Akuma No Riddle: Nove Anos Depois

Capítulo 11 - Contratante: Meu nome é...


***POV "CONTRATANTE"***

Meu nome é Kaiba. Sou professor na Academia 17. Tokaku Azuma foi minha aluna há vários anos, e fui eu quem a enviou para a tal “Classe Negra”. Mesmo depois de Tokaku ter se formado, nunca tirei os olhos dela. É uma pessoa que consegue chegar aos dois extremos facilmente sem perceber.

Daigo e Kobayashi são uma dupla de assassinos razoáveis. Possuem boas habilidades, porém não são os melhores, e pecam em alguns de seus métodos, sentidos e estratégia. Cometem alguns erros quase infantis que uma pessoa como Tokaku nunca cometeria, se tivesse seguido no ramo. Mesmo assim, eles têm algum nome no Japão, mais pelos feitos de Daigo no passado, quando era o melhor hacker da área, e pelas habilidades de combate corpo-a-corpo que o pai de Kobayashi possuía, do que pelo que fazem no presente. Hoje em dia, só seriam capazes de cumprir trabalhos fáceis ou medianos. É perfeito, e mais perfeito ainda pelo nível em que os fatos coincidem.

O pai de Kobayashi foi morto pela mãe de uma das colegas de Tokaku na Classe Negra. Não sei o que exatamente aconteceu, só sei que aconteceu. Mas principalmente, a colaboração de Daigo na primeira e última missão dessa geração entre os Azuma não se resumiu a hackear sistemas de segurança. Observando sua vida após isso, a impressão que se têm é que ele próprio esqueceu do que aconteceu, mas tenho certeza de que não é o caso.

Tenho vontade de rir. Jogo os dados mais uma vez. 2 e 5. Hmm, 2 e 5? Interessante.
– Daigo-san, vamos ver quanto tempo você vai precisar – abro um pouco mais o sorriso – o que Karami-san... ou melhor, o que Karami-sama pensaria?

Nunca conheci a mãe de Tokaku, mas li sobre ela. Assim como a filha, especializada em facas. A personalidade também era similar. Acredito que só tenha amado a própria irmã e Tokaku, em vida. Assim como Tokaku só ama a Haru. É interessante observar como ambas amaram tão poucas pessoas e com tanta intensidade. Claro, supondo que minha teoria sobre Karami só ter amado duas pessoas esteja certa. Kaiba, Kaiba... você anda teorizando demais.

***POV DAIGO / FLASHBACK ON***
– Ufa... – suspiro, aliviado, me dobrando com as mãos sobre os joelhos. Karami-sama mantém a expressão gélida de sempre. Olho para ela, curioso.

Acabamos de terminar a missão. A velha jogou o carro no rio e agora está vindo em nossa direção. Estamos fora da ponte, a uns 50 metros de distância. Como é que uma mulher tão idosa pode ter tanta força e energia? Os Azuma são incríveis. Sem a menor dúvida, essa velha comeria minhas tripas vivo se tivéssemos que lutar. Nota mental: nunca me meter com ninguém desse clã de loucos.

Pensando bem, Karami-sama parece ser diferente. Não sei como. Mas por trás da sua atitude fria, se esconde... algo.
– Ouvi você falando com sua mãe, outro dia – falo, baixinho, enquanto a velha está longe demais para ouvir. Karami não esboça reação – você tem uma irmã, não é? – ela continua em silêncio – o que há com ela? – a velha estava criticando a irmã de Karami. Dizendo algo sobre ser fraca e incapaz. “Falar com” não é a expressão correta, pois Karami não pronunciou nenhuma palavra em resposta. Assim como agora. A velha já está mais próxima. Seu ligeiro sorriso de vovó que gosta de fazer bolo para os netinhos me faz pensar numa psicopata sádica – Karami-sama? – ela vira a cabeça para mim lentamente. Então, diz em voz tão baixa que quase não é possível escutá-la:
– Não se meta no que não é da sua conta.

***POV TOKAKU***

Os médicos chegam alguns segundos antes da polícia e logo após Haru. Eu poderia simplesmente ter ido embora, mas muita gente me viu aqui, então é melhor esperar e evitar problemas.
– Você deveria ter esperado lá – murmuro a Haru – pode ser perigoso.
– Se é perigoso, porque você está aqui? – replica ela, me abraçando de lado.

Uma segunda ambulância vinda de outra cidade chega para socorrer o cara baleado. A cidade é tão pequena que não tem hospital próprio, apenas um pronto-socorro. Imagino que levar alguns tiros de metralhadora esteja fora de suas possibilidades de tratamento. O mesmo policial que me interrogara da última vez aparece. Não entendo o que diz. Olho para Haru.
– Ele falou “parece que você sempre está metida em problemas” – traduz.
– Não tenho culpa de ter visto um sniper no topo de um prédio pronto para nos matar – retruco, como se ele fosse entender meu japonês. Haru traduz, mas pelo tom, imagino que esteja falando de uma maneira bem mais gentil. O policial assente, como se compreendesse. Fala mais alguma coisa.
– Ele disse para que o acompanhemos.
– Pois diga a ele que tenho mais o que fazer – não estou nem um pouco afim de passar por aquilo de novo. Haru dá uma risadinha e diz o que tenho certeza ser o contrário do que eu falei.

***POV HARU***

Fizeram-nos algumas perguntas sobre o que aconteceu, e eu respondi em inglês traduzindo o que Tokaku-san falava, já que eu só cheguei depois. A própria polícia se encarregou de ligar para o Laboratório e avisar que eu iria me atrasar. O sniper, que agora sei se chamar Murayama Daigo, será deportado nos próximos dias.
– Ainda não entendo porque vieram atrás de mim depois de tantos anos – murmuro, na saída. Tokaku-san apenas respira fundo.
– Vamos pra casa.

Um toque de celular soa. É o de Tokaku. Ela franze o cenho. Hm... é estranho, mesmo. Na tela, um nome desconhecido.
– Quem é? – pergunto. Tokaku-san apenas atende.

***POV TOKAKU***

”Kaiba”? O que esse desgraçado tá fazendo, me ligando depois de tantos anos? Apesar disso, atendo.
– O que você quer? – aquela risadinha irritante.
– Conversar um pouco.
– Sobre o quê?
– Sabia que Murayama Daigo trabalhou com a sua avó e a sua mãe?
– E daí? – Haru parece louca para perguntar o que está acontecendo.
– Antes de deportarem-no, sugiro que converse com ele sobre isso.