio desgostoso que a rodeava desaparecia, o barulho dos carros e da cidade continuava. O cotidiano continuava. A única coisa que mudara fora a loira.

— Ah, e além disso — começou o Dragneel. — Se você tiver que raspar o cabelo, eu vou raspar junto com você.

Ela, deixando um sorriso engraçado escapar dos lábios, verteu uma longa golada, sentindo o líquido escuro queimar a garganta e arder suas papilas gustativas. Doeu um pouco, embora não reclamasse. Era uma dor boa, real. Um incômodo na garganta que representava alguma pequeno passo que dera dentro de si, mesmo assustada, amedrontada até. Não gostava nada daquilo, e, francamente, não o faria nem em um milhão de anos, mas, ainda sim, deu seu passo.

O vaso de alecrim continuou ali, em cima da bancada da mesa, com a simplicidade cotidiana que representava coragem de todos para Lucy Heartfilia.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.