Capítulo Único

O primeiro lembrete chegou a ele por meio do calendário, um bem simples de virar que ficava no canto da mesa de seu escritório; pintado com marcador vermelho, quase imperceptível, estava uma linha sublinhando o dia de hoje. Phoenix passou um bom tempo olhando para a data, depois para a figura de um campo de girassóis que ornamentava a página do mês de outubro. Não conseguia pensar na razão de estar olhando, não sabia ao certo o que sentir, mesmo sabendo bem porque marcara aquele dia.

O seu segundo lembrete veio pela expressão no rosto de Apollo quando entrou no seu escritório para entregar uns papéis. Ele apenas cumprimentara o senhor Wright, um resquício de rouquidão em sua voz. Apollo não tinha treinado suas cordas vocais de aço naquela manhã, constatou com um meio sorriso, e depois voltou-se para os documentos. Não conseguiu se concentrar, porém, a vermelhidão no rosto e nos olhos de seu funcionário não deixando seus pensamentos.

O seu terceiro lembrete foi a voz da jornalista na televisão da sala seguido de um grito de espanto de Athena. Momentos depois a jovem comentava casualmente o noticiário durante uma pausa para o café, como se fosse qualquer outra fofoca dos tabloides, mas assim que notou os semblantes de seu chefe e colega de trabalho, as palavras pararam em sua garganta e a vontade de consolá-los a fez mudar de assunto. Phoenix só rira, aquele riso vazio, reassegurando Athena de que estava tudo bem.

Estava tudo bem.

Como diria Apollo.

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A realidade só chegou a si tarde da noite através de um envelope amarelo em cima de sua mesa. O destinatário era incerto e fez seu coração comprimir em seu peito. Suas mãos tremiam ao abri-lo, os dedos passando com cautela sobre o papel meticulosamente dobrado, além da carta havia, dentro de um envelope de plástico, uma estampa comemorativa do centro espacial Gyaxa, Solomon Starbuck posava como no filme, a tez franzida e o rosto concentrado apenas na missão.

Não entendia porque do centro espacial e só pode pensar que as notícias deviam chegar na prisão de alguma forma.

— Ele ainda...

O suspiro que esteve contido a tarde toda saiu de uma vez só, surpreendeu-se consigo mesmo como sua voz estava embargada. Desdobrou a carta, guardando o envelope com a estampa em uma de suas gavetas, a que costumava trancar. E então, prosseguiu com a leitura, um nó começando a se formar na ponta de seu estômago.

Ao meu caro,

Primeiro gostaria de dar as minhas felicitações por passar no exame da ordem, que a nova insígnia reluza sua alma tão nobre, e que perfeito conjunto deva fazer com seu pingente. Aliás, felicitações também à sua filha pela estreia de sua peça, uma volta triunfal dos Gramarye é o que tenho escutado, não deixo de me emocionar, mesmo agora enquanto escrevo e olho para a estampa que enviarei junto a esta carta, esperando que seja de seu agrado.

Imagino que à essa altura já deva saber da notícia. Deve se sentir aliviado agora que tudo terminou, não é mesmo? Daqui a pouco me levarão para o cadafalso, mas me permitiram este último capricho.

Deixe-me declarar, então, que será com prazer que pensarei em seu sorriso enquanto amarram a corda envolta do meu pescoço, fechar meus olhos e sentir o calor de suas mãos extinguindo meus últimos minutos de vida, escutar no fundo da minha mente sua voz sussurrando em meu ouvido, como todas as noites em que esteve ao meu lado na cama após uma troca íntima de carícias. Pensarei em você até os últimos segundos de minha existência, Phoenix Wright. Seu nome, as últimas silabas que se formarão em meus lábios arroxeados.

E por último, dê meus cumprimentos finais ao meu pupilo por mim.

Sempre seu, Kristoph Gavin.

Phoenix sentiu um arrepio percorrer suas costas e o seu sangue ferver, quando deu por si tinha amassado a carta e a jogado com força contra a parede, arfava com dificuldade, sua visão turvando como se estivesse prestes a desmaiar.

Sim, ele tinha razão, deveria se sentir aliviado, mas só conseguia gargalhar como um louco, como se parte de seu passado tivesse desabado e um vazio estranho roubado-lhe as primeiras paixões.

Ajoelhou-se com as mãos crispadas tampando seu rosto.

— Finalmente... Finalmente...

Estava tudo acabado.